Nicolelis: “Brasil é o país em que a pandemia mata mais gente por dia no planeta; já perdemos uma Florianópolis inteira”; áudio

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Da Redação

Em janeiro de 2021, o cientista Miguel Nicolelis previu que, até  julho deste ano, o Brasil atingiria a marca de meio milhão de mortos pela covid-19.

Foi o primeiro pesquisador no País a fazer esta trágica estimativa.

Na época, ele ouviu nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp e de amigos, que essa estimativa era muito inflacionada, fora da realidade, afinal de contas os números haviam caído em setembro e outubro.

E, apesar da sua insistência de que o Brasil já estava no início da segunda onda no meio de dezembro, as pessoas achavam que a pandemia já tinha acabado.

Os meses de março e abril — os mais letais da pandemia — provaram que não.

E, apesar de os números oficiais registrarem nessa quarta-feira, 16 de junho, 493 mil óbitos, estamos perto de atingir a catastrófica marca de meio milhão de mortos, projetada pelo professor Nicolelis, ainda em janeiro.

É justamente dessa situação que ele trata no nono episódio do podcast Diário do front (ouça-o no topo), gravado em 15 de junho de 2021:

— É como se, de repente, Florianópolis, capital de Santa Catarina, sofresse um ataque nuclear e toda a população da cidade, por volta de 500 mil habitantes, desaparecesse num piscar de olhos.

— E, ainda assim, nós continuamos aparentemente a não dar a devida cautela e planejar o que devíamos fazer para evitar que esse número seja ainda maior.

— Ou seja, hoje, o Brasil responde por 25% das mortes por covid do mundo. 

— O Brasil é o país em que a covid está matando mais gente por dia no planeta.

—  E, depois, de perder uma Florianópolis nesses 16 meses de pandemia, nós realizamos uma competição internacional de futebol no Brasil.

— Uma competição que nas primeiras 24 horas identificou 41 pessoas infectadas, entre jogadores, membros da comissão técnica e pessoal de suporte das nove delegações. Na segunda 24 horas da competição, esse número já subiu para 51 pessoas infectadas.

— Ou seja, numa competição que vai durar algumas semanas é muito provável que nós tenhamos um número explosivo de casos dentro do que está sendo medido.  Porque quem está sendo testado são os membros das delegações e de suporte imediato.

— Não estão sendo testados familiares desse pessoal ou outras pessoas que entram em contato com as delegações. E que podem transmitir para seus familiares, amigos, vizinhos, pessoas no transporte público.  Enfim, nós podemos ter em nossas mãos mais um evento super-spreader (super-espalhador) de covid. 

— Enquanto isso ocorre, nós continuamos não tendo vacinas suficientes. Venho repetindo há meses que nós precisaríamos ter 2 a 3 milhões de doses diárias de vacina.

— Ao mesmo tempo, a gente vê os Estados Unidos que atingiram a meta de mais de 3 milhões diárias por um período curto. 

— Enquanto isso a China está prestes a entregar um bilhão de doses de vacina ao povo chinês.

— Eu gostaria de lembrar a vocês que, por volta do dia 26 de fevereiro, a China estava muito atrás do Brasil em número de doses per capita e em número de doses total.  E, de repente, hoje nós nos deparamos com 900 milhões de doses, mostrando que, evidentemente, o governo chinês levou a sério a necessidade de vacinar toda a população. Enquanto nós continuamos enfrentando toda a sorte de dificuldades logísticas, políticas, para entregar aquilo que é necessário.

— E hoje nós nos deparamos com um estudo publicado no The New York Times, que mostra o motivo desses alertas ainda serem necessários. E porque eu venho dizendo desde o início da pandemia que esse é um vírus para não se pegar, que é um vírus para não se entrar em contato.

Uma análise com mais de 2 milhões  de americanos que tiveram covid, sendo que um grande número deles testou positivo mas não teve sintomas algum. 

O mais impressionante deste estudo é que, meses depois, 23% desses 2 milhões de pacientes americanos  — grande número deles assintomáticos ou extremamente leves —  enfrentam o que está sendo chamada de covid-longa ou a covid crônica.

Desenvolveram sintomas crônicos relacionados à infecção pelo novo coronavírus nos mais diversos órgãos. Eles vão desde dor de cabeça a sintomas gastrointestinais, respiratórios, cardiológicos, neurológicos, endócrinos.

— Enfim, tudo que se possa imaginar está sendo descrito como consequência dessa infecção crônica em pacientes que nem sabiam inicialmente que tiveram covid.  Este, portanto, é um vírus para não se pegar.

— Mesmo assim, nós estamos jogando futebol, relaxando o isolamento social. Basicamente estamos permitindo que essa terceira onda, que já está entre nós, seja acelerada.  A ponto de nós já vermos estados como Mato Grosso do Sul em complexo colapso, tendo que enviar para pacientes para São Paulo por falta de leitos hospitalares. 


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Marneia Oliveira

Com todo esse colapso dessa pandemia as pessoas continuam se alglomerando com festa. E um desgoverno a todo vapor ferrando com o povo.

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