Jeferson Miola: Genocídio em Gaza, indústria do Holocausto e aumento do antissemitismo

Tempo de leitura: 4 min
Ilustração: Carlos Latuff (@LatuffCartoons e instagram.com/carloslatuff)

Genocídio em Gaza, indústria do Holocausto e aumento do antissemitismo

Por Jeferson Miola, em blog

É crescente a consciência crítica mundial e de governantes ao redor do mundo acerca da matança genocida e dos crimes de guerra cometidos por Israel com o patrocínio dos Estados Unidos.

À medida em que cresce essa indignação mundial com a monstruosidade em Gaza, cresce em correspondência a propaganda sionista que considera como ataque antissemita toda e qualquer repulsa à barbárie do Estado étnico-fundamentalista de Israel.

É instrumental ao sionismo essa confusão que equipara todo judeu a sionista, quando se sabe que nem todo judeu é sionista, e que a crítica ao regime sionista de Apartheid não significa ódio ou ataque ao judaísmo.

Esta falsa equivalência é eficazmente útil à propaganda sionista, que com isso carimba como ofensa antissemita a mínima crítica ao sionismo e à brutalidade de Israel que dura mais de 75 anos.

Nas palavras do escritor israelense Boas Evron, o Holocausto nazista “é uma doutrina oficial de propaganda, um martelar de slogans e uma falsa visão do mundo, cujo objetivo real não é entender o passado, mas manipular o presente” e, também, a verdade dos fatos.

Outros autores judeus entendem que a exploração do antissemitismo como dispositivo de legitimação ideológica funciona como uma indústria poderosa, que lucra imensamente com a estimulação do sentimento paranoico do povo “eternamente perseguido”.

Norman G. Finkelstein descreveu essa indústria como A Indústria do Holocausto.

No livro publicado no Brasil em 2001 [editora Record, disponível aqui em PDF], este cientista político estadunidense e filho de judeus sobreviventes do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazistas oferece importantes “reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus”.

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Na visão de Finkelstein, “dois dogmas principais sustentam” a instrumentalização maliciosa do Holocausto nazista: “(1) O Holocausto marca categoricamente um acontecimento histórico único; e (2) O Holocausto marca o clímax do ódio irracional e eterno dos não-judeus pelos judeus”.

No entanto, escreve Finkelstein, na historiografia “o holocausto nazista não foi classificado como um fato unicamente judeu, como um acontecimento historicamente único. A organizada colônia judaica americana em particular penou para incluí-lo num contexto universalista”.

“O que mudaria em nossa compreensão se o holocausto nazista não fosse o primeiro, mas o quarto ou quinto numa linha de catástrofes [humanas] comparativas?”, ele questiona.

É em razão disso –da reivindicação da exclusividade do Holocausto como catástrofe humana única na história, e que recaiu exclusivamente sobre os judeus–, que beneficiários da Indústria do Holocausto como Elie Wiesel advertem que “comparar o Holocausto com os sofrimentos dos outros constitui uma traição total da história judaica”.

Para Finkelstein, a existência do Museu do Holocausto “no Washington Mall é incongruente com a ausência de um museu aos crimes no curso da história americana” – como, por exemplo, a ausência de um Museu do Holocausto dos povos originários na América do Norte.

Se poderia citar, ainda, a ausência de museus sobre o Holocausto dos povos originários nas Américas Central e do Sul; sobre a escravização de africanos; sobre os genocídios de armênios na Europa e de negros na Namíbia; e sobre o Apartheid na África do Sul – apenas para ficar nessas hecatombes humanas que não merecem, até hoje, ter seus monumentos próprios de memória.

“Teriam sido os judeus as únicas vítimas do Holocausto, ou outros que também morreram na perseguição nazista deveriam entrar como vítimas?”, Finkelstein pergunta, lembrando que “os nazistas mataram quase meio milhão de ciganos com perdas proporcionais iguais ao do genocídio judeu”, […] “uns 2,5 milhões de poloneses católicos, milhões de cidadãos soviéticos e várias nacionalidades foram também vítimas deste genocídio…”.

Sionistas atacam esta verdade histórica dizendo, cinicamente, que “os não-judeus que desapareceram em Auschwitz ‘morreram uma morte inventada para os judeus (…) vítimas [decerto colaterais] da solução’ designada para outros [os judeus]” [Leon Wieseltier].

O caráter de “mal único do Holocausto não só separa os judeus dos outros, como também dá aos judeus um ‘direito sobre todos esses outros’” [Jacob Neusner].

Para Edward Alexander, “a singularidade do Holocausto é um ‘capital moral’; os judeus precisam ‘exigir soberania’ sobre esta ‘valiosa propriedade’”.

“O reconhecimento da singularidade do Holocausto [o capital moral] é o reconhecimento da supremacia judaica. O Holocausto é especial porque os judeus são especiais”. “A singularidade do sofrimento judaico, sugere o historiador Peter Baldwin, soma-se às demais reivindicações que Israel pode fazer (…) sobre outras nações”.

Esse “álibi privilegiado”, sustenta Finkelstein citando Nathan Glazer, “dá a eles “o direito de se considerarem especialmente ameaçados e especialmente merecedores de todos os esforços necessários à sua sobrevivência”.

“Toda e qualquer justificativa da decisão de Israel de desenvolver armas nucleares evoca o espectro do Holocausto”, ele diz. A paranoia com a ameaça existencial eterna justifica “qualquer expediente usado por Israel, mesmo agressão e tortura, [pois] constitui legítima defesa”.

A escritora sionista Cynthia Oziek justifica que “como os não-judeus estão sempre querendo matar os judeus, eles têm todo o direito de se proteger ao menor ataque”.

Por este raciocínio, seriam aceitáveis, por exemplo, bombardeios de hospitais, mesquitas, escolas, e o assassinato de uma criança a cada 11 minutos e de uma mulher palestina a cada 17 minutos até a “solução final” de aniquilamento dos “animais selvagens”, os palestinos.

Boas Evron explica que “esta mentalidade [paranoica] perdoa por antecipação qualquer tratamento desumano aos não-judeus, prevalecendo o mito de que ‘todo mundo colaborou com os nazistas na destruição do povo judaico’, portanto tudo é permitido aos judeus em suas relações com os outros povos”.

Finkelstein sustenta que

“nos últimos anos [referindo-se aos anos 1990], a indústria do Holocausto tornou-se uma completa farra de extorsão. Pretendendo representar os judeus de todo o mundo, vivos e mortos, ela está exigindo da Europa indenizações pela era do Holocausto.

[…] A extorsão sobre a Suíça e a Alemanha tem sido apenas um prelúdio para o grand finale: a extorsão da Europa Oriental. Com o colapso do bloco soviético, abriram-se oportunidades tentadoras na antiga região central da comunidade judaica europeia. Vestindo o manto sagrado das ‘necessitadas vítimas do Holocausto’, a indústria do Holocausto tem procurado extorquir bilhões de dólares destes países já empobrecidos. Ao perseguir este objetivo com um desembaraço indiferente e cruel, ela se tornou o principal fomentador do antissemitismo na Europa”.

O sionismo – e não a reação mundial às monstruosidades cometidas pelo regime de Apartheid em nome de um Estado étnico, racista e religioso-fundamentalista–, é o grande responsável pela onda de antissemitismo que cresce em todo o mundo.

Leia também:

Jeferson Miola: Inventário de 40 dias de monstruosidades de Israel em Gaza 

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Zé Maria

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“Por determinação do prefeito Ricardo Nunes,
a cidade de São Paulo aderiu, na última terça,
à definição [distorcida] de antissemitismo
da Aliança Internacional para a Memória do
Holocausto (IHRA, no acrônimo em inglês)”

“Há vários anos a IHRA e organizações sionistas
têm pressionado governos do mundo inteiro
a adotarem definições mais abrangentes
de ‘antissemitismo’.”

“Essa tendência é vista com muita preocupação
por militantes dos Direitos Humanos.
Isso porque a definição da IHRA dá margem
para abarcar críticas legítimas ao Estado de
Israel e ao Sionismo como manifestações de
‘antissemitismo’, dando base normativa para
a censura.”

“A definição da IHRA abarca 11 exemplos
apontados como ‘manifestações antissemitas’.
Desses, 7 se referem ao próprio Estado de Israel
– não ao povo judeu.
A IHRA classifica, por exemplo, o apontamento
de práticas racistas mantidas por Israel como
‘antissemitismo’.”

“Isso é, a IHRA defende que a própria a denúncia
do apartheid seria criminosa.
Outro exemplo fala sobre ‘duplos padrões exigindo
de Israel o que não é cobrado de outras nações’ –
o que interditaria quaisquer críticas sob o argumento
de que outros países fazem coisas piores.”

“As comparações entre as práticas do Estado de Israel
e as políticas implementadas pelos regimes nazifascistas
que se consolidaram na Europa entre as décadas de 1920
e 1940 também são rotulados como ‘antissemitismo’ pela IHRA.”

“Em países como EUA e Reino Unido, a adoção da definição da IHRA
já está servindo para cercear a liberdade de expressão e impedir
a discussão crítica sobre as ações de Israel.

Campanhas e atos em prol dos direitos dos palestinos estão sendo
sistematicamente proibidos.”

“A adoção da definição também constrange e coloca em risco
as organizações da sociedade civil que denunciam os crimes
cometidos por Israel nos territórios ocupados.
Ao mesmo tempo, dificulta o trabalho das agências da ONU
que atendem aos refugiados palestinos.”

“Em novembro de 2022, um grupo de 128 acadêmicos
especializados na questão Israel-Palestina divulgou
uma carta aberta pedindo que a ONU não adote a
definição proposta pela IHRA, por ter sido ‘sequestrada’
para proteger Israel das críticas internacionais.”

“Em abril desse ano, mais de 100 organizações
internacionais de direitos humanos e civis
enviaram uma nova carta ao secretário-geral
da ONU, António Guterres, apontando a
necessidade de rejeitar a definição de
‘antissemitismo’ da IHRA.”

“Entre as organizações que lideram a campanha pela rejeição
da definição da IHRA está a Human Rights Watch (HRW).

A organização explicou que até mesmo a campanha por Boicote,
Desinvestimento e Sanções (BDS) para pressionar Israel
poderia ser criminalizada com base nessa definição equivocada.”

“A Anistia Internacional também se somou à luta,alertando para o fato
de que a definição ‘encorajará governos a restringirem críticas legítimas
às políticas governamentais de Israel e sufocará os crescentes apelos
ao fim do sistema de apartheid imposto aos palestinos.”

Thread:
https://twitter.com/Historia_pensar/status/1725888263301259434
https://pbs.twimg.com/media/F_OUG_1W0AA5iEm?format=jpg
https://pbs.twimg.com/media/F_OUMTFWMAAI21y?format=jpg

.

Zé Maria

https://t.co/34UEB0lJYH
“Durante quinze anos, de 1975 a 1991, através da resolução 3379
aprovada na Assembleia Geral da ONU, o sionismo foi considerado
uma forma de racismo.
Está na hora de retomar tal resolução, equiparando o Estado sionista
a um regime de apartheid a ser boicotado e combatido.”
Jornalista Breno Altman
https://twitter.com/brealt/status/1725973712002797786
https://www.un.org/unispal/document/auto-insert-181963/
https://twitter.com/camaleaovazio/status/1725978838134362293

marcio gaúcho

Já se passaram 80 anos do holocausto alemão e soviético contra os judeus. Está mais do que na hora de acabar com esse vitimismo exclusivo e olhar para o que já aconteceu depois desse tempo com outros povos e etnias, menos publicizadas pela mídia e ignoradas pelos governos dominantes. Israel está repetindo a fórmula alemã contra Gaza, onde os palestinos são considerados ratos, como os judeus na Alemanha o foram, e exterminados da face da Terra. Essa atitude de Israel provoca repulsa e uma mancha indelével na imagem do judaísmo no mundo atual.

Zé Maria

https://tass.com/israeli-palestinian-conflict

Zé Maria

Cinco Países Pedem ao TPI que Investigue a Situação na Palestina

Nos termos do Estatuto de Roma, qualquer país membro
pode informar o procurador sobre uma situação em que
considere que um ou mais crimes abrangidos pela jurisdição
do tribunal foram cometidos para decidir se uma ou mais
pessoas devem ser processadas.

HAIA, 17 de novembro. /TASS/. Cinco países pediram ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que investigue a situação na Palestina, disse o
promotor do TPI, Karim Khan, na sexta-feira.

Esses cinco países são:
Bangladesh, Bolívia, Djibouti, África do Sul e Comores.

https://tass.com/world/1708015

Zé Maria

“Jatos e Drones Israelenses Concentram Ataques no Sul da Faixa de Gaza”
[Para onde o Governo NeoNazista do Estado Sionista mandou os Palestinos]

Movimento de Caças e Drones Israelenses nas Áreas do Sul de Gaza
intensificou-se durante as últimas horas, à medida que Israel está
claramente dirigindo sua atenção para o Sul do Território, que já
presenciou Fugas Massivas das Áreas do Norte para o Sul do Enclave.

As Áreas do Sul de Gaza estão agora ‘Superlotadas’ de Pessoas
[Espremidas], além de experimentarem uma Severa Deterioração
das Condições Humanitárias no Território.

[Reportagem: Tareq Abu Azzoum, de Khan Younis, Sul de Gaza | Al Jazeera]

https://www.aljazeera.com/news/liveblog/2023/11/14/israel-hamas-war-live-israeli-attacks-displace-700000-children-in-gaza

Zé Maria

https://twitter.com/ShahadehAbou/status/1725567992325452133
“800 Especialistas Internacionais em Genocídio
afirmam que o que está acontecendo em Gaza
é um ‘Genocídio Potencial’, não apenas por causa
da ‘Escala dos Assassinatos’, mas também pelas
Declarações de ‘Intenções dos Políticos Israelenses’.”
https://twitter.com/BenJamalpsc/status/1725598281181348271

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