Cientista que pesquisa agrotóxicos vai se exilar em Bruxelas por causa de ameaças; íntegra do estudo

Tempo de leitura: 3 min
Foto Abrasco

Da Redação, com Rede Brasil Atual

Após intimidações por luta contra agrotóxicos, pesquisadora decide deixar o país

Larissa Bombardi publicou carta onde explica sua decisão: “Recebi indicação para que eu evitasse os mesmos caminhos”

A professora Larissa Bombardi, colunista da Rádio Brasil Atual e pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), publicou uma extensa carta aberta nesta quinta-feira (18).

Em tom de desabafo, ela relata ataques ao seu trabalho, sobretudo após a publicação de seu atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, em 2019.

As intimidações, além de outros motivos pessoais, a fizeram decidir por deixar o país.

Mãe de duas crianças, a mestra, doutora e pós-doutora em Geografia Humana conta que, após o lançamento do livro na Europa, passou a ser intimidada.

“Recebi indicação de lideranças de movimentos sociais para que eu evitasse os mesmos caminhos, alterasse os meus horários e a minha rotina, de forma a me proteger de possíveis ataques dos setores econômicos envolvidos com a temática sobre a qual eu me debruço”, disse a pesquisadora.

Ela relata que as intimidações se avolumaram após a maior rede de supermercados orgânicos da Escandinávia boicotar produtos brasileiros, a partir do conhecimento do conteúdo do Atlas.

Um dos que a atacaram por suas pesquisas foi o agrônomo Xico Graziano, ex-deputado federal pelo PSDB e apoiador de primeira hora do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Ele acusa a pesquisadora de falsificar a história.

“A professora Larissa deforma a realidade do agro, para assim endossar sua fantasia retrógrada”, acusou, em artigo.

O agrônomo é conhecido por ter seu nome envolvido em disparos de fake news, através de seu filho, Daniel, que administrou o site Observatório Político, do Instituto Fernando Henrique Cardoso.

Daniel foi intimado num inquérito por postar calúnias envolvendo Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula. Entre elas, a de Fábio ser sócio da Friboi e dono de mansões, aviões e grandes áreas de terras, como o terreno onde está instalada a Escola Superior de Agricultura (Esalq), na cidade de Piracicaba. Todas desmentidas.

Assalto suspeito

Em agosto de 2020, a professora foi vítima de um assalto em sua casa.

Após ter sido trancada, durante a madrugada, no banheiro, teve seu laptop antigo levado.

“Era um laptop antigo de baixíssimo valor, mas que tinha todo o meu banco de dados. Felizmente eu tinha um backup em outro local, em um HD externo escondido, que não foi encontrado”.

Larissa Bombardi é também autora de estudos, em 2020, nos quais relaciona a suinocultura e a covid-19. “Os artigos tratam da hipótese, ainda não comprovada, mas já discutida por outros pesquisadores, de que a criação intensiva de animais possa ser um dos veículos de propagação da doença”, escreve.

Por conta desses textos ela conta que sofreu intimidações da Associação Brasileira dos Produtores de Proteína Animal e da própria Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Além de, outra vez, ser alvo de Xico Graziano, dessa vez numa reportagem do Jornal Nacional.

Com bolsa na Universidade Livre Bruxelas, prevista para iniciar em abril desse ano, a pesquisadora, que se abrigou com os filhos, desde o assalto, em uma casa de amigos, pretende deixar o país.

NOTA OFICIAL DO FÓRUM

O Fórum Paulista de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos, espaço permanente que congrega entidades da sociedade civil, órgãos de governo e representantes do setor acadêmico e científico, vem a público manifestar seu apoio irrestrito à Dra. Prof. Larissa Mies Bombardi, mestra, doutora, pós-doutora, professora, membra do Fórum Nacional e deste Fórum Paulista de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos, mulher e mãe, em relação às denúncias de ameaças e perseguições que vem sofrendo em razão de suas importantes pesquisas e contribuições científicas no que se refere ao uso de agrotóxicos em nosso país, demonstrando a gravidade dos danos à saúde e à vida pela sua utilização.

A qualidade do trabalho científico que exerce fala por si, sendo a Dra. Larissa um dos nomes mais importantes da atualidade na pesquisa e divulgação científica dessa seara, tanto no Brasil, quanto no exterior, em especial na Europa, sendo uma voz extremamente necessária no nebuloso cenário nacional em relação ao tema.

O Fórum também se solidariza com a Dra. Larissa e com todas as mulheres que vêm enfrentando os efeitos da desigualdade de gênero e falta de apoio no ambiente laboral, em especial diante do acúmulo com as tarefas no ambiente doméstico, situação que notoriamente se agravou durante a pandemia de COVID-19.

05 larissa-bombardi-atlas-agrotoxico-2017 de Luiz Carlos Azenha


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Comentários

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arsildo strauss

Ê uma luta para valer. Quem se propõe a envenenar a vida não para senão diente de atitudes firmes. Parabens Larissa! sigamos firmes pela vida!

Vera Lucia S Faria

Como posso comprar esse atlas tenho dificuldade de ficar lendo na internet ? Está à venda ou é possível imprimi-lo ???

    Luiz Carlos Azenha

    Está aí para você baixar e em seguida imprimir em sua impressora. Ou copie num pen drive e leve numa papelaria que tenha impressora. abs

Zé Maria

Não à toa, os Escritores Alemães
Thomas Mann e Bertolt Brecht
se exilaram na Suíça, em 1933,
quando Adolf Hitler assumiu
a Chancelaria da Alemanha
para instaurar o Terceiro Reich.

https://www.dw.com/pt-br/1933-brecht-fugia-da-alemanha-nazista/a-450959

https://www.dw.com/pt-br/o-filme-pacifista-que-entrou-na-mira-dos-censores-nazistas/a-55703231

http://almanaquemilitar.com/site/wp-content/uploads/2018/06/A-Colabora%C3%A7%C3%A3o-O-Pacto-entre-Hollywood-e-o-Nazismo-Ben-Urwand-1.pdf

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