Veja como foi a leitura da Carta aos Brasileiros pela democracia

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Da Redação

Às 10h, no Salão Nobre, será lida a carta “Em Defesa da Democracia e da Justiça”, da Fiesp e assinada por entidades financeiras, estudantis, políticos

às 11h30, no Pátio das Arcadas, será lida a “Carta aos Brasileiros”, que esteve aberta para assinatura e tem quase 1 milhão de escritos.


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Zé Maria

Em 1868 aportou em Santos o vapor que trazia os estudantes baianos
Rui Barbosa e Castro Alves.

Ambos haviam iniciado o curso de Ciências Jurídicas em Recife/PE
e estavam de mudança para a capital paulista, onde começariam
o terceiro ano da graduação na Academia de São Paulo.

Os colegas, que ao lado de Álvares Guimarães e Regueiro Costa
fundaram a Academia Abolicionista no Recife, encontraram
na nova cidade um ambiente propício ao fomento dos ideais
contrários à escravidão.

Enquanto os jovens Rui e Castro Alves vieram de Recife para São Paulo,
o pernambucano Joaquim Nabuco fez o caminho inverso.
O então estudante cursou os três primeiros anos da graduação na
capital paulista e seguiu para o nordeste do país, onde se tornou
bacharel em Direito em 1870 em Recife.

O POVO AO PODER

Quando nas praças s’eleva
Do Povo a sublime voz…
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz…

Que o gigante da calçada
De pé sobre a barrica
Desgrenhado, enorme, nu
Em Roma é catão ou Mário,
É Jesus sobre o Cálvario,
É Garibaldi ou Kosshut.

A praça! A praça é do Povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!

Senhor!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira…
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.

Pois bem…nest’hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.

A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.

Mas qu’infâmia! Ai, velha Roma,
Ai cidade de Vendoma,
Ai mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?

Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.

No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto
[Vítima de pérfida traição]

E vós, que sentis-lhe o pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções…
Não deixais que o filho louco
Grite “Oh, Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações!”.

Mas embalde… Que o direito
Não é pasto de punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal…

Ah! Não há muitos setembros,
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o Povo ensangüentado
Diz: -Já não posso sofrer!

Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,

Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.

Irmão da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz…

Ai! Soberba populaça,
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó Povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.

Recife, 1864

Castro Alves
(1847-1871)

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