Daniel Oliveira: Moro foi central para impedir que Lula concorresse e Bolsonaro crescesse; não há corrupção mais profunda do que a moral

Tempo de leitura: 3 min
Foto Lula Marques/Agência PT

A confissão de Sérgio Moro

por Daniel Oliveira, no Expresso, sugestão de Débora Calheiros

O juiz de Curitiba que concentrou nas suas mãos quase todas as fases do processo contra Lula da Silva, foi, sem espanto de ninguém, convidado para ser superministro do Presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.

E, sem grande espanto também, aceitou. O magistrado concentrará as pastas da segurança e da justiça, coisa muito pouco habitual em democracias maduras. Coisa que o Brasil obviamente não é.

A aceitação deste convite levanta uma primeira inquietação que, não sendo a mais relevante, nos leva para um debate que transcende o Brasil.

O governo de Jair Bolsonaro quer alargar de tal forma o conceito de legítima defesa que liberalizará, na prática, a justiça pelas próprias mãos. E quer proibir a investigação de agentes policiais que matem em confronto, o que corresponde a uma ordem geral para matar.

A sua agenda em matéria de segurança é próxima da do Presidente filipino, ao estilo de Rodrigo Duterte.

O facto de um juiz se sentir confortável com esta agenda diz alguma coisa sobre a sua desvinculação aos princípios fundamentais do Estado de Direito, o que explica muito do que aconteceu no processo contra Lula.

Não está sozinho. Há cada vez mais juízes a acreditarem que o seu papel é apenas combater o crime, não é aplicar a justiça. O primeiro objetivo não esgota o segundo.

É bom recordar que Sérgio Moro não se limitou a julgar Lula da Silva. Fez disso um espetáculo político, que foi gerindo em proveito próprio e de terceiros.

Da divulgação para a imprensa, ilegal mas totalmente assumida, de escutas de conversas entre Dilma e Lula, com o objetivo de dar força às manifestações contra o governo do PT, a escutas aos advogados do ex-Presidente, tudo foi permitido.

Quem se deu ao trabalho de acompanhar o julgamento de Lula sabe que o resultado final foi um aborto kafkiano.

Os objetivos políticos de Moro ficaram totalmente evidentes quando agradeceu a manifestantes de direita pelo apoio que lhe davam nas ruas ou quando fez um vídeo, na véspera das eleições, a falar de corrupção.

Só um cego não tinha ainda percebido que Moro tinha ambições políticas. Muito mais grave foi a decisão de Sérgio Moro divulgar, há um mês e em plena campanha, a delação premiada de António Palocci, ex-ministro de Dilma afastado por corrupção.

É que segundo o vice-presidente Hamilton Mourão, o juiz já tinha sido convidado, nessa altura, para este cargo. A decisão de divulgar a delação na campanha foi, portanto, de um ato político de que Moro sabia que iria beneficiar.

Podemos suspeitar que Moro esperava, com o seu comportamento nos últimos anos, por um prémio político que agora lhe chega através de um superministério que será a rampa de lançamento para vir a ser Presidente, cargo que evidentemente ambiciona.

Mas não precisamos de fazer conjeturas. Podemos ficar pelo que é indiscutível.

Sérgio Moro não é um juiz que aceita um cargo político. Ele foi uma peça fundamental num processo judicial que, pelos efeitos que teve no sistema político, abriu espaço para o crescimento de uma candidatura com a natureza de Jair Bolsonaro.

E foi o elemento central para impedir que o candidato mais forte concorresse às eleições.

Isto deveria chegar para o impedir, por um imperativo ético, de ir para o governo do homem que mais beneficiou com o seu trabalho.

A aceitação do cargo revela uma total indiferença perante a necessidade de preservar a imagem de independência da justiça face ao poder político.

Sérgio Moro sempre foi um político disfarçado de juiz.

Representava um sector da magistratura de traços populistas que premeditadamente procuraram criar um ambiente que, para além de afastar uma pessoa da candidatura à presidência, favorecesse a ascensão ao poder de um político de perfil autoritário e justicialista.

E que esperava ter, nesta nova era, um papel relevante.

Usou o poder judicial com propósitos políticos que incluíam a construção de uma carreira fora da magistratura. O que faz dele mais corrupto do que os homens que julgou. Porque não há corrupção mais profunda do que a moral.


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Comentários

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Bel

As gravatas falam. Vejam essa do encontro de Temer com o eleito. Gravata cor de uniforme de presidiário? Será deboche ref. Lula preso ou premonição dele próprio? Ou recado para todos aqueles que discordarem dele? Detalhe: dedão de Temer apontando para a gravata, a bolsa de colostomia, ou a ponta da camisa fora da calça?
folha.uol.com.br/paineldoleitor/2018/11/encontro-de-temer-e-bolsonaro-rende-uma-pergunta-que-legenda-voce-daria-para-esta-foto.shtml

Zé Maria

Remunerado como juiz, Moro tira DUAS férias para articular Ministério

Moro disse que deixar de ser juiz antes de ser nomeado ministro
poderia lhe deixar vulnerável, já que não contaria com a segurança
oferecida pelo cargo

https://jornalggn.com.br/noticia/remunerado-como-juiz-moro-tira-duas-ferias-para-articular-ministerio

Zé Maria

Botsonauro e MDB num grande acordo nacional
com supremo, com tudo…

Eunício Oliveira, presidente do Senado, tem adotado uma postura que, na prática, credencia seu partido, o MDB, a ser olhado com mais atenção por Jair Bolsonaro.
O presidente foi eleito com o discurso de liberdade em relação ao toma-lá-dá-cá no Congresso, mas isso não significa que os partidos não tentarão valorizar o passe.

Na noite de terça (6), o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) já falava em aliança com o MDB no Senado.
A declaração ocorreu no mesmo dia em que Eunício armou a primeira pauta-bomba para o governo do Bolsonaro pai: a aprovação do reajuste salarial dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O senador Ricardo Ferraço (PSDB) disse que o projeto é um “míssel”.
O impacto nas contas públicas é de R$ 6 bilhões ao ano.
O salário dos ministros saltará de R$ 33 mil para R$ 39 mil, causando um efeito cascata na remuneração de deputados federais e estaduais, senadores, governadores, juízes, procuradores {do MP].
Todos os cargos têm seus vencimentos espelhados no Supremo.

[Agora, descobriram o que é “Pauta-Bomba”…]

https://jornalggn.com.br/noticia/eunicio-arma-primeira-pauta-bomba-para-bolsonaro-no-senado-credenciando-mdb

Zé Maria

Colocando Pingo no ‘i’ do Fascismo

“O Fascista não é um ser de Estado
é antes de tudo um estado de Ser”

Quando conquista o Poder Político,
seja pela via Eleitoral ou pelo Golpe,
o Fascista Usa e Abusa do Arbítrio,
tanto na Pretensa ‘Aplicação da Lei’
como em Ações Clandestinas, Ilegais,
utilizando todo o Aparato Repressor
Policial, Civil e Militar, e Judicial Penal;
e Subornando, com Dinheiro Público,
Empresários da Área de Comunicação
e Políticos Corruptos de Várias Siglas,
constituindo um Complexo Aparelho
que impõe uma Ideologia Econômica
a uma População Ignara e Suscetível,
que de Antemão foi já Condicionada
a aceitar passivamente essa Atuação
em nome de um suposto ideal de ‘justiça’.

Julio Silveira

Esse negócio de corrupção moral hoje se tornou expressão inocua, por que reflete uma hipocrisia que grita aos olhos ou ouvidos de qualquer cidadão que observa a politica nacional. Para mim, inumeras excrecencias podem ser atribuidas a personalidade do presidente eleito, mas politicamente querer lhe colocar essa canga chega ser indigesto se tivemos loga ali atrás governos ditos progressistas que seguiram esse mesmo caminho, se imiscuiram com o que de pior o Brasil produziu na politica no periodo autoritario e que foram promovidis no periodo democratico, inclusive pelos ditos progressistas. O que observo é um Presidente eleito que não inova, repete os governos, inclusive o do PT, porem com mais autenticidade, nada que surpreenda já que afirmou e mostra não querer alimentar seu governo com base em ideologias, mas em quem se renda a negociar com base em interesses “ditos nacionais”, essa expressão tornada vazia de tão comum em seu uso e descompromisso com a verdade. .

Wellingthon Gonçalves Chaves

O Collor , também , disse que o Lula iria tomar a poupança do povo. Quando entrou, foi a primeira coisa que fez.Logo, ele vai nos transformar rapidamente, nela(na Venezuela ).

Weez

Bolsonaro é Deus para seus seguidores.

Ele é o deus da guerra que vai guiar seus fiéis para conquistar a terra prometida (o Brasil potência) dos inimigos representantes do mal que estão contaminando a terra prometida que havia sido dada pelos militares após o fim da Ditadura para os homens de bem (cristãos, brancos e de classe média alta de preferência). Ele é o deus da guerra que vai destruir o mal que está contaminando a sociedade e vai proteger seus seguidores. Quando aquilo que representa todo o mal da sociedade for destruído, finalmente os eleitos vão poder desfrutar da terra prometida (preferencialmente cristãos, brancos e de classe média alta). Qualquer um que se oponha a essa batalha é um bandido sem caráter e merece morrer por tentar negar a soberania do deus da guerra. Bolsonaro, o pai disciplinador, é tão deus, que ele não precisa seguir regras e está acima do bem e do mal. “Fiz caixa dois mesmo! Recebi propina mesmo! A gente precisa matar milhares mesmo! Digo algo e depois digo que nunca disse mesmo!”. Isso é demonstração de soberania real, do senhor que vai por ordem no mundo nem que seja à bala e sobre os corpos de milhares de mortos. É um rei absoluto, um imperador, deus, o senhor, que pune com mão forte. Não precisa seguir as regras porque elas têm de se dobrar a ele. Ele vai levar o Brasil de volta à uma época de ouro mitológica, quando, segundo seus iludidos seguidores, teria pretensamente havido ordem, respeito, disciplina, segurança, prosperidade. Ele vai cuidar de cada um como um pai amoroso, vai resolver todos os problemas de todos, porque ele é pai e deus. Vai punir os maus com severidade, porque ele é pai e deus. Vai fazer com que os frustrados, os injustiçados, os humilhados, os violentados possam fazer parte de uma grande narrativa épica do bem contra o mal. Aqueles que se sentem irrelevantes no mundo finalmente podem sentir que fazem parte de algo maior, fazem parte de uma fraternidade que vai combater os desordeiros e aqueles que contaminam o Brasil. Afinal, nada estreita mais os laços de fraternidade entre duas pessoas do que o ódio a uma terceira pessoa ou o medo. São todos uma grande família unida no ódio contra os “depravados do PT e seus comunistas”. Uma família unida pelo medo da desordem e da destruição das tradicionais hierarquias e valores da nossa injusta sociedade. Todos sob a proteção do homem Deus. Tão messiânico que sobreviveu até mesmo a uma facada. Seu nome Jair MESSIAS já comprova esse fato. Sua liderança estava escrita nas estrelas, profetizada como a de Jesus Cristo.

https://www.youtube.com/watch?v=k-Dsjo5DUu8

Bel

O cargo dele é ¨técnico¨. Se o Frota for para o Ministério da Educação, o entendimento será o mesmo?

Bel

Ué, não falavam o tempo todo que o Brasil ia virar uma Venezuela? Então? Sufocar e bloquear a oposição até nas redes sociais. Tem um outro que concorreu com a Dilma e foi lá na venezuela. Deve ter aprendido e fez escola.

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