Jandira Feghali: Informe-se! O único jeito de não ser vítima de fake news

Tempo de leitura: 2 min
Foto: Richard Silva

INFORME-SE

por Jandira Feghali*, especial para o Viomundo

Em março de 1994, o Brasil julgou e condenou os envolvidos no que ficou conhecido como “Caso Escola Base”.

A partir de denúncia, os donos da escola infantil e um motorista do transporte escolar, foram acusados de abuso sexual.

À época, sem redes sociais (o Facebook, foi lançado apenas em 2003), a grande mídia deu plena repercussão ao caso e, antes mesmo que os acusados prestassem depoimento, o veredito já estava consagrado: culpados.

Em junho do mesmo ano, o caso foi arquivado, inocentando todos os acusados.

A justiça se impôs e fechou os olhos à pressão popular mobilizada, especialmente, pela emissora de maior audiência, a Rede Globo.

A justiça concentrou seu julgamento em fatos, depoimentos e provas.

A justiça foi capaz de atuar como dela se espera.

A justiça foi imparcial.

A decisão, no entanto, não foi capaz de recuperar os danos sofridos pelo verdadeiro linchamento a que foram expostos os envolvidos.

Indenizações foram propostas e aprovadas, mas nada foi suficiente para reparar a histeria coletiva em torno de informações amplamente veiculadas e tomadas pelo conjunto da sociedade como verdadeiras.

Passados 25 anos do caso, e num cenário onde as redes sociais disseminam conteúdos em velocidade e quantidade espantosas, é preciso refletir sobre como recebemos essas informações.

Em 1994, as pessoas aderiram à acusação sem questionamentos. Poucas vozes se levantaram contra o julgamento antecipado tamanho o clamor pela condenação.

Hoje, não é diferente. E o volume de fake news e títulos chamativos, mas enganosos, chegou a tal ponto que é difícil saber a diferença entre a verdade e a mentira. Tanto é assim que já há sites que têm como único objetivo a conferência de matérias.

Atualmente, a prática transformou-se em arma política a atacar adversários imputando-lhes falsas ações e falas.

E tidas como verdadeiras têm um alcance tão avassalador que, em poucos cliques e compartilhamentos, o prejuízo é irrecuperável

O lema desses criminosos é: quanto mais fake news espalhadas, melhor. Mais votos para quem mentir mais.

Enquanto a justiça não age para punir com rigor a veiculação em massa de mentiras e as redes sociais nada fazem para coibir sua disseminação, é preciso o esforço de cada um para uma leitura crítica.

Não podemos ser simples receptores de informações. Nem permitir que nossas angústias e insatisfações sirvam de terreno fértil para propagar mentiras de efeito devastador na vida das pessoas e do país.

Informe-se!

A verdade independe de posição política. Quem se vale da mentira e do discurso de ódio para atingir seus objetivos não merece crédito.

O ambiente de intolerância e desinformação fragiliza nossa democracia.

E mais do que nunca é preciso fortalecê-la. Com coragem e disposição de lutar pela verdade.

*Jandira Feghali é deputada federal  (PCdoB-RJ) líder da Minoria na Câmara dos Deputados.


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Comentários

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Zé Maria

Essa turba de fascistas fanáticos, prosélitos ignaros,
para não dizer estúpidos, imbecis e maledicentes,
do Olavo de Carvalho, do Bolsonaro e da Lava Jato,
está pondo em risco a vida de pessoas que, na maioria
das vezes, não têm relação alguma com o objeto do
Ódio e da Agressão dessa Choldra na Internet.

Zé Maria

TEMPOS SOMBRIOS

Nos últimos tempos, o caso mais perturbador
foi o da Senhora de 33 Anos, mãe de 2 filhas,
que foi Linchada, depois de ser acusada, via internet,
de praticar magia negra com crianças:

Ela foi amarrada e espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo,
a partir de um boato [Fake News] lançado
por uma página no Facebook chamada
“Guarujá Alerta”, com 56 mil curtidas,
que publicou informações sobre “uma mulher
que está raptando crianças para realizar
magia negra” na região.

Além da frase “se é boato ou não, devemos ficar alerta”, o administrador da página postou imagens:
um retrato falado (associado a um crime
cometido no Rio, em 2012)
e a foto de uma mulher loira, que tampouco tinha
a ver com o caso.
As duas eram bem diferentes entre si.

E nenhuma delas se parecia com Fabiane,
que foi brutalmente assassinada, ao ser
confundida com a tal sequestradora.

A história fica ainda pior, pelo fato de que
a tal criminosa nem sequer existir.

Depois do Crime, a polícia elucidou que
não havia nenhuma denúncia de sequestro
de crianças em Guarujá.

https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/09/5574419-falsas-noticias-acabaram-em-tragedias.html
http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-espancada-apos-boatos-em-rede-social-morre-em-guaruja-sp.html

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