Ubiratan Santos denuncia: “Faltam testes porque governos e toda a rede privada apostaram precocemente no fim da pandemia”; vídeo

Tempo de leitura: 4 min

Por Conceição Lemes

De algumas semanas para cá, reportagens na mídia têm mostrado pessoas de todas as idades enfrentando filas e mais  filas em unidades públicas de saúde, laboratórios e hospitais privados e até em farmácias, a fim de agendar teste de diagnóstico para covid-19.

A dificuldade é geral no País.

Afinal, faltam testes, faltam profissionais, o que está acontecendo?

“Faltam testes na rede pública e na rede privada. É um escândalo”, denuncia ao Viomundo, em entrevista exclusiva, o pneumologista Ubiratan de Paula Santos, que tem sentido o problema na prática.

Por exemplo, um paciente ao qual pediu teste na quarta-feira passada, só conseguiu agendar para sábado à noite.

A outro que solicitou o exame na quinta-feira, apenas pode marcar no Hospital Oswaldo Cruz para segunda-feira.

O doutor Ubiratan é médico na Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração, InCor-SP, e professor na Faculdade de Medicina da USP.

Ele revela pontos esmiuçados na nossa entrevista (assista, no topo):

— Faltam testes porque os governos — federal principalmente, mas também estaduais, como aqui em São Paulo – e toda rede privada apostaram precocemente no fim da pandemia.

— Na prática, decretaram antecipadamente o fim da pandemia e não se prepararam para a subida de casos como está ocorrendo agora com a variante ômicron.

— Os setores público e privado relaxaram nas medidas de prevenção, na aquisição de insumos e na contratação de pessoal.

— Resultado: não há testes disponíveis na quantidade necessária e os serviços públicos e privados estão com equipes de saúde reduzidas.

“A testagem é fundamental para conhecermos a evolução da pandemia e orientar os pacientes em relação às medidas de prevenção em casa e no trabalho”, frisa. “A demora ou não realização pode aumentar a disseminação da covid-19”

PRESSÃO PARA NORMALIZAR A ECONOMIA

Na entrevista ao Viomundo, o doutor Ubiratan lembra que países adotaram medidas mais rígidas e rápidas, como Nova Zelândia, Coreia, Taiwan e China, conseguiram controlar a pandemia de forma mais adequada e normalizaram mais rapidamente as suas economias.

“No Brasil ficamos com meias medidas o tempo todo, os governos cederam às pressões econômicas e não coordenaram medidas mais drásticas para deter a disseminação do coronavírus”, lamenta.

— O “decreto” para antecipar o fim da pandemia foi tomado com base em quê? – perguntamos.

“Pressão para normalizar a economia, desconhecendo que a pandemia ainda não estava suficientemente controlada e que não havia informações suficientes pra decretar o fim dela”, observa.

Os agentes econômicos pressionam o tempo todo os governos para manterem tudo aberto.

Tanto que, em dezembro, o governo do Estado de São Paulo chegou a anunciar que deixaria de exigir o uso de máscara. Depois, voltou atrás.

Aqui, restaurantes, bares, comércios em geral estão funcionando normalmente, apesar do aumento previsível e explosivo de casos de covid-19 pela variante ômicron.

Até o momento a única medida do governo João Doria foi reduzir em 30% a lotação de shows e jogos de futebol.

O que é uma piada, dada a altíssima transmissibilidade da ômicron.

Estudo feito na China em um hotel de quarentena mostrou que só de abrir a porta do quarto para pegar a refeição, teve quem se infectasse.

“A pressão dos agentes econômicos para abertura das atividades foi desastrosa, pois foi em cima de uma previsão errada”, atenta o médico.

“E, em vez de reconhecerem o erro, agora criaram um outro problema para resolver o equívoco: reduziram o tempo de permanência da quarentena”, critica.

QUARENTENA REDUZIDA PODE PIORAR PANDEMIA

A recomendação a alguém positivo para o coronavírus era fazer quarentena de 14 dias após o diagnóstico confirmado.

Ou seja, ficar 14 dias afastado do trabalho e de contatos com familiares negativos.

Porém, em 27 de dezembro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o CDC dos EUA, submetido às pressões econômicas das empresas, em particular das companhias aéreas, que alegavam muitos casos de covid-19 na tripulação, reduziu o tempo de quarentena.

Foi de 14 para apenas 5 dias, desde que o trabalhador estivesse clinicamente bem. Estabeleceu que pessoas podiam voltar ao trabalho a partir do 6º dia com o uso de máscaras adequadas.

“Nos EUA, além dos casos de contaminação, muita gente tem se recusado a trabalhar por conta dos salários degradantes lá também”, expõe o nosso entrevistado.

Mesmo muito criticada nos EUA, a brecha aberta pelo CDC se espalhou pelo mundo, inclusive no Brasil proposta pela Ministério da Saúde.

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), por exemplo, sob o argumento de falta de funcionários pelo número elevado de afastamentos por covid-19-19 reduziu a quarentena para 7 dias, se o funcionário estiver clinicamente bem.

Mas, ele retorna no 8º dia sem uma retestagem por RT-PCR, que demonstre que está, de fato, negativo. Ou seja, não tem mais o vírus nas vias aéreas que possa transmitir.

“É uma insanidade o que está acontecendo”, critica.

Ele elenca os senões para quarentena reduzida:

— Não há nenhum estudo demonstrando que a partir do 6º dia, na proposta de só 5 dias de quarentena, ou no 8º, na proposta de 7 dias, a pessoa infectada não está mais transmitindo e a máscara é suficiente.

— No caso de um hospital, a redução pode fazer com que pessoas voltem ao trabalho e contaminem colegas e pacientes portadores de outras doenças.

— Não existem informações seguras sobre a quarentena reduzida.

— A redução do tempo de quarentena sem testagem garantida de a pessoa está negativa pode levar a uma piora da situação.

— Além de não resolver o problema da falta de funcionários de maneira adequada, pode levar a uma piora por aumentar a contaminação.

O QUE FAZER

Na entrevista ao Viomundo, o doutor Ubiratan de Paula Santos sugere um conjunto de medidas para a população, movimentos sociais, sindicatos, universidades.

Toca num ponto nevrálgico: os comitês científicos, que, na sua opinião, não deveriam ser comitês assessores do governador ou do presidente da República.

“Eles estão interessados muito em marketing, no caso de São Paulo”, diz.

“Quando você monta um comitê científico onde o governador reúne os integrantes na hora do almoço, no Palácio Bandeirantes, e ele é o show man, os próprios profissionais de saúde ficam limitados na expressão da opinião dele”, pondera.

“Acabam validando procedimentos com os quais eles mesmos não concordariam”, avalia. 

Assista no topo à entrevista do doutor Ubiratan de Paula Santos.


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Comentários

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Henrique martins

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/participante-bbb-negros-escravizados-bons/

O BBB do câncer midiático do Brasil já começou bem mau.
Vem cá Dona Natália: sabe que a senhora forma um pelo par com Sergio Camargo. Quem sabe quando fores eliminada a senhora não pede um cargo para ele na Fundação Palmares….

Riaj Otim

FALSO. BASTA IR EM QUALQUER FARMÁCIA QUE TEM PARA FAZER. DE FATO, DEVERIA SER DECRETADO QUE TODO TICEVESSE QUE APRESENTAR TESTE TODO DIA

Henrique Martins

https://www.brasil247.com/americalatinaglobal/eua-injetam-milhoes-em-cuba-para-desestabilizar-o-governo

É assim mesmo que a coisa funciona…………….

Miguel Lima

Nesse ritmo de transmissão a economia vai parar.
É questão de pouco tempo. Só não é pior pq tem 68% vacinados. Mas e os outros.
Diminuiu as mortes por causa das vacinas. Mas quem não se vacinou corre ainda um sério risco de morrer.
Tem muito teimoso por aí e não são poucos. Deve ter muita gente que tomou só 1 dose ou até as 2, mas não segue as recomendações das autoridades sanitárias e da ONU.

Zé Maria

Desde o Início da Pandemia de COVID-19,
Testagem em Massa nunca foi Prioridade
no desgoverno BolsonaroGenocida.

Na realidade, aliás, nem Vacina foi Prioridade.

Agora, a Mídia Venal fala em Testes, só porque
as Redes Farmacêuticas vislumbraram Grandes
Lucros, obviamente às custas da População.

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