João Paulo Rillo e a inédita aliança nacional entre PSOL e PT: Coisa de classe, coisa de pele

Tempo de leitura: 3 min
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Por João Paulo Rillo

Lula na Conferência Eleitoral do Psol, que decidiu apoiá-lo para a presidência da República já no 1º turno. Fotos: Ricardo Stuckert

Coisa de classe, coisa de pele

Por João Paulo Rillo*

Neste texto, não pretendo fazer uma análise política, muito menos prever desdobramentos acerca da inédita aliança nacional entre PSOL e PT.

Vou discorrer menos sobre o conteúdo das narrativas e mais sobre a forma, a estética, a subjetividade do primeiro encontro intimista entre Lula e parte da militância orgânica do partido. Foi a primeira vez que Lula falou diretamente para a militância do PSOL.

Ele começou dizendo que parecia que estava em uma atividade do seu partido, fez referência a velhos companheiros de PT, sentiu a ausência da Luiza Erundina e disse que, ao olhar para o Ivan Valente, se lembrava do papel cumprido por Florestan Fernandes.

Muitos de nós, que militamos no Partido dos Trabalhadores antes de ingressarmos no PSOL, tivemos dezenas de oportunidades de ver e ouvir o Lula. Mas muitos militantes do PSOL, especialmente os mais jovens, nunca ouviram o Lula falar em uma atmosfera dessas, pertinho, olhando nos olhos das pessoas.

Lula, quando quer tocar o mais profundo da alma humana; consegue se aproximar tanto que parece que vai entrar dentro da gente.

Quando ele narra as mazelas do povo brasileiro, emociona-se de verdade e, no fundo, é o que o move. Isso não significa que seus movimentos estão sempre certos, mas não é razoável contestar que a dura e sofrida realidade do povo brasileiro o move.

Reconhecer esse fato nada tem a ver com a construção e perspectivas políticas de cada partido.

Ninguém vai deixar suas convicções por conta de uma fala, ninguém será cooptado ou capitulado por um momento efêmero de contato com uma das maiores lideranças do mundo.

É inegável, no entanto, que o arrebatamento geral e o efeito catártico produzido entre o falante e os ouvintes foram incríveis e únicos na história do PSOL.

Lula tem esse dom, essa vocação, esse talento fino de falar para uma multidão como se estivesse falando para uma única pessoa. Tinha passado por um dia intenso, estava visivelmente cansado, chegou às 17h30 e só começou a falar às 20h, mas estava irradiante e, quando começou a falar, se agigantou.

Uma das definições sobre teatro que eu mais gosto é a de que teatro é a energia mágica, a química invisível que ocorre entre ator e espectador.

Sobre o fazer teatral, identifico-me muito com Augusto Boal, que desconstrói uma visão elitista do teatro e diz que teatro pode e deve ser feito por qualquer pessoa, até por atores.

Inspirado na Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire, cria, então, o teatro do oprimido, e diz que o teatrão catártico, por mais belo e impressionante que seja, não basta para a função revolucionária e transformadora da arte.

É necessário parar de dizer o que o espectador – o povo – tem que fazer e compartilhar as decisões com ele, permitir que ele interrompa a cena e aponte também o caminho.

O que vai determinar o papel que o PSOL vai cumprir a partir de 2023 é o roteiro de governo que será apresentado a um elenco tão diverso, caso sejamos vencedores de uma das batalhas eleitorais mais tensas do nosso tempo.

Espero, sinceramente, que a dramaturgia seja mais freiriana e boalzista, que o povo organizado seja convidado a sair da condição de espectador encantado pelo grande artista e se torne protagonista e construtor do governo mais popular que este país conheceu.

Sem dúvida, Lula foi o presidente mais popular da história. Caso vença as eleições, tem a chance de liderar a construção do governo mais democrático e popular da América do Sul.

É isso que vai determinar em qual trincheira estará o PSOL em 2023.

Tudo está em aberto e em construção.

Viva os encontros sinceros, a poesia e as subjetividades. Isso também é política.

*João Paulo Rillo é vereador em Rio Preto e presidente do PSOL-SP.

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João Paulo Rillo

Vereador em Rio Preto e presidente do PSOL-SP.


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Comentários

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Ibsen Marques

O duro é, após o discurso, ter que encarar o Alckmin e outras alianças como com o psb onde se alojam a retrógrada ala pernambucana e a Tábata, Amaral.

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