Nilto Tatto: Veneno liberado é moeda de troca do golpe

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Gustavo Bezerra/PT na Câmara

Gustavo Bezerra/ PT na Câmara

Veneno liberado é moeda de troca do golpe

por Nilto Tatto*

Não é à toa que chegamos à triste posição de líder mundial de consumo de agrotóxicos.

O setor que produz e comercializa estes produtos no Brasil já é abusivamente favorecido.

São isenções fiscais bilionárias; taxas baratíssimas para registrar um novo agrotóxico; sem falar na influência obscura sobre os órgãos de controle, que rende autorizações e registros para venenos proibidos na Europa, Estados Unidos e China.

Mas a ganância não tem limites e, aparentemente, a falta de ética também não.

Querem mais facilidades para despejar veneno em território brasileiro, e intensificam sua ofensiva no Brasil justamente quando a orientação mundial é para restringir cada vez mais seu uso e ir na direção oposta, promovendo modelos de base agroecológica.

De fato, os mercados europeu, chinês e norte-americano têm diminuído o consumo de venenos nos últimos anos.

Para garantir uma polpuda sobrevida para esta indústria, os deputados que compõem a bancada ruralista têm procurado empurrar goela abaixo da sociedade brasileira o Pacote do Veneno, consolidado no relatório ao PL 6299/2002.

Fazem isso por afinidade e por dinheiro (a relação de doações de campanha está online).

Contam ainda com o apoio do governo Temer, prometido em troca da sustentação política ao golpe que teve início em 2016 – o que a bancada tem garantido.

Chamam de “Lei do Alimento Mais Seguro”.

Na realidade, trata-se de promover o envenenamento das pessoas e do ambiente.

Não é inacreditável que representantes eleitos não tenham restrição moral em relação a isto?

Não é exagero usar a palavra envenenamento.

No Brasil, são mais de quatro mil casos de intoxicação aguda por ano, uma morte a cada dois dias, sem falar na quantidade de doenças que se desenvolvem ao longo dos anos, como câncer, infertilidade, disfunção sexual em homens, distúrbios hepáticos, má formação em bebês, entre outros.

A relação destes problemas com a presença de agrotóxicos no ambiente e nos alimentos está comprovada pela ciência, mas a bancada ruralista não se sensibiliza.

Os lençóis freáticos estão contaminados.

Tentam convencer a sociedade de que agrotóxicos são necessários para aumentar a produção e tornar alimentos mais baratos.

Não é verdade.

Em quinze anos (entre 2000 e 2014), o aumento da quantidade de agrotóxicos comercializados no país (192%) foi muito maior do que o crescimento da produção agrícola (117%).Uma agricultura cada vez mais dependente de insumos externos só pode ficar mais cara.

Mas, enquanto isso, o faturamento com a venda de agrotóxicos cresceu cinco vezes (quase 400%) mais do que a produção.

Aqui está o verdadeiro motivo do PL do Veneno.

Se quisessem alimentos mais seguros, não retirariam as atribuições dos órgãos de saúde e de meio ambiente que hoje participam das decisões sobre registro de agrotóxicos.

Tampouco acabariam com critérios de proibição para produtos que gerem câncer ou mutações genéticas.

Sim, estas e muitas outras barbaridades estão no relatório que deve ser votado na Comissão Especial de Fitossanitários.

A bancada ruralista pode conseguir um grande avanço neste projeto, se o aprovar na Comissão Especial dos Fitossanitários o PL 6299/2002.

Nós estamos resistindo, obtendo pequenas vitórias a cada sessão da comissão, mas é preciso que toda a sociedade tome ciência desta ameaça e proteste.

Deputado Nilto Tatto (PT-SP), coordenador do Núcleo Agrário da Bancada do PT

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Comentários

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maria nadiê rodrigues

De há muito, ao ligar meu aparelho de tv, vou direto no Canal Curta, por achá-lo um dos mais brasileiros, e informativos entre tantos. Dos documentários que mais me impressionaram penso ter sido esse que relaciona a vida rural com o agrotóxico. Dá pena ver as condições de trabalho desses encarregados de usar aquela bomba, envenenando toda uma plantação. São depoimentos contundentes de quem, por falta de opção, se submetem a tal sacrifício. E nesses mesmo vídeo, também choca a vida dos que trabalham diretamente com a plantação de tabaco; são declarações horrendas, de sofrimento, de pessoas ainda com idade de produzir, incapacitadas para o trabalho, pelas doenças adquiridas. Somente a grande necessidade de sobrevivência move os brasileiros a esse tipo de trabalho.
Como pouco sei da matéria, em profundidade, acho importante todo e qualquer emprenho para se revelar esses problemas durante esses meses anteriores às eleições – se houver -, como meio de fazer com que cada candidato deitem seus olhos nesse, que é um dos grandes problemas de saúde do nosso povo.

maria nadiê rodrigues

Antes de ler o texto gostaria de transmitir o que ouvi hoje pela CBN. Disse um dos repórteres, em conversa com outro que aquela rádio decidiu fazer entrevistas com todos os candidatos para, depois, usar uma lupa, assim podendo informar ao público o que restou de verdade e de mentira de cada um dos entrevistados.
Focou no último que concedera entrevista, Álvaro Dias, e, entre outras, deu relevo ao fato dele ter dito que jamais aceitara aposentadoria pelo tempo em que governou o Paraná. Aí, diz que ele, de fato não recebe, mas não somente tentou obter esse mimo, como quis, à época, receber a bufunfa com retroatividade, o que lhe renderia quase um milhão, só em retroatividade. Adiante, que sua desistência se deu, não por vontade própria, mas pela repercussão que teve o caso.
Que eu me lembre, a história não foi essa. Creio que Azenha saberá melhor contar essa história. Eu me lembro bem do dia em que Álvaro Dias, ao tecer comentário sobre essa tal aposentadoria, primeiro fora interrogado por uma afirmação. Ou seja, uma pessoa perguntou-lhe por que ele recebia tal quantia – não lembro agora. Ele respondeu que aquele dinheiro ele recebia, e passava para uma instituição beneficente. Achei uma mentira, e mais parecido com piada. Portanto, nem na entrevista ele foi sincero, nem a lupa da rádio que troca notícia enxergou a verdade dos fatos.

Julio Silveira

Um governo que é fruto de um envenenamento da constituição para matar a democracia, que deixa a cidadania orfã, não tem qualquer pudor em continuar sua senda de crimes. E, com base na falta de empatia, com os orfãos que fizeram, não deveriamos estranhar passarem para a segunda fase do envenenamento, agora mirando os orfãos.

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