Artur Scavone: O republicanismo global de José Eduardo Cardozo

Tempo de leitura: 3 min

Agência Brasil - ABr - Empresa Brasil de Comunicação - EBC

O Republicanismo Global de José Eduardo Cardozo

por Artur Scavone, especial para o Viomundo

Os cidadãos que defendem o avanço social e a progressão das liberdades democráticas, buscando uma nação mais justa e mais humana, estão postos diante de uma armadilha expressa com crueza pela última declaração do ex-Ministro da Justiça: “É difícil ser republicano neste país”.

República é a instituição de um regime sob império da lei, uma associação de indivíduos em que “o povo submetido às leis deve ser o autor; só àqueles que se associam cabe regulamentar as condições da sociedade”, para lembrar Rousseau. E a democracia moderna se origina com a afirmação do poder popular como origem do poder político. Mas democracia não pode ser entendida pelo princípio liberal do império da lei e da ordem porque essa visão implica a ossificação da política nos limites das instâncias do Estado.

Democracia é a existência de uma sociedade democrática “entendida como atividade de instituição de direitos, instituição que é uma criação social, de tal maneira que a ação democrática realiza-se como um contrapoder social que determina, dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes”, para citar Marilena Chauí.

Adotar um posicionamento republicano, portanto, comprometido com os ideais que deram forma e força à origem do PT, implica compreender que é preciso haver um movimento de baixo para cima, que a sociedade deve regular o Estado e efetivamente ser capaz de criar e reformar leis no bojo de um processo cadente de debates livres sobre os interesses e destinos da nação.

Mas, se olharmos para a nossa República, veremos que quem cria, reforma, anula e dita leis são os grandes conglomerados econômicos expressos nas ações coordenadas pela Globo, Veja, Folha e Estadão, para citar os principais. Eles são o “povo” da democracia brasileira. E o judiciário é a atual arma de ação por onde essa força retrógrada busca seu retorno à frente da direção do país.

O que está ocorrendo no Brasil hoje não tem a ver com um posicionamento republicano do judiciário ou de quem quer que seja. Não só porque temos uma inversão dos valores democráticos – o povo não legisla, não tem acesso, não é ouvido, não debate – mas porque toda a ação do judiciário está espantosamente direcionada à formação de um espetáculo midiático ditado pelos donos do poder cujo único objetivo é caracterizar o PT, Lula, Dilma e a esquerda de maneira geral como componentes de uma quadrilha que assaltou o Estado brasileiro.

Ou seja, trata-se de destruir um projeto de país que foi iniciado com a eleição de Lula, sofreu e sofre erros e acertos, mas é um projeto que abre espaços para a construção de um avanço social e democrático como o país nunca viu.

Esse é o Republicanismo Global, ditado em grande medida pela rede Globo. Como uma orquestra afinada, o republicanismo global vaza notícias de uma polícia política que busca crimes para imputar às lideranças de esquerda, não importa quais sejam. Não se apuram os crimes que lesam o patrimônio público. Não se apura Furnas. Ou Banestado. Ou os Trens do Metrô. Ou o mensalão tucano. O que se faz é publicar sistematicamente nos telejornais os comprovantes de compra dos pedalinhos de Dona Marisa para seus netos. E sistematicamente fazer o linchamento midiático das principais lideranças à esquerda que atrapalham o projeto hegemônico do capital para a América do Sul.

Por isso tudo, senhor ex-Ministro, o que nós queríamos não era que o Ministério da Justiça impedisse a Polícia Federal de apurar os crimes que eventualmente o PT ou outras forças de esquerda tenham cometido por adotarem as práticas tradicionais da política nacional.

O que nós queríamos, isto sim, é que o Ministério da Justiça se fizesse presente, numa atitude efetivamente republicana, impedindo que essa orquestração macabra entre os donos do poder, a grande mídia e setores do judiciário se tornasse nesse tsunami proto-fascista que instila ódio e espalha uma epidemia conservadora que ameaça explodir o tecido social brasileiro.

Republicanismo sim, mas jamais sob o comando da Globo.

Leia também:

30 deputados pedem a Janot que investigue relação de offshores com Globo e FHC 


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Antonio

Pelo que ocorre hoje é que esse filho da p… do Cardozo pediu para sair e a Dilma coloca ele como Advogado Geral da União.
Começo a acreditar que Dilma é uma anta!

Mauricio Gomes

Republicanismo? Isso no meu tempo de moleque tinha outro nome. Tá mais para “bundamolismo”, “otarismo”, etc. Se ser republicano significa deixar que policiais pratiquem tiro ao alvo com a imagem da presidente, chamem ministro nas redes de Zé Carbozo, xinguem o Lula de “essa anta’, plantem grampos ilegais, forcem acusados a delatarem o que lhes interessa, etc, então é melhor mandar esse republicanismo para a ponte que partiu e botar alguém macho como ministro, que acabe com a indisciplina e a esculhambação que se instalaram na PF.

jose neto

Zé Eduardo: ou incompetente ou traíra.

Nelson

É impressionante a mesquinhez que revelam alguns membros da esquerda que, um dia, se disseram lutadores por uma sociedade mais solidária. O Sr Cardozo deveria “pegar as malas” o mais breve possível e seguir o caminho da Dona Suplicy.

    Jair de Souza

    Concordo plenamente com sua proposta final. O Sr. Zé Cardozo deveria mesmo se juntar ao grupo que vocês apoiam e para o qual trabalham. Deveria mesmo seguir o exemplo de dona Suplicy. O Sr. Cardozo já mostrou é é gente do grupo de vocês, fiquem com ele, por favor.

Deixe seu comentário

Leia também