Marcos Coimbra: Eleições 2012, o vale-tudo contra o “lulopetismo”

Tempo de leitura: 3 min

por Marcos Coimbra, em CartaCapital

Concluída a fase inicial do julgamento do “mensalão”, os nervos das oposições andam à flor da pele. Com os votos dos ministros do Supremo, o resultado da luta que empreendem há anos será em breve conhecido.

Estão, naturalmente, ansiosas. Terá valido a pena colocar tantas fichas nessa aposta? Será que desperdiçaram a munição? Conseguirão atingir os adversários com a intensidade desejada?

Pensando bem, não são as oposições inteiras que vivem, por esse motivo, dias tensos. Parte delas está preocupada com outras coisas.

A absurda coincidência do julgamento com as eleições municipais, que decorreu da pressão por uma “decisão rápida” (de um processo iniciado há sete anos e que podia ter sido antecipado ou postergado para que não atrapalhasse o eleitor na hora de votar), fez com que os partidos e as lideranças políticas oposicionistas tivessem, na reta final, menos tempo para dedicar à questão.

Ao contrário do que prematuramente festejaram alguns comentaristas, o panorama eleitoral não é tranquilizador para elas. Hoje, nas principais cidades do País, os líderes de PSDB e DEM têm de suar a camisa para eleger seus indicados.

Veja-se São Paulo, onde míngua José Serra, ultrapassado por Celso Russomanno e ameaçado de nem sequer ir para o segundo turno. Os tucanos paulistas têm preocupações de sobra e disponibilidade de menos para se empenhar no julgamento.

O mesmo vale em Belo Horizonte, onde a eleição certa do candidato que os tucanos apoiam tornou-se incerta. O PSDB mineiro não quer – e acha que não pode – sofrer uma derrota na capital.

Sem falar nos projetos de altíssimo risco em que se envolveram algumas lideranças regionais, mesmo em estados onde o PSDB já foi grande, como Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco. Nas três capitais, elas mal terão tempo para respirar até outubro, se quiserem que o partido tenha um desempenho minimamente significativo e se qualifique para as próximas eleições para a Câmara dos Deputados e assembleias.

Com a oposição partidária tendo de se concentrar em sua própria sobrevivência, é apenas a armada midiática que briga em Brasília. O verdadeiro rosto da oposição na batalha do “mensalão” é o da “grande mídia”.

O terreno em que pisa é sabidamente frágil: sua luta contra o “lulopetismo” se sustenta na denúncia do procurador-geral da República e na escassa base de provas que conseguiu juntar. Ou o Supremo releva suas imperfeições e fantasias ou tudo desmorona.

Se a acusação política mais relevante de nossa história, contra Fernando Collor, foi rejeitada pelo Supremo por uma falha grave da denúncia (que não conseguiu indicar qualquer ato de ofício por ele praticado que configurasse crime), o que dizer desta do mensalão?

Que não é capaz de confirmar que houve pagamentos regulares a quem quer que seja nem de apontar para que seriam feitos? Que gastou imenso tempo e dinheiro dos contribuintes para dizer que havia um “esquema” de compra de “apoio político” no Congresso em troca de “mesadas” a parlamentares e que não conseguiu demonstrá-lo?

Mas quem não tem cão caça com gato. Antes isso do que nada, devem ter pensado os “antilulopetistas” nas redações. No fundo, eles têm razão. Não são muitas as oportunidades disponíveis para os setores da opinião pública que não querem a permanência no poder da aliança que o PT comanda desde 2003. As poucas que existem precisam ser aproveitadas, por menores que sejam.

Somando os acertos de Lula e do PT com os erros das oposições, a duração do que parecia breve mudou. Os quatro anos iniciais do ex-presidente viraram oito. Aí o inesperado: Dilma. Para quem achava que “de quatro anos não passarão”, vieram os oito e depois os 12.

E agora? Com Dilma fazendo 60% e Lula 70% nas pesquisas para 2014, que cenário resta para as oposições? Preparar-se para 2018? E se, até lá, um dos dois se reapresentar? Deslocar sua expectativa para 2022?

Para evitar o que não querem, a oposição na mídia e os setores da sociedade que ela representa fazem o que podem. Vale tudo: cobertura tendenciosa, falar de algumas coisas e esconder outras, pesquisas discutíveis, ressuscitar personagens histriônicos (como Roberto Jefferson), para ouvir sua “análise”, inventar acusações malucas de última hora.

A denúncia da Procuradoria-Geral pode ser fraca, mas é a que existe. Adequadamente vitaminada, quem sabe não fica em pé? A contabilidade foi feita: nas quatro semanas até 13 de agosto, 65 mil textos foram publicados na imprensa sobre o “mensalão”. No principal telejornal do maior conglomerado de comunicação do País, para cada 10 segundos de cobertura neutra houve cerca de 1,5 mil negativos.

Até agora, o Supremo ouviu. Tomara que, quando falar, mostre que não faz parte desse jogo.

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Comentários

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Gerson Carneiro

“lulopetismo” parece que é um termo inventado pelo ex-pernambucano, e agora capacho do PSDB, Bob Freire.

Nesse fim de semana ele disse que eu sou “um agressor contumaz”.

Bem, minha resposta foi bem ao meu estilo. Cês viram em outro post.

Rodrigues

Ao término do mensalão – que se trata somente de um espetáculo midiático e não causará nenhuma ferida ao PT e ao govenro federal – o que teremos é o início do fim dos 12 anos do governo do PT. O funcionalismo público estará ainda mais divorciado de Dilma e de Lula após estas greves e a mudança da CLT. E as eleições municipais mostram as rachaduras na base do governo (especialmente no Nordeste) e o caminho aberto para a candidatura Aécio (num novo partido?), que saberá herdar como ninguém a tal da nova classe média – depsolitizada, conservadora e consumista.

Fabio Passos

As “notícias” do PiG não são informações do mundo real.
São peças de propaganda.

A tentativa é de convencer a população que o PT é igual e/ou pior do que os outros partidos que já governaram o Brasil.

O PiG vende um peixe podre.
Tem quem compre… mas é uma minoria cada vez menos relevante.

Francisco

O PSDB faria um grande serviço à nação se exercesse com dedicação e empenho o que o povo lhe designou cuidar: estados e cidades. Mas de olho grande no que não esta no próprio prato, deixa de comer um por olho grande no outro.

Todos perdem…

tori

Mas, vamos que o Supremo Tribunal Federal seja mesmo a última e providencial extensão e arma da UDN, que por suprema e irônica coincidência acontece às vésperas de uma eleição e o PT seja condenado, pois quem está em julgamento, já não restam dúvidas, é o PT, que ousou, vejam só, quebrar a hegemonia da UDN, trazendo à massa fedida um pouco de alento e esperança… Num primeiro momento haverá rega bofes e muitas comemorações e endeusamentos dos Supremos, cujos votos estiveram em acordo com seus interesses.
Vamos que o mensalão da UDN, em cujo interior já se vislumbra documentada a presença até de um ex presidente da república mensaleiro e de um ex presidente supremo do supremo mensaleiro, – que votou pela condenação ao invés de se declarar impedido, – e que já está às portas do mesmo Supremo, que terá que manter a suposta coerência.
Sei não, mas acho que a UDN está numa sinuca de bico.

Leandro Fortes: Condenar Dirceu, o único e verdadeiro drama do julgamento do “mensalão” « Viomundo – O que você não vê na mídia

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spin

Que o STF não trate os réus do mensalão como personagens de ficção de um julgmento em capitulos bem ao modelito da Globo. Os réus são pessoas reais, que suas vidas não sejam destruidas por uma injustiça praticada por capricho de uma mídia sedenta de sangue de vingança

Mardones Ferreira

Resumo exato da situação atual.

Bravo.

p.s: como dizia um conhecido: “é o que tem para hoje”.

Vinicius Garcia

O que faz ruir essas teses de polarização política é a existencia de um PMDB, que conforme lhe convém dança de acordo com a música da região. É o famoso partido “Vejo só o meu umbigo”.

Rodrigues

A rejeição à Dilma aumentou em algumas capitais (RJ, SP, BH e Curitiba). Isto faz com que Lula cresça nas pesquisas de intenção de voto.
Quanto as eleições deste ano, o cenáro nacional pouco influenciará no resultado final. São eleiçoes locais, que se resolvem localmente.

Lúcio Pereira

Muito profundo e reflexivo o texto do Marcos Coimbra. Tomara que os ministros do STF façam um julgamento imparcial e técnico, e não se deixem influenciar por esta mídia sem escrúpulos.

Rodrigo Leme

Não pode se dizer que o Marcos Coimbra não veste a camisa. No mais, as oposições de hoje não fazem nada de diferente que as oposições de ontem (leia-se PT) só não fizeram por falta de poder.

Quando o PT voltar a ser oposição, não vai ser diferente do que lhe fazem hoje. É assim que se faz no Brasil, desde sempre. A diferença é que o PTismo e agregados adoram a condição de vítima.

    Renato

    Ao q me lembre, Lula e Brizola nunca simularam ter recebido um tomahawk na cabeça… (com direito a tomografia… rsrsrs)

    Ricardo JC

    Então finalmente alguém assumiu que a imprensa é a oposição, DE FATO. Triste país que não goza da liberdade de imprensa!!!

Maria Amélia Martins Branco

Sem data de validade, dá-lhe Lula, dá´lhe Dilma.

RicardãoCarioca

Uma mentira dita na inVeja e repetida no JN e na Foia se torna uma verdade. Triste democracia, esssa, a nossa…

    Julio Silveira

    Que digasse de passagem com toda nossa tristeza, nada foi feito, até agora, para trazer equilibrio a essa “democracia”. A quantos atende isso?

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