Pedro Augusto Pinho: O petróleo na disputa política, farsas e custos das transições energéticas

Tempo de leitura: 6 min

Por Pedro Augusto Pinho*

A história do homem e da sociedade que ele construiu podem ser contadas pelas energias que descobriu e criou ao longo da sua existência.

Nascemos na África Oriental, mais precisamente na Etiópia, onde arqueólogos encontraram o mais antigo hominídio, a australopiteca Lucy, no deserto de Afar, com três milhões e duzentos mil anos.

A palavra australopiteco é composta do latim “austral”, que significa “do sul”, e do grego “pithicos”, macaco.

Assim fomos denominados: macacos do sul, embora estivéssemos um pouco ao norte da linha do Equador. Porém, os antropólogos identificam o berço da humanidade neste entorno que vai da Etiópia, passa pelo Quênia, e chega à Tanzânia. Somos negros de nascença.

Levamos uns nove mil anos povoando a África antes de nos aventurarmos para fora do continente.

E havia forte razão para isso: os efeitos da última glaciação, que deixara a Terra coberta de gelo do paralelo ao norte da África ao círculo polar, que impedia o nosso ancestral de ingressar na Europa.

Glaciação é um período onde a posição da Terra não recebe suficiente calor do sol e esfria.

A última, denominada Würms, ocorreu há 150.000 anos, e resultou no encolhimento dos oceanos, transformado em gelo da calota polar até, aproximadamente, o Mediterrâneo.

O homem se deslocava preferencialmente pelas margens do rio, onde encontrava água para beber, se refrescar e fazer sua higiene.

Por isso, as duas mais antigas civilizações foram constituídas ao longo do rio Nilo, a egípcia, e no Oriente Médio, entre os rios Tigre e Eufrates, a mesopotâmica suméria.

O primeiro grande passo para esse homem povoador foi a descoberta do fogo.

São controversas as datações, mas, considerando a capacidade para entender o significado do fogo e saber usá-lo para solução dos problemas, adotamos os critérios do paleoantropólogo queniano Richard Erskine Leakey (1944-2022), colaborador da “História Geral da África”, promovida pela UNESCO, e a colocamos há 21 mil anos.

Foi com o fogo, a primeira fonte de energia, que nossos ancestrais se espalharam pelo mundo, entraram na Europa e construíram o terceiro mais importante núcleo populacional, no extremo oriental da Ásia, às margens do rio e do Mar de mesmo nome, Amarelo, e onde, atualmente, estão as províncias chinesas de Hebei e Shandong, os míticos reinos Yin e Zhou.

FOGO, VENTO E SOL DURARAM MILÊNIOS

A produção e consumo de energia proveniente do fogo, do sol, dos ventos, das águas dos rios começam no alvorecer da espécie humana e duram até o século XVIII da era cristã.

Foram devastadas florestas, constituídos desertos áridos, alterados cursos de rios, climas e recursos naturais por todos estes mais de 20 mil anos.

E a geologia também fazia sua parte, movimentado as placas tectônicas, abrindo fendas, produzindo ciclones, tsunamis, expelindo lavas e gases do centro da Terra, com erupção dos vulcões.

No século XV, com a força dos ventos, os europeus, procurando nova rota para atingir a Ásia, descobrem a América.

Abriu-se imensa fonte de recursos, o ouro, a prata, e todo um Novo Mundo para explorar.

O genocídio das populações existentes chegou, conforme relatos astecas, espanhóis, franceses e portugueses a 90% da população.

A Europa se enriquece pelos séculos XVII e XVIII e passa a exigir mais e melhores produtos para seu conforto, luxo, qualidade alimentar, deslocamentos, que incentivam artesãos e inventores a produzi-los.

É a revolução industrial que necessita de maior quantidade de energia do que as tradicionais fontes forneciam.

O carvão mineral, uma energia fóssil, deu sustentação à Primeira Revolução Industrial, da máquina a vapor. Data-se este feito em 1760.

E, logo a seguir, pelos anos 1860, tem início o uso, como fonte de energia, de outra energia fóssil, o petróleo.

Portanto, temos energias que acompanham o homem desde seu dispersar pelo mundo. 

E outras que são utilizadas a menos de três séculos. Leia-se: carvão e petróleo, fontes primárias de energia fóssil que exigem maior aplicação de tecnologia para sua produção. 

Por que essas duas fontes primárias de energia fóssil, que podem ser armazenadas para uso quando necessários, seriam mais nocivas à humanidade do que as recentíssimas energias eólica e fotovoltaica, que são caras e intermitentes?

Alguma informação está sendo ocultada dos povos, dos que conheceram extraordinário desenvolvimento social, econômico e civilizacional com o advento das energias fósseis.

Arrisquemos a hipótese da desigual distribuição, entre os países do mundo, das reservas de energias fósseis.

As reservas de carvão estão concentradas em cinco países, com bilhões de toneladas, ao fim de 2020: EUA (249), Rússia (162), Austrália (150), China (143) e Índia (111).

As de petróleo, em bilhões de barris, na mesma data, assim se distribuíam: Venezuela (303), Arábia Saudita (297), Irã (158), Iraque (145) e Rússia (108).

Apenas a Rússia, que os EUA consideram sua perpétua inimiga, pois é país imenso, diversificado, sabe conviver com todas etnias que habitam os cerca de 22 milhões e meio de km², e é o maior obstáculo para concretização do estadunidense “Destino Manifesto” (1845), está presente entre as cinco maiores reservas de fontes primárias de combustíveis fósseis.

Como não há como esconder ou dar interpretações farsantes ao poder das energias existentes na Rússia, restou criar embusteiras razões para trocar energias armazenáveis e baratas por intermitentes e caras.

FALÁCIAS E CUSTOS NAS TRANSIÇÕES ENERGÉTICAS

“A União Internacional de Ciências Geológicas rejeitou a controversa designação para a época atual da história da Terra como o Antropoceno ou a Era Humana. A decisão foi tomada por votação do comitê do órgão global de geologia, composto por cerca de 24 acadêmicos em fevereiro.

A rejeição resolveu a disputa de 15 anos sobre se a atividade humana desde a década de 1950 mudou o clima da Terra e outros sistemas o suficiente para justificar a declaração de nova era na sua evolução geológica. A comissão executiva confirmou a votação em comunicado divulgado nesta quarta-feira” (20/03/2024, Telegram, Sputnikbrasil).

Em artigo (O recuo da Net Zero”) na revista Solidariedade Ibero-Americana (fevereiro de 2024), o geólogo Geraldo Luís Lino escreveu: “em 2022, a produção mundial de carvão atingiu novo recorde – 8,3 bilhões de toneladas – com tendência de crescimento, no primeiro semestre de 2023. A Índia, onde 73% da geração elétrica dependem do carvão, planeja expandir sua produção em 60% até 2030. A China construiu 182 usinas termelétricas a carvão entre 2021 e 2023, acrescentando o total de 131 gigawats à sua capacidade geradora”.

E transcrevendo Ross Clark, colunista da revista The Spectator e autor de livros sobre energia, que “argumenta que as fontes eólicas e solares estão em alta”, diz que nem tudo vai bem nesta indústria da substituição energética:

“A nova capacidade adicional caiu 21%, entre 2021 e 2022. A razão é que os custos do aço, cimento e outras matérias-primas usadas na construção das fazendas eólicas começaram a subir drasticamente. A alta dos juros também aumentou os custos de construção”.

Ainda de Clark: “Nos EUA, o valor das ações das empresas de energia limpa perdeu US$ 30 bilhões em novembro de 2023, em decorrência do “nervosismo” dos investidores com a lucratividade das empresas, apesar do apoio de bilhões de dólares estadunidenses à indústria com a Lei de Redução da Inflação de Joe Biden”.

Qualificar gélidos especuladores em bolsas de valores como “investidores nervosos” é desprezar a mediana inteligência da população.

Vamos a dados mais objetivos.

Um barril de petróleo contém 1.700 KWh de energia. As tarifas cobradas a usuários não industriais, no Rio de Janeiro e em São Paulo, pelas concessionárias situavam-se entre R$1,20 R$1,35, no último trimestre de 2023.

Ao câmbio de US$1 (o equivalente a R$5) o barril de petróleo, vendido como energia elétrica residencial, custava pouco mais de US$ 400.

Neste século o petróleo jamais chegou a US$ 130/barril. E o custo da energia elétrica no Rio de Janeiro e São Paulo é, majoritariamente, quase exclusivamente, obtido da energia hidroelétrica; muito mais barata do que a eólica e a fotovoltaica.

O mundo construído a partir de 1980, sob a ideologia neoliberal, é, verdadeiramente, o mundo das fantasias, dos engodos, adulações, farsas, corrupções e ardis.

Criou-se o mercado no lugar do Estado. Mas o mercado só tem lugar para vencedores, que sempre serão minoritários, e a população majoritária como fica?

Morando nas ruas, sem atendimento médico, sem instrução?

Nas relações internacionais voltaram os eixos do mal, os terroristas islâmicos, todas as criações publicitárias estadunidenses, anglo-holandesas, eurocentristas, para justificar suas ações contra os povos que não aceitam a escravidão, o saque de seus bens, a exclusão física, como indesejáveis e onerosos seres estúpidos e incapazes.

Ao lado do controle das energias, sob o falso pretexto das mudanças climáticas, também buscam controlar as mentes das pessoas com o controle dos sistemas educacionais e das comunicações.

Verifiquem quem são os efetivos proprietários dos órgãos de comunicação digital, das redes virtuais, e encontrarão os gestores de ativos: BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, J.P. Morgan, entre dezenas de outros.

A corrupção e a chantagem obrigam acadêmicos a fazerem declarações que sabem erradas, incorretas, no mínimo questionáveis.

Também revistas, associações, educandários de todos os níveis a divulgarem e ensinarem conceitos e fatos inautênticos, inverídicos, irreais.

Vivemos, no Ocidente, a sociedade que retrocede, não apenas na economia, mas no desenvolvimento intelectual, nos relacionamentos saudáveis, na cooperação entre os povos.

Verifique, caro leitor, o número de guerras que o poder neoliberal provocou e incentivou países a dar início desde 2000.

Ou, então, acredite na farsa do 11 de setembro, e passe a ver os muçulmanos como inimigos, o Irã como um eixo do mal, o Estado de Israel usando seu exército na defesa do território que nunca foi seu, para justificar o genocídio do povo palestino.

*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

*Este artigo não representa necessariamente a opinião do Viomundo

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Comentários

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Zé Maria

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O Domínio da Eletricidade foi, quiçá, o Principal

Marco de Transição para a Era Pós-Moderna.

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