Gilberto Maringoni: Black Blocs, cobrir o rosto é o de menos

Tempo de leitura: 3 min

Black Blocs concentrados em frente à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/ABr

por Gilberto Maringoni

A esquerda não pode, em hipótese alguma, ser condescendente com as ações dos Black Blocs.

Assim como é imperativa a condenação da violência policial, deve-se igualmente negar qualquer aprovação a táticas individualistas, desagregadoras e isolacionistas de grupelhos que se valem de manifestações para desatar sua bílis colérica sobre orelhões, lixeiras e vitrines de lojas.

Qual o programa dito radical dos Black Blocs?

Nenhum, pois os Black Blocs não são radicais. Fazem ações epidérmicas, levianas e superficiais.

Radical quer dizer ir à raiz das questões. Qual a radicalidade de se juntar meia dúzia de garotos hidrófobos e depredar a fachada de um banco? Em que isso penaliza o sistema financeiro?

Baixar em um ponto as taxas de juros é algo muito mais eficiente e danoso à especulação do que as travessuras de meninos e meninas pretensamente rebeldes que cobrem os rostos para parecerem malvados ou misteriosos.

Aliás, qual a finalidade de máscaras e rostos ocultos, além do desejo infantil de um dia ser Batman, Zorro ou National Kid e sair por aí saltando sobre prédios e vivendo aventuras espetaculares? De se ter uma identidade secreta, na qual de dia enfrenta-se uma vidinha besta e à noite, na calada, devolve-se anonimamente à sociedade o mal que se esconde nos corações humanos, como dizia o Sombra em voz gutural?

O pior é que as peripécias dos blocos de blaques isolam os protestos da população que a eles poderia aderir e reduz o ímpeto das mobilizações à idéia de baderna pura e simples. Que acaba sendo complementar à violência policial. Ambas se justificam e se explicam.

Trotsky tem um texto admirável chamado “Porque os marxistas se opõem ao terrorismo individual”, escrito em 1911 e que está no link do pé da página. Ali, o revolucionário russo opõe a consequente manifestação coletiva a ações estrepitosas de poucos indivíduos tomados de fúria aleatória.

O seguinte trecho tem a precisão de um compasso:

Para nós o terror individual é inadmissível precisamente porque apequena o papel das massas em sua própria consciência, as faz aceitar sua impotência e volta seus olhos e esperanças para o grande vingador e libertador que algum dia virá cumprir sua missão.

E mais adiante, completa:

Nos opomos aos atentados terroristas porque a vingança individual não nos satisfaz.

Os Black Blocs têm uma ação deletéria. Acabam justificando a violência policial para um grande número de potenciais participantes de mobilizações de protesto. Exacerbam o reacionarismo existente na sociedade e transformam movimentos sociais em sinônimo de vandalismo. Animam pit bulls existentes nos aparelhos de segurança, como o boçal que atende pelo nome de capitão Bruno, da tropa de choque de Brasília.

Os Black Blocs não organizam nada, não querem nada.

E podem fazer com que manifestações maciças virem nada.

(http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1911/11/terrorismo.htm).

 Leia também:

Caetano concorda: Limitação a uso de máscaras é “ditatorial”

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Comentários

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Alberto Ceolin

Manifestações pacíficas! Assim dá pra todos irem numa boa, pedir mudanças, não só pedir como pra apoiar quem tá lá lutando pra fazer né gente. Não fui nas manifestações por causa disso, além de muita gente estar disposta a enfrentar a polícia, eu não tava vendo quase ninguém apoiar reforma política, essas coisas… Se eu for e ver tipo um cara do pstu gritar fora Dilma já basta pra mim ir embora, não preciso nem ver blac bloc.

    Vinícius

    Que é isso Alberto, sectarismo de centro? Então pra vc ir pra rua a manifestação tem que ser pacífica, ter conteúdo como falar da reforma política, mas não pode ter algum conteúdo com o qual vc discorde como falar fora Dilma… desse jeito vai ficar difícil vc sair de casa, amigo. Dê a cara a tapa e dispute o movimento em vez de esperar que ele entre nos “conformes” por si mesmo.

Bacellar

Blackbloc, plicploc, splishsplash…Pouco se me dá…

Tiveram lá alguma importância para frear o impeto global (e congêneres) de “convocação das massas” mas também servem ao clima de desestabilização nacional que agrada aos mesmos que combatem de maneira tão pouco efetiva.

Mas com juro abrindo, aproximação do teto da geração de novos empregos e expansão do consumo, conjuntura internacional delicada, et caetera…Vale tanta atenção para esses caras?

denis dias ferreira

Ao infantilizar e demonizar os BBs., sem conhecê-los mais a fundo, estamos promovendo o linchamento sumário do grupo e de seus métodos. Esse comportamento é típico do PIG. Eu sugiro que o Azenha abra espaço para o grupo se defender.

Matheus Bittencourt: Bloco Negro é resposta à repressão violenta – Viomundo – O que você não vê na mídia

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Sagarana

“Porque os marxistas se opõem ao terrorismo individual”, quer dizer que os marxistas não se opõem ao terrorismo coletivo? A partir de quantos indivíduos deixa de ser individual?

Maria Izabel L Silva

Quem usa mascara e promove quebra-quebra não é redical, não é novo, não é de esquerda nem de direita nem porra nenhuma … É terrorista, atrasado, retrogrado, frouxo e covarde. Revolução?? Revolução uma ova. Eu entrego, entrego mesmo. Entrego para a policia. Cambada de sociopatas.

katiusca

Não sou contra os blacks blocs ,sou contra a mídia conservadora de direita e de esquerda que teimam em não reconhecer novas lutas para resolver eternos problemas que são direitos primordiais desrespeitados. É impressionante como as duas mídias estão unidas para combater jovens que enfrentam uma policia militarizada e violenta desfocando a raiz do problema gravissimo que é o braço armado do estado contra o povo , brutalizando e fazendo jovens sangrarem na avenida cristalizando e divulgando a banalização do mal . Faz pouco que outro jornalista, Janio Freitas disse num seu artigo da Folha que estes jovens deveriam ir para o lixo ou hospital numa caçamba …com a maior naturalidade …sou contra a violencia e acho inadimissivel a institucionalizada seja do Estado pelos seus policiais ou seja pela mídia….mas a rebeldia, a luta contra este sistema opressivo merece respeito. A violencia de vocês tem muito mais peso que qualquer pedrada de black bloc pois atingem sonhos e esperanças de jovens por um Brasil mais democratico, queremos mais….

Lincoln Secco: Lula talvez o que melhor entendeu no PT os protestos de junho – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Gilberto Maringoni: Black Blocs, cobrir o rosto é o de menos […]

K.F.

Que tal, vocês da velha esquerda (aquela que está elaborando há séculos a revolução perfeita, sentados em volta da mesa do bar), saírem desse comodismo pseudo-intelectual e ir às ruas observar e viver a realidade?
Os Black Blocs estão de parabéns!
Mesmo “sem pauta”, conseguiram até fazer com que algumas múmias, ditas de esquerda, sacudissem a poeira que lhes cobria há tempos.
Ao invés de avançar, criticam quem o faz.
Parece que nada aprenderam com o velho Marx…

    rui

    Que tal, você da neo esquerda, se lembrar que você só pode falar e escrever, por que a velha esquerda apanhou muito para você ter esse direito. Com a velha esquerda, não só prendiam, torturavam, sumiam e matavam, sem julgamento sem processo sem nada. Tudo isso resultou em uma democracia, onde hoje, você vota, elege seus representantes, pode tirá-los se não corresponderem as suas expectativas, e até pode arrotar coragem e burrice impunemente. Cresça e estude para depois postar coisas mais inteligentes.

    K.F.

    Admiro e respeito muito aqueles que lutaram e sofreram em busca de uma sociedade mais igual em outros períodos da nossa história. Concordo que devemos bastante à eles, mas dizer q eu falo e escrevo graças a esquerda é desonesto, pra dizer o mínimo.
    Sinceramente, não queremos mais essa esquerda que não consegue olhar pra frente, que não consegue enxergar a indignação da classe oprimida sendo representada por estes que estão nas ruas.
    A luta pela representatividade política foi justa, mas achar q ela é o suficiente (ou o fim por si só) não deveria ser o ideal de quem se auto intitula de esquerda.
    Numa análise beeeeem rasteira, é fácil perceber que a burguesia se apoderou completamente desse nossa suposta representatividade (voto) conquistada a base de vidas.
    Então eu pergunto: devemos nos contentar com isso ou procurar novos meios de lutar e de termos vozes?
    Devemos criticar esses “vândalos” e engrossar a voz da direita ou tentar entender suas características e trazê-los (se é que já não estão) para a esquerda?
    Ficar parado no tempo, achando que a luta de hoje tenha que ser igual a de ontem, não contribui com nada.

    Se me falta estudo, lhe sobra poeira em cima do chapéu!

    katiusca

    Sou da geração que lutou contra a ditadura , mas não desdenho de nenhuma forma de luta , tenho a minha mente aberta e o meu coração livre , a certeza que mudar o mundo é tarefa árdua e cabe a juventude fazê-la. Os inimigos hoje não tem face ,o capitalismo desmaterializou a sua consistência e a tornou etérea , combatê-los é caminhar em campo minado, onde menos se espera o ódio poderá explodir seus pés …não detenho a verdade e não me acho dona da democracia por ter lutado por ela…que outros venham aperfeiçoa-la mesmo jogando pedras e usando máscaras o que não vale é esperar sentado…

Julio Silveira

Não passa de pregação do conformismo, que pode ser uma forma ideológica de critica tendenciosa para apoio ao próprio grupo, a insistência com as formas vigentes, normatizadas, previsíveis, praticamente inúteis, de reivindicação. É uma coisa surpreendente vinda de alguém que se passa por esquerdista. Ainda mais sabendo que a cidadania tem tido, desde sempre e continua tendo pouco peso nas decisões tomas pelos agentes públicos que vem governando o país a longa data, tomando decisões que lhes atingem, negativamente, diretamente.
Interessante pensar em como se pode fazer a relativização das ações, que podem ser positivas nos momentos históricos que nos convenham. E aí aquela máxima que serve para as mais distantes convicções ideológicas, para os meus amigos tudo para meus inimigos a Lei, tende a ser verdadeira. Não dá para acreditar na sinceridade ideológica dessas pessoas, que criticam grupos justamente indignados, mesmo que atuem fora da forma esperada, normatizada, padrão, desejada, para ser fazer ouvidos moucos, de atos aparentemente fora de foco mas que trazem uma mensagem clara de insatisfação. Vinda de gente que em passado nem tão distante apoiou e certamente afirmara convicto que ainda apoiaria ações tomadas por seus simpáticos até consideradas piores, na quebra do normas sociais daquele momento para mostrar seus justos inconformismos. Chega de hipocrisias, essa transformação para críticos impiedosos, essa metamorfose, por que passaram a entender que sociedade civilizada é sociedade controlada pela ordem dominadora, e para o pacifismo iniquo e convenientemente displicente não cola. Resta saber quem seria o beneficiário dessa pregação de passividade? a quem tem servido essa candura social e essa ordem, não tem sido com certeza a cidadania, que se levanta de diversas maneiras, propiciando inclusive o surgimentos dos Black Blocs da vida. Até o momento, pelo que vemos, as mudanças pró cidadania são modicas, pouco arrojadas e vem em conta gotas, choques ainda que indesejados tem sido .necessários para a sociedade sair da letargia. E, infelizmente os Black Blocs por mais que possam parecer uma horda são uma consequência, e pelo menos servem para fazer a cidadania pensar sobre qual a pior horda para nós, a que quebra lixeira ou a que dilapida nossa cidadania, nosso pais, e nosso espirito?

leprechaun

nenhum método é bom a priori, essa é a lei da dialética, assim como quebrar vitrines pode ou não dar em nada, baixar um ponto na taxa de juros idem. Os métodos devem ser usados conforme as circunstâncias pedem, só quebrar tudo não leva a nada, só atuar dentro da institucionalidade burguesa também não. Acho que os escritos Trotsky (e ele próprio) não têm a menor coerência quando o assunto é terror, basta ver o que se seguiu a revolução russa, o que o exército vermelho fez quando estava sob o comando de Trotsky. O terror individual é condenável, o coletivo….

Mardones

Bravo!

Não é à toa que Caretano Veloso solidarizou-se com o figurino dos vândalos sem propósitos nobres.

FrancoAtirador

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.
Por uma questão de princípio de liberdade democrática,

entendo que os Black Bloc têm todo direito à manifestação.

Entretanto, considero também que, por uma questão cultural,

no Brasil, a tática BB tem o efeito contrário do que pretende.

Daí que concordo com o Maringoni no seguinte aspecto:

“Acabam justificando a violência policial…
Exacerbam o reacionarismo existente na sociedade
e transformam movimentos sociais em sinônimo de vandalismo.
Animam pit bulls existentes nos aparelhos de segurança…”

Por essas razões, inclusive, perdemos o momento propício

para alterarmos a estrutura militarizada das Polícias.
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Mário SF Alves

Bad Boys?!!

__________________________________
Que radicalidade é essa? Radicalidade política? Política? Onde? Quando?
E o balanço das perdas e ganhos? É positivo ou negativo? Positivo como e negativo como?
________________________________________
Black Blocs ou Bad Boys?

Matheus

A guerra suja contra o vandalismo
Por Matheus Boni Bittencourt 12/09/2013 às 01:25

Em nosso país existe uma insistente mitologia segundo a qual temos origem numa forma de colonialismo brando e aventureiro, próprio do português, o que nos diferenciaria de todos os outros países de origem colonial, e até mesmo dos nossos vizinhos latino-americanos, de colonização espanhola. Digo que é uma mitologia porque é uma narrativa que busca explicar, de forma conciliadora, determinados traços de um caráter nacional que atribuímos a nós mesmos.

Essa identidade está centrada numa imagem de sociedade harmoniosa, ordeira e pacífica, onde cada um sabe qual é o seu devido lugar. O que destoa, conflita, dissente é considerado uma anomalia. Um inimigo interno ou externo. Essa imagem não deixa de ser ambígua, porque também evoca submissão e conformismo. O brasileiro seria, antes que pacífico, passivo.

Essa mitologia não se sustenta diante de um exame mais detido. Como um Estado fundado por uma permanente invasão, ocupação e expansão territorial poderia ser pacífico em sua origem? Como uma sociedade que se construiu sobre a escravidão negra e indígena poderia ser harmoniosa? Estas perguntas nos levam a suspeitar que o Estado brasileiro não foi criado sob o signo da paz, mas sob a bandeira de uma guerra permanente e prioritariamente interna.

Essa suspeita é reforçada por um conjunto de situações extremas que se tornaram cotidianas e banais: extremos de pobreza e riqueza; extrema desigualdade; extrema violência. Nosso país tem uma proporção alarmante de mortes violentas por acidentes e agressões. De fato, é como se estivéssemos em situação análoga à guerra civil, pelos seus efeitos sobre a demografia e economia.

Uma coisa que me chamou a atenção nos últimos meses foi a intensificação do discurso midiático-político contra as ações de desobediência civil e resistência à violência policial, alcunhadas de “vandalismo” e “baderna”. Esse discurso assume características de uma declaração de guerra. Nos meus estudos sobre as políticas de segurança, constatei que o discurso belicista é lugar-comum quando se fala da questão policial no Brasil. O que é preocupante é a intensificação tamanha nos últimos meses. Esse grau de belicismo, durante os últimos vinte anos, só teve dois alvos: o tráfico varejista de drogas e os movimentos camponeses.

As manifestações de massas dos últimos meses foram comparados a batalhas. Estranhas batalhas, onde apenas um lado tinha as armas e a iniciativa de agressão, e o outro resistia e fugia como podia. É realmente uma guerra, ou deveríamos dar-lhe o nome que merece: repressão violenta? Em nome de coisas vagas e subjetivas como “ordem pública”, foi constantemente violado a liberdade de expressão, associação e manifestação, o devido processo legal e a presunção de inocência. Milhares e milhares foram arbitrariamente presos ou feridos pelos agentes de polícia que reprimiam manifestações. Um número menor foi assassinado. Houve casos de sequestro e tortura de ativistas. Outros são investigados e presos por apoiarem protestos através de páginas na internet. Movimentos sociais são submetidos à espionagem militar. Agentes provocadores se infiltraram em protestos para incitar e realizar atos criminosos, que depois eram atribuídos aos manifestantes, para justificar a brutalidade policial.

Toda essa violência estatal foi cometida em nome do “combate à violência”. As ações coletivas de desobediência civil e resistência à violência policial são rotuladas de “vandalismo” e “baderna”. A ação da Polícia Militar contra manifestações, frequentemente resultando em dezenas de prisões e ferimentos, é chamada de “confronto”.

Uma reação particularmente histérica se deu contra os bloco negro, chamados por aqui pelo nome em inglês, “Black Blocs”. Trata-se de uma tática de ação coletiva, onde manifestantes vestidos de preto e mascarados agrupam-se para defender a si mesmos e aos outros manifestantes da violência policial. Outra versão da prática do bloco negro é a desobediência civil, como na destruição seletiva de símbolos do capitalismo e do autoritarismo. As duas táticas se fizeram presentes nas ruas.

O bloco negro deve ser considerado um sintoma, não uma coisa em si, independente do contexto. O uso de máscaras, a desobediência civil, a resistência à repressão violenta, tudo isso não é exatamente novo. Talvez o que distinga o bloco negro seja uma combinação performática destes três elementos com uma estática peculiar. É sintoma de quê o estilo bloco negro de protestar? Da própria violação da liberdade política.

Outro elemento importante foi o conteúdo anticapitalista assumido de forma mais explícita por manifestações. “Contra o capital, a nossa luta é internacional”, bradava um bloco negro enquanto destruía vidraças e pichava paredes de agências bancárias dos maiores bancos privados do Brasil. Centenas de manifestantes, sem máscara, cantavam junto deles as palavras de ordem. Essas cenas aconteceram no Rio de Janeiro e São Paulo.

Com e sem máscaras, vestidos e não de preto, multidões reivindicavam a regulamentação da mídia, o marco civil da internet, a desmilitarização da polícia, reforma política, etc. Como se muitos manifestantes suspeitassem que o protesto contra a corrupção, principal alvo inicialmente, era como curar os sintomas e ignorar a doença Seria um “movimento aspirina”, como os caras-pintadas de 1992. E como se muitos suspeitassem que não fazia sentido repudiar o “vandalismo”, em um país sob policiamento militarizado. A hostilidade aos partidos eleitorais cedeu lugar à hostilidade aos oligopólios bancários e midiáticos. O repúdio ao “vandalismo” cedeu lugar ao repúdio à violência policial e à criminalização dos movimentos sociais.

É claro que tudo isso acendeu o sinal vermelho das oligarquias políticas e financeiras. Surpreendentemente, também atraiu o repúdio de partidos autodeclarados de esquerda, como o PSTU e setores do PSOL. Estes setores militantes mostraram uma surpreendente conivência com a violência policial, evidenciada pela frase: “sou contrário à brutalidade da polícia, mas…”. O “mas” é seguido de alegações de que os blocos negros “provocavam” a violência policial e esvaziavam as ruas. Esse discurso era esperado na mídia e políticos de extrema-direita (que de fato o proferiram e publicaram), mas não em partidos e indivíduos que se declaram de esquerda.

Trata-se de uma completa falta de lucidez. Os blocos negros são reação à violência policial, e não o contrário. Os tipos de ação coletiva se diversificaram e descentralizaram, assumindo muitas vezes a desobediência civil como método. Ao lado dos tradicionais passeios pela rua, ocupações de casas legislativas e ações performáticas ganharam espaço. Muitas pessoas de mentalidade conservadora abandonaram as manifestações e voltaram ao seu habitual coro com o discurso de “guerra ao vandalismo” da direita e da pseudo-esquerda. E não poderíamos deixar de lado a intensificação da repressão violenta, protagonizada pela corporação policial-militar mas contando com a colaboração desavergonhada de juízes, promotores, parlamentares, polícia judiciária, serviço secreto e, é claro, dos oligopólios da mídia.

O que fica mais óbvio é que não se trata simplesmente de uma repressão às depredações politicamente motivadas. Essa simples tarefa poderia ser realizada em maiores dificuldades por uma polícia competente e civilizada, com foco na prevenção e respeito aos cidadãos. A criminalização na verdade atinge o conteúdo político-filosófico, o próprio anticapitalismo cada vez mais forte das manifestações, propondo a radicalização da democracia e uma verdadeira redistribuição de riquezas. Além da pobreza e da juventude, criminaliza-se uma visão política específica. Com e sem máscaras, vestidos e não de preto, multidões sofrem perseguição e violência.

Esses fatos deixam mais explícitas as condições de uma “democracia de fachada” existente no Brasil. A transição da Junta Militar para os Governos Eleitos trouxe uma série da avanços no reconhecimento formal de direitos, muito mais que na sua efetivação. Convivemos com uma pesada e maldita herança do período ditatorial. O policiamento foi militarizado. As desigualdades econômicas aprofundarem-se. A violência e a corrupção se expandiram. Os agentes da repressão política do antigo regime seguem impunes e seus atuais simpatizantes dentro das forças militares e judiciário bloqueiam e sabotam as investigações sobre os seus crime. Os “filhotes da ditadura”, empresários e políticos ligados ao antigo regime ditatorial, seguem enriquecendo e influindo decisivamente sobre a política local e nacional.

Vivemos sob um regime democrático? É difícil dizer. A impressão é que a ditadura nunca deixou de existir nas favelas e rincões do país, fatos evidenciados pelos dados disponíveis sobre a violência policial. Mas que essa ditadura, que focava sua violência sobre os pobres, vai se expandindo novamente sobre outros setores da população, com o âmbito de liberdade de expressão, associação e manifestação tornando-se cada vez mais estreito. É como se, ao pressionar a democracia para que se tornasse mais democráticas, víssemos a fachada do edifício ruir e revelar a carranca sinistra de uma ditadura que viola dos direitos básicos dos cidadãos. Até que ponto isto chegará?

http://www.midiaindependente.org/pt/red/2013/09/524373.shtml

Gilberto Maringoni: Black Blocs, cobrir o rosto é o de menos | Luizmuller's Blog

[…] Por Gilberto Maringoni no VIOMUNDO […]

Edgar Rocha

Adoro, mitologia. Nos permite entender modelos arquetípicos através da poesia. Apolo, Deus do corpo, do brilho do Sol, do holofote sobre si mesmo, era um sujeito intragável. Odiado pelas deusas por seu personalismo e suas investidas ridículas, subestimado pelo paizão Zeus era o Playboy universal. Fazendo pose pelo Universo afora em seu carrão luxuoso, com o chofer Hélio, este deus eternamente garotão vivia acabrunhado com a fama de ter pinto pequeno, a qual lhe atribuíam os escultores humanos. Decidiu tomar pra si o poder do Olimpo. Chamou o tio ambicioso Poseidon, o irmão bandidão Ares, e decidiram depor o todo-poderoso. Quebraram a cara: a irmã mais inteligente, Atena, deusa da Razão, tomou as dores do Pai, Senhor do equilíbrio de forças e da ordem. O irmão mais novo, Dionísio, este realmente irreverente, protegeu seu velho literalmente com unhas e dentes de fera (em nome da liberdade e da alegria). Este bicha-carnavalesco, corajoso e terrível, porém leal, com sua turma de sambistas feios da periferia, Sileno-bêbado e Pan, o sábio bode velho, se juntaram à sabedoria em favor do bom senso e contra a tirania dos “revolucionários”. Apolo perdeu a batalha e recebeu o mais justo dos castigos que um filhinho de papai pode receber: trabalhou por séculos como servente de pedreiro, ajudando o tio traíra dos mares – Poseidon – na construção da muralha dos pobres e frágeis troianos. Ainda assim, terminado o serviço, foram reintegrados e ganharam o carinho do povo que por eles se beneficiou. Zeus continuou absoluto. E quem há de duvidar de seu merecimento com tamanha perspicácia? Já nos tempos de Hesíodo, sabia-se muito bem o que se fazer com gente sem limites. E desde aquele tempo, playboy enchia o saco. Graças a Zeus, descobriu-se que pegar no pesado é o melhor remédio pra fazer um sujeito baixar a bola e deixar de ser mimado. Quem duvidar desta história, procure no Google o termo “Teomaquia”.

christian

Depois de parcela da esquerda criminalizar os black bloc, o próximo passo será tratar sem terra como bandidos?

http://mariafro.com/2013/09/15/depois-de-parcela-da-esquerda-criminalizar-os-black-bloc-o-proximo-passo-sera-tratar-sem-terra-como-bandidos/

    Julio De Bem

    Brilhante comentario amigo. Mostra toda sua inteligência. Somente uma pessoa diferenciada consegue comparar um grupo de pessoas sem um metro quadrado pra morar, invadir 5% de uma fazenda com milhares de hectares, extender uma lona de plástico e paredes de compensado pra assentar 40 a 50 pessoas com um grupo de adolescentes retardados que recebem comida na boca das mamães e quebram estabelecimentos de trabalhadores que começam as 5 da manhã. Você eh um mito. Espero, com muita fé, atingir tal nível de sabedoria.

    Leo V

    Você é um Deus para saber que as pessoas nos BBs são filhinhos de papai?

    Judeus também não tinham nada a ver com comunistas ou gays. Mas eram todos postos no mesmo saco pelo extermínio nazista.

Urbano

E depois que embolou o meio de campo, os bandidos da oposição ao Brasil já praticam os maiores crimes, unicamente com um salvo-conduto no bolso. Antigamente os bandidos procuravam um centro de macumba em qualquer lugar do Brasil, a fim de conseguir um patuá para fechar o corpo. Agora na modernidade às avessas é uma verdadeira corrida do ouro em direção ao Brasil Central. Os centros de macumbas, por sua vez, só ficaram com os chamados pés de chinelo, quando muito…

Davi Basso

O último texto que li era desinformativo. Este é uma forma total de preconceito e manipulação dos leitores a odiarem quem quer que seja que participe da Tática. Antes que me partidarizem aqui, quero deixar claro que nunca participei do Black Bloc. Informação importante para quem me lê, para que não pense que sou um defensor biológico. Pois quando leio lixeiras, orelhões e vitrines de lojas, entendo que o autor quer na verdade colocar todos os atos na conta de um só. E poderia começar a explicar o que entende por “vidinha besta”. É capaz de incluir muito dos leitores aqui em sua definição. Depois, associar à espera de um messias, é fascismo. Ainda, justificar a violência policial é algo impossível. Ela não se justifica em nenhum aspecto. É o tipo de matéria que leva a quem lê à discriminação. Me parece bem com o que faz a folha, veja e globo. Lembro quando o PHA fez um acordo no processo de racismo que sofreu, saiu nos meios “oficiais” que ele tinha sido condenado; embora as vezes que tinha ganho em primeira instancia não tenha merecido 1 nota sequer. Assim foi tbm com o livro da privataria, a matéria dizia que a veronica serra iria processar o autor, e a folha não dava uma nota sequer do lançamento do livro. Suas observações não muda em nada o sistema em que vivemos. Trata de arregimentar torcedores. Não tem nada a ver com consiência. Inclusive a “personalidade” que o sr chama às falas, e por óbvio que sabe disso, é quem organiza o exército vermelho, na revolução russa (1917). É por estas e outras tantas, como citar personagens de quadrinhos e, quem sabe, ser até poético: “o mal que se esconde nos corações humanos”, que me coloco a pensar que o Sr. tem um longo caminho a percorrer até se tornar um Merval Pereira. O negócio é assistir mais globo e ler mais editoriais de alto colesterol. Pois a intensão é a mesma.

renato

Nacional Kid, era heroi, meu heroi, e continua sendo.
Zorro, era heroi americano mais era, o de espada, o outro
Zorro tinta o amigo que era melhor que o zorro o tonto.
Batman nem se fala, o cara é o maior heroi do HQ, e é apenas
um homem….
Não compare meus heróis com estes caras.Por favor.
Estes caras são todos bombados, cherador de cocaina, e gays
enrrustidos, nada contra gay, mas é que não tiveram coragem
de falar e assumir, quando assumirem saem do grupelho.
Uma madrugada destas, depois de algumas depredações, vão
encostar-se em um ombro e chorar suas magoas, e contar o que
gostariam de ser, e vão culpar a sociedade, e os pais, e vão
achar romanticos o cheiro do gas, e a ferida da bala de borracha.
Sentiu peninha….

Fabio Passos

A população tem o direito de expressar seu inconformismo.

Destruir bens públicos e pequenos negócios é realmente uma tolice… mas não posso concordar que destruir bens das corporações financeiras seja injustificado.

Estas corporações são o poder de fato.
Acho legítimo que a população se rebele e tente destruir seu opressor.

O ideal seria ações contra as sedes dos principais bancos.
E existem outros alvos legítimos.

Se não há marxistas liderando um processo revolucionário de enfrentamento do poder… pelo menos temos alguns anarquistas disposto a correr riscos enfrentando o regime.

    Ione

    Hoje a corrupção das pessoas físicas é geral, só que elas mesmas atribuem a corrpção aos membros do governo.Elas são “acionistas” e acham que a sujeira que fazem está fora delas.Como num passe de mágica.

    Vá a uma praça e veja o lixo no chão: corrupção.

Francisco

Cobramos que os políticos não usem máscaras no Congresso e votem de modo a todos saberem o que pensam.

Mas fazemos passeatas “votando secreto” (com máscaras).

Estamos num regime de exceção?

Estamos numa ditadura?

Ou temos vergonha do que pode dizer o vizinho?

Talvez estejamos com medo de mamãe saber…

De todo modo, não lembro de José Genuino de máscara, nem Guevara.

Se quer afrontar DE FATO, faça. Só então as máscaras são aceitáveis.

    Ione

    1) A esquerda tem sido ingênua demais.Parte limpa do BlacBLock também.

    2) exemplo: quando a esquerda diz e acredita que livros vão mostrar o que PIG não mostra dos governos da direita genocida.

    Não vai adiantar nada, pois para essa direita roubar é método de trabalho, não é crime.A direita tem ideologia e a está praticando: roubar, adaptar a democracia, cooptar as cortes e a mídia, sonegar impostos, diminuir impostos, mentir. Simples assim.

    3)Temos de criar novos métodos de trabalho e de luta. A direita não brinca e não é desunida. A esqueirda sim.

Ismar Curi

Tenho uma observação, e, na sequência uma pergunta: me parece que por trás das máscaras dos ditos ‘black’ bloks, não há quase nenhum com tez ‘black’. Daí, me veio uma questão pertinente: onde estavam eles, os black bloks, quando os ‘white’ blokcs, ou, nosso blocos de doutores, quando vaiavam os cubanos negros que vieram participar do Programa Mais Médicos?

Luiz Hespanha

Inocentes úteis e inocentes fúteis manipulados por fascistas nada sutis!

Tomudjin

O que eles querem é ficar até mais tarde nas ruas.

Mauricio

Volta e meia o fascismo da as caras, ou melhor, as mascaras.

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