Cristo funkeiro da Mangueira demole bolsonarismo, mas Globo passa batido pelo “Messias de arma na mão”

Tempo de leitura: 2 min
O Cristo negro da Mangueira (reprodução) e um enquadro da PM paulista em negros no Carnaval de São Paulo (foto Luiz Carlos Azenha)

Se alguém na TV já comentou estes versos do samba da Mangueira, eu perdi… Mauricio Stycer, crítico de TV, no twitter.

Pois é, Stycer, também perdi, perdemos. O mutismo de Escobar [Alex, apresentador da Globo] durante o desfile da Mangueira foi sintomático. Compare com a falação desenfreada durante a passagem da Viradouro [que precedeu a Mangueira]. Vale até cronometrar. A Globo não sabe o que fazer com o Messias. Jornalismo, talvez? Fernando Barros e Silva, comentarista político, em resposta.

Da Redação

De maneira sutil, sem mencionar Jair Bolsonaro, os quatro mil integrantes da Estação Primeira de Mangueira promoveram no domingo, no sambódromo do Rio, a demolição de todos os pilares do bolsonarismo.

À ideia de um Cristo branco e vingativo, determinado a destruir o Carnaval como festa de pecadores, abraçado por Jair Bolsonaro e seus eleitores, a Mangueira propôs um Cristo tolerante e aceitador das diferenças.

Abrindo o desfile, para reforçar a ideia do ecumenismo, a escola trouxe 20 autoridades religiosas de distintas origens.

Na comissão de frente, o Cristo dos dias de hoje era branco, mas fazia selfie, dançava funk e tomava um enquadro da polícia.

Alex Escobar, um dos apresentadores do desfile na transmissão da TV Globo, identificou os homens fantasiados de fardas como sendo soldados romanos, mas a apresentadora Fátima Bernardes corrigiu na hora. São “as polícias”, disse.

A rainha da bateria da Mangueira era Cristo mulher.

Num dos carros alegóricos, com o título Negro, o Cristo na cruz era um jovem negro baleado. Antes, veio a ala “Bandido Bom é Bandido Morto”.

A imagem mais forte do desfile da Mangueira

Embora os apresentadores da Globo tenham mencionado um Cristo indígena, ele não apareceu na transmissão. Talvez a própria Mangueira não tenha se aventurado por este caminho, já que em nome de Cristo milhões de indígenas brasileiros foram assassinados.

Curiosamente, a Globo não mencionou em nenhum momento a letra do samba enredo da Mangueira, que criticou os profetas da intolerância fazendo menção oblíqua aos dias de hoje:

Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão

A referência mais direta a Jair Messias Bolsonaro também passou batida:

Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem Messias de arma na mão

A Globo registrou com destaque a passagem do carro alegórico que mostrava os mercadores do templo, exploradores da fé alheia — muitos dos quais estão engajados na base política de Bolsonaro.

Mas a emissora “esqueceu” o futuro sem partilha e o Messias de arma na mão, críticas à política social de Jair Bolsonaro e ao próprio presidente da República.

A discrição da Globo nestes quesitos parece atender a um pedido da direção da emissora, já que se estendeu à cobertura subsequente do desfile

No Encontro de Fátima Bernardes desta segunda-feira, a comissão de frente da Mangueira se apresentou. Comentários genéricos foram feitos a respeito do Cristo da tolerância.

Coube à apresentadora Ciça Guimarães o grande fora do dia. Historiadores dizem que Cristo, como semita do Oriente Médio, era provavelmente negro.

Porém, diante de um Cristo de pele escura, a apresentadora da Globo disse que Jesus de fato não poderia ser branco, “pois tomava sol o dia todo”.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Entrevista: Manu da Cuíca (Manuela Oiticica), co-Autora do Samba-Enredo da Mangueira “A Verdade Vos Fará Livre”, composto em Parceria com o esposo Luiz Carlos Máximo.
Concedida ao Repórter Lucas Baldez, no Portal Terra: http://bit.ly/38pXjji

Manu diz que imaginava que poderia haver algum tipo de reação por parte da sociedade.
“No mundo em que a gente vive, a gente espera por tudo. A gente faz um enredo falando sobre partilha, fraternidade e tolerância, e algumas pessoas se revoltam contra isso. Não acho isso concebível”,
.
“Querem censurar o quê?
A tolerância? O amor? A arte?
Uma coisa é gostar ou não gostar, é direito de cada um.
Agora, a gente não pode achar normal quem diz que está ofendido porque o Jesus tem a cara do Brasil” [“O Jesus da Gente”].
“A gente também não está trazendo nenhuma mensagem nova.
A gente fala ‘Mangueira vão te inventar mil pecados’.
É isso, estão inventando.
‘Mas eu estou do seu lado e do lado do samba também’.
Isso é saber que tem muito mais gente que está do lado dessa mensagem em forma de samba”.

Íntegra: https://t.co/QZSeBz9XB1
https://twitter.com/Terra/status/1227608296137228289

Zé Maria

Exceções na transmissão do Carnaval do Rio, pela TV,
são os comentários oportunos, na maioria das vezes técnicos, do carnavalesco Milton Cunha
e do músico Pretinho da Serrinha (Ângelo Vitor Simplício da Silva), quando lhes são permitidos pelos Âncoras/Celebridades da Globo que interrompem qualquer tipo de manifestação mais profunda.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/ERk4MgwUEAsgmPr?format=jpg
‘O recado está dado:
se Jesus vivesse hoje no Brasil,
seria outra vez crucificado
[ou fuzilado por um sniper,
com um tiro bem na cabecinha,
do alto de um Helicóptero],
com direito a tortura e a gritos
de “bandido bom é bandido morto”.’
https://twitter.com/paulorangerred/status/1231955830985101313

Zé Maria

“A Mangueira fez a Maior Denúncia
Político-Social deste Período do Brasil”

Deputado Federal Paulo Teixeira (PT=SP)
https://twitter.com/pauloteixeira13/status/1231951238713020418

https://twitter.com/i/status/1231883973112008704
“Jesus pode ser de todos os gêneros.
E se fossemos ensinados, desde criança
que Jesus também poderia ser uma mulher,
será que o BR estaria no topo do feminicídio?
Que todos os olhos possam acolher todas
as imagens de Jesus, pq ele está no meio de nós.”
[Evelyn Bastos, Rainha da Bateria, Raiz da Mangueira]
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1231883973112008704

Enredo perfeito! A Globo, como sempre, fingiu
que não percebeu a Forte Conotação Política!”
https://twitter.com/tania_stu/status/1231929483512500225

Zé Maria

.
A Globo crucificou o Samba da Mangueira
e, portanto, os 4 Mil Passistas da Escola, ´
transformando a transmissão num Calvário.

Foi, no mínimo, um Desrespeito, senão
uma Agressão Inominável à Cultura
e mesmo aos Artistas do Morro, que
se apresentam gratuitamente para
dar audiência – e Lucro – à Globo.

https://youtu.be/f2icPYeHe2M

Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da gente

Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão

E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão

Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão

Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão

Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão

Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi no cordão da liberdade

Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também

#SomosTodxsMangueira

https://twitter.com/i/status/1231949893197082625
https://twitter.com/i/status/1231955468299403264

https://twitter.com/Debora_D_Diniz/status/1232071382160355330
https://twitter.com/ManuelaDavila/status/1231949893197082625
https://twitter.com/FemPatronum/status/1231955468299403264

a.ali

normal sendo PIG!

Deixe seu comentário

Leia também