Urgente, USP sufocada: Por uma Estatuinte livre, soberana e democrática

Tempo de leitura: 3 min
 

Por Arthur Scavone, com licença do saudoso e genial Henfil

Manifesto de professores da USP, via e-mail 

A Universidade de São Paulo é considerada uma das melhores e mais conceituadas universidades da América Latina. Mas nem mesmo todo o reconhecimento de que a USP usufrui é capaz de esconder a crise institucional com a qual convive. Uma crise que vem se agravando e que cada vez mais ameaça suas atividades-fim.

O Conselho Universitário, supostamente com o intuito de reconhecer e propor soluções para a crise, e com a justificativa de “ampliar a democracia” na USP, aprovou o alterações nos critérios de eleição para Reitor e Vice-Reitor que nem de longe atendem aos anseios de democratização da universidade.

Mesmo assim, embora seus principais dirigentes neguem a existência da crise, é emblemático o fato de a maioria do próprio Conselho Universitário reunido no último dia 01 de outubro de 2013 ter votado favoravelmente à proposta de instalação de uma Estatuinte (58 votos favoráveis contra 47 contrários). Nada mais urgente. No entanto, a proposta não foi aprovada por não ter alcançado dois terços dos votos, requeridos pelo estatuto atual.

O resultado a que se chegou na última reunião do Conselho Universitário demonstra que esse órgão, pela sua composição atual, é incapaz de refletir as diversas opiniões existentes na universidade e, portanto, incapaz de oferecer soluções para a crise.

Não tendo oferecido soluções para a crise, sucedeu-se o inevitável. A recente ocupação da antiga Reitoria pelos estudantes é apenas expressão de uma incapacidade endêmica do atual modelo institucional – no que se inclui a gestão universitária – de canalizar os conflitos nela existentes de forma criativa e construtiva. A resposta do atual Reitor à ação dos estudantes apenas reforça a percepção generalizada de que a Reitoria age de maneira desmedida, abusiva e autoritária.

Em recente entrevista à imprensa, o Reitor João Grandino Rodas passou de todos os limites quando culpou o movimento estudantil pela queda da USP em rankings internacionais, desviando a atenção dos reais problemas da USP.

Contudo, se o atual Reitor exacerbou sistematicamente a prática do arbítrio e do abuso, o ponto é que o modelo institucional da USP permite que o Reitor aja dessa maneira.

A USP encontra-se sufocada. Não consegue mais conviver com o arbítrio, a falta de transparência, a intimidação como método, a corrupção do interesse público pelo interesse privado e uma estrutura de poder que permite tudo isso, na medida em que alija do debate e das decisões a ampla maioria da comunidade universitária.

É no trabalho de ensino e pesquisa de seus mais de cem mil membros, entre docentes, alunos e servidores não docentes, que está o mérito da USP. E justamente por que a comunidade é a base do mérito é que se faz necessário um amplo e vigoroso processo de abertura e democratização de nossa universidade.

Por isso acreditamos ser absolutamente necessária uma Estatuinte democrática e soberana, eleita especificamente para fazer uma reforma no Estatuto da USP, e manifestamos nossa posição de que seja aberto um canal de dialogo entre estudantes e a reitoria, com participação das representações dos docentes e funcionários.

Adma Muhana

Adrián Pablo Fanjul

Aurea Ianni

Cilaine Alves Cunha

Deisy Ventura

Helder Garmes

João Adolfo Hansen

Laura C.M. Feuerwerker

Leon Kossovitch

Lincoln Secco

Luiz Renato Martins

Mauro Zilbovicius

Paulo Arantes

Paulo Capel

Raquel Rolnik

Ricardo Musse

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Comentários

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Antônio David aos alunos da USP em greve: Cobrem desde já a fatura! – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Urgente, USP sufocada: Por uma Estatuinte livre, soberana e democrática […]

Tiago

Penso que uma universidade, como instituição, não é e nem deve ser “democrática” no que tange à administração financeira, recursos humanos e gestão acadêmica. Deve ser, sim, transparente e aberta ao debate.

A democracia deve existir na garantia de liberdade intelectual, pesquisa científica e debates em torno do ambiente acadêmico (o que, dada a qtde. de ditos “comunistas” (hihihi) na USP, duvido que aconteça).

O anseio dos “alunos” (quantos?) em sua exigência de eleição direta para reitor, beira o ridículo. Aluno deve estudar e pesquisar. AINDA MAIS em uma universidade pública, cuja gratuidade para alunos de alto poder aquisitivo é afrontante. Nunca vi os “comunistas” alunos/professores se mobilizarem sobre essa questão. Ademais, quem sabe ensinar e pesquisar faz sua carreira na universidade como professor. Os alunos estudam, se formam, e vão embora. Deveriam sim voltar e ajudar, mas isso é estimulado? Quantos se interessam?

A gestão acadêmica deve ser meritocrática, o que estimula a verdadeira democracia dentro de um ambiente científico e aberto ao debate.

Se os distintos professores, com todo o respeito, me mostrarem uma única universidade do mundo, entre as melhores, que possui eleição direta para reitor (Oxford, Cambridge, Amsterdã, Harvard, Stanford, Autônoma de Barcelona, Instituto Técnico de Monterrrey, etc), eu me desminto na hora.

Por outro lado, quem escolhe o reitor é o governador, é uma atribuição do representante eleito. Me pergunto se haveriam tanto debate em torno da “democracia na USP” se o governador fosse de, digamos, um certo partido…

Que tal debater o fim da gratuidade para alunos de alta renda?

Urgente, USP sufocada: Por uma Estatuinte livre, soberana e democrática | Ágora

[…] VIOMUNDO […]

Antonio C.

E os “reitoráveis”? Qual a opinião deles? Numa surdez seletiva, estão em campanha…

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