Jeferson Miola: Bruno e Dom eram alvos da política de terror, genocídio e devastação do governo militar de Bolsonaro

Tempo de leitura: 4 min

Bruno e Dom eram alvos da política de terror e devastação do governo militar

Por Jeferson Miola, em seu blog                                   

Bruno Pereira e Dom Philips foram vítimas das estruturas econômicas criminosas que se expandiram e se infiltraram livremente sob os auspícios do governo militar do Bolsonaro.

O macabro assassinato deles é consequência lógica das escolhas do governo dos generais, que haverão de ser responsabilizados nos tribunais nacionais e internacionais por mais um crime pavoroso contra a humanidade.

Bruno e Dom eram entraves ao genocídio dos povos originários e à devastação das florestas e territórios indígenas, onde florescem com fecunda facilidade a pesca e a caça ilegal, o narcotráfico, o garimpo, a mineração, a pistolagem e o desmatamento.

Em razão disso, Bruno e Dom viraram alvos que algum dia, mais cedo ou mais tarde, deveriam ser exterminados. E este dia finalmente chegou, em 5 de junho, na Terra Indígena do Vale do Javari.

No estudo “Um retrato da FUNAI sob o governo Bolsonaro” o INESC [Instituto de Estudos Socioeconômicos] e a associação Indigenistas Associados [INA] retratam a profunda interface da política antiindígena da FUNAI com o projeto do governo militar de colonização e exploração econômico-empresarial das terras indígenas e da região amazônica.

As posturas genocidas do governo militar em relação aos indígenas durante a pandemia da COVID integram o mosaico de medidas e práticas criminosas – oficiais e de grupos privados – que atentam contra a existência dos povos originários e contra a preservação climática e ambiental.

O debilitamento e o desmonte da institucionalidade tanto estatal como não-estatal de proteção indígena e ambiental; a redução orçamentária e o corte de verbas; a perseguição a técnicos, o abandono da fiscalização e, ainda, a militarização e o policiamento da gestão da FUNAI, dentre outras questões, conformam um ambiente propício, idealizado pelo próprio governo para a consecução do plano de colonização e dominação da região por modelos econômicos criminosos.

A FUNAI é presidida por um delegado da Polícia Federal.

“Quase não se notam experiências de atuação com a política indigenista, ou mesmo com cargos de direção em administração pública. Alguns deles, inclusive, definem-se como ‘pecuaristas’, e não escondem suas alianças com o agronegócio”, conclui o estudo.

Das “39 Coordenações Regionais da Funai, apenas duas têm como chefes titulares servidores do órgão”, sendo que “17 [são] militares, três policiais militares, dois policiais federais e seis profissionais sem vínculo anterior com a administração pública”.

Além disso, constata o estudo, “o presidente da Funai, Marcelo Xavier, trocou todos os cargos DAS-4 existentes no órgão, nomeando, também aqui, militares e policiais para grande parte deles”.

O “retrato da FUNAI sob o governo Bolsonaro” deixa evidente a relevância central do aparelhamento e controle da FUNAI para a execução radical do projeto antiindígena do governo militar.

O problema, porém, é que no meio do caminho deste projeto oficial estavam o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Philips que, por isso, precisavam ser eliminados.

Bolsonaro não só conhecia, como odiava Dom Philips. Ele chegou a dizer que “esse inglês era mal visto na região, porque fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental, então, naquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio e resolveu fazer uma excursão”, declarou com extrema torpeza o Aberração do Planalto [14/6].

Bolsonaro já esteve quase lado a lado de Dom, apenas com o general Augusto Heleno entre eles.

Isso aconteceu numa entrevista coletiva em julho de 2019, quando Dom mencionou o “crescimento assustador dos desmatamentos” e perguntou a Bolsonaro: “Como o senhor Presidente entente e pretende convencer, mostrar para o mundo que realmente o governo tem uma preocupação séria com a preservação da Amazônia?”.

Bolsonaro respondeu com rispidez, raiva e intimidação. “Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês. A primeira resposta é isso daí”, disse a Dom, complementado que “nenhum país do mundo tem moral pra falar sobre a Amazônia”.

Agressivo, Bolsonaro passou a interpelar Dom: “Para que tanta ONG na Amazônia, já que estão tão preocupados com o meio ambiente e o ser humano? Responda pra mim isso aí, será que o interesse de vocês é com o ser humano ou é outro interesse futuro nessa área?”, insistiu.

Reportagem de Pedro Grigori no Correio Braziliense [14/6] registra que em 26 de setembro de 2021, pouco mais de dois anos depois da entrevista, Bolsonaro “repostou o vídeo da pergunta de Dom Phillips como um exemplo da ‘cobiça de sempre’ pela Amazônia”.

A matéria menciona que Dom “ficou muito abalado com a republicação do vídeo”, e que ele “passou a receber ataques de bolsonaristas” com o assobio do Bolsonaro à matilha fascista.

O indigenista Bruno Pereira, que também era conhecido e também era alvejado pelo governo militar devido à condição de notório inimigo dos agressores dos seus maiores amigos, os indígenas do Vale do Javari, foi tirado do caminho.

Ele foi demitido da Coordenação de Indígenas Isolados e de Recente Contato da FUNAI na gestão do ex-ministro bolsonarista da Justiça Sérgio Moro em outubro de 2019, três meses depois da entrevista na qual o jornalista Dom ficou marcado para morrer.

Alguns dias antes de desaparecer, Bruno alertou que sua vida corria perigo.

A eliminação de Bruno e Dom, “profilática” para o avanço do mundo do crime na Amazônia, também objetiva gerar exemplo atemorizador e intimidar ativismos pró-indígenas e ambientalistas infundindo medo, terror e pânico.

Bruno e Dom eram alvos da política de terror e devastação do governo militar. Agora se tornaram vítimas mortais da guerra de ocupação do Brasil na qual as Forças Armadas atuam como garantidoras do brutal processo de pilhagem e saqueio do país.


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Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FU8D-psWIAYwc-u?format=jpg

GOLPISTAS BOLIVIANOS SÃO CONDENADOS À CADEIA

A ex-Senadora Jeanine Áñez foi Condenada a 10 Anos de Prisão
pelo Tribunal Primero de Sentencia Anticorrupción de La Paz
pelo Golpe de Estado contra o Presidente Evo Morales em 2019.

Além dela, o ex-Comandante das Forças Armadas Bolivianas, Williams Kaliman,
e o ex-Comandante-Geral da Polícia da Bolívia, Vladimir Calderón, também foram
Condenados com a Mesma Pena.

Outros 4 Militares da Cúpula das Forças Armadas da Bolívia
receberam penas menores, mas foram responsabilizados
pelo Golpe de Estado:
o também ex-Comandante das FFAA Bolivianas, Jorge Elmer Fernandez
(4 anos);
o Chefe do 3º Departamento das FFAA da Bolívia, Sergio Orellana Centellas
(4 anos);
o ex-Comandante do Exército Boliviano, Pastor Mendieta (3 anos); e
o ex-Chefe do Estado Maior da Bolívia, Flavio Gustavo Arce (2 anos).

“Desta maneira, o povo boliviano dá um passo mais na busca da Justiça
pelos lamentáveis feitos ocorridos na gestão de 2019, quando se propôs
uma ruptura constitucional que resultou em uma crise social e política
com violações constantes aos direitos humanos e massacres”, diz a nota
divulgada no fim da noite desta sexta-feira (10) pelo Ministério do Governo
da Bolívia.

http://spanish.news.cn/2022-06/11/c_1310620109.htm

https://revistaforum.com.br/global/2022/6/11/bolivia-condena-jeanine-anez-cupula-das-foras-armadas-por-golpe-contra-evo-morales-118631.html

Se o Brasil tivesse feito o mesmo depois da Ditadura Militar (1964-1985),
não estaríamos até hoje sofrendo as Conseqüências do Golpe de 1964.

    Zé Maria

    Adivinhem quais foram os 2 Políticos braZileiros
    que, após a Publicação da Sentença Condenatória
    do Tribunal da Bolívia, se manifestaram a favor da
    Golpista Boliviana ?

    Quem respondeu Sergio Moro e Janaína Paschoal acertou:
    https://twitter.com/SF_Moro/status/1535644864737599490

    Zé Maria

    A Fúria de Ambos é Sintomática do
    NeoGolpismo de Extrema-Direita
    no Século 21 do Terceiro Milênio.

Zé Maria

A Polícia Federal só deve estar brincando,
se der por solucionado a Execução Sumária
do Indigenista Bruno e do Jornalista Dom.

“QUEM MANDOU MATAR BRUNO E DOM?”

Está na hora fazer aquela Pegunta que vem
se repetindo no Brasil, pelo menos, desde a
Emboscada que matou Chico Mendes (*),
executada por Capangas a mando de um
Fazendeiro Acreano do Agro Pop, Abençoado
da Globo que em dezembro de 2013 fez uma
Suave Reportagem em Defesa da Inocência
do Criminoso Mandante do Assassinato (**).

*(https://midianinja.org/news/testemunha-da-morte-de-chico-mendes-conta-todos-os-detalhes-em-livro)

**(http://glo.bo/1970gTn)

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FVT5dmzXEAYcmaS?format=jpg

“A Abin foi na Funai atrás de mim”, contou ao Sul21
o indigenista Ricardo Henrique Rao, que precisou
deixar o Brasil, para não morrer, após denunciar
crimes cometidos contra povos indígenas no Maranhão.”
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134483304026112

“Ricardo relata que, depois da morte de Paulo Paulino Guajajara,
seu amigo e guardião da floresta que foi morto em missão
de vigilância dentro da Terra Indígena Arariboia,
preparou o dossiê sobre crimes cometidos contra os povos
indígenas e decidiu sair do país.”

https://pbs.twimg.com/media/FVT3QteXEAUk_0i?format=png
“Em 2019, o indigenista especializado da Fundação
Nacional do Índio (Funai) entregou à Comissão de
Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados,
um dossiê denunciando o envolvimento de
Policiais Militares e civis em crimes contra indígenas
da Amazônia Oriental, no Maranhão.”
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134492825141248

“Após entregar o dossiê, avaliando estar marcado para morrer,
Ricardo Rao solicitou asilo diplomático a Noruega, a partir
de contatos que havia estabelecido com povos originários
daquele país.
Começava para Ricardo um exílio involuntário que ainda não terminou.”
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134496516132866

“Em entrevista ao Sul21, ele falou sobre seu trabalho como indigenista,
sobre os crimes que denunciou e sobre o ambiente instaurado no trabalho
da Funai a partir do governo Bolsonaro.
‘Para quem tem perfil combativo e idealista, é uma situação de acosso
permanente’, resume.”
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134500354097152

“As coisas começaram a piorar desde o início do governo Temer.
Com o governo Bolsonaro, tudo só foi se agravando.
No meu caso, a situação começou a se agravar com a apreensão
de uma moto de um sujeito envolvido com crimes ambientais”,
relatou o indigenista.
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134504057397249

Outro evento da maior gravidade que convenceu o indigenista Ricardo Rao
de que a situação estava especialmente perigosa foi o envio de um destacamento
da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Funai, em 2019.
“A Abin foi na Funai atrás de mim”, contou.
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134511472922626

“Ricardo relata que, depois da morte de Paulo Paulino Guajajara,
seu amigo e guardião da floresta que foi morto em missão de vigilância
dentro da Terra Indígena Arariboia, preparou o dossiê sobre crimes
cometidos contra os povos indígenas e decidiu sair do país.”
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134515864444929

“Eu sabia que seria o próximo.
O investigador já tinha me dito (usou um termo obsceno que não vou repetir)
que “aqui namoradinho de índio morre cedo”.
Então eu preparei o dossiê.
Sabia que ia vazar porque sempre vaza e que a minha vida ia valer muito pouco”,
disse.
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134519316361219

Ricardo contou que há na Funai grupos que se digladiam constantemente.
“Eu vi servidor da Funai falando que “índio não presta” e coisas do tipo.
Essa banda podre está aproveitando para abrir procedimentos administrativos
disciplinares contra nós, que somos da banda rondoniana”.
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134522906574848

Ele também lembrou do trabalho do indigenista Bruno Pereira,
com quem chegou a trabalhar:
“Era um modelo para todos nós indigenistas idealistas.
O Bruno é um exemplo disso que estou te falando.
Era 24 horas dedicado ao indigenismo”, conta.
https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134530255065089

“Confira a entrevista completa do indigenista Ricardo Rao
na reportagem de @maweissheimer: https://t.co/bnPczgoJVu

https://twitter.com/SulVinteUm/status/1537134534101192704
https://sul21.com.br/noticias/entrevistas/2022/06/a-abin-foi-na-funai-atras-de-mim-conta-indigenista-que-deixou-o-pais-para-nao-morrer/

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