Maringoni e a presença de Dilma na assembleia da SIP

Tempo de leitura: 4 min

Publicado em – 18/09/2012

Para Gilberto Maringoni, Brasil deveria seguir o exemplo de países vizinhos que regularam o setor de comunicação para incentivar a diversidade informativa

NPC – Núcleo Piratininga de Comunicação

Postura apática do governo federal com relação à democratização dos meios de comunicação decepciona o jornalista e professor Gilberto Maringoni, que aponta Dilma Rousseff e FHC como os presidentes mais próximos da mídia nos últimos anos. Nesta entrevista exclusiva ao Boletim do NPC, Maringoni avalia ainda que a cobertura da mídia sobre a América Latina melhorou na última década, mas mantém a orientação editorial de demonizar Chávez, Evo e Correa e de atacar Cuba. “É uma cobertura enviesada e sem muito compromisso com a verdade”, critica. Militante político há mais de três décadas, Maringoni fala também sobre sua candidatura a vereador em São Paulo, uma tarefa que considera coletiva. “Sou candidato porque é preciso deter um processo elitista de privatização da cidade”, afirma. Gilberto Maringoni participará do 18º Curso Anual do NPC, em novembro, fazendo uma exposição sobre as grandes corporações de comunicação da América Latina.

BoletimNPC – Como militante pela democratização da comunicação, de que forma você avalia que este tema tem sido tratado pelos governantes no Brasil? E pelos movimentos sociais?

Gilberto Maringoni — Os movimentos sociais fizeram a proeza de abrir o tema para os não-especialistas na área. Esse foi o grande saldo da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009. Participaram do processo mais de 60 mil pessoas em todo o Brasil. Mostrou-se ali que a democratização da comunicação é um assunto de interesse de toda a sociedade. Sobre os governantes, minha decepção com Dilma nesse quesito é total. Votei nela no segundo turno, em 2010. A então candidata foi atacada pela mídia sem dó durante a campanha. Mas logo que tomou posse, foi à festa de aniversário da Folha de S. Paulo. Em março último, deu uma entrevista exclusiva à Veja e segue entupindo esses veículos de publicidade oficial. Como se não bastasse, agora anuncia sua ida à Assembléia Geral da SIP (Sociedade Interamericana de Prensa), entidade dos grandes monopólios continentais. Ela e FHC são os presidentes mais próximos da mídia nos anos recentes. Lula governou com medo dos meios de comunicação. Reclamou muito, mas não teve nenhuma iniciativa em prol da democracia no setor. Isso para não falar de Paulo Bernardo, um representante dos grandes monopólios na Esplanada dos Ministérios.

BoletimNPC – Para promover maior diversidade informativa deveríamos seguir o exemplo da Argentina e do Uruguai, países que criaram leis nacionais distribuindo as frequências de radiodifusão por três setores – 33% para o Estado, 33% para o setor privado e 33% para instituições sem fins lucrativos?

Gilberto Maringoni – Minha resposta já está em sua pergunta: claro que sim. O Brasil é uma exceção na America Latina. Em quase todos os países, a televisão nasceu estatal, como serviço público, nos anos 1950. Somente aqui surgiu como negócio. Assim, até hoje há uma preponderância das grandes corporações em detrimento de emissoras públicas. Mas isso pode ser mudado.

BoletimNPC – Você tem experiência na cobertura de política na América Latina. Como vê o tratamento da mídia brasileira sobre os principais fatos ocorridos nos países de governo progressista da região?

Gilberto Maringoni – A cobertura melhorou nos últimos dez anos, pois há correspondentes fixos pelo menos na Venezuela e na Argentina. Mas a orientação das edições – e muitas vezes não é culpa do repórter – é sempre a mesma: demonizar Chávez, Evo e Correa, sem deixar de atacar Cuba. É uma cobertura enviesada e sem muito compromisso com a verdade. Quer um exemplo? A mídia ataca a entrada da Venezuela no Mercosul, alegando que se deu um golpe contra o Paraguai ao excluí-lo da decisão. Pouco se menciona que o problema é justamente o golpe que o Paraguai sofreu com a deposição de Fernando Lugo.

BoletimNPC – Você escreveu dois livros sobre a Venezuela (“A Revolução Venezuelana” e “A Venezuela que se inventa”). Por que escolheu registrar acontecimentos políticos e parte da história deste país?

Maringoni – Logo após a volta de Chávez ao poder, após o golpe de 2002, Raimundo Rodrigues Pereira, um dos mais notáveis jornalistas brasileiros, me convidou para fazer uma matéria sobre os acontecimentos daqueles dias. Eu pouco sabia do país, além dos noticiários de jornais. Fiquei espantado, pois a imprensa brasileira não apenas foi colhida de calças curtas pelo malogro do golpe, como tripudiava sobre o significado do processo político bolivariano. O quadro que vi lá era fascinante: um governante, atacado pela mídia impiedosamente, voltava ao poder por pressão popular. Fiz a matéria e fui convidado pela Editora Fundação Perseu Abramo para fazer um livro sobre a Venezuela. Em quatro anos voltei mais nove vezes ao país, fiz mais de quarenta entrevistas e li dezenas de livros, centenas de páginas de imprensa, visitei bairros pobres e ricos e tentei entender a singularidade da dinâmica política local. A efervescência venezuelana foi o prenúncio de uma década de mudanças na América Latina. É por isso vale a pena estudá-la a fundo.

BoletimNPC – Você é jornalista, professor e militante político. Por que decidiu ser candidato a vereador em São Paulo nessas eleições? Quais são suas principais propostas?

Maringoni – Sou militante há 35 anos. Militei em organização clandestina, fui base, dirigente partidário no PT e no PSOL, coordenei campanhas e exerci outras tarefas. A candidatura é também uma tarefa coletiva. Sou candidato porque é preciso deter um processo elitista de privatização da cidade. Ele se dá através da concessão e terceirização de equipamentos e serviços públicos, como na saúde, na educação e nos transportes. Um subproduto disso é um surto conservador que envolve demonstrações de preconceito racial e sexual, higienismo social e violência contra os pobres. Para fazer frente a isso é necessário ajudar a recompor a esquerda na cidade de São Paulo para um projeto consistente de mudança. É uma tarefa gigantesca e coletiva. Precisa ir em frente.

PS do Viomundo: Para vereador, o editor deste site vota no Maringoni.

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Rodrigo Leme

Dilma é presidente do Brasil, não do PT. Não me espanta alguém com o sonho na Rússia dos anos 40 como o Maringoni não entender a diferença.

Marcelo de Matos

Para entender o que é a Constituição precisamos ter noções básicas sobre o que é o estado. Entendo que é um pré-requisito para entender a matéria constitucional. Por acaso, comecei a ler Nações e Nacionalismo desde 1780, de Eric Hobsbawm. Tem muito a ver com tudo isso. Dizia um falecido professor da PUC que a Constituição é a maneira especial de ser do estado. No popular: o jeitão de ser do Estado. Qual é o jeitão do estado brasileiro? Uma organização política que protege a propriedade privada, a livre iniciativa, a liberdade de imprensa e otras cositas más. Não adianta ficarmos nos fazendo de desentendidos e querer mudar as características básicas do estado através de uma penada. Só com o teclado não se muda esse estado de coisas. Ou os partidos políticos se amoldam às diretrizes básicas do estado, ou procuram outra forma de participação política. As verbas publicitárias, assim como as abomináveis (a meu ver) emendas parlamentares, são parte desse pacote. Aceite ou rejeite.

Hans Bintje

Pergunta para o Maringoni:

– Será mesmo culpa da Dilma ou da Esquerda que não consegue se organizar e montar um jornal para entrar com tudo no debate de ideias?

Eis o que está acontecendo nos EUA e que se repete por aqui:

    Marcelo de Matos

    Fico com a segunda hipótese: culpa da esquerda que não se organiza melhor. A Carta Capital talvez já tenha conseguido algum caraminguá. Quando a gente entra no site aparece um banner da Petrobrás. Claro que a verba oficial de publicidade precisa ser distribuída para todos os veículos de comunicação. Só não podem ser premiados aqueles que tiverem como propósito a luta declarada contra a ordem constituída. Dizia Monteiro Lobato que o governo deve vir do povo como a fumaça da fogueira. A esquerda democrática é parte desse povo.

    Rodrigo Leme

    O resumo da ópera é: que veículos a esquerda tem onde se coloquem verbas estatais com o mesmo alcance e volume da (música de terror) VEEEEELHA MÍDIA (uhhhhhhh)?

    Quem chegou mais perto disso foi a Carta Capital, e mesmo isso é uma forçação de barra, pq o que tem de publicidade oficial lá é incoerente com sua tiragem e alcance. (*)

    Publicidade é colocar dinheiro onde sua mensagem será vista. Simples assim.

    Enquanto a esquerda ficar brigando por verba só “pq devemos equilibrar a distribuição ideológica de verbas” e não apresentar idéias concretas de veículos viáveis o governo federal vai continuar enfiando sua verba onde a mensagem será vista.

    O duro é que tem gente que quer o dinheiro mas não quer o trabalho. Aí complica.

    (*) Extraoficialmente, dá pra dizer que dinheiro na Record é dinheiro na mídia mais simpática ao governo, pq isso pode mudar.

    Luiz Carlos Azenha

    Fique registrado, porém, que este site não aceita anúncios de governos, nem de empresas públicas. abs

Mardones

Muito consistente a opinião sobre a relação do governo com o PIG, as comunicações e relação do PIG com a América Latina.

Paulo Ribeiro

Maringoni é um homem de boas ideias e estaria melhor acompanhado ao lado de Fernando Haddad. O candidato do PSOL em São Paulo é muito fraco.

abolicionista

Democratização da mídia já!!

Bonifa

A nova orientação da Globo deverá aumentar a demonização de governos socialistas e progressistas e é muito possível que se estenda à política nacional. Certamente estará presente nas novelas e outros programas, tentando fixar um comportamento individual a ser considerado normal pela população, e outro a ser considerado condenável e culturalmente inadmissível. Na novela das nove, a socialite falou, por conta de estar recebendo suas duas colegas para morar com ela: “Isto aquí está se transformando em campo de refugiados. Já pensou, uma Cuba em plena Vieira Souto?” Em pouco tempo, seria completamente antisocial até falar no nome de Cuba. Esta parece ser a meta.

Cibele

Azenha, gosto do Maringoni. Mas já temos oposição demais na câmara dos vereadores, tradicionalmente. Caso o Haddad ganhe, precisamos ter gente que vote os projetos com ele. Você acha, conhecendo o Maringoni, que ele ficaria ao lado do PT, ou melhor, da cidade? Se depender do partido em que ele está, não. Pergunto sinceramente, pois ainda não sei em quem votar pra vereador.

    Luiz Carlos Azenha

    Vai depender do comportamento do Haddad (ou Russomano ou Serra), presumo. abs

    Cibele

    Pô, Azenha, tenha paciência. Não vai depender de comportamento nenhum, eles são anti-PT, não são sérios. Salvo raras exceções, por isso perguntei sobre seu candidato a vereador. Espero mesmo que ele se eleja e se comporte de uma maneira digna e séria.

    Cibele

    Azenha, estou meio enfurecida com esta eleição. Faço um esforço tremendo para não me revoltar completamente. Eu acredito no Maringoni. Vamos torcer por ele e pelo Haddad, e por uma câmara menos conservadora, que possa ajudar nossa cidade. E ver se, daqui pra frente, o paulistano aprende alguma coisa. Isso é o que eu penso. A verdade é que, caso algum dos coroinhas e santinhos do pau oco entre, não vai ter projeto que dê jeito. Será melhor uma fuga em massa.

neopartisan

Uma hipótese para Dilma: a Big Mídia tem, teve e terá lado!
A prova em 2min e ½ http://www.youtube.com/watch?v=n6HV-Jpc3I8

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