Nicolelis, no NYT: Com efeito bumerangue, pandemia pode retornar às maiores cidades do Brasil

Tempo de leitura: 2 min
Wilson Dias/Agência Brasil

Coranavírus se espalha no interior e, por efeito bumerangue, ameaça voltar às maiores cidades do Brasil

por Reuters, no The New York Times

RIO DE JANEIRO – O novo coronavírus, agora se espalhando pelas cidades menores do interior do Brasil, corre o risco de retornar às principais cidades com o chamado “efeito bumerangue”, pois a falta de tratamento médico especializado leva os pacientes a grandes centros urbanos.

O impacto de uma segunda onda potencial de novos casos em centros urbanos pode complicar as tentativas de reabrir negócios e retomar a economia, disseram especialistas.

“O bumerangue de casos  que retornará às capitais (do estado) será um tsunami”, disse o neurocientista Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke (EUA), que coordena uma força-tarefa de combate ao coronavírus que aconselha os governos dos estados do nordeste do Brasil.

O Brasil, sede do segundo pior surto de coronavírus do mundo, atrás dos Estados Unidos, tem mais de 1,2 milhão de casos do vírus, que matou quase 55.000 pessoas. Na maioria dos dias, está se espalhando mais rapidamente no Brasil do que nos Estados Unidos, o principal país por casos.

O vírus chegou ao Brasil inicialmente por meio de aeroportos e se espalhou principalmente em suas maiores cidades, mas desde o final de maio vem se espalhando mais rapidamente no interior do país.

Na semana passada, 60% dos novos casos foram registrados em cidades menores, segundo dados do Ministério da Saúde.

As mortes também estão aumentando fora das principais cidades e agora representam cerca de metade de todas as mortes diárias no Brasil.

A resposta do Brasil ao coronavírus tem sido criticada por muitos especialistas em saúde, pois o presidente Jair Bolsonaro minimizou a gravidade da doença, mostrou indiferença ao crescente número de mortes e promoveu agressivamente o remédio não comprovado hidroxicloroquina.

À medida que o vírus se espalha para fora das cidades brasileiras, os médicos enfrentam restrições.

Apenas cerca de 10% dos municípios brasileiros possuem unidades de terapia intensiva, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Isso significa que pacientes gravemente doentes precisam ser transportados para as cidades.

“O vírus, ao se mover para o interior pelas rodovias, começa a se transmitir à comunidade, as pessoas adoecem, pioram e retornam à capital (do estado) para ser tratada”, disse Nicolelis, descrevendo o “efeito bumerangue”.

Ao mesmo tempo, as maiores cidades do Brasil estão reabrindo.

O prefeito de São Paulo disse na sexta-feira que poderia reabrir restaurantes, bares e salões de beleza já em 6 de julho.

Milhares de lojas já reabriram, devolvendo os trabalhadores a seus padrões regulares de deslocamento.

“A doença agora está alimentando o movimento das pessoas”, disse Gonzalo Vecina Neto, professor de saúde pública da Universidade de São Paulo. “Vai para o interior com caminhoneiros, vai para o interior com pessoas que vêm às grandes cidades para comprar coisas para revender no interior. Esse é o caminho”.

Os padrões estão causando preocupação com a sobreposição de curvas, pois cidades como São Paulo e Rio de Janeiro passam seus picos e caem, enquanto cidades menores ainda estão em ascensão.

Alguns especialistas dizem que teria sido melhor conter a propagação do vírus no começo da pandemia.

Agora, uma possível opção de mitigação é criar postos de controle de teste nas rodovias, disse Christovam Barcellos, do Instituto de Comunicação, Informação Científica e Tecnologia em Saúde da Fiocruz.

“Identificar a pessoa que vai levar o vírus a um lugar é positivo, é o mínimo que podemos fazer”, disse Barcellos.

(Reportagem de Pedro Fonseca; reportagem adicional de Eduardo Simoes; redação de Marcelo Rochabrun; edição de Jonathan Oatis)


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Comentários

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Zé Maria

“Apenas cerca de 10% dos municípios brasileiros
possuem unidades de terapia intensiva [UTI],
segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).”

É precisamente para esses Municípios Maiores,
geralmente Cidades-Pólo das Mesorregiões,
que irão confluir os pacientes dos municípios
que não possuem infra-estrutura hospitalar.

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