Antônio Mello: Jornalismo Mãe Dinah para pressionar o STF

Tempo de leitura: 2 min

por Antônio Mello, no seu blog

Quando a mídia corporativa aponta suas manchetes para um técnico de futebol, todos sabemos – mais dia, menos dia, ele cai. Ela ainda tem bastante força para influenciar a decisão de pequenos grupos, como uma diretoria de time de futebol, por exemplo.

Também ainda tem força bastante para queimar a carreira de um político (como vem fazendo, por exemplo, com José Dirceu). Ou para levantar a de outros, como ocorreu com o hipócrita Demóstenes Torres, recentemente cassado.

Ainda tem força para impedir a convocação de um dos seus à CPI, como ocorreu nesta semana com a possível convocação do diretor da Veja Policarpo Junior.

Já não tem mais força, é verdade, para decidir quem vai ser o próximo presidente, como sempre o fez, até 2002. O máximo que consegue é levar a um segundo turno.

Já não tem mais força para conseguir um golpe de estado, como em 1964, ou o suicídio de um presidente que lhe contrariava, como o de Getúlio Vargas, em 1954.

Nem para eleger e forçar o impeachment de outro, como o caso Collor.

Mas isso não significa que a mídia corporativa não siga buscando seu intento, através de agenda-setting, como agora, mais uma vez, conseguiu colocar em pauta o julgamento do tal “mensalão do PT”, enquanto o “mensalão tucano”, que aconteceu sete anos antes, continua na fila, sem julgamento previsto.

Mais do que isto: a agenda-setting da mídia corporativa tenta criar uma profecia autorrealizável, a de que o julgamento só pode ter um desfecho aceitável: a condenação dos réus.

Não por outro motivo, reportagem de Mônica Bergamo na Folha de hoje tem por título “Nos bastidores, STF conta cinco votos pró-condenação”. É puro jornalismo de impressão, espírita:

A Folha esteve com nove dos 11 magistrados nas últimas duas semanas.

Nenhum deles revelou sua convicção. Poucos sinalizaram como devem votar. Mas, embora o clima seja de desconfiança e os magistrados evitem trocar confidências, vários foram prolixos ao palpitar sobre o que imaginam ser a posição dos colegas.

Pela média das opiniões, o placar estaria hoje indefinido –mas apertado para os réus. Pelo menos cinco ministros estariam emitindo sinais de que devem condenar protagonistas “políticos” do mensalão. Entre eles, José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula.

Quatro manteriam tal discrição que seria arriscado até mesmo especular sobre seus votos. Dois são tidos como relativamente certos pela absolvição de ao menos alguns.

“Emitindo sinais”, telepatia, ou, como chamo, jornalismo mãe Dinah.

Com isso mantêm a pressão sobre os ministros e o julgamento, coroando com essa matéria uma outra, do meio da semana, em que divulgaram uma enviesada pesquisa Datafolha que apontava que 73% dos entrevistados queriam a condenação dos acusados e que fossem enviados para a cadeia.

Pelo que vem acontecendo até o momento, a não ser que haja fato novo, a mídia corporativa vai vencer mais uma. Não vai ser nocaute a la Mike Tyson, como era antes. Mas, por pontos.

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Comentários

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Paulo Moreira Leite: Pressa tem pouco a ver com Justiça « Viomundo – O que você não vê na mídia

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O_Brasileiro

A questão toda é de financiamento. Quem financia a mídia golpista?

Willian

Lula foi eleito pelo povo, todos os outros pela mídia. O pior, é que vocês acreditam nisto e o repetem sem sentir vergonha. O PT tem o monopólio do povo. Não há caminho que não seja pelo partido. E nós todos aqui rindo de vocês…

Julio Silveira

Honestamente acredito que haja culpabilidade na maioria dos réus. Assim como acredito, que pelo menos um dos juizes deveria estar sentado junto com os reus. Como também, que a pratica criminosa, que acredito ter sido utilizada pelos réus, é contumaz entre todos os congressistas, que repassam o método a gerações. Assim como acredito ser um erro de estratégia dos militantes da esquerda ignorar o crime, tentando dispersar sua gravidade na busca da culpabilidade do agente que propaga sua divulgação, como se culpados fossem da existencia do possivel, e verrosimil delito. Abdicando do seu papel cultural saneador preferindo a inexplicavel cumplicidade pela ideologia acima do bom senso.
Acredito, ser mais um daqueles erros que fragilizam esse lado.
Que levam a perda de representação moral. Que o caminho seria pegar o limão e fazer uma limonada. Na medida que as esquerdas devessem buscar arduamente punição para todos os culpados das praticas politicas ilicitas. Legislar para coibir as artimanhas ilegais, e buscar ferir com o proprio veneno a midia corporatica ardilosa e dubia para seus interesses. Legislar para que diminuisse a distância legal que separa os cidadãos comuns de tantos inimputáveis da politica e da própria justiça brasileira. Isso sim daria carater a esquerda, não defender os possivel indefensaveis e trair seu discurso, a muito sendo paulatinamente jogado na latrina, colocando direita e esquerda ao nivel da lama.

    Eliana Azevedo

    Infelizmente, mas muito mesmo, eu tenho que concordar com vc. Que tristeza!

Bonifa

A mídia de oposição pauta o que o Supremo deve julgar. E cutuca o Supremo para se apressar no julgamento. E convence o Supremo de que fala em nome da “sociedade” e que é a própria voz da opinião pública. Só que parece que a opinião pública deu uma banana para a mídia de oposição, quando elegeu Dilma e não Serra, apesar de todos os esforços escandalosos feitos por essa mesma mídia para tentar eleger seu candidato. É preciso que o Supremo faça uma ampla reflexão antes de cair na conversa fiada da mídia de oposição.

Fabio Passos

Na ausência de provas o PiG parte para a difamação e a tentativa de golpe.
Não é novidade. Assim “trabalham” marinho, civita, frias e mesquita.

Paciente

A coisa esta sendo feita assim:

Se não condenar é porque o STF é “conivente”.

Acho que uma boa providência para inibir que ministros do STF fiquem “com as pernas bambas” era negar a possibilidade de ex-ministros terem qualquer atividade profissional que não a de ministro, após a aposentadoria….

    Willian

    Por outro lado, se o STF condenar, é porque se deixou pautar pela mídia. Viu como tudo tem dois lados?

    José Ricardo Romero

    É sim, Wllian, tudo tem dois lados: um certo e o outro errado. Um honesto e o outro desonesto. É uma questão de escolha, de acordo com os interesses.

SILOÉ-RJ

-De nada adiantou a defesa???
-A bola foi de cristal ou de ouro???
-hein!!!
-Que jogaram nos juízes???
-Que nada!!!
-Foi de novo de papel mesmo.

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Panambi

Discordo quando dizem que o STF tem medo da Globo. Não tem medo. não senhor…apenas obedece!

José X.

O “probrema” é que com esse judiciário que temos nem é preciso pressão do “jornalismo”…tenho a impressão de quem tem várias pessoas no STF que embarcariam alegremente numa aventura hondurenha/paraguaia aqui no Brasil.

Em vez de uma reforma política, que na prática não vai mudar muita coisa, o que precisamos mesmo é de uma revolução no judiciário (e seu correlato, o MP), acabar com seus privilégios medievais pagos pelo bolso da plebe.

Gerson Carneiro

PIG sem rumo. Fantástico vai mostrar “a mulher que engole pedra”.

Pra quem engole as tramoias do PIG, engolir pedra é fichinha.

Gerson Carneiro

Direto da Redação do PIG.

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