Em meio à pandemia, Comitê Científico do Nordeste cria matriz inédita de risco para facilitar adoção de lockdown e reabertura

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes

Saiu na noite dessa segunda-feira, 01/06, o  Boletim número 8 do Comitê Científico para a Covid-19 do Consórcio do Nordeste.

Justamente no dia em que alguns estados do Nordeste previram iniciar a flexibilização das medidas de isolamento social.

Para aqueles que insistirem nesse caminho, aqui vai um alerta do Comitê, liderado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e o ex-ministro Sérgio Rezende:

projeções do subcomitê de simulações do C4-NE indicam que o relaxamento das medidas em 1º de junho poderá acarretar um aumento de 200 mil casos da doença e 7,5 mil óbitos adicionais no final do mês.

Sem se afastar do caráter científico, o Boletim 8 é super-didático.

Numa linguagem de fácil compreensão, sem usar um adjetivo sequer, ele mostra de forma cristalina por que as medidas de isolamento social ainda não podem ser relaxadas:

1) Os números de casos e óbitos continuam aumentando por todo o Nordeste, inclusive nas capitais.

Nos Estados, os casos novos estão dobrando num período entre 5 e 9 dias, enquanto os óbitos duplicam entre 7 e 11 dias.

Nas capitais, especificamente, tanto os casos quanto os óbitos continuam dobrando num período entre 7 e 15 dias.

2) O pico da epidemia do covid-19 não foi atingido em nenhum Estado da Região Nordeste até hoje.

3) Apesar das dificuldades e dos prejuízos econômicos causados pelo isolamento social prolongado, os efeitos da flexibilização serão ainda mais danosos para os trabalhadores de baixa renda dos setores de serviços não essenciais.

Diante desse quadro, o Comitê:

*Reitera a necessidade o isolamento social rígido (lockdown) nos municípios que já haviam decretado a medida.

*Pela segunda vez, afirma que o lockdown deveria ser adotado, imediatamente, em Natal e Mossoró (RN), Campina Grande (PB), Arapiraca e São Miguel dos Campos (AL)

*Baseados nos dados do último final de semana, recomenda pela primeira vez o isolamento social mais rígido em Imperatriz (MA) e Aracaju (SE).

INOVAÇÃO GENIAL: MATRIZ DE RISCO  PARA ADOÇÃO DE LOCKDOWN E REABERTURA

Já estamos há três meses nessa situação de distanciamento social.

Não é fácil para ninguém.

Tanto que, nesta altura, gestores públicos, empresários e a população em geral fazem uma mesma pergunta: quando será possível iniciar a flexibilização do isolamento social de forma segura?

Pois para facilitar a tomada de decisão dos governadores e prefeitos de toda Região Nordeste, o Comitê Científico criou uma ferramenta inovadora —  a matriz de risco da pandemia de coronavírus  -, que apresenta no Boletim 8.

Para construir a matriz brasileira, o Comitê examinou várias matrizes de risco internacionais, assim como um modelo implementado com grande efetividade pelo governo da Paraíba.

Não há nada semelhante no mundo, pois o Comitê incluiu outras viroses, dengue e afastamento por doença ou morte de profissionais de saúde.

Para medir quantitativamente o risco de cada Estado, capital e município da região Nordeste em relação a pandemia, o Comitê Científico selecionou 13 parâmetros, além do fator de reprodução (R), que demonstra o crescimento da infecção.

Os 13 parâmetros iniciais são agrupados em três categorias principais, como mostra a Tabela 1 abaixo:

1) Tensão sobre o sistema de saúde (C1)

2) Situação local da epidemia (C2)

3)  Isolamento social e influência geográfica (C3)

A Tabela 1 descreve cada um dos parâmetros selecionados por categoria, bem como o intervalo de pontos numéricos usados para classificar o risco.

Baixo 0-50

Médio 51-80

Alto 80-100

Para facilitar a interpretação, cada categoria recebeu uma cor: verde (baixo risco), amarela (risco médio), e vermelha (alto risco)

Abaixo (na tabela 4), matriz de risco completa e como pode ser usada para determinar três ações principais:
flexibilização (verde), alerta (amarelo), e trancamento (vermelho).

Todos os detalhes sobre como calcular cada parâmetro e os pesos de importância, para se chegar ao cálculo das três categorias serão disponibilizados em nota técnica que o Comitê divulgará brevemente.

EXCLUSÃO DA CLOROQUINA E HIDROXICLOROQUINA DOS TRATAMENTOS

Na segunda-feira passada, 25/05, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu banir a cloroquina e a hidroxicloroquina dos ensaios clínicos em andamento no mundo.

A decisão deveu-se à pesquisa publicada na revista Lancet, na semana anterior.

A pesquisa analisou dados de 96.032 pacientes internados com covid-19 em 671 hospitais de seis continentes.

O estudo conclui que esses medicamentos não trazem nenhum benefício a pacientes internados com a doença.

Mostra também que aumentam o risco de arritmias, com parada cardíaca irreversível e morte.

Dada a posição da OMS, bem como a farta literatura científica e clínica sobre o tema, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste recomenda que

todas as secretarias estaduais e municipais do Nordeste removam de seus protocolos de profilaxia ou tratamento para o SAR-COV2 o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina, sozinha ou acompanhada de outras drogas, em qualquer fase do acometimento da doença.

O Boletim 8 detalha ainda a situação da cada estado, como pode ser lido na íntegra da publicação abaixo.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Esquema de Distanciamento Gradual implementado pelo Governo do RS
onde o Governo Estadual de SP se basou, tem Grave Falha Técnica:

“Critérios do distanciamento controlado dificultam bandeiras vermelha e preta
no Rio Grande do Sul, diz Estudo de Matemático da UFRGS”

A conclusão da análise do matemático Álvaro Krüger Ramos é de que a atribuição de um peso muito alto à capacidade de atendimento hospitalar do Estado como um todo tornaria, nas condições de hoje, impossível a ocorrência de uma bandeira preta (nível mais alto de alerta, que resulta nas máximas restrições) e dificultaria muito a vermelha (segundo grau mais elevado).
Atingir essas classificações seria pouco provável, segundo Ramos, mesmo que outros indicadores locais estejam ruins, como rápido avanço no número de casos e pouca oferta de leitos na região.

Nas duas últimas rodadas desse sistema, atualizado a cada sábado,
as cores distribuídas no mapa gaúcho foram apenas amarela e laranja
(com limitações mais brandas).

Conforme o matemático da UFRGS, se não houver uma sobrecarga generalizada
na estrutura estadual, mesmo que uma zona do Estado registre uma disparada
de casos, teria de ficar com resultados muito ruins nos outros quesitos para
alcançar uma bandeira vermelha, e não chegaria à preta.

https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2020/06/criterios-do-distanciamento-controlado-dificultam-bandeiras-vermelha-e-preta-no-rs-diz-estudo-de-matematico-da-ufrgs-ckazqj7bh00bz015nsml35ix9.html

Deixe seu comentário

Leia também