Europeus se dão conta de que promessa de Bolsonaro de entregar a Amazônia aos EUA é para valer

Tempo de leitura: 3 min
Foto da Agência Brasil mostra Eduardo Bolsonaro com boné da campanha de Trump 2020

De Birnam Wood a Dunsinane Hill; da Amazônia ao Planalto Central

por Hugo Cavalcanti Melo Filho

“Macbeth shall never vanquished be until great Birnam Wood to high Dunsinane Hill shall come against him”.

Nesta semana, um texto atribuído a Tarso de Melo, intitulado “A queda do céu”, no qual o autor comenta, de forma poética, os efeitos das queimadas na Amazônia sentidos pelos moradores da cidade de São Paulo, terminava com uma advertência: “a floresta vem visitar, vem avisar. Vai cair o céu”.

Não pude deixar de associar o aviso ao vaticínio feito por um dos espíritos conjurados pelas bruxas consultadas por Macbeth e que transcrevi em epígrafe: “Macbeth jamais será vencido até que a grande Floresta de Brinam vá até as alturas do Monte Dunsinane”.

Não é necessário explicitar as óbvias semelhanças entre a tragédia shakespeariana e a desgraça brasileira, iniciada em 2016.

Talvez registrar que esta supera aquela em termos de traições, vilania e torpeza.

Menciono a profecia citada apenas para relembrar que Macbeth foi vencido, porque a floresta terminou indo ao seu encontro.

Em dezembro de 2017, o então candidato Jair Bolsonaro declarou, em Manaus, que o Brasil dificilmente manteria sua soberania sobre a Amazônia e que, para salvar ao menos uma parte dela, seria necessário firmar parcerias com países como os Estados Unidos, para a exploração de recursos minerais, projeto que passaria, necessariamente, pelo avanço nos territórios indígenas demarcados e retirada da cobertura vegetal.

A campanha de Bolsonaro se manteve no mesmo diapasão até a eleição: reserva indígena é zoológico, o problema da Amazônia são as ONGs, vamos explorar nióbio e outras pérolas que foram, digamos, devidamente assimiladas pelos destinatários.

Pouco depois de empossado e após visita aos Estados Unidos, Bolsonaro afirmou, em entrevista à emissora de rádio Jovem Pan, que tratou com Donald Trump a abertura da exploração da região amazônica em parceria com os Estados Unidos:

“Quando estive agora com Trump, conversei com ele que quero abrir para ele explorar a região amazônica em parceria. Como está, nós vamos perder a Amazônia, aquela área é vital para o mundo”.

Em 19 de julho, em encontro com jornalistas estrangeiros, Bolsonaro afirmou que os dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, que mostram o aumento do desmatamento da Amazônia nos últimos meses, eram mentirosos. Disse, ainda, suspeitar de que Ricardo Galvão, diretor do instituto, esteja “a serviço de alguma Ong”.

O diretor rebateu as acusações e foi substituído alguns dias depois.

Os dados do Inpe mostravam que entre janeiro e junho de 2019 houve um desmatamento de 213 km² na região amazônica.

Na esteira das declarações e atitudes do presidente, dos ataques às políticas ambientais, aos ambientalistas e aos órgãos de fiscalização, fazendeiros da região amazônica não se fizeram de rogados e promoverem, entre os dias 10 e 11 de agosto, o “dia do fogo”.

Como consequência, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais chegou a registrar quase oito mil focos de incêndio.

Enquanto o governo negava a extensão do problema e, depois, responsabilizava as organizações não governamentais pelas queimadas, o mundo inteiro se voltou para o desastre ambiental que se processa no Brasil. Manifestações em defesa da Amazônia foram convocadas em todos os continentes.

Alemanha e Noruega cancelaram doações para o Fundo Amazônia e foram esnobados por Jair Bolsonaro.

O Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, manifestou profunda preocupação com os incêndios na floresta amazônica e afirmou que a Amazônia deve ser protegida.

Por fim, o presidente francês, Emmanuel Macron, convocou a cúpula do G7 a discutir os incêndios na Amazônia na reunião que será realizada no próximo final de semana.

Foi o bastante para que o governo brasileiro atacasse os países europeus, ao argumento de que pretendem tirar vantagens econômicas com as questões ambientais, e Bolsonaro se voltasse contra o presidente Macron, acusando-o de disseminar fake news.

Todos os dias, o comportamento do presidente brasileiro nos estimula a considerá-lo um louco assessorado por lunáticos.

Nos últimos dias não tem sido diferente, porque o quadro de devastação, a gravidade dos fatos simplesmente não autorizariam as falas e atitudes de Bolsonaro, fosse ele são.

Entretanto, abalizadas opiniões de psicanalistas e cientistas políticos nos indicam que tudo não passa de jogo de cena e que há um propósito muito bem definido por trás disso.

No caso da Amazônia, a intenção foi declarada ainda na campanha presidencial: dar ensejo a uma intervenção estrangeira, entregar as riquezas minerais brasileiras aos Estados Unidos da América, ao custo do sacrifício da fauna e da flora amazônicas, do meio ambiente planetário, da soberania nacional.

Resta saber se a Floresta Amazônica subirá o Planalto Central contra o tirano. Se os cidadãos do mundo seremos soldados da floresta, em defesa da biodiversidade, das reservas indígenas e dos rios. Se marcharemos em manifestações em todos os lugares; se denunciaremos as mentiras e tramas em artigos, pesquisas e fotografias. Até que prevaleça o bom senso e que se ponha fim à devastação.

Hugo Cavalcanti Melo Filho é juiz do trabalho em Pernambuco,, Doutor em Ciência Política, Professor da UFPE e integrante da ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia).

PS do Viomundo: O governo Bolsonaro busca uma forma de entregar à empresa Planet, dos Estados Unidos, o monitoramento da Amazônia que hoje é feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.


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Guanabara

Uma vez o estrago feito, quando quem o elegeu se der conta do que aconteceu, vão dizer que a culpa é do Lula, do PT e dos “esquerdistas”.

Zé Maria

Ministérios da Defesa, da Justiça e Segurança
e do Meio Ambiente preparam Operações Militares
de ‘Garantia da Lei e da Ordem’ (GLO) na Amazônia.

Pra combater ‘queimadas’ vão fazer
Operações de Guerra e ‘abrir Fogo’
contra tudo que se mova na Floresta.

https://br.sputniknews.com/brasil/2019082314424795-bolsonaro-diz-que-tendencia-e-levar-as-forcas-armadas-para-amazonia/

Zé Maria

Movimentos Sociais, Indigenistas e Ambientalistas,
preparem-se para receber rajadas da Balas
de Fuzis na Amazônia.

As FFAA foram mobilizadas para lá.

Além das Forças Armadas, o Ruralista Salles
vai reunir Madeireiras e Mineradoras para
“fazer uma limpa” na Região Norte do País.

SECOM informa
“É oficial: o presidente @jairbolsonaro fará
pronunciamento, em cadeia nacional de rádio e TV,
às 20h30 desta sexta-feira (23)”

Chegou a hora e a vez do #panelaço

https://twitter.com/search?q=%23panela%C3%A7o

Zé Maria

E se não houvesse Floresta Amazônica?

A Amazônia tem capacidade para retirar,
por Ano, da Atmosfera, por Fotossíntese,
entre 1,5 bilhão e 2 bilhões de Toneladas
de Dióxido de Carbono (CO₂).

Segundo Relatório do Sistema de Estimativas
de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg)
do Observatório do Clima (OC), o Brasil lançou
na Atmosfera 2,071 bilhões de Toneladas Brutas de CO₂e (Gás Carbônico Equivalente)*, em 2018.

Somando-se as emissões indiretas, por Desmatamento,
e as diretas, principalmente pelo Gás Metano (CH4) do rebanho,
o Agronegócio responde por 71% das emissões totais do País,
quase 1,5 bilhão de toneladas de CO₂e.

O Metano representa 30% da Contribuição
de todos os Fatores Atmosféricos para o
Aquecimento Global.

Se fosse um país, o Setor Agropecuário Brasileiro
seria o Oitavo Maior Emissor de Gases do Efeito Estufa do Mundo,
à frente do Japão.

O Metano (CH4) também é emitido pela degradação
anaeróbia – sem a presença de Oxigênio (O₂) –
na decomposição da matéria orgânica
pela ação de microrganismos na putrefação
de resíduos de plantas e animais.

(*) Em inglês, Carbon Dioxide Equivalent (CO₂e): medida internacionalmente aceita
que expressa a Quantidade de Gases de
Efeito Estufa (GEEs), em geral,
equivalente à quantidade de Dióxido de Carbono (CO₂)
que seria proporcionalmente emitido na Atmosfera,
se todos os GEEs fossem emitidos como CO₂.
Ou seja, a Equivalência leva em conta o “Potencial de Aquecimento Global” dos GEEs
e calcula, de acordo com uma Tabela-Padrão, quanto de CO₂ seria emitido se todos os GEEs fossem emitidos como Dióxido de Carbono.

Por exemplo, o Potencial de Aquecimento Global do Gás Metano é 25, pois é 25 vezes Maior do que o Potencial do Gás Carbônico (CO₂), que por padrão é 1, pois é a Referência.

Zé Maria

O Planet, um sistema de mapeamento em alta resolução
que pertence a uma companhia dos Estados Unidos,
é fornecido localmente pela empresa brasileira
Santiago & Cintra [Consultoria = SCCON]*, de São Paulo.

Essa empresa, que é responsável por processar as imagens e
interpretá-las, já realizou diversas reuniões com representantes do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente neste ano.

O sistema Planet já chegou a ser utilizado como teste pelo governo do Pará [Simão Jatene (PSDB)].

Em 2016, segundo o governador do Estado, Helder Barbalho, o uso da tecnologia foi feito por meio de uma doação pela própria empresa.
Depois, em 2017, um acordo anual foi firmado, com apoio do Fundo Amazônia.

“Nós chegamos [ao governo, no início de 2019]
e tomamos a decisão de não comprar”,
disse Barbalho ao Estado.
“Os sistemas que temos hoje já nos são suficientes
para fiscalizar e monitorar o desmatamento.”

*[(https://www.sccon.com.br/empresa) (https://www.sccon.com.br/empresa/parceiros)]

(Sustentabilidade.Estadão; 15 de agosto de 2019 | 06h58)
.
.
Corre que o sistema almejado por Salles envolveria imagens
da empresa americana Planet, que já pôs em órbita 331 satélites
e tem hoje cerca de 150 em operação.
A resolução espacial oferecida pela Planet vai de 3m a 5m,
contra 30m e 64m no Prodes e no Deter, respectivamente.
À primeira vista, uma resolução melhor permitiria detectar
mais áreas de desmatamento, aquelas de tamanho inferior
à resolução do Deter e do Prodes.
Só que faz mais sentido pôr a fiscalização no encalço
dos maiores devastadores, e o Inpe já demonstrou que,
com os sistemas atuais, consegue identificar onde ocorre
mais de 95% da área devastada.
Alguns usuários da Planet, a depender do pacote contratado,
pagam coisa de um dólar por quilômetro quadrado.
Numa conta de mesa de botequim, cobrir o território nacional
inteiro implicaria gastar a cada ano US$ 8,5 milhões (R$ 33 milhões).

Vale dizer, uma despesa 55 vezes maior que o gasto atual do Inpe.

Com a diferença de que o instituto deixa as imagens à disposição de toda a comunidade de sensoriamento remoto e sistemas geográficos de informação.

Salles, condenado em dezembro por improbidade
na Justiça de São Paulo, por interferir no manejo de áreas
de várzea do rio Tietê, deveria pensar duas vezes antes de
lançar-se nessa aventura de pagar caro para duplicar
o que próprio governo federal já faz.

Seu colega de gabinete no MCTIC, o ex-astronauta Marcos Pontes,
deveria vir a público dizer o que pensa dos planos do MMA
de controlar o monitoramento da devastação,
sabotando o trabalho de décadas do Inpe.

Por Marcelo Leite, na Folha: https://t.co/X4UJ4ZtxD6

íntegra:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2019/03/ministro-cogita-criar-novo-sistema-de-desmatamento.shtml

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