Balanço: Tsunami contra cortes na educação levou milhares às ruas; vídeos e fotos

Tempo de leitura: 7 min
Fotos: Elineudo Meira/Brasil de Fato, Sind-UTE-MG, Pedro Rocha, Eduardo Matysiak

Da Redação, com informações do Brasil de Fato, CUT e Agência PT

Nessa terça-feira, 13/08, milhares de estudantes, trabalhadores e ativistas de movimentos sociais foram às ruas contra o desmonte da educação pública, via cortes e  programa Future-se, e a reforma da previdência do governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), houve manifestações em, pelo menos, 211 municípios brasileiros.

Em sete meses de gestão Bolsonaro, os cortes nos ensinos superior e básico  já somam R$ 6,2, bilhões em 2019.

Future-se prevê a criação de um fundo de R$ 102 bilhões para atrair investimentos internacionais no ensino superior.

Para reitores, ex-ministros da Educação e outros especialistas da área o Future-se ameaça a autonomia orçamentária das universidades e representa um ataque à gratuidade do ensino superior,

Para a União Nacional dos Estudantes (UNE), que convocou este dia de mobilizações, o programa tem um viés privatizante e precisa ser combatido. Foi o terceiro protesto nacional da entidade em 2019.

Iago Montalvão,  presidente da UNE, participou do ato na Avenida Paulista, em São Paulo.

“Essa manifestação é uma resposta dos estudantes e da sociedade brasileira. Nós queremos uma educação com autonomia e crítica e não uma educação privatizada e censurada como quer esse governo”, afirma Iago, estudante de Economia na USP.

“Querem tirar do Estado o dever de investir nas universidades públicas e obrigá-las a captar dinheiro na iniciativa privada. Isso fará com que fiquem dependentes das empresas que decidirão, então, o que devem produzir”, atenta.

“Isso vai prejudicar os estudantes de ciências sociais, pois as empresas vão privilegiar as áreas do mercado financeiro e empresarial”, observa o presidente da UNE.

O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Antônio Gonçalves, participou do ato em Porto Alegre.

Para ele, o terceiro tsunami da Educação sinaliza o descontentamento da população com as “políticas neoliberais” de Bolsonaro.

“A gente acredita que isso é um processo e que vamos acumulando forças. É nessa perspectiva que eu avalio o 13 de agosto como um dia positivo na perspectiva da construção de uma greve geral”, enfatiza.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, presente à sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem à Marcha das Margaridas, a “unidade é que nos fortalece”.

“Se a gente não tiver unidade, não avançaremos nesse momento tão difícil. Os estudantes, os movimentos da educação e as mulheres têm sido uma força muito grande nessa transformação. E a classe trabalhadora está representada em toda a sua extensão”, explica.

Em muitas cidades, as manifestações começaram logo cedo, como em Brasília (DF).

A Esplanada dos Ministérios ficou tomada por gente.

Houve um encontro histórico do ato em defesa da Educação com a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas.

Daí, seguiram juntos até o Congresso Nacional, onde protestaram contra a destruição de direitos promovida pelo governo Bolsonaro.

A manifestação prosseguiu ao longo do dia contra a reforma da Previdência e em defesa da educação.

Foto: Rafael Tatemoto/Brasil de Fato

Allen Mesa/CUT

Foto: Rafael Tatemoto/Brasil de Fato

Fotos Sind/UTE

BELO HORIZONTE

Em Minas Gerais, os trabalhadores em Educação paralisaram as atividades e se reuniram no pátio da Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte.

Daí, milhares de estudantes, professores e trabalhadores de diversas categorias saíram  em caminhada pelas ruas do centro contra o Future-se e a reforma da Previdência.

O professor Paulo Grossi, diretor do Sind-UTE/MG, frisa: Os crimes de Brumadinho e Mariana são responsabilidades da privatização da Vale, que privilegia o lucro, o dinheiro e não a vida das pessoas.

A professora Denise Romano, coordenadora do Sind-UTE/MG, denuncia: 1) A UFMG só tem verba para funcionar até setembro, porque o Bolsonaro cortou os recursos das universidades federais; 2) só agora, que a Câmara dos Deputados aprovou a reforma da Previdência, a Rede Globo fala que você vai ter de contribuir durante 40 anos para se aposentar.

Veja nos vídeos abaixo.

Foto: Sind-UTE/MG

Seminário sobre o “Future-se” realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), organizado pelo movimento estudantil. Foto: Ana Carolina Vasconcelos/Brasil de Fato

SÃO PAULO

Em São Paulo, a concentração foi no Masp, na Avenida Paulista, que ficou obstruída no sentido bairro. Os manifestantes saíram em marcha rumo à Praça da República.

A estimativa é de que 100 mil pessoas tenham participado. A Polícia Militar armou um cordão policial obrigando os manifestantes a interromperem a marcha diversas vezes.

Larissa Carvalho Mendes, estudante de Construção Civil da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP), participou da manifestação.

A estudante Larissa Carvalho Mendes, de 22 anos, durante protesto na Paulista. Foto: Igor Carvalho/Brasil de Fato

Ela falou ao Brasil de Fato sobre a importância da universidade pública na sua vida e na de seus colegas:

São realmente pessoas que dependem de um trabalho para conseguir se manter mesmo na faculdade pública. A gente sabe que os custos ainda não são tão acessíveis. Dentro da Fatec, a gente não tem tantas políticas de inclusão social, não tem um bandejão, um auxílio estadia. Então, a gente vem também reivindicar tudo isso. Se hoje já é difícil se manter dentro de uma universidade estadual, com a cobrança de mensalidades seria impossível”.

Fotos: Pedro Rocha

RIO DE JANEIRO

O repórter João Francisco Werneck estava lá e relata ao Viomundo:

“Na capital carioca, os manifestantes se concentraram na Igreja da Candelária a partir das 17 horas.

Depois, caminharam até as fachadas do prédio da Petrobrás e do BNDES, onde gritaram palavras de ordem em defesa do pré-sal e da soberania nacional.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, a ideia é pressionar os deputados em suas bases: “Vamos fazer manifestações na praça, no coreto da cidade em que eles têm mais votos, espalhar cartazes mostrando que são contra a classe trabalhadora”.

Foto: Pedro Rocha

Nos últimos dias, o governo Bolsonaro retirou R$ 16 milhões do orçamento bloqueado da UFRJ e repassou os recursos para emendas parlamentares.

O revés não se restringiu à maior universidade federal do país. O projeto de lei nº 18/2019 liberou nesta semana R$ 3 bilhões de vários ministérios para projetos indicados pelos deputados.

Ao contrário dos atos anteriores, onde o protagonismo de falar ao público era mais dos parlamentares, nesta terça-feira os estudantes foram os donos da palavra no carro de som.

Para estudante Ana Bia, do coletivo estudantil Kizomba, a adesão popular ao ato foi surpreendente:

“Conseguimos fazer oposição aos cortes, ao governo Bolsonaro, mas, sobretudo notamos que os atos pela educação conseguem trazer a participação dos demais trabalhadores, que se sentem também prejudicados. Esse é um processo construído com muitas mãos. A unidade nas ruas se faz necessária”.

No carro de som, a maioria dos estudantes ressaltou que, na quarta-feira passada, 8 de agosto,  o Conselho Universitário da UFRJ rejeitou de forma unânime a adesão ao Future-se.

Decisão que deve ser seguida pelas demais universidades.

Para Iago Montalvão, presidente da UNE, “nossas universidades pedem socorro e só nossa luta organizada poderá dar resultados’’.

Para ele, o programa é uma forma de privatização, e poderia até se chamar ‘fature-se’.”

Foto: Clívia Mesquita/Brasil de Fato

A professora Cátia Barbosa participou da concentração na Candelária, no Rio de Janeiro. Ela leciona Geoquímica na Universidade Federal Fluminense (UFF) e denuncia ao Brasil de Fato a falta de diálogo na elaboração do Future-se:

“O projeto surgiu das trevas, em pouquíssimos meses que esse novo ministro se instalou no governo ele já lança uma proposta dessa completamente imatura e sem discussão com a comunidade científica brasileira que mata a ciência brasileira e a educação superior e a esperança de muitos jovens de conseguirem concluir um ensino público no Brasil”.

CURITIBA

A Praça Santos Andrade, em frente ao prédio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, ficou lotada de manifestantes, nesta terça 13, dia nacional de mobilização em defesa da educação pública, das universidades federais e estaduais.

O dr. Rosinha, presidente do PT-PR,  participou do ato.

“Desde que o governo Bolsonaro assumiu, eles só fazem cortar recursos da educação e da saúde. É como faz o governador Ratinho, aqui no Paraná. O objetivo deles é a destruição do ensino, da pesquisa e da tecnologia”, denunciou em transmissão ao vivo, cujo vídeo está acima.

Os professores, estudantes e técnico-administrativos da UFPR, especificamente, realizaram no teatro da instituição uma assembleia para debater as ameaças do governo Bolsonaro.

No encontro, foi aprovado que o Conselho Universitário, na sua próxima reunião,  assuma a posição de rejeição ao programa Future-se.

Em seguida, a comunidade acadêmica se somou ao ato na Praça Santos Andrade.

Daí, todos saíram em caminhada até a Boca Maldita.

Cerca de 10 mil pessoas participaram do protesto no centro de Curitiba, entre as quais Iza Marinho, presidente da União Paranaense dos Estudantes da Secundaristas (UPE).

Ela aparece logo abaixo discursando. A foto é de Eduardo Matysiak.

Fotos: Eduardo Matysiak


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

O Conversa Afiada acompanhou, ao longo de toda esta terça-feira, 13/VIII, as manifestações por todo o país em defesa da educação pública e contra os cortes do Presidente (sic) Jair Bolsonaro e do ministro (sic) da Educação, Abraham Weintraub.

Todos os estados registraram mobilizações.

Veja, em fotos e vídeos, os melhores momentos deste #TsunamiDaEducação:

https://www.conversaafiada.com.br/brasil/13a-hoje-a-aula-e-na-rua2

Herbert

Azenha,
Infelizmente no Brasil de hoje esses protestos com datas marcadas não surtem nenhum efeito dentro do Congresso Nacional e muito menos dentro do Governo Federal. Eles não são e nem serão capazes, por exemplo de reverter essa maldita reforma da providência e outras que virão por aí. E não surtem efeito, porque os três poderes da república são coniventes com essa patifaria que assola o país. Tais protestos só teriam sucesso se fossem permanentes, todos os dias.

Deixe seu comentário

Leia também