Intercept: Moro está em estado “confusional” e Deltan não entrega o celular

Tempo de leitura: 3 min
Fotos: Eduardo Matysiak e Marcelo Camargo/Agência Brasil

A QUEM INTERESSA A NARRATIVA DOS ‘HACKERS CRIMINOSOS’ NA #VAZAJATO?

por Leandro Demori e Glenn Greenwald, no Intercept

No último domingo, o Brasil foi surpreendido por três reportagens explosivas publicadas pelo TIB.

Nelas, nós mostramos as entranhas da Lava Jato e mergulhamos fundo em poderes quase nunca cobertos pela imprensa.

Quase todos os jornalistas que eu conheço preferem se manter afastados disso: apontar o dedo para procuradores e juízes é, antes de tudo, perigoso em muitos níveis – eles têm razão.

As primeiras reações dos envolvidos no escândalo foram essas: O MPF preferiu focar em hackers, e não negou a autenticidade das mensagens.

Sergio Moro disse que não viu nada de mais, ou seja: não negou a autenticidade das mensagens.

Moro, na verdade, se emparedou: em entrevista ao Estadão, ele inicialmente não reconhece como autêntica uma frase que ele mesmo disse.

Mas depois diz que pode ter dito. E depois ainda diz que não lembra se disse. Moro está em estado confusional.

Horas depois, à Folha, Moro confirmou um dos chats que publicamos: em uma coletiva, ele chamou de “descuido” o episódio no qual, em 7 de dezembro de 2015, passa uma pista sobre o caso de Lula para que a equipe do MP investigue.

Confessou que ajudou a acusação informalmente, o que é contra a lei. Como dizem as piores línguas: tirem suas próprias conclusões.

Deltan Dallagnol não negou tampouco. Ele está bastante preocupado com o que diz ser um “hacker”, mas sequer entregou seu celular para a perícia.

É evidente que nem Moro, nem Deltan e nem ninguém podem negar o que disseram e fizeram.

O Graciliano Rocha, do BuzzFeed news, mostrou que atos da Lava Jato coincidiram com orientações de Moro a Deltan no Telegram.

Moro mandou, o MPF obedeceu. Isso não é Justiça, é parceria.

Ontem nós mostramos a mesma coisa: Moro sugeriu que o MPF atacasse a defesa de Lula usando a imprensa, e o MPF obedeceu. Quem chefiava os procuradores? Só não vê quem não quer.

A imprensa séria virou contra Sergio Moro e Deltan Dallagnol em uma semana graças às revelações do TIB.

O Estadão, mesmo que ainda fortemente aliado de Curitiba, pediu a renúncia de Moro e o afastamento dos procuradores. A Veja escreveu um editorial contundente (“Moro ultrapassou de forma inequívoca a linha da decência e da legalidade no papel de magistrado.”) e publicou uma capa demolidora. A Folha está fazendo um trabalho importante com os diálogos, publicando reportagens de contexto absolutamente necessárias.

Durante cinco anos, a Lava Jato usou vazamentos e relacionamentos com jornalistas como uma estratégia de pressão na opinião pública.

Funcionou, e a operação passou incólume, sofrendo poucas críticas enquanto abastecia a mídia com manchetes diárias.

Teve pista livre para cometer ilegalidades em nome do combate a ilegalidades.

Agora, a maior parte da imprensa está pondo em dúvida os procuradores e o superministro.

Mas existe uma força disposta a mudar essa narrativa.

A grande preocupação dos envolvidos agora, com ajuda da Rede Globo – já que não podem negar seus malfeitos – é com o “hacker”.

E também nunca vimos tantos jornalistas interessados mais em descobrir a fonte de uma informação do que com a informação em si. Nós jamais falamos em hacker.

Nós não falamos sobre nossa fonte. Nunca.

Já imaginou se toda a imprensa entrasse numa cruzada para tentar descobrir as fontes das reportagens de todo mundo?

A quem serve esse desvio de rota? Por enquanto nós vamos chamar só de mau jornalismo, mas talvez muito em breve tudo seja esclarecido.

Nós já vimos o futuro, e as respostas estão lá.

A ideia é tentar nos colar a algum tipo de crime – que não cometemos e que a Constituição do país nos protege.

Moro disse que somos “aliados de criminosos”, em um ato de desespero.

Isso não tem qualquer potencial para nos intimidar. Estamos apenas no começo.

Esse trabalho todo que estamos fazendo só acontece graças ao esforço de uma equipe incrível aqui no TIB.

De administrativo a redes sociais, de editorial a comunicações, todos estão sendo absolutamente fantásticos.

Nós queremos agradecer imensamente por tudo, e pedir para que vocês nos ajudem a continuar reportando esse arquivo.


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Comentários

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Mario Brasil Dos Santos

Moro e Lallagnol devem ser afastados das suas funções

Zé Maria

Buzz Feed News

“O cruzamento das mensagens trocadas pelo chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, com o então juiz Sergio Moro indicam que, em pelo menos 2 casos, as orientações dadas pelo magistrado no Telegram foram cumpridas à risca pelo Ministério Público Federal.”

“Os diálogos de Moro e Dallagnol indicam que o juiz sugeriu a troca de ordens de fases da Lava Jato, cobrou a realização de novas etapas e antecipou uma decisão judicial. O @BuzzFeedNewsBR cruzou mensagens e atos da procuradoria e do juiz nas mesmas datas nos processos citados.”

“O cruzamento mostra que atos de ofício de procuradores correspondem a pedidos de Sergio Moro em uma denúncia contra executivos da Odebrecht e em desistência do MPF de recorrer para aumentar a pena de delatores que compraram avião com dinheiro de propina.”

https://t.co/i1P4KdoxzI
https://twitter.com/BuzzFeedNewsBR/status/1139176531761217536
https://twitter.com/BuzzFeedNewsBR/status/1139176827514232833
https://twitter.com/BuzzFeedNewsBR/status/1139178189975117824

Zé Maria

Documentos mostram que atos da Lava Jato
coincidiram com orientações de Moro no Telegram

https://t.co/xS5mpvRKGZ
https://twitter.com/TaclaDuran/status/1139328966387556352
https://www.buzzfeed.com/br/gracilianorocha/moro-deltan-telegram

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