Porta voz de militares e banqueiros, Estadão publica editorial demolidor contra Bolsonaro

Tempo de leitura: 3 min

Quebrando louças

Vai mal um país cujo presidente claramente não entende qual é seu papel, especialmente quando não consegue dominar os pensamentos que, talvez, lhe venham à mente

Do Estadão

Chega a ser comovente o esforço de comentaristas para encontrar nas destrambelhadas manifestações do presidente Jair Bolsonaro algum sentido estratégico, como se fizessem parte de um plano racional de comunicação.

Desde seu grotesco discurso de posse, atulhado de arroubos e bravatas ginasianas, já devia estar claro para todos que Bolsonaro nunca se viu na obrigação de medir suas palavras e gestos, adequando-os à sua condição de chefe de Estado.

Ao contrário: a julgar pelo comportamento muitas vezes grosseiro e indecoroso de Bolsonaro, o presidente provavelmente se considera acima do cargo que ocupa, dispensado dos rituais e protocolos próprios de tão alta função.

Até à disseminação de pornografia pelas redes sociais ele tem se dedicado, para estupefação nacional e internacional.

Se estratégia há, é a de deixar o País apreensivo a cada novo tuíte ou discurso presidencial, pois nunca se sabe o que virá.

Bolsonaro parece imaginar que foi eleito para dizer o que lhe vem à cabeça, sem se importar com os estragos – e seus assessores que se esforcem para tentar reduzir os prejuízos decorrentes de seus excessos.

Mas há casos em que nem mesmo o mais habilidoso ministro é capaz de remendar.

Como explicar, por exemplo, o discurso de ontem do presidente, durante cerimônia no Corpo de Fuzileiros Navais do Rio, quando ele disse, com todas as letras, que “democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem”?

Será necessário um grande malabarismo retórico para não considerar esse discurso como explícita manifestação de um pensamento irremediavelmente autoritário, de quem acredita que a democracia é apenas um favor dos militares aos civis.

Para o presidente da República – é o que se conclui –, a democracia e a liberdade seriam meramente circunstanciais, pois dependeriam não da força e da solidez das instituições democráticas e da honestidade de convicção dos homens que ele próprio chefia, e sim dos humores dos quartéis.

Vai mal um país cujo presidente claramente não entende qual é seu papel, especialmente quando não consegue dominar os pensamentos que, talvez, lhe venham à mente.

Como chefe de Estado, Bolsonaro tem a obrigação de saber que todas e cada uma de suas palavras nortearão o debate político nacional, seja no Congresso, seja nas ruas, e terão consequências também no delicado campo da economia.

O presidente deve ter consciência de que não é mais candidato, condição que lhe permitia incorporar o personagem histriônico e falastrão que seus fanáticos seguidores apelidaram de “mito”.

Deve entender que sua retórica truculenta e polarizadora pode ter sido muito útil para viabilizar sua candidatura presidencial, mas é péssima para agregar apoio político para um governo que começa sem base visível no Congresso.

Antagonizar foliões do carnaval nas redes sociais, como fez Bolsonaro de forma imprópria e estouvada, divulgando um vídeo pornográfico a título de “expor a verdade”, provavelmente não agregará um único voto dos tantos necessários para aprovar no Congresso os projetos de real interesse do País.

Nem mesmo alguns de seus mais sinceros apoiadores aprovaram a grosseria, razão pela qual os assessores presidenciais se viram na contingência de soltar uma nota oficial para tentar explicar o inexplicável, obviamente sem sucesso.

O bom senso sugere que não se deve esperar que Bolsonaro de repente compreenda seu papel e se transforme num estadista, capaz de, em poucas palavras, guiar as expectativas do País.

Diante disso, a ala adulta do governo parece ter decidido trabalhar por conta própria, tentando reparar os danos da comunicação caótica e imprudente de Bolsonaro – desde os prejuízos econômicos causados pelo despropositado antagonismo público do presidente em relação à China e aos países árabes, até a dificuldade de arregimentar apoio a uma reforma da Previdência na qual Bolsonaro parece não acreditar.

Pelo que se viu até aqui, todo o esforço que alguns de seus auxiliares estão fazendo para que o presidente desastrado não quebre toda a louça será inútil.

Bolsonaro está ficando cada vez mais rápido e certeiro.

Em Davos, precisou de seis minutos para mostrar sua incompetência administrativa.

Com os fuzileiros navais, não precisou de mais de quatro minutos para revelar sua face autoritária e sua ignorância cívica.

PS do Viomundo: Não há nada mais próximo de um megafone da caserna que o Estadão, que conjuga isso com a prostração diante dos banqueiros. O objetivo do texto — já compartilhado 18 mil vezes no site do diário conservador paulistano — é fazer com que Bolsonaro se concentre absolutamente na reforma da Previdência, que é o que o capitão decidiu fazer hoje.


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Comentários

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Jose carlos

Bolsonaro é um idiota. É o poste da direita. Não sabe fazer nada e qdo abre a boca só diz bobagens.
É só mais um despreparado no cargo. Me lembra muito o Gen. Figueiredo que dizia tais sandices.
Só uma pessoa muito estúpida faz propaganda negativa do seu país no exterior.
Bolsonaro é incompetente para o cargo e não tem as habilidades necessárias que o cargo exige. É só mais um poste. Poste da direita. É um estepe. Quebra galho.
Imitar os outros (no caso o Trump) é coisa de alguém sem personalidade própria.

Bel

Parece que querem prender os lideres da esquerda e assim provocar a esquerda a ir para as ruas. Qualquer coisa quebrada será colocada na conta dos esquerdistas como terrorismo, será isso? Daí é só usar a lei antiterrorismo para enquadrar e salve-se que puder.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/D1Gn1C-XQAA96ue.jpg
Daqui a 10 Dias vai ter Golden Shower
e várias outras Putarias na Casa Branca
https://pbs.twimg.com/media/D0tDd9cX0AE2GJF.jpg

Zé Maria

Bolsonaro pretende derrubar a MP 2215,
para restaurar a promoção automática
dos militares que passam para a reserva,
além do auxílio-moradia e do adicional
de inatividade, para garantir apoio

As declarações do presidente no MINISTÉRIO da DEFESA acenderam luzes de esperança em centenas de militares e pensionistas prejudicados pela Medida provisória que, entre outras coisas, extinguiu a promoção automática dos militares que passam para a reserva remunerada, acabou com o auxílio-moradia e com o adicional de inatividade dos militares.

https://www.sociedademilitar.com.br/wp/2019/01/bolsonaro-pretende-derrubar-a-mp-2215-antes-que-complete-19-anos.html

https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANCA/501057-DEPUTADOS-PEDEM-REVOGACAO-DE-MEDIDA-PROVISORIA-SOBRE-MILITARES.html

Zé Maria

Não existe consenso entre os Militares sobre
a Reforma da Previdência das Forças Armadas.
Já estão falando em atrasar para o fim do ano.

Zé Maria

Os Mesquita Cada Vez Mais Esquerdalhas.
E o Jair, cada vez mais um Jânio Quadros
Sem Requinte e sem inteligência alguma.

“Filho porque crio”

https://pt.wikiquote.org/wiki/J%C3%A2nio_Quadros
https://quemdisse.com.br/frase/bebo-porque-e-liquido-se-solido-fosse-come-lo-ia/70569/

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