Delegado citado como amigo dos Bolsonaro foi intermediário no filme em que a PF “queimou Lula”, com apoio de Moro

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Márcio e Igor, delegados que teriam ajudado no filme. Reprodução da CartaCapital e redes sociais

Veja: O que o senhor veio fazer na sede da Polícia Federal de Curitiba?
Ary Fontoura: Vim sentir o clima da Lava-Jato e assistir às gravações que a PF fez da condução coercitiva do Lula. Minha participação no filme começa com a Polícia Federal batendo na casa dele até o depoimento no aeroporto de Congonhas. Entrevista do ator Fontoura, que fez o papel de Lula no filme.

Da Redação

O delegado Márcio Derenne, citado como próximo da família Bolsonaro pelo ex-superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Carlos Henrique Oliveira de Souza, foi o intermediário entre a direção da Polícia Federal e os produtores do filme Polícia Federal: A lei é para todos, lançado em 7 de setembro de 2017.

“Ele [Carlos Henrique] relatou que Derenne, atualmente a serviço da Interpol, no exterior, seria ligado aos filhos do presidente, não sabendo precisar qual”, diz trecho do depoimento de Carlos Henrique feito em Brasília.

O delegado Carlos Henrique pediu para ser reinquirido na investigação que foi aberta depois que o ministro da Justiça Sergio Moro pediu demissão acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na PF, tendo como um dos objetivos mudar o superintendente do Rio.

Carlos Henrique, no novo depoimento, disse ter tido um encontro com o presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, sem motivo aparente, com intermediação de Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência.

Carlos Henrique também contou que, quando Ramagem era cotado para assumir a direção-geral da Polícia Federal, foi sondado por ele e disse que aceitaria se tornar o segundo nome da corporação, deixando vago o cargo de superintendente no Rio de Janeiro.

Ramagem foi impedido de assumir o cargo por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, mas mesmo assim indiciou o novo diretor-geral da PF, que por sua vez tirou Carlos Henrique do Rio — completando assim as mudanças desejadas por Jair Bolsonaro na corporação.

Em entrevista publicada na segunda-feira, o empresário Paulo Marinho, cuja casa foi usada por Jair Bolsonaro como sede de campanha no Rio, em 2018, disse que um delegado da Polícia Federal vazou a informação de que a corporação faria a Operação Furna da Onça, contra parlamentares da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O vazamento foi feito a intermediários do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

A operação teria sido adiada para depois do segundo turno, para não prejudicar a eleição de Jair Bolsonaro.

De fato, a Furna da Onça aconteceu no dia 8 de novembro, cinco dias depois da eleição de Jair Bolsonaro em segundo turno.

O delegado que teria feito o vazamento ainda não foi identificado.

Alexandre Ramagem dirigiu a operação da PF que antecedeu a Furna da Onça, batizada de Cadeia Velha, que apurou corrupção envolvendo o ex-governador Sergio Cabral, líderes da Alerj e empresários do setor de transportes.

Depois, ele foi transferido para cuidar da segurança pessoal do candidato do PSL, quando tornou-se íntimo da família Bolsonaro, o que teria lhe garantido o cargo na Abin.

Ja o delegado Márcio Derenne ganhou alguma notoriedade em abril de 2017, quando a revista CartaCapital revelou que ele foi indicado pelo então diretor-geral da PF, Leandro Daiello, para ser o intermediário entre a corporação e os produtores do filme Polícia Federal: A lei é para todos.

À época, parlamentares petistas denunciaram que o filme, que teria custado cerca de R$ 15 milhões, foi bancado por um único empresário, que não quis se identificar.

Para os petistas, integrantes da Polícia Federal cometeram improbidade administrativa, pois não houve qualquer formalização no que definiram como “relação promíscua” entre a PF e os produtores do filme.

No dia 18 de novembro de 2016, a sede da Polícia Federal em Curitiba teria sido fechada para permitir filmagens.

A PF deu acesso aos produtores das imagens reais feitas durante busca e apreensão no apartamento do ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo, bem como da condução coercitiva em que Lula foi levado até o aeroporto de Congonhas, em 4 de março de 2016.

Informada antecipadamente, a mídia transformou o evento num grande espetáculo midiático, com transmissão ao vivo através de helicópteros que perseguiram todo o trajeto de Lula até o aeroporto.

Foi o auge da Operação Lava Jato e do então juiz federal Sergio Moro.

Moro franqueou acesso dos produtores e atores do filme à carceragem onde estavam presos da Lava Jato, no Paraná.

“O empréstimo informal de viaturas, armas, uniformes, carros, helicóptero e avião, além da cessão de agentes, e o fechamento da sede da Superintendência da PF em dia de expediente para gravação de cenas são algumas das ilegalidades que os parlamentares conseguiram apurar, inclusive a partir de registros oficiais dos sistemas administrativos da corporação”, denunciaram à época os deputados do PT Paulo Pimenta, Paulo Teixeira e Wadih Damous.

“Ao filme também foi liberado o acesso à carceragem da PF em Curitiba, o que pode configurar violação da privacidade dos presos, entre outras irregularidades. Tudo isso, na opinião de Damous, é uma espécie de patrocínio informal da PF à obra cinematográfica. Esse filme integra o cenário de Estado de exceção no qual nos encontramos, ressaltou”. 

Depois do golpe contra Dilma Rousseff, quando Leonardo Picciani assumiu o ministério do Esporte no governo do usurpador Michel Temer, Márcio Darenne tornou-se chefe de assessoria de eventos esportivos do ministério, com a chancela de Daiello.

Antes, havia servido no gabinete do senador petista Lindbergh Farias e, por indicação de Sergio Cabral, na representação do Rio de Janeiro em Brasília.

Depois que Sergio Moro assumiu o cargo de ministro da Justiça, Darenne foi deslocado para o cargo de oficial de ligação da PF com a representação da Interpol nas Nações Unidas.

Cargos no Exterior são extremamente cobiçados no serviço público.

O filme Polícia Federal: A lei é para todos vendeu cerca de 1,3 milhão de ingressos durante o ano de 2017, quando o PT ainda pretendia ter Lula como seu candidato ao Planalto nas eleições de 2018.

Um delegado que participou de um evento comemorativo ao filme foi Igor Romário de Paula, da Lava Jato de Curitiba, que hoje investiga o esquema de fake news da família Bolsonaro em inquérito que o Supremo Tribunal Federal mandou abrir.

O evento aconteceu em Curitiba, numa sede da lanchonete Madero, do empresário bolsonarista Junior Durski, que foi um dos apoiadores do filme.

Veja abaixo o vídeo da entrevista coletiva que deputados petistas concederam sobre o filme à época, na qual denunciaram que a Polícia Federal se recusou a responder pedidos de informação.


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Zé Maria

Igor de Paula, em Inquérito no STF,
é vazamento garantido pra Globo.

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