Adriano Diogo: Com Heleno de Rambo e Villas Bôas na estratégia, governo Bolsonaro tem cara de “transição para a ditadura”

Tempo de leitura: 5 min

Da Redação

O general Augusto Heleno é o Rambo do governo Bolsonaro, enquanto o general Villas Bôas atua como estrategista na linha do papel desempenhado por Golbery do Couto e Silva na ditadura militar — fazendo o meio de campo com o generalato e o oficialato.

As opiniões são de Adriano Diogo, que lutou na resistência à ditadura militar no Brasil (1964-1985). 

Heleno, ex-comandante das tropas da ONU no Haiti, trouxe de lá a ideia de aplicar no Brasil com mais flexibilidade as GLO, a Garantia da Lei e da Ordem, que dá poder de polícia ao Exército em situações especiais.

Ele também foi comandante militar da Amazônia e, numa palestra no Clube Militar do Rio de Janeiro, em 2008, definiu a política indigenista do governo Lula como “lamentável” — no período, indígenas e arrozeiros disputavam o território que posteriormente se tornou a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Heleno é defensor da mineração em terras indígenas, cujo lobby hoje está a cargo do vice-presidente Hamilton Mourão.

Ambos compartilham a ideia de que os indígenas são joguetes na mão de ONGs e podem contribuir para fatiar a Amazônia, uma ideia velha que é um fantasma dos militares.

Curiosamente, os fardados preferem a Anglo American tirando minério de terra indígena do que a preservação da maior riqueza do Brasil, a floresta tropical.

Neste sentido, a cabeça dos militares brasileiros continua presa à Guerra Fria, não à realidade da biotecnologia, que pode gerar riqueza com a floresta em pé desde que haja um projeto nacional.

Também ex-comandante militar da Amazônia, Villas Bôas foi comandante do Exército entre 5 de fevereiro de 2015 até 11 de janeiro de 2019.

Portanto, Heleno e Villas Bôas têm intimidade com o CIGS, do qual falaremos mais adiante.

Formado em geologia na Universidade de São Paulo, Adriano Diogo foi vereador na cidade por quatro mandatos e deputado estadual por três, sempre no PT.

Analista experimentado da conjuntura, Adriano caracteriza o governo Bolsonaro como “um governo de transição para a ditadura” que o lembra dos primeiros anos pós-golpe de 64, quando o ditador Castelo Branco chegou a flertar com eleições presidenciais em 1965 antes de ser pressionado a cancelá-las (inclusive por Roberto Marinho, dono do jornal O Globo e futuro concessionário da TV Globo).

Castelo cursou a Escola de Comando e Estado Maior dos Estados Unidos antes de ser indicado para comandar a seção de Operações da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.

Foi depois da guerra que Castelo, na opinião de Adriano, foi recrutado pelo coronel Vernon Walters, que serviu de elo entre a FEB e o Exército americano na Itália.

Da mesma forma, diz ele, Augusto Heleno reforçou sua intimidade com oficiais dos Estados Unidos no Haiti. A missão da ONU naquele país tinha o intuito de “restaurar a ordem” depois da derrubada do presidente Aristide, um ex-padre ligado à Teologia da Libertação.

A derrubada de Aristide recebeu apoio velado dos Estados Unidos e da França, o antigo poder colonial do país.

Para Adriano Diogo, o Haiti está para o Brasil como o Marrocos para a Espanha e a Argélia para a França — foi durante o governo colonial que franceses desenvolveram técnicas de tortura que posteriormente ensinariam aos norte-americanos para uso no Vietnã.

Mas Adriano Diogo diz que há pedras no caminho de Bolsonaro, como a pandemia que pegou seu governo de surpresa. Para o ex-deputado, a covid-19 pode ser o cruzador General Belgrano do governo, em referência ao navio que a Argentina despachou para ocupar as ilhas Malvinas e foi afundado pelos britânicos em maio de 1982.

“Vivemos um casamento do ultraneoliberalismo com o regime coercitivo”, afirmou o petista.

Ele vê um paralelo com o governo que sucedeu a ditadura Vargas, em 1945, quando os dois principais candidatos eram militares: o general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra de Getúlio e o brigadeiro Eduardo Gomes.

Naquela eleição, o Partido Comunista teve sua maior votação na história do Brasil, com quase 10% dos votos para presidente e elegeu uma grande bancada, que incluiu Carlos Marighella, Jorge Amado e o estivador Oswaldo Pacheco.

O governo Dutra assumiu uma política econômica liberal e, diante da agitação oposicionista, trabalhou para que o Tribunal Superior Eleitoral cassasse o registro do PCB em 1948, o que foi ratificado por unanimidade pelo STF.

Os militares, relembra Adriano Diogo, sempre tiveram papel decisivo na política brasileira, inclusive na esquerda — o principal líder do PCB foi Luís Carlos Prestes, capitão do Exército e engenheiro militar. Um dos principais líderes da resistência à ditadura foi o capitão Carlos Lamarca, que fugiu do quartel de Quitaúna, em Osasco, em 1969, levando armas para combater a ditadura.

Porém, na opinião de Adriano, os militares nacionalistas da estirpe do marechal Henrique Teixeira Lott e do capitão da FAB Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o Sérgio Macaco, foram dizimados ao longo da ditadura militar.

O ex-deputado discorda da interpretação de setores da centro-esquerda que consideram Geisel de maneira distinta dos outros ditadores — Castelo, Costa e Silva, Médici e Figueiredo.

Ele lembra que sob Geisel continuou atuando no Brasil, como adido militar da França, o general Paul Aussaresses, oficial de contra-inteligência que ensinou técnicas de tortura desenvolvidas na Argélia a militares norte-americanos em Fort Bragg, na Carolina do Norte.

Foram as técnicas aplicadas no Vietnã, como a do afogamento.

Aussaresses também foi instrutor no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), que oficiais brasileiros formados na Escola das Américas implantaram em Manaus.

Aussaresses se dizia amigo pessoal do chefe do Servico Nacional de Informações de Geisel, o general João Figueiredo, que sucedeu Geisel, e do notório torturador Sérgio Paranhos Fleury, da polícia civil paulista.

A Operação Condor foi “incubada” em Manaus, diz Adriano Diogo. Formalizada em 1975, a aliança político-militar entre ditaduras sulamericanas organizou a repressão continental à esquerda.

Formado em Manaus, o general Juan Manuel Guillermo Contreras Sepúlveda foi o chefe da DINA, a temida polícia política de Augusto Pinochet, que derrubou Salvador Allende em 1973 e implantou uma ditadura sanguinária para sustentar um regime econômico neoliberal.

Para Adriano Diogo, que é geólogo, está claríssimo que o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff foi dado por causa da descoberta do pré-sal, que mudou a geopolítica mundial.

Segundo ele, os militares jamais permitiriam que Lula ou algum sucessor de Lula controlasse tamanha riqueza.

(Adriano, aliás, que também é cinéfilo, recomenda o filme Il Caso Mattei, de Francesco Rosi, para entender as tramas dos bastidores da indústria do petróleo)

A presença de um general no comando da Petrobras não surpreende o ex-deputado.

Ele lembra o papel dos militares no desenvolvimento do Estado Nacional e diz que eles não ocuparam apenas os quartéis e as escolas militares, mas também as empresas estatais.

À Aeronáutica couberam o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e a Embraer; o Exército ficou com a Vale, a Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobras.

Adriano diz que até hoje o maior garimpeiro do Brasil é o ex-capitão do Exército Sebastião Curió, que combateu a guerrilha do Araguaia e depois enriqueceu controlando o garimpo de Serra Pelada.

Quanto ao futuro, o petista diz que a luta política no Brasil está muito “parlamentarizada”, ou seja, distante do povo.

Ele duvida que Lula consiga, se quiser, ser candidato em 2022, e acha que a alternativa é mesmo lançar um candidato mais moderado, como fez Cristina Kirchner com Alberto Fernández na Argentina.

Assistam à instrutiva entrevista que Adriano Diogo concedeu ao Viomundo. Acompanhe nosso canal no You Tube. Torne-se assinante, acione o sino de notificações e dê um like. Isso fará com que este conteúdo viaje mais pelas redes.


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Comentários

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Zé Maria

https://youtu.be/UY_POy2laiU

Zé Maria

(https://www.filmesdetv.com/il-caso-mattei.html)

Zé Maria

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Infelizmente, é Verdade, Camarada.

A Sensação que se tem hoje é a de que, a qualquer momento,
um Cuturno vai derrubar a Porta, confiscarão nossos “Livros de
Capa Vermelha” e nos levarão de arrasto para um Camburão.
E depois, ninguém sabe …
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