Senadores do PT criticam governo Dilma: Falta de rumo e de diálogo

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Quarta, 16 Setembro 2015 18:15

Sem diálogo, não há entendimento possível para sair da crise, diz Pinheiro

Marcello Antunes, no site do PT no Senado

Não foi a primeira vez que o senador Walter Pinheiro (PT-BA) criticou, no plenário do Senado, algumas posturas do governo que incomodam não apenas muitos petistas, mas praticamente toda a base aliada e até mesmo a pequena parcela de parlamentares da oposição que votam a favor de matérias bem estruturadas, discutidas e que tenham sido negociadas politicamente de maneira republicana.

O senador baiano lembrou que, no ano passado, “saiu às ruas para pedir voto e ajudar a reeleger a presidente Dilma Rousseff”, mas que, hoje, o que se ressalta é a falta de diálogo desse mesmo governo que ajudou a reeleger.

“Qual é o rumo? Com quem a gente conversa?”, perguntou, enfatizando que o governo tem a obrigação de explicar ao Senado e aos eleitores qual é o caminho que o País trilhará depois das intenções de cortes de gastos anunciadas na última segunda-feira. “Cortes”, sublinhou, “sobre os quais ninguém da base de apoio ao governo foi consultado”.

Segundo Pinheiro, o rumo para o Brasil atravessar as dificuldades atuais seguramente não está no envio, pelo governo, de matérias a serem aprovadas pelo Congresso sem qualquer tipo de explicação. Menos ainda, pontuou, o governo deve anunciar uma importante medida na quinta-feira, modificá-la no sábado e reapresentá-la sob outra forma na segunda.

“Volto a esta tribuna com o mesmo espírito, que não é o de provocar, nem criticar, mas contribuir. Como é possível? Qual é o rumo? O que é que podemos organizar? Um conjunto de pontos soltos ou uma espinha dorsal? Algo que tenha consequência e para o qual se possa olhar e dizer: vou atravessar o deserto, mas do outro lado vou encontrar esse poço ou se descobriremos (depois da travessia) que fomos para mais fundo do poço”, observou.

Ao lembrar, mais uma vez, que ajudou a eleger o atual governo no ano passado, o senador baiano foi enfático ao frisar que pretende mesmo é contribuir, e não apenas ficar no Senado aguardando um pacote encaminhado pela presidência.

“Toda a vez que a gente cobra do governo para ter uma conversa diziam que é porque estão saindo do PT. Eu não estou aqui tocando no PT. Estou falando do governo. Muita gente confunde as coisas. Todas as vezes que nós apresentamos uma crítica com proposta ou que conclamamos a construção de caminhos e possibilidades para a gente sair da crise em que o País se encontra, a primeira pergunta que vem é sobre se estamos brigando com o PT, se estamos brigando com o governo, quando é que a gente vai sair”, disse. “Nossa maior preocupação é uma saída para o Brasil, não uma saída para o Paulo Paim, uma saída para Walter Pinheiro ou uma saída para Jorge Viana”, acrescentou.

Em aparte, o senador Paulo Paim (PT-RS), que quando critica o governo logo saem comentários de que está deixando o partido, foi claro ao dizer que a questão nem é esta: sair ou não sair do Partido dos Trabalhadores. “Temos conversado muito nesse sentido. Nós queremos saber para onde vamos. Para onde vai o Brasil. Queremos o melhor para o País. Quando fazemos uma crítica pontual é porque queremos ajudar. Para nós seria muito mais fácil calar a boca, ficar quietinho”, disse.

Paulo Paim disse que não consegue ficar na inércia e fala o que considera do momento sobre o governo e do momento da política. Para ele, o discurso de Walter Pinheiro o fez recordar o filme sobre o líder sul-africano Nelson Mandela, ou seja, as declarações soam como um grito. “Eu chamaria o que vi num filme de Mandela, quase um grito de liberdade da tribuna, mas a liberdade no sentido amplo, a liberdade do diálogo, da fala, do entendimento, da construção, da proposição”, afirmou.

Paim continuou seu aparte e sintetizou o discurso de Pinheiro: os parlamentares estão pedindo para dialogar com o governo que ajudaram a eleger – só que o outro lado não dialoga. “O que estamos expressando é o que grande parte da bancada (petista) expressa em todas as conversas, só que alguém num determinado momento começa a falar o que pensa, como Pinheiro está fazendo agora. Nós queremos é dialogar”, disse.

Pinheiro retomou a palavra e, antes de encerrar, enfático, afirmou: “Eu quero conhecer um projeto que tenha início, meio e fim. Que possa me dar garantias de que do outro lado vamos resolver o problema. Esse é o desafio em que todos devemos estar imbuídos. Não estou preocupado em salvar a pele de ninguém, muito menos a nossa. Precisamos e temos a obrigação de encontrarmos uma saída para a crise do Brasil”, assinalou.

*****

“Os mais pobres não podem vir a pagar por esse ajuste”, defende Humberto

Catharine Rocha, no site do PT no Senado

O governo está correto em procurar o equilíbrio fiscal, mas não é possível que essa conta venha a ser paga, mais uma vez, pelos trabalhadores. Esta é a avaliação do senador Humberto Costa (PT-PE) sobre as medidas de cortes de investimentos e de aumento de fontes de receita recém-anunciadas pelo governo.

Em discurso no plenário, nesta quarta-feira (16), Humberto ponderou que as propostas não teriam sofrido tantas resistências, caso o Congresso Nacional, por exemplo, tivesse sido ouvido preliminarmente e se a população soubesse os detalhes da reforma administrativa que deve ser anunciada na próxima semana.

“Ao atravessar o samba com tantas urgências, o governo terminou por evidenciar certo descompasso de ações”, ponderou o líder petista, para depois ressaltar que “muitas das ações” estão sendo implementadas pelo governo para enxugar a sua estrutura e dar mais rigor e qualidade ao gasto público.

Só neste ano serão R$ 84 bilhões contingenciados no orçamento das despesas; para o ano que vem são R$ 26 bilhões em cortes, já em cima de um orçamento com uma base bastante reduzida do que vai ser executado este ano de 2015. “O governo está, sim, cortando na própria carne. No entanto, não consegue fazer chegar à sociedade essas ações tão importantes que foram propostas”, observou.

Para o senador, o governo deveria ter deixado claro também que preservou as áreas sociais dos cortes, apesar dos “ultimatos” da grande imprensa, que pedia redução de recursos na saúde, na educação e até no próprio Bolsa Família. “É preciso fazer o debate político. No Brasil, sempre foram os pobres que pagaram pelos ajustes, e agora as elites querem que, mais uma vez, inclusive no governo do PT, sejam os pobres que venham a pagar por esse ajuste”, ressaltou.

Repatriação deveria ser priorizada

Humberto Costa defendeu que a celeridade na votação do projeto de repatriação do dinheiro de brasileiros que estão no exterior deveria ter precedido medidas como a ampliação de contribuições sociais ou de impostos. Segundo projeções, aproximadamente R$ 60 bilhões devem ser arrecadados com a repatriação.

“Não consigo, realmente, entender por que não é melhor esperar para ver esse resultado, em vez de mandar para cá medidas que talvez sejam necessárias, que são importantes, mas que, hoje, nós sabemos que têm pouca possibilidade passar no Congresso Nacional, seja na Câmara, seja no Senado”, desabafou.

O senador ainda manifestou repúdio às teses golpistas, como a do impeachment, e ao excesso de crítica à condução do governo. Neste momento, para Humberto, a prioridade maior de toda a classe política deve ser o enfrentamento da crise, sob o risco dela se aprofundar e tornar-se quase inviável administrá-la.

“Não vi ninguém apresentar uma proposta para o Brasil. Os que estão defendendo o golpe deveriam dizer o que estariam fazendo agora, se fossem governo. Estariam reduzindo mais verbas da saúde, da educação? Estariam deixando de pagar o Bolsa Família? Estariam fazendo o quê? É isso que cada parlamentar neste Congresso Nacional deve se perguntar”, recomendou.


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Comentários

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Andre

Afinal o PT é ou não é governo?? A nota do partido foi a coisa mais bizarra dos últimos tempos: afirma que as medidas são antipopulares, mas as apoia. O partido se aferrou tanto ao poder como objetivo que já não sabe mais o que é – se é que em algum momento soube, pois olhando retrospectivamente, o Brizola tinha toda razão sobre o PT!.

Ser governo não é a mesma coisa que a briga fraticida de correntes internas, em um partido que sempre primou pelas facadas nas costas (no sentido figurado – nos tempos atuais é sempre bom alertar aos incautos sobre metáforas e ironias) e pela prática de ‘queimar companheiros'(também no sentido figurado). Só que a ‘companheira’ agora é a presidente e ela é do partido; não que no governo Lula essa prática não existisse, sempre houve.

As praticas internas do partido se tornaram um meio de destruir não mais o partido, mas o governo e o país. Não vai aqui uma defesa do governo Dilma e suas politicas de ajuste (arrocho), mas uma crítica ao PT que é co-responsável por essas politicas por mais que alguns achem que ele continua ‘em disputa’. Na verdade a (falta de) organização do partido é um dos fatores que permitiu o neoliberalismo vermelho do governo Dilma. Não adianta ‘queimar’ a companheira presidente para livrar o partido.

Pela sua forma de (des)organização o partido estava potencialmente condenado a autodestruição. Alguma centralização é necessária para um partido de esquerda, mas o PT sempre oscilou entre uma federação de correntes ‘em disuputa’ fraticida pelo aparelho do partido, de caráter liberal pequeno burguês, e o centralismo burocrático da Articulação, analogo aos dos partidos stalinistas .

A estrutura amorfa do partido o tornou incapaz de decidir de que lado está em uma situação que é necessario ‘tomar partido’ de forma que não deixe dúvidas. E essa estrutura amorfa abriu caminho para o carreirismo,o personalismo e o salvacionismo com tons stalinistas do ‘lulismo’. Um partido que se revelou um completo desastre organizacional.

Morvan

Bom dia.

O Partido, como um todo, tem toda a razão e acho até estranho quão poucas pessoas agremiadas têm reclamado, afinal, quando Dilma acerta, e quase não o faz, todos se beneficiam, inclusive o próprio, mas, ao contrário, quando erra, a rubrica destes erros vai direto para o PT. Engessada, sem qualquer cacoete político, a Presidente faz, querendo ou não, o jogo de impingir ao PT estigmas alimentados pela imprensa nazigônica. Em artigo na Carta Capital, replicado no CAf, Dias Coloca Dilma Entre Dois Fogos; discordo e comentarei, lá oportunamente. Foram as [más] escolhas que a colocaram na linha de fogo, não o Partido. O Partido precisa sobreviver politicamente. Dilma, talvez não.

Saudações “O Pré-Sal É Do Povo Brasileiro; vamos Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás; vamos denunciar os golpistas. O povo brasileiro é justo e saberá repudiá-los“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

    Andre

    Esse é um exemplo do que eu digo com ‘queimar companheiros’ como forma de não assumir a responsabilidade do partido.

    Elias

    Caro Morvan, com todo o respeito devo dizer que sua frase “O Partido precisa sobreviver politicamente. Dilma, talvez não” é de uma infelicidade incomensurável. Por essa premissa você também pode dizer que o partido precisa sobreviver politicamente, Lula, talvez não. E jogamos por terra o que há anos estamos lamentando, qual seja, a falta de militância. A importância de um partido está em seus quadros. Dilma teve apoio de Lula mas nunca foi fantoche de Lula. Não bastasse sua história ela foi presidente por quatro anos e o povo a reelegeu para mais quatro. Todos sabemos, desde o primeiro governo Lula que o partido dos trabalhadores não governa sozinho. E já disseram que a política é a arte de engolir sapos. Ao longo desses quatro anos e nove meses Dilma teve de engolir vários sapos. Não se governa um país de 204 milhões de habitantes, com mais de 30 partidos sem, desgraçadamente, engolir sapos. Então, há de se refletir antes de se descartar um nome tão importante para o partido. E esse nome é Dilma Vana Rousseff.

Elias

Interessante os senadores Walter Pinheiro e Paulo Paim, dois situacionistas, estarem entre os 10 melhores senadores avaliados por 186 jornalistas de 45 veículos de comunicação. Dos dez melhores, os jornalistas apontaram oito senadores da oposição. O “interessante” está no fato de os dois petistas protagonizarem discursos no mínimo inoportunos senão assemelhados à oposicionistas. A lista, em ordem alfabética ficou assim:

Ana Amélia (PP-RS)

Cristovam Buarque (PDT-DF)

José Serra (PSDB-SP)

Lídice da Mata (PSB-BA)

Paulo Paim (PT-RS)

Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)

Reguffe (PDT-DF)

Ronaldo Caiado (DEM-GO)

Romário (PSB-RJ)

Walter Pinheiro (PT-BA)

    Elias

    *Erro na ordem alfabética. Romário vem antes de Ronaldo Caiado:
    .
    Ana Amélia (PP-RS)
    Cristovam Buarque (PDT-DF)
    José Serra (PSDB-SP)
    Lídice da Mata (PSB-BA)
    Paulo Paim (PT-RS)
    Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)
    Reguffe (PDT-DF)
    Romário (PSB-RJ)
    Ronaldo Caiado (DEM-GO)
    Walter Pinheiro (PT-BA)

Julio Silveira

A Dilma parece estar na toca do Palácio, cheia de vergonha que a faz inibida. É ruim mas é bom, sinal que esconde um sentimento nobre, não ser hipócrita.
Mas tenho que admitir, por ter sido um apoiador de sua indicação desde a primeira presidência, ela tem se revelado uma técnica sem a capacidade politica de gerenciamento de um país como o Brasil. Existem pessoas com perfil para determinadas coisas, que podem associar as duas condições, mas ela não parece ser essa pessoa. A Dilma mostrou que pode ser uma excelente técnica sob comando superior, ainda que tenha capacidade de gerencia supervisionada, mas parece demonstrar incapacidade de liderança para centralizar e emanar o poder a partir de si.

João Vargas

Infelizmente a Presidenta Dilma está prestes a entregar o poder para os urubús da direita brasileira. E ela é a única responsável por isso. Quando chamou o Sr. Levy
para comandar a economia, deu uma facada nas costas dos milhares de militantes da esquerda que defenderam exaustivamente sua reeleição, dentre eles me incluo. Aécio anunciou Armindo Fraga para ministro da fazenda, e todos nós sabíamos os seus métodos liberais e as medidas nefastas que daí viriam para todo o povo brasileiro. Dilma, numa atitude covarde e sorrateira, não anunciou seu ministro da fazenda, e, após ser eleita, nos presenteia com este senhor que só se interessa por manter a rentabilidade dos banqueiros e especuladores em detrimento dos trabalhadores. O golpe virá, não tenham dúvida, e eu pergunto à presidenta se ela terá a coragem de pedir ao povo, aos trabalhadores e aos militantes de esquerda que a defendam nas ruas.

lulipe

Descobriram a pólvora!!!

Leo F.

Havia feito comentário no Tijolaço, quanto ao projeto do governo de ajustes e reequilíbrio, em matéria da CPMF.
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Lamento muito ver a postura de ditos senadores petistas.
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Sinceramente, já temo pela não aprovação dos pacotes ao passar pelo Congresso. O senador, que mais se comporta como sabotador, Walter Pinheiro, já disse que se chegar ao Senado, votará contra, conforme noticiado pela infomoney.
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Com a mesma justificativa dos oportunistas da oposição, de que o governo deveria cortar na própria carne primeiro para depois “discutir” com a nobre “Casa” sobre arrecadações.
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Ora, caro Senador, o senhor esperava que diante de um quadro de extrema urgência para o reequilíbrio orçamentário, o Executivo que já havia enviado o Orçamento e solicitado a opinião dos iluminados legisladores, quando recebeu um sonoro “caguei e andei”, esperasse mais um século e “discussão” para conseguir sanar o descompasso das Receitas ?!
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E o que o senhor propõe de realista em termos tributários, nobre senador, além da CPMF, da progressividade do IR sobre imóveis e da redução das isenções de “juros sobre capital próprio”, e q não mantenha um déficit de 0,5% na LOA de 2016 a ser novamente motivo de rebaixamento de rating da dívida ?
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É impressionante como gente aparentemente séria e compromissada dentro do partido, adora dar tiro no próprio pé além do que o governo já faz !
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O parco tempo disponível para se reverter o quadro não permite bateção de cabeça tão grave na própria legenda
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A prerrogativa, a pró-atividade foi devolvida nas mãos do Executivo (como, convenhamos, deveria ser), e agora que se busca até mesmo um superávit, Walter Pinheiro quer a discussão de País/Nação primeiro, sob pena de se somar à oposição na reprovação das medidas do Executivo.
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Estão brincando com fogo

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