Em bizarro discurso de posse, chanceler prega o amor, mas cita como exemplos para o Brasil a Hungria e a Polônia, países onde xenofobia é política oficial

Tempo de leitura: 3 min

Da Redação

A competição pelo discurso de posse mais bizarro está em aberto: o do chanceler Ernesto Araújo ou o da pastora Damares?

Araújo caprichou. Pregou menos Foreign Affairs, menos New York Times e menos CNN e mais Cecília Meireles, José de Alencar e Raul Seixas, como se tudo junto e misturado fosse impossível.

Notem que ele citou uma revista, um jornal e uma emissora de TV do país ao qual ele pretende alinhar o Brasil.

Elogiou o astrólogo/filósofo Olavo de Carvalho, cujo discurso pouco diplomático muitas vezes é centrado no ânus, o popular cu.

“A partir de hoje o Itamaraty regressa ao seio da Pátria Amada”, declarou, sem explicar exatamente o que isso significa.

Fez citações em tupi e em grego, como alguém que implora por reconhecimento intelectual.

Denunciou o “ódio contra Deus” e disse que o Itamaraty não vai mergulhar “na piscina sem água da ordem global”.

As platitudes foram salpicadas por citações religiosas — ficou parecendo que Jair Bolsonaro é D. Sebastião reencarnado, o novo “Messias”.

O chanceler falou sobre a importância do amor, mas citou como exemplos para o Brasil dois países que não exercem exatamente o “amor” nas relações internacionais, os Estados Unidos e Israel.

Também elogiou os vizinhos do Brasil que se livraram do “Foro de São Paulo”, a “nova Itália”, a Polônia e a Hungria — estes dois últimos tomados por uma febre xenofóbica estimulada pelos governos de direita, não exatamente exemplos de amor ao próximo.

Na Hungria, o presidente Viktor Orbán mandou construir cercas nas fronteiras com a Eslovênia, Croácia e Sérvia e pretende estendê-las aos limites com a Romênia.

Numa recente visita ao país, o jornalista Zack Beauchamp relatou como morreu a democracia húngara:

Uma infinita bateria de propaganda, tanto dos órgãos oficiais quanto dos impérios da mídia privada dos aliados de Orbán, demoniza refugiados e muçulmanos, alertando para uma ameaça existencial à sociedade e à cultura húngaras — defendendo o regime de Orbán como a única coisa que protege o país da dominação islâmica. Essa crise forjada serve como ferramenta de legitimação para o autoritarismo do partido Fidesz, um pretexto para o governo aprovar leis que minam seus oponentes. Chame de “fascismo brando”: um sistema político que visa acabar com a dissensão e assumir o controle de todos os aspectos importantes da vida política e social de um país, sem precisar recorrer a medidas “duras” como proibir eleições e construir um estado policial.

Na Polônia, o Partido da Lei e da Justiça adotou o nacionalismo como plataforma para chegar ao poder, o que aconteceu em 2015.

No ano passado, incapaz de controlar uma marcha da extrema-direita que celebrou o centenário da independência da Polônia, os governantes se juntaram a ela.

O discurso do líder do Movimento Nacional, Robert Winnicki, aos 200 mil participantes, teve ecos de Araújo:

Independência significa a soberania da Polônia em relação às capitais estrangeiras — de Moscou, de Berlim, de Washington. A ditadura do século 21 é a ditadura dos globalistas. A independência é liberdade daqueles que querem destruir nossas saudáveis ​​tradições cristãs polonesas. E hoje, em nome da independência, devemos declarar guerra contra toda aquela gangue do arco-íris, que quer corromper nossa geração mais jovem.

Coincidentemente, ao defender a “ordem liberal” em editorial desta quarta-feira, 2, o diário da elite quatrocentona paulista Estadão escreveu: “Cidadãos ressentidos pelo modo como vêm sendo tratados pela ‘velha política’ são a audiência perfeita para discursos nacionalistas, xenófobos, populistas, não raro deixando transparecer um viés autoritário que, paradoxalmente, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra, é visto em países como Hungria, Polônia e Turquia, como uma qualidade de seus líderes”.

Com esse chanceler, tratem de acrescentar o Brasil à lista.

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Comentários

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Zé Maria

Pátria Amada
“Possibilidade de o governo do Brasil ceder espaço territorial
para instalação de base americana gera críticas entre militares”

https://twitter.com/Haddad_Fernando/status/1081497400232030209
.
.
Para militares, ceder espaço para base dos EUA
é “coisa do menino fraco que chama o amigo forte”.

Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo ouviu oficiais
das Forças Armadas do Brasil que criticaram proposta de Jair Bolsonaro.

https://t.co/ptq6gx27bI
https://twitter.com/Jacinto_P_Pinto/status/1081578584513355776

Jardel

Isso é o que dá misturar crenças, misticismos e superstições à diplomacia internacional.
Vai ser mais um fantoche manipulado por poderosos que usam como justificativa para cometer as maiores atrocidades, a porra da religião.
Parabéns coxinhas, estamos de volta à barbárie da “Santa” Inquisição.

Zé Maria

O Reverendo Ernesto é a Pastora Damares das Relações Exteriores.

    Zé Maria

    Pátria Amada:
    “Trump Acima de Tudo
    USA Acima de Todos”

Eduardo

A posse pareceu mais um momento de êxtase de dar inveja em Indiana Jones, Collor de Melo e Bolsonaro.

Alecsandro Ramos

Vcs são burros? Igorantes? Estão somente de sacanagem? O Ernesto transformou temáticas de política externa em poema e vocês têm coragem criticar?
Vergonha, muita vergonha alheia!

    Jardel

    Só faltou recitar “Batatinha quando nasce”.
    Mostrou que é um homem de fé.
    Vejamos o que significa “fé”:
    s.f. Crença; convicção intensa e persistente em algo abstrato que, para a pessoa que acredita, se torna verdade. Religião;…
    https://www.dicio.com.br/pesquisa.php?q=f%E9

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