Olavo Carneiro: O lamento pela saída de Alessandro Molon e a crise no PT

Tempo de leitura: 4 min

molon2 A saída de Molon e a crise do PT

por Olavo Carneiro

Antes de mais nada é preciso reconhecer que a saída do companheiro Molon do Partido dos Trabalhadores é uma grande derrota. Uma dupla derrota.

É uma derrota para as fileiras daqueles que acreditam, dentro do PT, no socialismo, na política pautada pela ideologia e não troca de favores, nas alianças programáticas. Derrota para a esquerda petista.

Mas é também uma derrota por ver um quadro como o Molon aderir ao jeito de pensar e agir da maioria do PT que tem levado a destruição do mesmo e que Molon tanto criticava. Pensamento e prática calcados na reprodução de mandato a qualquer custo, no individualismo e eleitoralismo.

A militância da Articulação de Esquerda e o Molon travaram juntos boas batalhas no PT-RJ e na sociedade fluminense. Na candidatura a prefeito em 2008, quando muitos no PT já praticavam o hábito de trair as candidaturas do partido. Nas críticas e construções de oposição à subordinação ao PMDB no Rio de Janeiro por falta de identidade programática. Subordinação essa recorrentemente exigida por Lula, e mais uma vez em curso capitaneada de forma errática por Quaqua presidente do PT-RJ.

Atuamos juntos no Coragem para Mudar, articulação da militância contra apoio ao Eduardo Paes, quando as outras tendências e lideranças do RJ se calavam ou apoiavam a aliança com o PMDB. Depois iniciamos o movimento Novo Tempo para a disputa interna do partido no PED em 2013, que lamentavelmente Molon optou no último momento por apoiar uma chapa defensora da aliança com Cabral, Picciani, Paes e cia. Recentemente nos juntamos no Saída é Pela Esquerda, esforço de criar um campo político no PT-RJ antagônico a aliança com PMDB nas eleições da cidade do Rio de Janeiro. A essa iniciativa se somaram a tendência Democracia Socialista, o senador Lindbergh Farias, os ex-deputados Jorge Bittar e Robson Leite e o vereador Reimont.

Em janeiro deste ano a AE-RJ aprovou resolução onde defendia a unificação das esquerdas no Rio de Janeiro para debater e construir plataforma política unitária que desembocasse em uma possível aliança eleitoral em 2016. A aliança se dando em torno de ideias e convicções poderia buscar os melhores nomes para encabeçar a chapa. A AE identificava que o melhor nome para o PT pôr à disposição era do companheiro Molon.

Sendo assim nosso empenho militante se dava e se dá na construção coletiva de projeto coletivo.

A honestidade e compromisso do Molon com a construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária não está em questionamento. Nem a alta qualidade do seu mandato. Muito menos o consideramos um traidor. Mas sua movimentação solitária de saída do PT, sem se quer informar aos seus companheiros, está a serviço de qual projeto coletivo? Qual a estratégia que a orienta? Como contribui para enfrentarmos e superarmos a atual crise da esquerda brasileira que se traduz, gostemos ou não, na crise do PT?

Desse modo lamento a decisão e a forma individualista como foi tomada.

É verdade que o PT cada vez mais se mostra impermeável a mudanças do seu funcionamento interno burocratizado, de sua estratégia de conciliação de classes, da ênfase na institucionalidade tradicional.

Nosso foco deve ser travar o bom combate por mudanças no PT, considerando inclusive o papel que isso joga para o presente e para o futuro da esquerda brasileira. Sem nenhum fetiche de organização ou patriotismo partidário.

No mesmo sentido que devemos, nós os militantes de esquerda, atuar na construção da Frente Brasil Popular, sem sectarismo de partidos, movimentos ou lideranças. Espero ver contribuindo o Molon e tantas outras personalidades. Assim como os diversos partidos e movimentos.

Defender a democracia e a mudança da política econômica devem orientar nossos mais sinceros esforços.

Significado mais amplo

A desfiliação do Molon é um fato de grande importância para o partido e para os setores progressistas, no plano nacional e estadual. Mais pelo o que expressa em termos estruturais na organização da esquerda em nosso país do que o caso específico.

A saída de Molon é uma expressão do aprofundamento da dispersão em curso da esquerda brasileira. Entre os anos 1980 e 2000, o PT exerceu hegemonia política e ideológica sobre os diversos setores da esquerda no Brasil.

Essa hegemonia foi se enfraquecendo nos últimos 10-15 anos e só agora é percebida pela sua aceleração com a fragilidade do partido potencializada pela fragilidade do governo. Importante dizer que a dificuldade de percepção se deu em boa medida pela mistura entre governo e partido, pela ilusão com a popularidade governamental e incapacidade de leituras de cunho estratégico. Quem tentava tal separação era chamado de esquerdista e purista e perdeu força dentro do partido e mesmo na sociedade.

Essa perda de hegemonia vem aparecendo de várias formas. Uma delas é o importante e negligenciado debate sobre o papel ainda a desempenhar na organização de ideias, utopias e ações concretas pelos partidos políticos. Desde a década passada cresce no Brasil, em consonância com o resto do mundo, a noção de que os partidos não são mais importantes e/ou necessários e toda energia social e militante por transformações deve ser depositada nos chamados movimentos sociais.

A perda de hegemonia do PT também ocorreu, e vem ocorrendo, com a crescente criação de novas siglas e/ou distribuição de quadros nelas. Algo acelerado e mais em virtude de interesses eleitorais do que pelo surgimento de arranjos ideológicos e identidades entre seus membros. Em geral as siglas atuais, à esquerda ou direita do PT, não carregam novidade programática e ideológica.

Enquanto o governo manteve popularidade o PT inchou, a tendência agora é o contrário. Mas isso com a complacência das direções e lideranças do Partido ao abandonar na prática uma estratégia socialista para o Brasil e adotar como norte a administração do capitalismo melhorando a vida do povo.

O que assistimos então é uma crise de projeto da esquerda brasileira, fruto da crise do PT que se encontra sem rumo estratégico com o fim das condições políticas de conciliação de classes promovida por Lula e Dirceu desde 1995. Crise do PT que não consegue romper com o eleitoralismo imediato e, portanto, mantém alianças e subordinações nos estados a setores reacionários e conservadores. Crise do PT que pratica relações de clientelismos, golpes, fraudes em suas disputas internas, com falta de respeito às regras aprovadas e pactuadas nas instancias como se vê agora no processo Congressual da JPT ou no PED de 2013.

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Comentários

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Ricardo Homrich

Será que saindo Molon e talvez o Paulo Paim, nem assim o PT vai sentar e rever (um pouco que seja) essa desastrosa política econômica da Dilma ???
Muita gente que conheço e elegeu Dilma não entende mais quase nada. Eu ainda resisto, mas acho que só está faltando mesmo a Dilma ir ao FMI.

Julio Silveira

ignorar o texto anterior,
Aqueles que causaram esse mal ao partido, que desvirtuaram seus princípios, continuam firmes em suas fileiras e pior nas suas lideranças. Na verdade tem aqueles que saem como a Marta (seguidora dos mandamentos oportunistas dos nobres que lideram atualmente o partido), para buscar espaço onde ainda possa conquista-lo, visto que nesse novo partido de donos e cartas marcadas não há lugar para suas pretensões, e esses como o Molon que saem, provavelmente, para se preservar como esquerda, cumprindo o dito “os incomodados que se mudem”.

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Julio Silveira

Aqueles que causaram esse mal ao partido, que desvirtuaram seus princípios, continuam firmes em suas fileiras e pior nas suas lideranças. Na verdade tem aqueles que saem como a Marta, seguidora dos mandamentos oportunistas do nobres que lideram atualmente o partido, para buscar espaço onde ainda possa conquista-lo, nesse novo partido de donos e cartas marcadas, e esses como que saem provavelmente para se preservar como esquerda, cumprindo o dito “os incomodados que se mudem”.

lulipe

O ultimo que sair apague a luz, se ainda houver energia no país!!!

Urbano

É de uma encrespação ridícula…
A propósito, dois estudantes da Lei foram reprovados na segunda fase das provas práticas do vestibular, que os levaria a ingressar na academia preparatória de futuros bandidos da staf; sendo este um importante componente da facção fascista de oposição ao Brasil.

Júlio Crespo

O sonho esquerdista está acabando. A única salvação da esquerda no Brasil é tentar aliciar e arregimentar os universotários, os jovens sonhadores e os inocentes úteis de plantão, já que a fonte do dinheiro está secando e vai ser difícil pagar por apoio nesses anos de crise.

Alexandre Tambelli

ALESSANDRO MOLON: DO PT DIRETAMENTE PARA O GLOBO.
O que chama atenção destas saídas de parlamentares do PT é que muitos dos políticos não saem do PT e se mantém em silêncio ou falam do(s) motivo(s) da saída do partido, apenas em uma Imprensa de esquerda, eles vão parar nas páginas da velha mídia e o pior, no dia seguinte.
Ontem o Deputado Alessandro Molon estava com página inteira em O Globo, justamente, no maior dos carrascos do PT, das esquerdas e do Brasil e acredita ser normal assim proceder.
Holofotes em O Globo é de uma incoerência só. Na verdade, mostra oportunismo e desvalorização do eleitor do Deputado Federal.
Realmente, a gente vê gente saindo do PT direto pras páginas amarelas da Veja, pra página inteira de O Globo e se questiona:
Esta gente tem algum comprometimento coletivo com uma sociedade mais igualitária e com as esquerdas ou quer um mandato para si? Um Projeto particular de Poder?
Direto pras páginas dos meios de comunicação mais à direita que conhecemos? Mais antinacionalistas? Mais anti-petistas? Mais anti-esquerdistas? Cadê o comprometimento ético com a Ideologia que se crê o Político exercitar no cotidiano e defender nos parlamentos?
No Facebook os eleitores do Molon não estão do seu lado, se sentem traídos pelo que pude notar nos comentários.
O maior carrasco do PT é a velha mídia, os eleitores do PT e do Deputado vivem criticando a parcialidade e as mentiras e perseguições contra petistas no Jornal O Globo.
E o Deputado aceita e ganha página inteira em O Globo no momento exato de sua saída do partido dos trabalhadores. Se a moda pega… E, o pior, que é sempre assim. Apanha anos e anos e, de repente, saem do PT e se abrem as cortinas da velha mídia.
Heloísa Helena, Marina Silva, Luciana Genro, Marta Suplicy, Alessandro Molon, etc.
Agora, não esperemos que o ideário, a Ideologia da esquerda tenha voz na velha mídia nesta saída do Deputado Molon. Só quase tem voz falas depreciativas sobre o PT, porque está queimando o filme do PT, do Governo da Presidenta Dilma, de Lula e das esquerdas por tabela.
Tenta ver se o Molon quiser mudar o script da conversa, se ele não fizer o papel de convertido à direita se vão lembrar-se dele.
Vão nada. Vai virar a Heloísa Helena 2.0.
Somem suas plataformas, ideias e microfones à disposição. O microfone é pra falar mal do PT, do Governo Federal, de Lula e das esquerdas e só.
Está tudo errado. Quer sair do PT saia, mas não vá no dia seguinte dar entrevista à velha mídia.
Ela vai aproveitar o momento, somente para descer mais um pouco a lenha no PT, no Governo Federal, na verdade, o PT e o Governo Federal são só biombos para atacar a esquerda como um todo e tirar umas casquinhas do LULA em benefício da direita política.
Não há nenhum interesse na velha mídia em defender bandeiras da esquerda, que, supostamente, um Deputado progressista possui. O Molon é usado e se deixa usar, mas o deixar-se usar só traz prejuízo. Não ganhará votos à direita e cria antipatia da esquerda. A Heloísa Helena, a Marina Silva, a Luciana Genro pouco progrediram suas carreiras políticas ao saírem do PT. Ficam na conta do chá em votos.
Viram aquele candidato que para direita continuam sendo petistas e para as esquerdas viram traidores ou oportunistas, aqueles que querem tirar proveito do momento político em benefício próprio e a centro-esquerda os ignora.
Veja a quantidade de rejeição da Luciana Genro na centro-esquerda por suas falas, que colocam o PT e o PSDB no mesmo barco e que na hora em que ela fala mal do PT se dá até repercussão na velha mídia; diferente de quando ela crítica o PSDB ou o Capitalismo ou o Mercado Financeiro ou fala de Socialismo.
Uma última coisa:
Nunca vi Deputado, Senador, Governador entrar no PT ou sair do PT para um PSOL, PCdoB e ter alguma repercussão na velha mídia. Só dá repercussão quando o sujeito sai do PT e se presta ao papel de falar mal do PT e aceita ingressar em legendas amigáveis à velha mídia.
Alguém já viu?

Wendel

Crise no PT; crise de identidade do PT; crise de ideologias no PT; crise interna do PT; crise, crise e mais crise.
Cabe porém uma ressalva. Não é só o PT que está atravessando esta fase e sim todas as legendas. No caso do PT se torna mais grave, pois é o governo da hora e as cobranças são mais agressivas. Mas na realidade, tudo se resume na luta pelo poder, e como já manifestou a musa do entreguismo, a ordem é privatizar tudo. Isto quando assumirem o governo novamente. Esta debandada de elementos valiosos das fileiras do PT, só nos fazem lamentar. Lamentar e muito, pois quando em popularidade ótimo, todos são petistas, mas quando as águas ficam turvas ou o navio começa a afundar, os ratos são os primeiros a pular!!!
Lamentável, nada mais !!!!!!!!!!

Rafael F T

Não dá pra lamentar a saída de alguém que vai pra Rede. Se vai pra Rede, não é boa pessoa, isso é mais fato que qualquer histórico que ele possa ter. É dizer que concorda com a Marina, e que a apoia, isso é absurdo, tão ruim quanto ir pro PSDB ou DEM.

mineiro

eu fui um admirador desse partido , hoje tomei nojo , nojo da covardia em nao lutar e mesmo vendo membros sendo quase linchado nas ruas , os desgraçados malditos do burocratas do partido , ta pouco se lixando. esse partido nao tem nenhuma diferença dos demonios tucanos, pmdb, e outos mais. a essencia do partido ja acabou , o que resta é so o nome pt , que tem muito vagabundo se aproveitando nome. mas na pratica pt nao representa mais os trabalhadores e movimentos sociais. so desse partido traidor falar que o capitalismo vai melhorar a vida do povo , é a prova que esse partido maldito traiu todo mundo. esse poste de pres. esse fantoche para nossa vergonha virou um boneco na mao , dos facistas que hoje desgoverna o brasil. e essa pres. tem a cara de pau de falar que o brasil vai melhorar. ou é falta de carater ou ela finge de boba, so pode.

mineiro

ele pode ate ter errado de ir para essa rede, agora sair desse partido tucano , traidor , corrompido igual aos outros. isso eu nao condeno de jeito nenhum, esse pt com o apoio do lula que fez muito para o brasil , mas ta cada vez mais se acorvardando dentro da politica, vai levar o partido ao fim. é o que vai acontecer com esse pt , vai acabar. so nao acabou porque esta usando o nome pt que na teoria representa os trabalhadores , mas na pratica é igual aos outros. o que salva nesse pt acovardado , traidor e corrompido , é a militancia e muita gente dentro desse partido que nao compactua com os poderosos salafrarios que manda no partido. mas de resto , pode juntar tudo e jogar no lixo. esse pt vendeu a alma ao diabo igual aos outros.

Arthemísia

Até o jornal Último Segunde sabia, em 2012, das tratativas de Molon com Marina, que não se concretizaram naquele ano porque a Rede não saiu. Ou seja, o PT mais uma vez foi enrolado por alguém com compromisso e honestidade, pois não hesitou em continuar utilizando a legenda do partido para sua eleição, mesmo sabendo que sairia dele.
Eu que não sou eleitora do Rio e não conheço a história de Molon, apenas me pronuncio sobre sua saída. Foi uma saída vergonhosa, sim; foi enganador, não foi honesto. Se não falassem tão bem do deputado, pensaria que ele equivaleria à Marta Suplicy.
Se o PT alguma vez foi desleal com deputado nas disputas internas, o rapaz agora se vingou porque ele agiu com deslealdade porque o PT vive um momento difícil. Se o deputado é aqui apresentado como esquerda, o que foi fazer na Rede, partido que já se pronunciou nem de direita e nem de esquerda. O que diabos é o deputado, agora? Sair do PT porque é um partido conciliador das classes e ir para Rede que não considera nem o conceito de classes é algo surreal.
Sr. Olavo Carneiro, bem-vindo ao mundo real. Quem não se elege, não governa e suas ideias jamais se realizarão. Se o PT não tivesse mudado, milhões de pessoas continuariam a passar fome no Brasil em nome da luta de classes. O deputado pensar em eleição não é o problema, pois pelo que falam dele, ele tem boas condições de disputa. A saída dele aponta mais para uma mudança de paradigma mesmo, o que também é um direito. O que ele não tinha direito era de ser desleal e de falar mal do partido assim que o deixa, dando entrevistas para a imprensa golpista. Não se surpreenda se a campanha dele não for construída no discurso anti-petista, que fará render muitos votos ao deputado no Leblon.

    Wilson Ncorberto”O Jesus)

    Trair virou moda, as novelas ensinam, os políticos ensinam, a política prática. Mais um que deixou uma dúvida nas reuniões, será que era verdade o que você tentava transmitir. Acredito que em breve vai usar a frase de sociólogo erudito.e poliglota “esqueça tudo que falei e escrevi”.
    Sem comentários.

    Marcia

    Concordo plenamente com sua analise. Votei e fiz campanha para o Molon, mas os eleitores do PT- RJ não vão perdoar essa traição. Ninguém abandona aquilo que realmente acredita, ele sempre foi uma farsa, um oportunista que não tem bandeira. Vai ser engraçado vê-lo defendendo o grande capital e a MariNeca.

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