Cerveró: Corrupção veio do governo FHC e beneficiou filho do presidente

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Da Redação

Nestor Cerveró, um dos delatores da Lava Jato, foi funcionário de carreira da Petrobrás desde 1975.

Em suas delações, fez várias acusações contra o governo de Fernando Henrique Cardoso e inclusive envolveu o primeiro filho, Paulo Henrique.

A denúncia inicial partiu de uma disputa entre o então diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Delcídio do Amaral (indicado ao cargo por Jader Barbalho, do PMDB) e o filho de FHC sobre a operação da TermoRio.

Pela presença do próprio Delcídio está claro que o esquema de fatiamento de cargos na Petrobrás para garantir a formação de maiorias no Congresso já era corrente.

Delcídio representava os interesses do grupo espanhol Union Fenosa, que acreditava ter fechado o negócio para operar a termelétrica planejada — só foi inaugurada em 2006, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Mas, na verdade, segundo Cerveró, o mesmo negócio já estava fechado com a PRS Participações, ligada a Paulo Henrique Cardoso, por ordem do então presidente da Petrobrás, Philippe Reichstul.

Reichstul ficou famoso por encabeçar a desastrada tentativa de mudar o nome da Petrobrás para Petrobrax.

Em seu depoimento, Cerveró explicou:

Segundo Cerveró, o filho de Fernando Henrique Cardoso “foi colocado ali como elemento de pressão. Não sabia nem o que era uma termoelétrica.”

A segunda denúncia de Cerveró foi de que quando a Petrobrás comprou a argentina Pérez Companc, em 2002, o governo FHC recebeu R$ 100 milhões em propina. Ele disse que recebeu a informação de dois assessores do ex-presidente argentino Carlos Menem.

“Cada diretor da Pérez Companc recebeu um milhão de dólares como prêmio pela venda da empresa e Oscar Vicente, 6 milhões. Nós juntamos a Pérez Companc com a Petrobras Argentina e criamos a Pesa (Petrobras Energia S/A) na Argentina”, contou Cerveró.

A estratégia da Petrobrás, então, era se expandir no continente usando a forte presença que a Pérez Companc já tinha em países como a Bolívia, Peru, Equador e Venezuela.

Oscar Vicente, um dos operadores de Menem, “permaneceu como diretor da Petrobras na Argentina”.

Cerveró não deu detalhes sobre o destino dos R$ 100 milhões que teriam sido repassados a gente do governo FHC.

Um terceiro caso de pagamento de propina durante o governo FHC foi delatado por Cerveró com seu então superior hierárquico na Petrobrás, Delcídio do Amaral.

Ambos teriam recebido propina da multinacional Alstom para a compra de turbinas da empresa na TermoRio.

À época, a construção de termelétricas era uma prioridade do governo federal, por causa do apagão.

Delcídio teria recebido U$ 10 milhões em propina através do lobista da Alstom Afonso Pinto Guimarães, que cuidava dos interesses da Alstom no Rio.

Já Cerveró recebeu sua parte do suborno em contas na Suiça. Ele negociou com procuradores suiços para contar tudo e não sofrer processo criminal no país.

Tudo o que relatamos acima aconteceu durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1194-1998 e 1998-2002),

Delcídio do Amaral, famosamente, trocou de casaca e elegeu-se senador pelo PT em Mato Grosso do Sul, acompanhando a vitória de Lula sobre José Serra (PSDB) na disputa presidencial.

Cerveró assumiu o cargo de diretor Internacional da Petrobrás em 2003 ,no governo Lula. Paulo Roberto Costa também seguiu na empresa.

Todas as delações que eles fizeram tiveram consequências futuras, na Operação Lava Jato. Mas as que se referiam ao passado, de corrupção no governo FHC, foram arquivadas.

Como informou o Viomundo anteriormente, Cerveró tinha a formação da Braskem, no governo FHC, como um grande escândalo, que enfraqueceu a estatal e foi um exemplo de privataria.

FHC quebrou o monopólio da Petrobrás em 1995. No mesmo ano, a Odebrecht fundou sua empresa no ramo petroquímico, a OPP Petroquímica.

A partir de então, várias empresas do ramo petroquímico foram privatizadas, com amplo financiamento do BNDES.

Em 31 de março de 1999 surgiu uma empresa de nome WPP, fundada no Brasil por Luiz Eduardo Ematne.

Em 24 de janeiro de 2001, Stephen Timothy Fitzpatrick ingressou como sócio na WPP.

Em 2002, a Odebrecht reúne todas as empresas do setor petroquímico que adquiriu sob o nome de Braskem e a Petrobrás, antes monopolista do setor, se torna sócia minoritária.

Em 2004, foi a vez do filho de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique, ingressar oficialmente na WPP.

No mesmo ano, a WPP fecha parceria com a Braskem para produzir resinas especiais de PVC.

Em 30 de março de 2009, Paulo Henrique cria uma sociedade com o pai, a Ibiuna LLP, com base no Reino Unido.

Nos dias 13 e 20 de setembro de 2010, Fernando Henrique Cardoso dispara dois e-mails para Marcelo Odebrecht, cobrando ajuda financeira para campanhas eleitorais do PSDB, sendo “o de sempre” o cabeçalho da segunda mensagem.

Os candidatos ao Senado Flexa Ribeiro e Antero Paes de Barros, pelos quais FHC intercedeu, não declararam doações da Odebrecht em suas prestações de contas de 2010, o que significa que o dinheiro, se dado, foi pelo caixa 2 — o que os candidatos negam.

Em 19 de novembro de 2011, Paulo Henrique, o filho de FHC, cria uma offshore no Panamá com os mesmos sócios da WPP brasileira.

É razoável supor que as offshore faziam o trabalho para o qual são desenhadas — reduzir a carga tributária e, eventualmente, esquentar dinheiro obtido em transações ilícitias e esconder patrimônio.

A cronologia sugere que negócios vantajosos para a Odebrecht no governo FHC resultaram em negócios vantajosos para familiares de FHC com a Odebrecht/Braskem.

Talvez expliquem a tranquilidade com que FHC cobrava contribuições eleitorais de Marcelo Odebrecht, “o de sempre”.

A interrogação levantada por Nestor Cerveró persiste sem resposta.

O delator disse aos investigadores que a Odebrecht tinha grande influência na Petrobrás desde os tempos de Joel Rennó, que presidiu a empresa durante o governo FH de 1992 a 1999.

Porém, Rennó era defensor da Petrobrás estatal e perdeu poder com a criação da ANP, dirigida pelo genro de FHC, David Zylbersztajn. Rennó deixou a Petrobrás em março de 1999.

Um detalhe: Rennó saiu da Petrobrás em 6 de março de 1999 e a WPP, ligada ao filho de FHC e que em 2004 se tornaria formalmente parceira da Braskem, foi criada em 31 de março — cerca de 25 dias depois.

Os dois mandatos de FHC marcam o enfraquecimento da estatal, com benefícios diversos de interesses privados — aparentemente, até da família do ex-presidente.

A gravação acima, da delação de Cerveró, tem momentos hilários.

O assunto é a compra superfaturada de um setor da Ipiranga pela Petrobrás, já quando ele era do alto escalão da empresa.

Cerveró, porém ainda parece inconformado com a negociata da Braskem, que define como um dos maiores escândalos da época de Fernando Henrique.

“Essas coisas, não foi o Lula que inventou, essas coisas não são investigadas, isso que eu fico impressionando, a Braskem é um escândalo, mas está lá, firme e forte, feita pela Odebrechet”, desabafa.

Ele é interrompido de forma brusca por quem toma o depoimento!

Depois de uma pausa, o homem não identificado diz: “Nestor, deixa eu falar uma coisa para você, essas questões da Braskem eu sei que tem inquérito, o tema específico aqui é a Ipiranga”.

Cerveró rebate: “Aquelas investigações…”, sugerindo que são para inglês ver.

“Eu respondo por mim”, diz a autoridade. “Eu sei que você responde por você, eu também”, diz o delator.

Uma mulher presente afirma que “as investigações que estão aqui, correndo, elas andam”.

Nestor Cerveró tem a última palavra sobre o assunto: “A Braskem até hoje não andou, pelo jeito”.


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Comentários

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Marco

O vazamento das mensagens publicadas na folha (23/06) mostra o diálogo entre Dallagnol e o delegado da PF Márcio Anselmo.

https://www1.folha.uol.com.br/amp/poder/2019/06/leia-integra-da-troca-de-mensagens-entre-moro-e-deltan-ante-tensao-com-stf.shtml

Márcio Anselmo chefiou os maiores inquéritos da lava-jato, como por exemplo de Marcelo Odebrecht e do ex-presidente Lula.

Como recompensa, ele assumiu a Divisão de Repressão aos Crimes Financeiros (DFIN) da PF, em Brasília, nomeado pelo ministro Sérgio Moro.

https://www.opopular.com.br/noticias/politica/delegado-da-lava-jato-vai-assumir-repress%C3%A3o-a-crimes-financeiros-da-pf-1.1436750

Ele lançou um livro, “Crime.gov”, em abril, escrito em parceria com o também delegado da PF Jorge Barbosa Pontes.

Pontes, também delegado na lava-jato, também foi agraciado com cargo no governo Bolsonaro: diretor de ensino e estatística da secretaria nacional de segurança pública, subordinada ao MJ.

https://exame.abril.com.br/brasil/onyx-nomeia-delegado-que-apontou-criminalidade-no-governo-do-pt/amp/

Pontes já tinha assumido cargos no governo Temer. Foi representante da PF na Interpol e adido em Paris. Em 15/06 escreveu um raivoso artigo sobre a divulgação das conversas que em que o juiz Sérgio Moro instruía como o ministério público deveria atuar.

https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/o-imperio-do-mal-contra-ataca/?amp

Pontes é casado com Lilibeth Monteiro de Carvalho, socialite e herdeira do grupo Monteiro Aranha, sócio ou proprietário de empresas como a Klabin, Petróleo Ipiranga, Ultragaz, etc.

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Grupo_Monteiro_Aranha

Além disso, ela é ex-esposa de Fernando Collor de Mello com quem teve dois filhos: Joaquim Pedro Collor de Mello e Arnon de Mello Neto.

No lançamento do livro, na livraria Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, os autores receberam a fina flor da nossa sociedade “em caracóis”:
https://lulacerda.ig.com.br/lancamento-de-crime-gov-de-jorge-pontes-e-marcio-anselmo-fila-em-caracois/

Além da parentela, dos Arrozes de Festa, e dos jornalistas da Rede Globo a prestigiar o evento, chama a atenção a presença de sobrenomes ilustres: Paulo Henrique Cardoso, filho do príncipe da privataria, Mercedes Orleans e Bragança, da casa real proprietária dei Brasil durante uns bons séculos.

Nelson

Se fôssemos abordar o conjunto das privatizações perpetradas por FHC, então, e o tamanho do rombo que esse governo legou ao povo brasiliro, chegaríamos facilmente à conclusão de que FHC, Malan, Franco, Fraga, Parente, Serra e outros deveriam ser jogados na cadeia e, imediatamente, as chaves de suas celas teriam que ser jogadas fora.

Se você quer saber mais sobre a imensa roubalheira protagonizada pelo governo FHC e suas privatizações, é só ler o livro “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi. Ele custa baratinho, como foi o preço recebido por FHC pelas nossas empresas estatais. Uma versão em PDF pode ser lida em https://epdf.pub/o-brasil-privatizado.html.

Nelson

Vamos a alguns detalhes interessantes, que nem a grande mídia e nem os órgãos de controle e o Judiciário acreditaram que fossem pertinentes investigar quanto à origem dessa “montanha” de dinheiro arrecadada com a privatização da Vale do Rio Doce.

1 – Cerca de R$ 1 bilhão vieram direto do BNDES. A nossa grande mídia e seus comentaristas, que se mostram sempre extremamente zelosos para com o erário, não viram mal algum no fato de que um governo quebrado – nas palavras deles mesmos – se utilizasse de um banco público para emprestar dinheiro a ente privados para que – absurdos dos absurdos – estes pudessem comprar uma empresa pública.

2 – Cerca de R$ 1 bilhão vieram de moedas podres. São aqueles títulos do governo que, por exemplo, têm o valor de face de R$ 100 e valem, no mercado, R$ 50,00. FHC os aceitou pelo valor de face. Ainda que eu pareça insistente demais ou até chato, tenho que voltar a frisar. Da mídia hegemônica e seus comentaristas, defensora ingransigente dos recursos públicos, nada vimos de críticas*.

3 – Os restantes cerca de R$ 1 bilhão teriam entrado em dinheiro.

[*] Para ser justo, muitas informações acerca das privatizações de FHC foram fornecidas também por jornalistas – poucos, é verdade – que trabalhavam para a mídia hegemônica, como o saudoso Aloysio Biondi e o grande Jânio de Freitas. Porém, as informações ficavam diluídas em uma miríade de tantos outros fatos divulgados pela mídia e não recebiam da mesma a ênfase compatível com sua gravidade.

Nelson

As informações que agora aparecem, designadas de “revelações”, só podem ser entendidas assim para quem não acompanhou, com um pouco de atenção que seja, o desenrolar dos governos FHC e Temer. A monumental corrupção dos governos de ambos ficou estampada nas privatizações que fizeram.

Mesmo sabendo do nível altíssimo de corrupção que envolvia cada privatização, a mídia hegemônica e seus comentaristas, que se apresentam como defensores intransigentes, empedernidos, do patrimônio público, nos venderam as privatizações como altamente benéficas para o país e para os brasileiros. Se esmeraram na tarefa de tentar nos convencer de que era o único caminho que poderíamos seguir.

Para citar apenas um caso, o da privatização da Vale do Rio Doce. FHC aceitou uma ninharia, apenas cerca de R$ 3 bilhões pela empresa. A mesma empresa que, segundo gente entendida no assunto, controlava riquezas da ordem de R$ 3.000.000.000.000,00. Escrevi assim para ressaltar, para ficar ainda mais patente, o tamanho do roubo ao país e ao povo brasileiro protagonizado pelo governo de FHC.

No próximo comentário, sigo trazendo mais informações sobre a exitosa – para quem? – privatização da Vale.

Nelson

Bem, amigo. Vamos falar de forma bem sucinta para descrever o que é o combate à corrupção no Brasil e o porquê da derrubada do governo do PT.

Em conversas com amigos e colegas, eu procuro explicar. Tanto o governo de FHC (dois mandatos), como o do PT (pouco menos de três mandatos e meio), como o de MiShell Temer (pouco mais de meio mandato) entregaram muito ao grande capital.

Todos esses governos atenderam ao principal anseio do grande capital: privatizações. Porém, aqui também começam as diferenças entre os três. FHC e Temer privatizaram o que puderam; só não entregaram mais, porque não tiveram tempo e porque houve alguma reação popular ao desmonte do patrimônio público. Os governos do PT também privatizaram, mas a um ritmo muito menor que o exigido pelo grande capital.

Essas diferençaa se acentuam na postura relativa à soberania do país. Enquanto FHC e Temer entregaram tudo o que puderam, o PT ousou reservar uma parte da riqueza para o país e seu povo.

Este é o problema. Este é o real motivo por que este partido tinha que ser defenestrado do poder, nada tendo a ver, portanto, com corrupção desenfreada ou com os erros dos governos petistas.

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