Lira não quer apontar o dedo, mas Bolsonaro rema contra ação coletiva e Brasil pode superar EUA em mortes por 100 mil habitantes

Tempo de leitura: 3 min
Reprodução do twitter e Luís Macedo/Câmara dos Deputados

Da Redação

O presidente Jair Bolsonaro “promove” o vírus ao provocar aglomerações, coloca em dúvida a eficácia das máscaras e fala em risco associado às vacinas.

Ainda assim, o deputado Arthur Lira é contra a abertura de uma CPI para investigar a responsabilidade dos governantes por eventuais crimes cometidos ao longo da pandemia.

“Todos nós temos que estar focados no mesmo caminho, encontrar soluções, remarmos juntos. Eu acho a CPI inapropriada nesse momento. O que vai adiantar ver se quem teve culpa de não chegar respirador foi o governador, o secretário?”, disse Lira neste sábado.

Notem que ele não mencionou Bolsonaro especificamente nesta frase, mas citou governadores e secretários.

Porém, o ocupante do Planalto é parte central do problema, pois tem o púlpito da Presidência para utilizar diariamente contra as medidas de governadores e prefeitos, dificultando assim a ação coletiva de que o Brasil precisa para controlar a pandemia.

Do Our World in Data, mortes por milhão de habitante em 26 de fevereiro
Mortes por 100 mil desde o início da pandemia, John Hopkins

As mortes por 100 mi habitantes são frequentemente utilizadas por bolsonaristas para dizer que a situação do Brasil não é assim tão grave.

O problema é que a tendência de hoje, 27 de fevereiro, é de que o Brasil avance alguns postos nesta tabela de classificação macabra.

Para o dia 26 de fevereiro, a taxa de óbitos por 100 mil habitantes brasileira foi quase o dobro da verificada na Argentina e mais que o dobro em relação ao Paraguai.

A curva brasileira é a única acentuadamente em alta dentre os países mais atingidos pela pandemia.

Gráfico dos Estados Unidos, do New York Times
Gráfico do Brasil, do New York Times

Hoje, os Estados Unidos têm uma taxa de óbitos por 100 mil habitantes superior à brasileira.

Porém, notem os gráficos acima: a média móvel de uma semana nos EUA, em queda, atingiu 69.483 novos casos no dia 26 de fevereiro, enquanto a brasileira sobe e chegou a 53.060 novos casos na mesma data.

Proporcionalmente, o índice de casos/dia já é superior no Brasil

Nas últimas duas semanas houve queda de 20% no número de óbitos nos EUA, enquanto no Brasil houve aumento de 8%.

Casos por país

Os Estados Unidos representam 4,25% da população mundial, mas 25% dos casos.

O Brasil representa 2,73% da população mundial, mas mais de 9% dos casos (sem considerar a subnotificação).

A Alemanha tem pouco mais de 1% da população mundial, mas 2,14% dos casos.

A China, que tem mais de 18% da população mundial, registrou até hoje 4.636 mortes por coronavírus.

O que mais é preciso ser dito para comprovar que países que atacaram cedo e com rigor a pandemia, graças a uma ação nacional, coordenada, se deram melhor?

É possível argumentar que Itália, Espanha e outros países europeus, com altas taxas de mortalidade por causa das população de idade avançada, foram pegos de surpresa pela pandemia.

No Brasil, mais de um ano já se passou desde o registro do primeiro caso e o país está prestes a ultrapassar os Estados Unidos como maior hotspot do planeta.

Será coincidência que os negacionistas Donald Trump e Jair Bolsonaro governavam EUA e Brasil e os dois países se deram tão mal na pandemia?

O presidente da Câmara, Arthur Lira, acha que não é a hora de apontar o dedo. O que ele teme, obviamente, é que a pandemia tenha tanto impacto na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro quanto teve no caso de Trump.

Mas, como escreveu a revista médica britânica Lancet, perhaps the biggest threat to Brazil’s COVID-19 response is its president, Jair Bolsonaro*.

*Talvez a maior ameaça à resposta do Brasil à COVID-19 é seu presidente, Jair Bolsonaro.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Esse tal Lira é um Cunha Disfarçado.

Deixe seu comentário

Leia também