Mortes de CNPJ, classes altas a salvo e domésticas como “essenciais” revelam a crueldade da elite brasileira

Tempo de leitura: 4 min
Marcos Corrêa/PR e reprodução

Da Redação

Um país fundado no estupro de mulheres negras por homens brancos.

Cuja riqueza — da elite — foi construída sobre 300 anos de escravidão.

Um país que ao abolir a escravidão negou aos negros terra para garantir o próprio sustento.

Que, envergonhado do sangue de sua maioria, importou estrangeiros para “embranquecer” a raça.

Ainda assim, para os estrangeiros que vinham com ideias “estranhas”, fora de lugar, montou um aparato de repressão que arrancou unhas de anarquistas, integralistas e comunistas — fossem eles italianos, espanhóis ou portugueses.

Este Brasil se revelou por inteiro nas últimas semanas.

“Vão morrer cinco mil pessoas pela coronavírus, que nós não podemos evitar, não tem como fechar tudo, se esconder do inimigo”, disse num vídeo que publicou nas redes sociais o empresário bolsonarista dono do Madero, Junior Durski, que na mesma ocasião afirmou que tinha dinheiro em caixa e sua empresa não faria demissões.

O Brasil atingiu nesta quinta-feira mais de 9 mil mortes por coronavírus  — e Durski demitiu 600 funcionários muito antes disso, já no primeiro de abril.

Hoje, um dos empresários que foi com Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal, pedir que a Corte interfira junto a estados e municípios para relaxar o isolamento social, justificou-se dizendo que “haverá morte de CNPJ”.

Segundo a Folha de S. Paulo, “os empresários que acompanharam Bolsonaro eram José Ricardo Roriz Coelho, da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria de Plástico), Fernando Valente Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), José Velloso Dias Cardoso, da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Paulo Camilo Penna, presidente do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), Elizabeth de Carvalhaes, da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), Synesio Batista da Costa, da Abrinq, Haroldo Ferreira, da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados), Ciro Marino, da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), José Jorge do Nascimento Junior, da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), José Rodrigues Martins, da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Reginaldo Arcuri, da FarmaBrasil, José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Marco Polo de Mello Lopes, da Coalizão Indústria, Humberto Barbato, da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) e um representante da Anfavea”.

Por sua vez, o presidente da XP, Guilherme Benchimol, parece ter se sentido aliviado ao registrar que o pico da pandemia nas classes altas “já passou”.

Em Belém, o prefeito “socialista” Zenaldo Coutinho incluiu as domésticas na categoria de trabalhadoras essenciais, ajudando a elite local a se desfazer do compromisso de pagar as diaristas mesmo sem que elas compareçam ao trabalho, para protegê-las de contaminação no transporte público.

Para completar, enquanto políticos de esquerda pedem que pobres tenham acesso aos leitos de UTI de hospitais particulares, em caso de colapso do sistema público — o que o ministro da Saúde de Jair Bolsonaro rejeita –, é importante reproduzir trecho de uma reportagem da revista Época, notando que os hospitais privados podem faturar os tubos com a pandemia num quadro de escassez de UTIs:

A família do empresário Jonas Rodrigues, de 41 anos, é uma das mais ricas do Pará.

Ela é proprietária da maior rede de supermercados do estado, o Grupo Líder. Mesmo com as recomendações das autoridades sanitárias para ficar em casa, ele saía diariamente sem máscara, como se a pandemia de coronavírus não tivesse chegado a Belém, onde mora.

“Não era muito adepto do álcool em gel. Estava trabalhando todos os dias no escritório, sem home-office, passeava pela cidade e ia às compras mesmo sendo dono uma rede de supermercado. Adoro visitar mercados pelo país afora”, conta. Não deu outra. Ele, o pai e a mãe contraíram Covid-19. “Se arrependimento matasse…”, comenta.

Outro supermercadista afortunado do Pará, José Santos de Oliveira, de 77 anos, achava que estava imune ao vírus. Atleta, exercitava-se todos os dias em casa e no trabalho e sempre manteve uma alimentação saudável.

Ao descumprir as recomendações de distanciamento social, foi infectado pela Covid-19 e agonizou com a doença, deixando familiares muito apreensivos.

O empresário Kleber Ferreira Menezes foi secretário de Transportes do Pará.

Quando esteve no cargo, chegou a ser denunciado pelo Ministério Público por improbidade administrativa e crime contra o erário, envolvendo valores na casa dos 20 milhões de reais em contratos com sérias suspeitas de fraudes.

Ele refuta todas as acusações (“Não sou ladrão!”).

Kleber também não dava a menor bola para o coronavírus e levava uma vida em Belém como se nada estivesse acontecendo.

Sentiu uma tosse enquanto assistia televisão e, em poucos dias, passou perto de morrer.

Mas o que Jonas, José e Kleber têm em comum além do teste positivo para Covid-19 e da conta bancária milionária?

Para fugir da morte, os ricos de Belém – como o trio de empresários – estão abrindo a carteira, correndo para o aeroporto e embarcando em jatinhos de luxo equipados com UTIs.

Eles seguem rumo aos melhores hospitais de São Paulo em busca de sobrevivência. Jonas foi socorrido no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, José no Hospital Israelita Albert Einstein e Kleber no Sírio-Libanês, todos na capital paulista.

Os três estavam em estado grave quando fizeram a viagem.


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Comentários

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Zé Maria

Zemavírus está varrendo o COVID-19 pra debaixo do Tapete

99.958 = Total de Casos Suspeitos* de Infecção por COVID-19,

conforme Informe Epidemiológico Coronavírus 10/05/2020

da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).

https://www.saude.mg.gov.br/cidadao/banco-de-noticias/story/12668-informe-epidemiologico-coronavirus-10-05-2020

*Caso suspeito é todo indivíduo com quadro respiratório agudo,
notificado pelo serviço de saúde com suspeita de infecção humana
por SARS-COV-2, doença causada pelo coronavírus COVID-19.

Zé Maria

Nunca Antes Na História Deste País,
Serviços Domésticos foram Essenciais.

Chegou a hora das Patroas pagarem,
no mínimo, o Salário Mínimo, em vez
de só anotar na Carteira de Trabalho
e darem Cesta Básica e “roupinhas”.

Zé Maria

O Atual Prefeito de Belém do Pará começou a Carreira Política em 1983,
elegendo-se Vereador pelo PDS (ex-ARENA), na Ditadura Militar;
em 1988, reelegeu-se Vereador, mas pelo PTB de Roberto Jefferson;
Em 1994, com a Eleição de FHC, passou para o PSDB, onde continua.
Na última eleição municipal, em 2016, foi reeleito em 2º Turno pela
Coligação formada por PSDB, ˞PSB, DEM, PR, PTB, SD, PTdoB, PSDC,
PEN, PRP, PMN, PTC, PTN, PSC e PSL. Daí se tem idéia de quem é.

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