Leandro Fortes: #jornalistas interditados

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#jornalistasinterditados

Por Leandro Fortes, no Brasília eu vi

As relações arcaicas que ainda prevalecem nas redações brasileiras, sobretudo naquelas ancoradas nos oligopólios familiares de mídia, revelam um terrível processo de adaptação às novas tecnologias no qual, embora as empresas usufruam largamente de suas interfaces comerciais, estabeleceu-se um padrão de interdição ideológica dos jornalistas. Isso significa que a adequação de rotinas e produtos da mídia ao que há de mais moderno e inovador no mercado de informática tem, simplesmente, servido para coibir e neutralizar a natureza política da atividade jornalística no Brasil.

Baseados na falsa noção de que o jornalista deve ser isento, as grandes empresas de comunicação criaram normas internas cada vez mais rígidas para impedir a livre manifestação dos jornalistas nas redes sociais e, assim, evitar o vazamento do clima sufocante e autoritário que por muitas vezes permeia o universo trabalhista da mídia. Em suma, a opinião dos jornalistas e, por analogia, sua função crítica social, está sendo interditada.

Recentemente, a ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, opinou que jornalista não deveria ter Twitter pessoal. Usou como argumento o fato de que, ao tuitar algo “ofensivo”, o jornalista corre o risco de, mais para frente, ter que entrevistar o ofendido. A preocupação da ombudsman tem certa legitimidade funcional, mas é um desses absurdos sobre os quais me sinto obrigado a, de vez em quando, me debruçar, nem que seja para garantir o mínimo de dissociação entre a profissão, que tem caráter universal, e os guetos corporativos onde, desde os anos 1980, um sem número de manuais de redação passaram a ditar todo tipo de norma, inclusive comportamental, sobretudo para os repórteres.

Suzana Singer deu um exemplo prosaico, desses com enorme potencial para servir de case em cursinhos de formação de monstrinhos corporativos que pululam nas redações:

“Hoje o jornalista pode estar em um churrasco, com os amigos, e ser ofensivo com os palmeirenses porque eles ganharam o jogo de domingo. E na semana seguinte ele tem que ir entrevistar o presidente do Palmeiras. Ou seja, é uma situação muito desagradável, que poderia ter sido evitada se o repórter tivesse a postura adequada de não misturar as coisas. Não tem como ter dupla personalidade, separar a sua vida pessoal da profissional, assim como não dá para ter duas contas no twitter”.

Bom, primeiro é preciso esclarecer duas coisas, principalmente para os leitores desse blog que não são jornalistas: é possível, sim, separar a vida pessoal da profissional; e, claro, dá para ter duas contas no twitter. Essa história de que jornalista tem que ser jornalista 24 horas é a base do sistema de exploração trabalhista que obriga repórteres, em todo o Brasil, a trabalhar sem hora extra, ser incomodado nas férias e interrompido nos fins de semana, como se fossem cirurgiões de guerra. Também é responsável, na outra ponta, por estimular jornalistas que se tornam escravos de si mesmo, ao ponto de, mesmo em festas de crianças e batizados de bonecas, passarem todo tempo molestando alguma fonte infeliz que calhou de frequentar o mesmo espaço.

A interdição imposta aos jornalistas pelas empresas de comunicação tem servido, entre outras coisas, para a despolitização das novas gerações de repórteres, instadas a acreditar que são meros repassadores de notícias e tarefeiros de redações. Desse triste amálgama é que surgem esses monstrinhos entusiasmados com teses fascistas, bajuladoras profissionais e bestas-feras arremessados sobre o cotidiano como cães raivosos, com carta branca para fazer, literalmente, qualquer coisa.

Não causa mais estranheza, mas é sempre bom expor o paradoxo dessa posição da ombudsman, que não é só dela, mas do sistema na qual ela está inevitavelmente inserida, desde que o pensamento reacionário e de direita passou a ser bússola fundamental da imprensa brasileira. Digo paradoxo porque o mesmo patronato que confunde, deliberadamente, liberdade de expressão com liberdade de imprensa, para evitar a regulação formal da atividade midiática, é esse que baixa norma sobre norma para impedir seus funcionários de se manifestarem no ambiente de total liberdade das redes sociais, notadamente o Twitter e o Facebook. Não o fazem, contudo, por zelo profissional.

Essa interdição visa, basicamente, evitar que os jornalistas opinem, publicamente, sobre a própria rotina e, assim, exponham as mazelas internas das corporações de mídia. Ou que expressem opiniões contrárias à de seus patrões. Foi assim, por exemplo, no caso da bolinha de papel na cabeça de José Serra, na campanha de 2010. Aquela farsa ridícula foi encampada, sem nenhum respeito ao cidadão consumidor de notícia, por quase toda a imprensa, por imposição editorial. Diversos colegas jornalistas, alguns que sequer conheço, me mandaram mensagens (um me abordou numa livraria de Brasília) implorando para que eu tratasse do assunto nas redes sociais. Todos me informaram que seriam demitidos sumariamente se contestassem, no Twitter e no Facebook, a tese patética do segundo ataque com um rolo de fita crepe. Todos, sem exceção.

A ética do jornalista é a ética do cidadão, dizia um grande jornalista brasileiro, Cláudio Abramo, aliás, responsável pela modernização de O Estado de S.Paulo e da Folha, nos anos 1960 e 1970. Portanto, nada mais natural que tenha o jornalista os mesmos direitos do cidadão, aí incluído o de se expressar. Impedi-lo, sob um argumento funcional, de exercer seu direito de opinião e crítica é, no fim das contas, mais um desses sinais de decadência moral da mídia brasileira. E, claro, retrato fiel do que ela se tornou nos últimos anos.

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Comentários

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Estudantes querem saber: quando é que vou ganhar dinheiro na rede? | Viomundo – O que você não vê na mídia

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Nassif: Deu tilt no tradutor do Estadão | Viomundo – O que você não vê na mídia

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ricardo silveira

A “bolinha de papel” foi o caso mais ridículo e exemplar do caráter do jornalismo safado praticado não por jornalistas, mas por velhacos. Era para os cidadãos e o Tribunal Eleitoral, e quem mais de direito, entrarem na justiça com processo contra a TV GLOBO porque foi uma explícita tentativa de enganá-los. A GLOBO deveria ter sido suspensa por um bom tempo e pagar multa por interferir criminosamente num processo eleitoral, com o intuito claro de ludibriar os eleitores.

Diego Henrique

Ótimo texto Leandro e concordo plenamente com vários pontos levantados, complemento inclusive dizendo que algumas questões fogem do âmbito do profissional jornalista, existe em nossos dias uma força invisível, onipresente e onipotente, os antigos costumavam chamar isso de "Deus" nós chamamos de "Mercado". Essa força incompreensível nos impôs leis intransponíveis que nos são pregadas por seus templos e por seus sacerdotes, `os templos do deus mercado não é outro senão as empresas e seus sacerdotes o patronato, a direita política é o que podemos de chamar de "fanático religioso".

É assim que vivemos, somos fiéis desse deus sem rosto, sem nome e sem piedade, seus sacerdotes sempre ameaçando-nos ao inferno se descumprirmos suas leis. Me parece que nessa doutrina perdemos qualquer traço de humanidade ao assumirmos uma profissão, de repente não somos mais indivíduos ou seres humanos, querem nos desprover de qualquer sentimento, emoção ou pensamento que nos torna humanos para que sejamos profissionais 24 horas dessa ou daquela empresa.

Só quero lembrar a todos que um famosíssimo campo de concentração nazista sustentava em seus portões de entrada uma frase solene: "ARBEIT MACHT FREI" ou em bom português "O TRABALHO LIBERTA".

Lucas

Isso mostra como a Grande Mídia é autoritária: quer mandar no país e quer mandar na vida privada de seus profissionais. De fato, é uma lógica de ditadura a da mídia.

Paulo Cezar Soares

Companheiro Leandro Fortes: seu artgo deveria figurar numa moldura, em todas as salas de aula das faculdades de comunicação. As empresas de comunicação de massa, já há algum tempo, criam com uma constância assustadora, uma série de normas, que em nada contribuem para o desenvolvimento da profissão. Mas possuem aquele ar de modernidade. Na verdade só servem para criar problemas para a rotina de trabalho dos jornalistas, que acabam virando, como você disse com muita propriedade no seu texto, repassadores de notícas, tarefeiros de redações, comandados não por chefes éticos e que respeitam a profissão, mas por capatazes de redações.

Eliane

Muito bom o texto e um post acima.

A direita tentou marchar, coitada… | ESTADO ANARQUISTA

[…] A direita tentou marchar, coitada… Category: Apoiamos — Senhor_do_Servo @ 14:51 André Barrocal, da Carta Maior […]

ZePovinho

E aquele papinho mequetrefe de que a esquerda quer controlar a imprensa???Me parece que a censura está solidamente instalada,ainda,dentro da imprensa-empresa.

Flávia

O que o Leandro denuncia é uma realidade antiga no meio jornalístico.
A solução é criarmos órgãos de imprensa de linha progressista ou de esquerda. Já temos alguns, como a Carta Maior, o Brasil de Fato, Caros Amigos, etc
Acho que já é passada a hora de termos um jornal de circulação nacional que preencha a lacuna deixada pela "Última Hora", por exemplo. Algo como o Página 12 da Argentina. Tudo poderia ser iniciado com um jornal on line, tipo portal.
Se juntarmos centrais sindicais, MST, UNE, movimentos populares diversos no apoio a idéia de criação desse órgão de imprensa,se houver algum tipo de cotização, com determinação e competência teremos o nosso grande jornal de circulaçÃo nacional. Só assim poderemos parar de ouvir comentários indignados sobre o que publica a FSP, o Estadão e o Globo diariamente nos nossos blogs preferidos. Ninguém mais vai dar bola para o que publica o PIG. E esse jornal progressista e de esquerda se encarregará de desmentir e desfazer as intrigas do PIG.
Enquanto isso o Governo Dilma bem que poderia cuidar de melhorar a qualidade e o conteúdo programático da TV Brasil e da NBR. Do jeito que está fica difícil ter boa audiência. Que tal a nossa Presidenta enviar uma equipe para aprender com os venezuelanos e argentinos a fazer tv pública de qualidade? Nesses países a audiência das tvs públicas é muito alta, em virtude da alta qualidade das programações. E os telejornais são excelentes e não ficam só repetindo a grande mídia mundial. Utilizam informações de seus próprios correspondentes e de agências chinesas, russas, norueguesas etc
O que impede os bons jornalistas de se unirem para lançar esse jornal de circulação nacional? Se os órgãos governamentais dão publicidade para o PIG por que não dariam para esse novo jornal?
Da mesma forma poderíamos ter tvs privadas com uma linha melhor. Aliás a Record está tentando. Pois que tente com mais empenho!
O mesmo vale para estações de rádio.
O que não adianta é ficarmos a vida inteira no chororô sem tomar qualquer atitude para dotar o país de uma mídia digna.
A Lei de Regulamentação da Mídia não vai resolver essas lacunas. Isso cabe aos bons profissionais da imprensa e ao público que compra jornais e revistas, assiste tv ou ouve rádio, não é não?

    eliane

    Uma Web Radio tambem é uma grande pedida, já existem inumeras que e dedicam a privilegiar varios seguimentos musicais especificos, porque nao uma Web Radio só de noticias? Se bem feita será um sucesso, porque hj acessa-e a internet por dispositivos moveis e a audiencia será imensa se contar com equipe talentosa e competente, e o melhor o investimento é irrisório, pra nao ter que esperar a boa vontade do governo que é uma lesma no assunto, uma web radio é um achado não?

Leonardo

Sobre a TV:
Gente, não sei se tenho algum feixe de razão, mas, percebo que está ocorrendo uma forçada saída de cena de todos os velhos jornalistas(velhos de carreira, os bons profissionais) – vide o exemplo de Maria Lydia(ex-jornal da Gazeta), aquela estranha troca de apresentadores no Roda Viva da TV Cultura(primeiro o Heródoto Barbeiro, depois a Gabi). No jornalismo impresso, aquele caso da jornalista do Estadão.
Em relação às televisões, também se percebe uma forçada demissão de trabalhadores – MTV, agora, dirigida pelo grupo Abril -, o atraso de salários na RedeTV.
Que péssimos ventos são esses que pairam sobre a TV e o jornalismo político do Brasil?
Parece até proposital, os donos das capitanias hereditárias da comunicação apostam cada vez mais nos reality shows, na programaççao enlatada e no esvaziamento do jornalismo crítico.
O que será que eles estão preparando?
Não é teoria da conspiração, mas percebo que há uma tendência de forçar o emburrecimento ou de calar as vozes inteligentes da TV, do jornalismo impresso. O que acham?

Julio Silveira

As vezes fico pensando nesse tipo de posicionamento publico, e passo a acreditar que quem tem essas posições já deve ser sócia do patrão.

FrancoAtirador

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Quem "controla" a mídia?

Por Venício Lima* na Agência Carta Maior

Você já ouviu falar em Alexander Lebedev, Alexander Pugachev, Rupert Murdoch, Carlos Slim ou Nuno Rocha dos Santos Vasconcelos? Talvez não, mas eles já “controlam” boa parte da informação e do entretenimento que circulam no planeta e, muito provavelmente, chegam diariamente até você, leitor(a).

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a “fazer de conta” que as ameaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global, confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos mega empresários.

Na verdade, uma das conseqüências da crise internacional que atinge, sobretudo, a mídia impressa, tem sido a compra de títulos tradicionais por investidores – russos, árabes, australianos, latino-americanos, portugueses – cujo compromisso maior é exclusivamente o sucesso de seus negócios. Aparentemente, não há espaço para o interesse público.

Na Europa e nos Estados Unidos
Já aconteceu com os britânicos The Independent e The Evening Standard e com o France-Soir na França. Na Itália, rola uma briga de gigantes no mercado de televisão envolvendo o primeiro ministro e proprietário de mídia Silvio Berlusconi (Mediaset) e o australiano naturalizado americano Ropert Murdoch (Sky Itália). O mesmo acontece no leste europeu. Na Polônia, tanto o Fakt (o diário de maior tiragem), quanto o Polska (300 mil exemplares/dia) são controlados por grupos alemães.

Nos Estados Unidos, a News Corporation de Murdoch avança a passos largos: depois do New York Post, o principal tablóide do país, veio a Fox News, canal de notícias 24h na TV a cabo; o tradicionalíssimo The Wall Street Journal; o estúdio Fox Films e a editora Harper Collins. E o mexicano Carlos Slim é um dos novos acionistas do The New York Times.

E no Brasil?
Entre nós, anunciou-se recentemente que o Ongoing Media Group – apesar do nome, um grupo português – que edita o “Brasil Econômico” desde outubro, comprou o grupo “O Dia”, incluindo o “Meia Hora” e o jornal esportivo “Campeão”. O Ongoing detem 20% do grupo Impressa (português), é acionista da Portugal Telecom e controla o maior operador de TV a cabo de Portugal, o Zon Multimídia.

Aqui sempre tivemos concentração no controle da mídia, até porque , ao contrário do que acontece no resto do mundo, nunca houve preocupação do nosso legislador com a propriedade cruzada dos meios. Historicamente são poucos os grupos que controlam os principais veículos de comunicação, sejam eles impressos ou concessões do serviço público de radio e televisão. Além disso, ainda padecemos do mal histórico do coronelismo eletrônico que vincula a mídia às oligarquias políticas regionais e locais desde pelo menos a metade do século passado.

Desde que a Emenda Constitucional n. 36, de 2002, permitiu a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, investidores globais no campo do informação e do entretenimento, atuam aqui. Considerada a convergência tecnológica, pode-se afirmar que eles, na verdade, chegaram antes, isto é, desde a privatização das telecomunicações.

Apesar da dificuldade de se obter informações confiáveis nesse setor, são conhecidas as ligações do Grupo Abril com a sul-africana Naspers; da NET/Globo com a Telmex (do grupo controlado por Carlos Slim) e da Globo com a News Corporation/Sky.

Tudo indica, portanto, que, aos nossos problemas históricos, se acrescenta mais um, este contemporâneo.

Quem ameaça a liberdade de expressão?
Diante dessa tendência, aparentemente mundial, de onde partiria a verdadeira ameaça à liberdade de expressão?

Em matéria sobre o assunto publicada na revista Carta Capital n. 591 o conhecido professor da New York University, Crispin Miller, afirma em relação ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos:

“O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet (…)”.

Todas estas questões deveriam servir de contrapeso para equilibrar a pauta imposta pela grande mídia brasileira em torno das “ameaças” a liberdade de expressão. Afinal, diante das tendências mundiais, quem, de fato, “controla” a mídia e representa perigo para as liberdades democráticas?

*Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília – NEMP – UNB

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMost

Alexei_Alves

Leandro Fortes é o cara

    Klaus

    SAbe quem concorda com você? O patrão dele.

    Alexei_Alves

    continue tentando, Klaus. Você consegue, vai.

    Leider_Lincoln

    Ele disse hoje de manhã pelo Facebook as palavras definitivas:
    "Não tem mistério nenhum. O foco da "marcha contra a corrupção" era o governo Dilma, que tem corrupção, como qualquer governo. Mas por que não uma marcha "contra a corrupção no governo Dilma"? Porque, meus caros, a turminha que faz de passeata balada teria que enfrentar a militância do PT nas ruas. E uma coisa é marchar com água de côco e barra de cereal, outra é ter argumentos e colhões para enfrentar o adversário de frente."

FrancoAtirador

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Liberdade de imprensa e regramento democrático

Editorial SUL21

Há muitas definições possíveis de democracia. Talvez a mais básica seja a de autoria de Norberto Bobbio, enunciada no livro O futuro da democracia – uma defesa das regras do jogo. Como fica explícito no subtítulo da obra, é o estabelecimento de regras que define o caráter do jogo político. Segundo Bobbio, “por regime democrático se entende principalmente um conjunto de regras de procedimento para a formação das decisões coletivas, nas quais é prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados”.

Regras que precisam ser respeitadas e que são imprescindíveis, em uma democracia, tanto para limitar o poder do Estado-soberano, por meio de uma Constituição, quanto para disciplinar as liberdades e regular os direitos dos cidadãos e da sociedade civil. A ausência de regras de participação,diferente do que se imagina, gera anarquia ou autoritarismo, nunca uma democracia.

A democracia é concebida como um processo, que pode ser mais ou menos democrático. Robert Dahl, que formulou o conceito de poliarquia para definir as democracias realmente existentes, demonstra que quanto mais inclusivo, quanto mais participativo, quanto mais responsivo (ou seja, quanto mais capaz de responder às demandas dos cidadãos) for um sistema político, mais democrático ele será.

Estas formulações se adéquam perfeitamente à realidade brasileira de hoje e à discussão em curso na mídia do país, principalmente desde o encerramento do 4º Congresso do PT, ocorrido no último domingo (04), no qual foi aprovada uma moção de apoio ao estabelecimento de um “marco regulatório das comunicações”.

Sem ao menos explicitar o teor da moção aprovada, amplos setores da mídia nacional reassumiram suas posturas históricas e se colocaram peremptoriamente contrários ao estabelecimento de regras de procedimento para a normatização das comunicações no Brasil. Voltaram a defender, como fazem há tempos, que em uma sociedade democrática não podem existir regras que limitem o poder da imprensa e das comunicações.

Segundo esta concepção, a imprensa seria mais soberana que o Estado, pois não estaria submetida a nenhuma regra. Não se trata aqui de defender as propostas do PT que não são, na verdade, muito diferentes das propostas que já foram aprovadas pela 1ª Conferência Nacional de Comunicação, realizada em 2009, ou das propostas elaboradas pelo ex-ministro das comunicações Franklin Martins, em 2010.

Trata-se, aqui, de defender a necessidade da existência de regras que normatizem os procedimentos da imprensa, disciplinando a atividade e impedindo a oligopolização ou a monopolização do mercado. Trata-se de admitir a criação de um Conselho Nacional de Comunicação, que regule as atividades de imprensa e no qual estejam representados tanto os profissionais quanto as empresas de comunicação, além do Estado e de outros setores da sociedade civil.

Trata-se de defender a liberdade de expressão, garantindo a livre manifestação das opiniões, via imprensa, primeiro direito cerceado em qualquer governo autoritário. Regular as atividades de imprensa não implica a regulação dos conteúdos veiculados pela mídia. Estes precisam manter-se sempre intocáveis, submetidos apenas às sanções penais e cíveis, em caso de abusos contra pessoas, instituições ou o próprio Estado. Garantir o direito de expressão e de manifestação implica, entretanto, garantir a diversidade de opiniões, só possível com a existência de diferentes veículos de comunicação, sem que os maiores eliminem os menores.

No Brasil, a resistência e o combate à ditadura levaram à idéia de que toda e qualquer regulação da mídia corresponde a autoritarismo. Em qualquer país democrático, entretanto, há regras de procedimento estabelecidas e que regulam a atuação da imprensa e sua propriedade. Para evitar dúvidas e mal entendidos urge que o próprio governo federal tome a iniciativa de reabrir o debate na sociedade, propondo marcos para a regulação dos meios de comunicação.

http://sul21.com.br/jornal/2011/09/liberdade-de-i

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