Jeferson Miola e as apostas de Lula: Tomara que a história lhe dê razão

Tempo de leitura: 5 min

As apostas do Lula

Por Jeferson Miola, em seu blog

Na entrevista coletiva aos veículos independentes de comunicação [19/1], Lula avançou na explicitação de posições sobre a conjuntura eleitoral e política do país.

Foi a primeira vez que o ex-presidente explicitou de modo transparente seu posicionamento acerca de questões polêmicas e ainda pendentes de debate interno no PT e na esquerda social e partidária.

No que disse ser “uma conversa muito verdadeira entre as pessoas mais significativas da chamada imprensa alternativa do país”, Lula fez questão de deixar claro aspectos centrais da conjuntura:

1. ele pretende concorrer com uma aliança “mais ampla que o PT; não mais à esquerda, mas ao centro e, se for o caso, até com setores da centro-direita”.

Como sabemos, este critério abarca setores que atuaram na conspiração e no golpe para a derrubada da presidente Dilma em linha com o deep state estadunidense.

É preciso recordar, neste sentido, a viagem aos EUA, em 18 de abril de 2016, do então presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador tucano Aloysio Nunes, no dia seguinte à aprovação do impeachment fraudulento pela Câmara.

Lula repetiu mais de uma vez que “Ganhar eleição é mais fácil que governar, por isso é preciso fazer alianças”.

Por suposto, ele faz alusão à base parlamentar/congressual como eixo central de sustentação do futuro governo.
Coerente com esta percepção, nas suas falas ele acenou aos tucanos – “O PSDB do Doria não é o PSDB do Covas, do Serra, do FHC …” – e, também, a Gilberto Kassab, com quem ainda não pôde conversar porque o dono do PSD se recupera da covid;

2. como recurso retórico para contornar as restrições da lei eleitoral que proíbe anúncio de candidaturas fora de prazo, Lula repetiu várias vezes que ainda não é candidato.

Apesar de “ainda não estar definido” para encabeçar a chapa eleitoral, Lula curiosamente já tem, entretanto, uma certeza quanto ao vice que quer emplacar: o ex-governador tucano Geraldo Alckmin.

É inclusive possível depreender das entrelinhas do discurso do Lula que a filiação do Alckmin ao PSD do Kassab, e não ao PSB, seria do agrado – senão da preferência – dele.

Com isso, se fecharia uma federação partidária de contorno mais homogêneo e permanente no campo da esquerda; e uma aliança eleitoral ampla, abarcando até a centro-direita;

3. para Lula, o programa de governo será a garantia de compromisso que cimenta a aliança eleitoral ampla.

Questionado sobre a hipótese de interrupção do mandato devido ao ambiente de extremismo e pistolagem política da ultradireita, assim como em razão da própria finitude da vida, contextos em que Alckmin assumiria a presidência e poderia passar a executar o “programa tucano”, Lula minimizou tais riscos.

Primeiro, subestimou a hipótese de atentados políticos no Brasil. Oxalá esta percepção não represente despreocupação e/ou afrouxamento com o esquema de segurança pessoal do ex-presidente diante de um cenário de enorme resistência, ódio e intolerância a ele, sobretudo nos estamentos militares, setores radicalizados da ultradireita e seus tentáculos milicianos.

Quanto à crença no compromisso de Alckmin e de sua classe social com o programa de governo eleito, o usurpador Temer já evidenciou que da noite para a manhã, como que num passe de mágica, um governo pode mudar radicalmente de rumo. Basta, para isso, construir uma “ponte para o abismo”.

O programa de governo não tem valor vinculante e, além disso, devido ao sistema político brasileiro criado pelas oligarquias para eternizar o status quo, o PT e a eventual federação partidária de esquerda não teria maioria parlamentar no Congresso para bancar o programa eleito num eventual cenário de Alckmin assumir definitivamente em lugar de Lula.

Já será alvissareiro se a federação de esquerda conseguir eleger pelo menos 172 deputados/as para bloquear a repetição, pelas oligarquias golpistas, do impeachment farsesco da Dilma.

A circunstância que Lula utilizou para anunciar com primazia suas perspectivas políticas e eleitorais – em entrevista a veículos independentes, cuja audiência preponderante é conformada por público progressista e de esquerda – não deve ser vista como fortuita.

Dali, daquele âmbito “doméstico”, por assim dizer, os anúncios do Lula foram irradiados para toda a mídia hegemônica e entraram no debate político nacional como se “chancelados”, em certo sentido, pelo seu campo político.

Este é o movimento pré-eleitoral mais relevante do Lula. Ele fez as apostas e posicionou as peças do xadrez no tabuleiro. O jogo ainda não está inteiramente jogado, mas Lula adiantou de maneira irreversível várias jogadas. Dificilmente haverá oposição partidária capaz de reverter suas vontades.

Embora não tenha mencionado uma única vez a palavra governabilidade, este vocábulo parece estar subjacente ao raciocínio dele sobre esta longa, incerta e interminável conjuntura.

Nos cerca de 18 minutos do discurso introdutório antes das perguntas de jornalistas, Lula destacou sua preocupação com a precariedade da democracia brasileira.

“Não imaginava que a gente pudesse retroceder tanto”, disse ele, considerando o cenário atual impensável para quem participou da luta contra a ditadura e das conquistas democráticas e de direitos políticos, civis e humanos no país.

A ameaça à democracia, a fragilidade do sistema político e o temor de ingovernabilidade, embora não tenham sido mencionados textualmente por Lula, parecem conformar, todavia, a moldura na qual ele enquadra a realidade. E não é para menos, porque a democracia está efetivamente submetida a um teste de sobrevivência no Brasil.

Ante isso, Lula prescreve como antídotos aos riscos por ele diagnosticados [i] uma aliança eleitoral ampla, abarcando a centro-direita, [ii] a indicação de Alckmin como vice na chapa como uma espécie de apólice de seguro, [iii] a sustentação congressual/parlamentar com a ajuda do campo conservador e neoliberal, e [iv] um governo moderado, composto por setores neoliberais e historicamente adversários do PT e da esquerda.

Goste-se ou não, esta fórmula poderá – ou não – atender às necessidades do curto prazo para assegurar a travessia até uma conjuntura de maior estabilidade política e de garantias democráticas. Esta é a aposta central do Lula.

Mas esta fórmula, em si mesma, não é garantia de que as coisas efetivamente venham a transcorrer dessa maneira.

Na equação apresentada pelo Lula na entrevista, o componente da mobilização popular ativa e permanente como dispositivo de sustentação do governo esteve totalmente ausente. Conforme já comentado, ele centra a sustentação do governo na estratégia congressual/parlamentar.

Não se quer dizer, evidentemente, que a governabilidade baseada na sustentação popular seja, por si mesma, eficaz para evitar golpes; mas a governabilidade congressual/parlamentar tal como se conhece, fundada na fisiologia, corrupção e pragmatismo, mostrou-se fatal para o campo democrático-popular no golpe de 2016.

Lula referiu-se ao povo de modo genérico na entrevista; o povo foi citado enquanto objeto/destinatário do projeto governamental, não como sujeito ativo e central da lógica de sustentação do governo.

As conferências temáticas, por ele citadas, são instrumentos importantes e necessários, mas não substituem o requerimento de uma democracia à quente, de caráter plebiscitário, participativo e, principalmente, de participação popular animada e convocada pelo próprio governo, para a definição, controle e acompanhamento da execução do programa de governo sufragado pelas urnas.

A forma como as oligarquias perpetraram o golpe e derrubaram a presidente Dilma, com incrível e espantosa facilidade, derivou da incapacidade de mobilização de massas e de radicalização da luta social em defesa do projeto democrático e popular.

Naquele processo como hoje, a ultradireita ocupou as ruas do país. Nada indica que será diferente com a derrota do Bolsonaro, pois vivemos um contexto qualitativamente novo e desafiador, de ativismo febril da extrema-direita não somente no esgoto das redes sociais, mas nas ruas, nos legislativos, nas instituições e na dinâmica social.

Lula é um ser político raro e diferenciado, para não dizer único. Isso não significa um ser infalível, condição que ele mesmo rechaçaria.

Na entrevista, Lula disse “eu sei por que criei o PT”. Tomara que a história lhe dê razão neste que é o momento mais crucial da história do país.


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Zé Maria

Notícias TSE
24/01/2022
BIOMETRIA

Eleitor Sem Biometria NÃO SERÁ IMPEDIDO DE VOTAR em 2022

Cadastro biométrico continua suspenso em todo o país. Medida foi tomada pela Justiça Eleitoral como forma
de prevenir a disseminação da Covid-19

Desde 2020, o Cadastro Biométrico ESTÁ SUSPENSO
em todo o Brasil como forma de prevenção ao contágio
da Covid-19, uma vez que a coleta das digitais só pode ser
feita presencialmente.
Além disso, o sistema passa por atualizações de softwares
e equipamentos para prestação de um melhor serviço ao
eleitorado.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também esclarece
que nenhuma eleitora ou eleitor que não realizou o
cadastramento será proibido de votar.

A ausência da biometria não impede, por si só, o exercício do voto.

Para quem já havia feito o cadastro antes da pandemia,
o TSE informa que a identificação biométrica no dia da
eleição ainda é objeto de estudos pela Justiça Eleitoral

Em atendimento ao Plano de Segurança Sanitária
elaborado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em
parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e os
hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, não houve
identificação biométrica do eleitorado nas Eleições
Municipais de 2020.

Entretanto, o uso da biometria (para quem havia feito o cadastro antes da pandemia) nas Eleições Gerais de 2022
ainda é objeto de estudos pela Justiça Eleitoral e depende
da evolução da crise sanitária provocada pela doença no
país.

Não há, até o momento, nenhuma definição quanto ao
protocolo sanitário a ser seguido durante as Eleições 2022.

A Resolução TSE nº 23.669/2021 [*], que trata dos atos gerais
do processo eleitoral, lista os documentos que serão
aceitos como forma de comprovação da identidade da
eleitora ou eleitor no dia da votação.
São eles:
carteira de identidade,
identidade social,
passaporte ou
outro documento de valor legal equivalente,
inclusive carteira de categoria profissional
reconhecida por lei;
certificado de reservista;
carteira de trabalho e
carteira nacional de habilitação.

[*]https://www.tse.jus.br/legislacao/compilada/res/2021/resolucao-no-23-669-de-14-de-dezembro-de-2021

Íntegra:

https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2022/Janeiro/fato-ou-boato-cadastro-biometrico-continua-suspenso-em-todo-o-pais-eleitor-sem-biometria-nao-sera-impedido-de-votar

Leia também:

https://www.tse.jus.br/legislacao/compilada/res/2021/resolucao-no-23-667-de-13-de-dezembro-de-2021?texto=compilado

Zé Maria

https://operamundi.uol.com.br/media/images/Ucrania.gif

UCRÂNIA: 2014 Reloaded

Não irá ocorrer Guerra na Ucrânia.
Lá, a Guerra Civil corre em Donbass *
desde o Golpe de Estado de 2014
que depôs o Presidente Ucraniano.
Agora, o que haverá é invasão: ou da
OTAN, ou da Rússia, ou de Ambos.

https://operamundi.uol.com.br/opiniao/34200/carlos-latuff-e-na-ucrania-o-gigante-despertou

OTAN (EUA/UE) x RÚSSIA: O que querem na – ou da – Ucrânia

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/91/Map_of_the_war_in_Donbass.svg

* DONBASS (Bacia do Rio Donets) é uma sub-bacia do Rio Don, com 98.900 km²
que compreende uma região histórica, geográfica e cultural do extremo leste
da Ucrânia, na fronteira com a Rússia.

A Bacia de Donbass cobre três óblasts (províncias) do extremo leste da Ucrânia:
oblast de Dnipropetrovsk (nas cercanias da cidade de Pavlohrad);
a parte norte e central do oblast de Donetsk; e
a parte meridional do oblast de Lugansk.

Donbass é atualmente a segunda região mais densamente povoada da Ucrânia, superada apenas pela capital Kiev.

A cidade de Donetsk é considerada a capital não oficial da região.

O Rio Donets, apesar de ter a maior parte de seu curso em território ucraniano,
tem suas nascentes em território russo e é o principal afluente do rio Don
que tem seu curso totalmente na Rússia.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0c/Donrivermap.png

Donbass é uma importante região mineradora e industrial da Ucrânia.

Notável por suas reservas de ferro e carvão mineral, a área explorada
da bacia carbonífera cobre cerca de 23.300 Km² a sul do rio Donets.
Começou a ser escavada no começo do século XIX.
Em 1913, a Bacia do Donets produzia cerca de 87% de carvão mineral na Rússia.

A depressão carbonífera une-se ao rico depósito de ferro de Krivoi Rog,
onde foi instalada uma usina de ferro em 1872, em Donetsk;
em 1913 extraía 74% de toda a produção russa de minério de ferro.

Atualmente, a zona é a maior região produtora de ferro e aço da Ucrânia
e uma dos principais complexos de indústria pesada do mundo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacia_do_Donets

Zé Maria

“Até se pode praticar novos erros,
porque errar é do humano ente,
mas não [se deve cometer] os mesmos erros,
porque é, no mínimo, imprudente.”

sergio

Apesar de toda admiração que tenho pelo Lula, por ser um eleitor contumaz do PT, desde o meu primeiro voto (e lá se vão 38 anos) estou com os dois pés atrás com este arranjo. Já padecemos deste mal, e apesar de não ficar 580 dias na prisão, nós Petistas convictos sofremos muitas agressões verbais quando não físicas. Amizades foram desfeitas para sustentar nossa ideologia. Laços familiares foram quebrados. Não é revanchismo. Sofremos juntamente com Dilma e Lula durante o golpe sem fim.
Por este motivo não dá para validar este arranjo. Da minha parte, pela primeira vez, o meu voto, antes certíssimo, hoje subiu no telhado. Sei que não faz grande diferença este desabafo, mas a realidade é esta. A se continuar neste caminho meu voto não será sacramentado desta vez.
Dá para fazer diferente. Lula não é líder das pesquisas porque acolheu um homem da direita de longa data. Esta aliança não vai acrescentar tantos votos assim no final, pois uma parte vai debandar.
Nós não somos gado. Nosso voto não é propriedade do PT e do Lula. Queremos o bem do país e eu não acredito que uma aliança deste tipo seja pelo bem do Brasil, pois tendo um golpista como vice, tendo a história recente na memória, não fica difícil acreditar em uma morte subita de Lula, assim como aconteceu com Tancredo.
No caso de Dilma e Tancredo, a direita levou mesmo tendo perdido. Por que acreditar que agora seria diferente?

Henrique martins

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/telegram-cresce-numero-bolsonaristas/

O centro operacional do Telegram é em Dubai e o criador do sistema é russo.
O Telegram não está sediado na Rússia não gente.

Zé Maria

O Lula só não deve esquecer que o Grupo GAFE* de Mídia Venal
continua – e continuará – antipetista e ligada aos interesses dos
Estados Unidos da América (EUA) em detrimento do Brasil.

Luiz Mattos

A mim causa indignação e perplexidade ele crer que basta um congresso nas mãos.
As bases foram esquecidas e até ultrajadas e desafiadas ao dizer que voltariam sorrindo após tudo sacramentado. Creio que poderia vencer no primeiro turno mas desafiar as bases ideológicas poderá fazer com que exista uma enorme proporção de votos nulos ,brancos e ausentes. De minha parte votar em golpista em fascista como Geraldo fere minha ideologia,meu caráter e minha honra pois combato esse CANALHA a mais de 20 anos e não esqueço o spray de pimenta as cacetadas e tiros de borracha de sua PM assim como a tragédia desumana,um pogrom ocorrido contra o POVO pobre de Pinheirinho. Lula vira as costas a base,crê sermos gado como os bolsonaristas mas PETISTA bate o pé ,não recua e sabe fazer sentir sua revolta se ausentado das ruas nas horas críticas. Lula não é dono do PT, Lula não ciou o PT sozinho e não fez um estatuto solitário,foram noites e dias de discussão com operários,gente saindo da luta armada e intelectuais primorosos. A ata de criação do PT não tem somente uma assinatura !

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