Encapuzados cercam viatura da Polícia Civil em Fortaleza. Ciro adverte jornalistas: “As primeiras vítimas do fascismo vão ser vocês”; vídeo

Tempo de leitura: 2 min
Reprodução

Da Redação

Em duas entrevistas distintas, esta tarde, o ex-governador Ciro Gomes fez um alerta sobre o motim de policiais militares que entrou no segundo dia no Ceará.

Numa delas, advertiu jornalistas da Folha de S. Paulo, ao explicar a atitude do irmão Cid Gomes:

“Não houve nada de exaltação, nada de exaltação. Ele disse que tinha ido em paz e queria restaurar a ordem em Sobral. Tanto é que, na hora em que ele chegou, eles se retiraram dessa maluquice na rua e foram para o quartel. Veja lá, irmão, veja se aquilo é um movimento legítimo. Não é possível que vocês tenham ficado com essa insensibilidade. Vocês, jornalistas, vão ser os primeiros. As primeiras vítimas do fascismo vão ser vocês”, afirmou.

O senador licenciado Cid Gomes, baleado duas vezes em Sobral, passa bem e foi transferido para Fortaleza.

Mais cedo, Ciro Gomes havia ligado o movimento grevista à presidência de Jair Bolsonaro:

“Isso não está isolado do que acontece no Brasil. Temos no momento a destruição do Estado Democrático de Direito, liderada por um presidente boçal, canalha, de uma família de canalhas. Se algum policial apertou o gatilho, não faria isso se não fosse esse clima de absoluto desrespeito às regras da convivência democrática, claramente estimulado pelo presidente da República e por sua família de canalhas”, disse Ciro.

Ciro afirma que é preciso lidar com os amotinados com repressão:

“Infelizmente, só tem uma saída depois desse quadro de anarquia: a repressão. Não tenho nenhum prazer em dizer isso, mas não se trata mais de luta por melhoria de salário. Querem trazer para o Ceará o Rio de Janeiro, com apoio de Jair Bolsonaro, o homem que está estabelecendo no Brasil uma República de canalhas”.

No final da tarde, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará repassou ao diário local O Povo imagens feitas por uma das mais de 3 mil câmeras que monitoram as ruas do estado.

Elas mostram um grupo de amotinados cercando uma viatura da Polícia Civil numa avenida de Fortaleza.

Um dos policiais civis sai da viatura, saca a arma e se esconde sob uma marquise, depois de perseguido por homens encapuzados.

Os amotinados usam capacetes ou balaclavas para esconder a identidade e impedem a passagem da viatura da Polícia Civil.

O episódio aconteceu perto de um dos batalhões de Fortaleza onde se concentram os amotinados. De acordo com o diário O Povo, a viatura foi recuperada e encaminhada a uma delegacia.

Já está claro que os organizadores do motim policial militar são bolsonaristas e recebem apoio de ao menos três deputados federais apoiadores de Jair Bolsonaro, dentre os quais o candidato que lidera pesquisas para a disputa da Prefeitura de Fortaleza este ano.

Atendendo a um pedido do governador Camilo Santana (PT-CE), o governo federal autorizou que o patrulhamento das ruas em Fortaleza seja feito pelo Exército.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

https://www.conversaafiada.com.br/brasil/ciro-defende-cid-fascismo-nao-se-enfrenta-com-flores

20.fev.2020 às 17h30 Atualizado: 20.fev.2020 às 19h26

“Fascismo não se enfrenta com flores!” “Nem com lacração de internet”

Em entrevista concedida ao Repórter Gustavo Urib, da Folha,
Ciro Gomes diz que PMs escolheram cidade de Sobral por provocação

“O episódio se deve a uma impotência dos Poderes constituídos em fazer
a Constituição Federal ser respeitada no Brasil e a um canalha que transformou
a República do Brasil em uma república de canalhas que se chama
Jair Messias Bolsonaro”.

“Você acha que um garoto de 20 e poucos anos teria coragem de atirar
em uma pessoa assim se não achasse que estava a serviço do poder maior no Brasil?
Quem estava na linha de frente lá era um vereador do Bolsonaro.”

Íntegra da Entrevista:

Folha: Como está o senador Cid Gomes?

Ciro: Foi um susto grande, mas ele está bem. Chegou a Fortaleza e está
sob observação com dreno, porque uma das balas bateu e saiu, e a outra
está alojada na base do pulmão.
Nasceu de novo. Os dois tiros foram no peito esquerdo, e essa que está alojada
quebrou uma costela dele, desviou na direção da axila e se alojou na base do pulmão.

Folha: Ele deve passar por uma nova cirurgia?

Ciro: Não, nada. Ele está em observação porque querem ver se o projétil fica estável. Mas, para a nossa gratidão a Deus, não atingiu nenhum órgão vital, nenhuma artéria e não teve hemorragia. Ele tem um dreno e está tomando antibiótico.

Folha: O irmão do sr. agiu de maneira correta?

Ciro: Eu acho, dadas as circunstâncias que eu conheço e que nem a imprensa nem os críticos elegantes do Brasil conhecem ou querem conhecer. Porque, quando um canalha como o Bolsonaro faz a canalhice que faz com uma jornalista [Patrícia Campos Mello, da Folha], a indignação fica muito aflorada.

Folha: Então, como foi que ocorreu o episódio?

Ciro: O Cid estava em Fortaleza, e nós somos de Sobral. O Ceará tem 184 municípios, e Sobral foi o único local onde houve um grupo de policiais à paisana, todos mascarados, circulando de armas na mão e determinando o fechamento de comércios, aterrorizando todo mundo e mandando para a casa.
As pessoas apavoradas ligaram para o Cid, e ele [Cid] prometeu que iria para lá.

Folha: A greve estava declarada ilegal?

Ciro: A greve está declarada ilegal pelo Tribunal de Justiça e pelo Ministério Público. O governador fez uma negociação com as entidades que assinaram o acordo. Todas as entidades dos policiais militares assinaram o acordo e há gravações dos pseudolíderes comemorando a vitória. E aí uma minoria resolveu se insurgir com violência e escolheu Sobral, evidentemente, porque é a nossa cidade, a intenção é claramente política de provocação.
E o Cid foi para lá, reuniu a população, circulou pelas ruas, restaurando a normalidade. E foi em direção ao piquete que eles estavam impedindo os policiais de saírem do quartel, que é uma via pública.
Chegando lá, desceu, pegou o megafone, pediu para eles saírem, insistiu, levou um soco no rosto e, quando levou o soco, voltou a conversar, dizendo que estava em paz e que não ia aceitar. Então, subiu na retroescavadeira, avançou até derrubar o portão parou e recuou. Quando ele parou e recuou, quatro tiros foram disparados em direção ao peito esquerdo dele e três pegaram [dois foram confirmados no hospital].
O chefe da guarda municipal levou um tiro no pulso. E aí fica uma certa imprensa e esquerda elegantes no Brasil dizendo que o camarada perdeu a calma, que avançou com retroescavadeira. A minha pergunta: se enfrenta fascismo com flores ou com lacração de internet? Não foi a omissão dos políticos e a sua irresponsabilidade que permitiram o avanço da facção criminosa?

Folha: Mas não seria papel das forças policiais impedirem o protesto?

Ciro: Meu amigo, olha a pergunta que você está me fazendo. Claro que seria papel das forças policiais. Onde elas estavam? E a cidade inteira feita refém.
Não é possível que você tenha uma folha de alface no coração. Imagina, você no lugar deles, passando um policial de camiseta, com máscara, com arma na mão, dizendo: “Fecha o comércio, fecha o comércio, que o bicho vai pegar”.

Folha: Então, na opinião do sr., o senador não se exaltou?

Ciro: Não houve nada de exaltação, nada de exaltação. Ele disse que tinha ido em paz e queria restaurar a ordem em Sobral. Tanto é que, na hora em que ele chegou, eles se retiraram dessa maluquice na rua e foram para o quartel.
Veja lá, irmão, veja se aquilo é um movimento legítimo. Não é possível que vocês tenham ficado com essa insensibilidade. Vocês, jornalistas, vão ser os primeiros. As primeiras vítimas do fascismo vão ser vocês.

Folha: A quem o sr. atribui a ter chegado a essa situação?

Ciro: À absoluta impotência dos poderes constituídos em fazer a Constituição Federal e a lei serem respeitadas no Brasil e a um canalha que transformou a República brasileira em uma república de canalhas que se chama Jair Messias Bolsonaro.

Folha: O sr. acha que Jair Bolsonaro tem culpa pelo que aconteceu com o Cid?

Ciro: Evidentemente. Ou você acha que um garoto de 20 e poucos anos teria coragem de atirar em uma pessoa assim se não achasse que estava a serviço do poder maior no Brasil? Quem estava na linha de frente lá era um vereador do Bolsonaro.

Folha: A crise deve acabar nos próximos dias?

Ciro: Depende da reação das autoridades. O que está acontecendo no Ceará é responsabilidade remota do próprio Cid [Gomes (PDT)], que lá atrás deixou essa cobra nascer, e agora do governador Camilo Santana [PT], em face de sua tolerância e vocação ao diálogo, o que não deixam de ser virtudes.
O governador é um grande e querido aliado.
Eu apenas discordo da forma como o Cid e ele administram esse tipo de assunto.
Porque governar não é um ato de simpatia, governar é uma obrigação determinada pelas Constituições Federal e Estadual, às quais ambos prestaram juramento.

Folha: A Força Nacional poderá ajudar a contornar o quadro?

Ciro: Depende apenas de uma coisa [para acabar o movimento]: se o governador tiver, ele publica o nome de 50 pessoas hoje, na internet, e a greve acaba amanhã.

Folha: Quem seriam essas pessoas?

Ciro: Seriam os líderes dos amotinados.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/02/ciro-culpa-bolsonaro-por-ataque-ao-irmao-e-diz-que-nao-se-enfrenta-fascismo-com-flores.shtml

Zé Maria

Desde a Ditadura, a Polícia Militar (PM)
se converteu numa Enorme Milícia
articulada em todos os estados do País, inicialmente com a Tarefa de reprimir Protestos Populares e Manifestações Coletivas, tais como Movimentos Estudantis e Greves Organizadas por Sindicatos de Trabalhadores, além de coibir a Liberdade de Reunião.
A partir daí, gradativamente Grupos de Policiais de Extrema-Direita passaram a agir com total autonomia organizando-se nos chamados Esquadrões da Morte adotando a prática de Execuções Sumárias, daí derivando as Milícias Paramilitares reunindo Assassinos de Aluguel e Grupos de Extermínio.
É disso que se trata.

Deixe seu comentário

Leia também