Rose Nogueira: A ficha (verdadeira) da Folha

Tempo de leitura: 3 min
A ficha com a anotação “abandono”

Folha descreveu repórter presa: “Terrorista”

Publicado em 2009, revisado para acréscimos em setembro de 2016

A jornalista Rose Nogueira doou sua ficha funcional da Folha da Tarde à Comissão da Verdade que investigou ações da ditadura militar.

Era um diário vespertino, já extinto, que a família Frias emprestou à ditadura para fazer propaganda do regime e divulgar falsas notícias de “confrontos” com adversários do golpe.

Era uma forma de encobrir, junto à opinião pública, os desaparecimentos ou fuzilamentos de “terroristas”.

A família Frias apoiou o golpe, tirou proveito econômico dele e emprestou a FT à ditadura.

Segundo militantes de esquerda da época, também cedeu veículos de distribuição de jornais para campanas da polícia política, além de participar da caixinha que financiou a repressão.

No depoimento abaixo, Rose descreve uma ação particularmente cruel: o jornal da família Frias a demitiu por “abandono” de emprego — notem que está escrito à caneta na ficha — apesar de saber que ela estava presa e sob tortura psicológica logo depois do nascimento do filho.

A jornalista supõe que seria uma forma de proteger a empresa, se ela por acaso desaparecesse nos porões do regime — o que aconteceu com cerca de 200 pessoas. 

Rose ficou sob a guarda de um dos maiores carrascos do regime, o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS.

Fizemos a transcrição do trecho inicial da fala, com lacunas por causa da qualidade do áudio.

Recomendamos, portanto, que se ouça a íntegra:

Essa aqui é a minha ficha funcional da Folha de S. Paulo. Eu era repórter em 1969, entrei no dia primeiro de agosto de 68, fui presa no 4 de novembro. Eu era funcionária da Folha da Tarde.

O meu filho nasceu em 30 de setembro, portanto ele tinha 34 dias quando eu fui presa. Estava de licença maternidade, que até a ditadura respeitava, era de 90 dias na época.

A Folha da Tarde noticiou minha prisão por terrorismo. Estava lá todos os dias escrevendo sobre teatro, cinema, era repórter de cultura e variedade.

Mas, para poder fazer essa gracinha aqui, de me dar abandono de emprego, que eu só fui saber 20 anos depois, a Folha fez o seguinte: falseou a data do nascimento do meu filho.

Meu filho nasceu em 30 de setembro de 1969, no Hospital 9 de Julho, na rua Peixoto Gomide.

Eu fiquei internada 24 dias porque tive grande movimento de bexiga no parto.

Eu trabalhei até um dia antes dele nascer. E aqui a Folha escreve que meu filho nasceu em 9 de agosto.

Meu filho nasceu em 30 de setembro. Para que [o falseamento]? Para me dar o abandono de emprego no começo de dezembro.

Eu fui presa pelo DOPS, pelo delegado Fleury. Havia passado mais ou menos um mês da minha prisão quando eu comecei a ser mais apertada, porque eles queriam saber do frei Beto.

Foi quando apanhei, era uma sala escura, com luz forte. O tal “abandono” da Folha coincidiu com esses dias do começo de dezembro.

Eu comecei a passar mal. Eu tinha leite, sangrava, não existia absorvente, imaginem vocês que tiveram filhos, um mês depois do nascimento você ficar sem absorvente…

Nesse período, um dia eu estava com uma febre muito alta. Mandaram os médicos para me olhar.

Eu lembro que o sobrenome dele era Padilha e ele mandou dar uma injeção para cortar o leite.

A data desses episódios coincide com a data do “abandono” de emprego [que consta na ficha] da Folha.

Quando eu fui buscar a ficha da Folha para tentar me aposentar, eu passei mais de um mês deprimida.

Eu me lembro que falei para minha mãe e nós ficamos muito tristes.

Isso confirma que o que o [delegado] Fleury estava falando era uma ameaça real.

Ou seja, eu era uma candidata a desaparecimento porque eu não tinha saúde, não conseguia falar, devia pesar uns 40 quilos, era muito magra.


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claudio

Tem que por esse Frias no poste, no sábado de aleluia, e descer o cacete nesse Judas!

FrancoAtirador

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PODER JUDICIÁRIO DE SÃO PAULO:

A PIMENTA ARDEU NO PRÓPRIO OLHO.
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O presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul), Desembargador Federal Newton de Lucca, elogiou o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Sartori, pela iniciativa de processar o jornal Folha de S.Paulo (empresa Folha da Manhã S/A).

O presidente do TJ tem incentivado outros desembargadores a processar o jornal.

De Lucca disse que "todos nós almejamos e preconizamos uma imprensa livre", mas "há de ser solenemente repudiado" o "jornalismo trapeiro".
Segundo ele, a mídia é "a caixa preta da democracia que precisa ser aberta e examinada".

De Lucca afirmou que o povo "se encontra à mercê de alguns bandoleiros de plantão, alojados sorrateiramente nos meandros de certos poderes midiáticos no Brasil e organizados por retórica hegemônica, de caráter indisfarçavelmente nazifascista".

Em seguida, cumprimentou o presidente do TJ-SP, Sartori, "por sua corajosa e determinada posição" no sentido de processar a Folha de S.Paulo.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/juiz-elo

Horridus Bendegó

Não dura mais 10 anos.

Será uma deplorável lembrança do passado.

Marcio H Silva

São uns nojeeeeeeentos!

pperez

Trairas da tarde, seria o nome mas adequado para este Pasquim (com todo respeito ao original)

FrancoAtirador

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"EU SABIA QUE ESTAVA COM UM CHEIRO DE SUOR, DE SANGUE, DE LEITE AZEDO.
ELE [DELEGADO FLEURY] RIA, ZOMBAVA DO CHEIRO HORRÍVEL
E MEXIA EM SEU SEXO POR CIMA DA CALÇA COM OLHAR DE LOUCO."

(Depoimento de Rose Nogueira, jornalista que foi demitida pela Folha de S.Paulo, por abandono de emprego, enquanto estava presa e sendo torturada pela Ditadura Militar, semanas depois de dar à luz ao seu filho Cacá)

O que dizer de um jornal que colabora com crimes bárbaros como este cometido pela Ditadura Militar contra a jornalista Rose Nogueira, funcionária da própria Folha de S. Paulo, que, não bastando silenciar sobre o repugnante crime, ainda a demite por abandono de emprego?

Seria o caso de afirmar que a Folha de S. Paulo é co-autora ou, no mínimo, cúmplice deste hediondo crime de tortura física e moral praticado contra uma trabalhadora pertencente ao quadro jornalístico da própria empresa Folha Manhã S/A?

A História é uma ampulheta gigante que conta o tempo em séculos.

Chegará o dia (e está próximo) em que empresas jornalísticas desse tipo sofrerão as consequências legais e judiciais pelos crimes por elas praticados.
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Paulo

A Farsa de São Paulo

Remindo Sauim

Folha, 90 anos contra os brasileiros

Juiz de Fora

A casa caiu!! Lei das Mídias urgente!

“Um dia, lá no mundão, uma das donzelas da torre será presidente” | PT SV

[…] Foi deste período, também, a patética demissão de Rose Nogueira do jornal Folha da Tarde. Ela foi demitida por abandono de emprego quanto até as árvores da Barão de Limeira sabiam que a jornalista do Grupo Folha estava na cadeia. Aqui ela tratou do assunto. […]

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Mauro Silva

Quem financiou o terrorismo de estado que se instaurou apartir da quartelada de 64 é pior que traficante de crack e deve ser expropriado.
Eles, elas ou os espólios. Enfim: TODOS.

Kid Prado

Não folheio a Veja e não vejo a Folha!

V

Bornhausen – Colaborador
FHC – de socialista de botequim para fuga
Serra – traidor
Brizola – Resistência
Lula – Resistência
Dilma – Resistência
Zé Dirceu – Resistência
Franklin Martins – Resistência
Maluf – Colaborador

    Carlos Eduardo Lopes

    COM CERTEZA !!!

V

A FSP foi colaboradora da ditadura de direita.

Armando do Prado

Frias não esquecemos a participação e apoio de v. ao regime de torturadores que se instalou em 64.

ojornalista

MInha sugestão é que o jornal forneça um saco de vômito, junto com cada exemplar!

    V

    Boa… um saco de vômito para cada página.

    PAP

    mas os saquinhos nao estão proibidos? Poderia ser feitos do proprio jornal folha de s.paulo rssss

Jairo_Beraldo

É intrigante, como o Grupo da famiglia Frias consegue ser tão hipócrita. Dá gosto de fel até na bile.

    Peroba

    Gostei do sarcasmo! “Famiglia Frias” foi ótimo.

Marta M. Santos

Cabe à nós não permitir que tudo que se passou na campanha eleitorar e que sujou de forma irrevesível a imprensa brasileira, caia no esquecimento…

carlos antonio lopes

Acho que desta vez a imprensa brasileira conseguiu se sujar bastante.Não acho que uma pá de cal nos trará a amnésia que o Pig (cf.PHA) tanto sonha. Desta feita o envolvimento foi muito nítido e quem tem juízo não esquece.

Julio Silveira

Pena que isto fique limitado ao periodo eleitoral, depois vem pá de cal por cima.

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