Julian Rodrigues: Todo antipetismo é anti-esquerda, nunca se esqueçam disso!

Tempo de leitura: 3 min
Fotos: Reprodução de redes sociais

Por Julian Rodrigues*, especial para o Viomundo

Já deu para decantar um pouco. Nessa temporada aberta de balanços eleitorais (luta política intensa em todos os espaços), alguns pontos queria destacar:

1) mesmo entre a esquerda, pouca gente considera, nas análises, a conjuntura internacional: maior crise do capitalismo desde anos 1930, impacto da pandemia, força do imperialismo, ascenso da extrema direita em todo mundo;

2) também pouco se menciona sobre o golpe de 2016, o novo período, a derrota monumental que toda esquerda sofreu, a prisão de Lula, a guerra híbrida, a aliança orgânica entre ultra-liberalismo e neofascismo, a retirada massiva de direitos; o desmonte dos sindicatos, a pauperização das massas; o crescimento do fundamentalismo religioso;

3) caminhamos, principalmente os petistas, sobre uma corda bamba (evitar o triunfalismo/sentimento de avestruz, pura autodefesa). Precisamos impedir a absorção do antipetismo hegemônico na mídia e forte também entre o “campo progressista”;

4) não foi só o PT que foi derrotado, o conjunto da ESQUERDA (PT, PCdoB e PSOL) também foi – como fomos em 2016 e 2018. A “centro-esquerda” (o amontoado que é o PDT, a metralhadora giratória do Ciro e o PSB) também diminuíram;

5) O PT não cresceu, mas não diminuiu em número de votos. E mostrou uma leve reação nas capitais e grandes cidades. O fenômeno Boulos e a vitória de Edmilson fortaleceram o PSOL, mas tendem a gerar ilusões de ótica – trata-se de um partido com 5 prefeituras e 75 vereadores (o PT tem 2.584 vereadores e 178 prefeituras);

6) a conexão com a juventude, com a luta antirracista, feminista, com a agenda LGBTI, dos direitos humanos propiciou que PSOL e PT elegessem novas lideranças nas Câmaras.

Não se trata de “pauta identitária” , como muitos na própria esquerda dizem (é uma luta contra as opressões, por representatividade, reconhecimento, uma luta interseccional – classe, raça, gênero, geração, liberdades sexuais e de gênero). Mas, é preciso não permitir o sequestro dessas lutas pelo “neoliberalismo progressista” , que esvazia seu conteúdo anticapitalista (tipo quebrando tabu da vida);

7) nem precisa ser sectário para cravar que não há a menor possibilidade de “frente ampla” ou “frente de centro-esquerda” em 2022.

DEM/PSDB/MDB/Mídia sustentaram e sustentam Bolsonaro até aqui e se preparam para construir uma chapa em 2022 (Doria/DEM) .

Esqueçam o Caldeirão – e Moro já arrumou emprego em Washington. Por outro lado, o coronel de Pidamonhangaba já explodiu todas as pontes ao mesmo tempo com PT, PSOL e até com o PCdoB (pasmem!). Ciro terá apoio do PSB e olhe lá;

8) todo antipetismo é anti-esquerda, nunca se esqueçam disso. O que não quer dizer que o PT não precise – nas palavras da brava Gleisi de uma “chacoalhada”.

Se quiser continuar a ser o maior partido da classe, liderando o bloco de esquerda, PT deve passar por uma profunda transformação, dar um “giro estratégico”, renovar, retomar o programa democrático-popular/socialista, investir na mudança da linguagem, nas redes, radicalizar a transição geracional, voltar ao território, fazer formação política, assumir a batalha ideológico-cultural.

Deixar de ser quase apenas uma máquina eleitoral e voltar a ser um PARTIDO;

9) desde agora, sem ultimatos ou sem achar que isso é a “tábua de salvação do mundo”, é preciso apostar em uma composição orgânica PT-PSOL-PCdoB. Que construa um programa comum.

Uma chapa presidencial com PSOL ou PCdoB como vices do nome petista, costurando o tabuleiro nos Estados, as contrapartidas, etc.

Dino é um excelente vice, por exemplo. Boulos e Freixo podem ser candidatos a governador em RJ e SP. Manu pode ser nossa candidata unitária no Rio Grande do Sul , e por aí vai;

10) o Ministério da Justiça confirmou que toda colaboração da Lava-Jato com os EUA não passou pelo governo federal.

Ou seja, foi ilegal. Moro acaba de se mudar para Washington pra ser funcionário de uma empresa internacional que vai ajudar na recuperação da Odebrechet (que ele mesmo quebrou).

Ou seja, resolveu receber em dólar sua parte na operação golpista. Nem depois disso vamos, coletivamente, voltar a pautar a suspeição do marreco de Maringá, o #AnulaSTF?

Lula pode até não ser candidato a presidente ou a vice, mas é uma questão básica para a restauração do mínimo de democracia, né?

#LulaLivre e #LulaInocente. Não é bonito ver gente de esquerda absorvendo antipetismo e anti-lulismo.

Se o PT fosse tão fraco assim, não seria o centro do debate sobre o balanço eleitoral.

*Julian Rodrigues é professor e jornalista; ativista LGBTI e de Direitos Humanos.


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Comentários

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Darcy Brasil Rodrigues da Silva

Se “não há a menor possibilidade de Frente Ampla” em 2022, então, “nem precisa dizer” que não há a menor possibilidade de derrotar eleitoralmente a direita em 2022.

Zé Maria

Antipetismo é o Fascismo, um Anticomunismo falso e mentiroso
que tem como arma política a Desfaçatez e a Falta de Escrúpulos.

Zé Maria

Falando em “coronel de Pindamonhangaba”,
o 2º Batalhão de Engenharia de Combate do
Exército, com sede nesse Município Paulista,
recebeu o nome do Bandeirante Assassino,
Estuprador, Mercenário e Ladrão “Borba Gato”,
um dos Heróis da NaSSão Militar.

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