Eliara Santana: Como a mídia caiu no conto do marreco de Maringá?

Tempo de leitura: 3 min
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Por Eliara Santana

Sergio Moro e Deltan Dallagnol, um dos seus miquinhos amestrados. Ascânio Seleme aplaude Moro ao lado do dono da Globo. Fotos: Reprodução de redes sociais e divulgação

Como a mídia caiu no conto do marreco de Maringá?

Por Eliara Santana*

As redes sociais estavam em polvorosa nesta semana com o vocabulário e a miserável noção histórica e geográfica do ex-juiz e ex-ministro do governo de Jair, o incomível, Sergio Fernando Moro.

Ele justificou a mudança do domicílio eleitoral de Maringá para São Paulo dizendo que “Maringá é colonização paulista”. Ele também falou, na mesma justificativa, que “São Paulo REBERVERA no país”

Antes, Moro já havia dito e escrito “conje” no lugar de cônjuge.

Falar errado, trocar letras, comer letras, nada disso me causa incômodo.

Na verdade, causa-me estranheza pelo fato de o cidadão em questão ser um juiz, que passou por um concurso bem concorrido. Mas nada disso chega a ser de fato espantoso.

O que me espanta profundamente é o fato de a imprensa brasileira ter alçado um cara idiota, estúpido, limitado e intelectualmente incapaz como Sergio Moro à posição de herói combatente da corrupção, sem qualquer posicionamento contrário, sem qualquer fala contraditória, com horas e horas no jornal de maior audiência da TV brasileira, o Jornal Nacional, e páginas e páginas nos maiores jornais do país.

O que me espanta é a mídia ter engolido todas as armações de Moro e ter passado pano para o fato de que ele prendeu o candidato à frente das eleições de 2018 e se tornou ministro do candidato que foi beneficiado por essa prisão!! Isso, sim, é espantoso.

Sobretudo, o que me espanta e me causa profunda indignação é a imprensa brasileira ter passado pano, acobertado, silenciado os seguintes fatos na recente história brasileira:

4 de março de 2016 – o juiz Sergio Moro decreta a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor em Curitiba.

Lula nunca havia se negado a prestar quaisquer esclarecimentos à Justiça e não tinha sido intimado a depor. Mesmo assim, Moro entendeu que a condução coercitiva seria adequada. A imprensa engoliu o assunto sem questionamento.

16 de março de 2016 – o juiz Sergio Moro libera áudios contendo conversas do ex-presidente Lula com várias pessoas, incluindo a presidenta Dilma Rousseff. Havia também conversas particulares de dona Marisa com um dos filhos.

Tudo foi liberado e divulgado com estardalhaço na mídia. A investigação envolvendo Lula estava em andamento, e Moro justificou a liberação dizendo que era assunto de interesse público.

5 de abril de 2018 – Moro decreta a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva.

1 de outubro de 2018 – Sérgio Moro libera a divulgação de trechos de delação do ex-ministro Antônio Pallocci que continham acusações contra o ex-presidente Lula.

Foi liberado com exclusividade para o JN, e era a edição às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial.

Novembro de 2018 – Moro, depois de prender Lula e tirá-lo da eleição, aceita ser ministro da Justiça de Bolsonaro.

24 de abril de 2020 – Sergio Moro se demite do Ministério após Bolsonaro fritá-lo pela disputa envolvendo a PF.

Maio de 2020 – Moro vai para os EUA trabalhar como consultor na Alvarez & Marsal, empresa que fazia recuperação judicial de empresas investigadas pela Lava Jato. Ganhou quase 4 milhões de dólares.

Esse breve resumo mostra a trajetória político-eleitoral de um dos personagens mais nefastos e cretinos da recente história brasileira.

Com todas as armadilhas e armações da Operação Lava Jato, Sergio Moro e seus miquinhos amestrados, como o procurador Deltan Dallagnol, ajudaram a destruir o Brasil, imputaram uma destruição da reputação da gigante Petrobras.

E tudo isso ancorado pela parceria que se estabeleceu com a mídia brasileira, que não apenas passou pano para o juiz de Maringá, mas o incensou a ponto de tornar inquestionáveis todas as suas arbitrariedades.

Sem essa parceria, esse trabalho conjunto e afinado, a Operação Lava Jato não tomaria a dimensão que tomou, e seus articuladores não seriam alçados à categoria de “heróis” no imaginário nacional.

Para muito além da divulgação de informações que deveriam ser sigilosas, posto que faziam parte de processos em andamento, essa parceria da mídia com o juiz marreco tinha um timing perfeito na divulgação de investigações, nas ações da Força Tarefa mostradas de modo espetacular na TV e nas delações direcionadas, e se esmerou também na construção de uma linguagem simbólica que estruturou todas essas ações conjuntas e garantiu o enaltecimento de determinadas figuras e a criminalização sem defesa de outras.

Portanto, falar “rebervera” é bobagem. E para isso eu dou a mínima.

O que me deixa com muito asco é a hipocrisia e a cretinice que o movimentaram na perseguição a tantos com a Lava Jato e a conivência oportunista da mídia com um juiz incapaz e oportunista.

*Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística pela PUC/MG

Leia também:

Jeferson Miola: Indulto é o AI-5 do Bolsonaro. Congresso precisa derrubar esta aberração

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Eliara Santana

Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora associada do Centro de Lógica, Epistemologia e Historia da Ciência (CLE) da Unicamp, desenvolvendo pesquisa sobre ecossistema de desinformação e letramento midiático.


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Comentários

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Ibsen Marques

O Viomundo poderia diagramar melhor os comentários fora do facebook.
Dito isso há um grande equívoco da autora. Não foi a mídia que sucumbiu ao canto da seria, foi o juiz vaidoso quem caiu no conto e foi usado para atingir os objetivos da elite brasileira através da “in” justiça e das promessas de holofotes pela imprensa brasileira.
O conjunto da obra não me espanta mas me indigna. É óbvio que tem matacutaia no concurso público. Não é atoa que o judiciário amazonense se tornou uma capitania hereditária que já virou matéria na mídia dita alternativa, assim como não é de se espantar que a posse ilegal de Dalagnol no MP tema sido legalizada pela inépcia do MP e do judiciário.
Moro é um projeto gestão pela mídia e imprensa da elite, e que com ela se confunde, um parceria com os órgãos de espionagem e o departamento de “in”justiça estadunidense.
Há um senso comum de que sem o jornalismo não há democracia, mas a realidade vivia no país demonstra o exato oposto: não há um golpe contra a democracia brasileira que ocorra sem a participação ativa da grande imprensa e da grande mídia brasileira. O dever de bem informar cedeu a muito ao compromisso com o anunciante. É o que FSP bem define com a expressão “rabo preso” do qual ela tenta se descolar através de ações de marquetim que, como todo marquetim, esconde bem a verdade e deforma a realidade.

Nelson

Os órgãos da mídia hegemônica já conheciam as “travessuras” do Moro ainda da roubalheira feita por meio das Contas CC5 do Banco Central na década de 1990 e inícios dos anos 2020. Para continuarem com a campanha de difamação incessante das empresas públicas, denominaram a roubalheira de “Escândalo do Banestado”, quando o banco público foi simplesmente usado para fraudes privadas.

Portanto, esses órgãos d mídia não podem ter o benefício de terem “caído que nem patinhos, ou marrecos” no conto do Moro.

A bem da verdade, Lava Jato, Moro e “seus miquinhos amestrados” são instrumento de que se utilizou o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos para se livrar de políticos inconvenientes, que insistiam em não obedecer regiamente a todas as suas ordens, e para desferir um grande estocada rumo ao desmantelamento completo do Estado brasileiro e do parque industrial do nosso país, objetivo primeiros do golpe de Estado imposto à nação já há seis anos num vergonhoso 17 de abril.

Valmont

Questão para se pensar:
Por que ainda chamamos o Cartel da Mídia de “imprensa brasileira”?

Os grupos econômicos aos quais pertencem os maiores veículos de comunicação deste país são predominantemente financeiros (banqueiros) e dominam o espaço público através de uma falsificação óbvia. São um simulacro, um arremedo de imprensa. No entanto, nós continuamos a chamá-los de “imprensa brasileira”.
Esse comportamento “colonizado” me incomoda profundamente.

TELESFORO MATOS

A mídia não caiu em conto de ninguém.

A mídia era quem comandava a lava-jato… Moro era um reles serviçal dos “donos do Brasil”

Patrice L

Como aqui já muito bem pontuado por outrxs: a mídia não caiu, mas, sim, é co-autora – talvez mesmo a principal novelista – do conto da lava-jato. Prender Moro, Dallagnol e aquele círculo todo de conhecidos cúmplices é pouco, porque bem mais gente participou desse golpe sujo. Que não sossega, haja vista o criminoso Delta tentando convocar (arrecadar, diria melhor) um tal de 200+. Delta que, com o tal Robito e respectivas esposas, vibraram com a possibilidade de lucrar, lucrar, lucrar. Gângsters, isso sim, fazendo uso indevido dos seus cargos públicos.

Augustus Araújo

Conto do Moro antes, conto do Zé Lensky agora! A mídia sempre fabricando os contos e se fazendo de vítima depois.

Morvan

Se me for permitido, um pequeno reparo: quem caiu, e o faz sempre, no conto do vigário, foi o povaréu, incapaz de pensar fora da caixa, pois enquanto deveria estar estudando, trabalhando, está a assistir ao BBB, ao Lata Velha, Mais você, etc. Moro, o juiz mais analfabeto que deve existir, como conseguiu passar numa prova para magistrado é mistério, apenas viu a oportunidade de se locupletar; uma verdadeira simbiose, com relação a estes (conge e Mídia colheram os frutos e o povo, os ossos…) e predação, com relação aos patrimônio do pais e também seu próprio povo.

Edgar

A mídia não cai em conto nenhum, a mídia é personagem principal no conto.

Francisco Bergamo

Como seria interessante, se esquecemos de Lula e Moro e dedicássemos os esforços para a corrupção e benefícios a determinadas classes que aconteceram em todos os governos. O Presidente sempre será um marionete !!!!

Jose Espare

É incrível, mas existem realmente pessoas que são capazes de aprovar de fato a figura de um monstro, imbecil e idiota como sendo um herói. É mais uma prova de que a podridão atingiu um bom número de pessoas. Para quem acha que eu possa estar exagerando, basta conferir o que é dito por uma comentarista aqui mesmo. Vamos ver que a falta de caráter se alastrou e não se limitou aos executores das ações sórdidas tomadas contra os interesses de nossa nação.

Ligia Pinto do Nascimento Motta

No meio de tanta sujeira o único que se salva e o senhor ex juiz e ex ministro Sérgio Moro . Presidente Bolsonaro e lula . São dois sociopatas , narcisista . São farinha do mesmo saco . Votei em Bolsonaro e se arrendamento matasse eu estaria mortinha.

Ligia Pinto do Nascimento Motta

Nó meio de tanta sujeira , o único que se salva é o senhor ex juiz e ex ministro Sérgio Moro . O resto são só farinha do mesmo saco . Esquerda X direita ,são todos iguais . Votei em no presidente Jai Messias Bolsonaro !! E se arrependimento matasse eu estaria mortinha . Votei em um sociopata , narcisista doente . O Lula além de sociopata narcisista e bêbado .Essa e a cara da liderança do nosso país .

Antonio Uchoa Neto

Na verdade, foi o Moro – da mesma forma que Joaquim Barbosa – que caiu no conto da mídia. Para esta, qualquer um serve para herói – do Saci Pererê ao Barão de Munchhausen – desde que seja para eliminar políticos e candidatos de esquerda, ou como tal considerados. Barbosa percebeu-se mero pião, no meio do caminho, e recolheu-se a um abastado anonimato. Moro ouviu as feiticeiras da Mídia – Estadonha, Globolina, e Folhícia, que lhe disseram: “Tu serás presidente, Moro!” e agora tem que recolher os cacos de sua frustrada ambição, ao lado de sua Lady Macbeth.

Zé Maria

O Conje e a Conja

Lindo Casal passeando em Maringá Paulista

https://pbs.twimg.com/media/FQ4GLhbXMAAlN42?format=jpg

Zé Maria

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8 de Julho de 2018

“Em relação ao habeas corpus impetrado por parlamentares em favor perante o TRF4 -Tribunal Regional Federal da 4ª. Região (HC nº5025614-40.2018.4.04.0000/PR)
a defesa técnica do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva registra que:

1- O juiz de primeira instância Sergio Moro, em férias e atualmente sem jurisdição
no processo, autuou decisivamente para impedir o cumprimento da ordem
de soltura emitida por um Desembargador Federal do TRF4 em favor de Lula,
direcionando o caso para outro Desembargador Federal do mesmo Tribunal
que não poderia atuar neste domingo (08/07);

2- É incompatível com a atuação de um juiz agir estrategicamente para impedir
a soltura de um jurisdicionado privado de sua liberdade por força de execução
antecipada da pena que afronta ao Texto Constitucional — que expressamente
impede a prisão antes de decisão condenatória definitiva (CF/88, art. 5º, LVII);

3- O juiz Moro e o MPF de Curitiba atuaram mais uma vez como um bloco
monolítico contra a liberdade de Lula, mostrando que não há separação
entre a atuação do magistrado e o órgão de acusação;

4- A atuação do juiz Moro e do MPF para impedir o cumprimento de uma decisão
judicial do Tribunal de Apelação reforçam que Lula é vítima de “lawfare”, que
consiste no abuso e na má utilização das leis e dos procedimentos jurídicos
para fins de perseguição política;

5- A defesa de Lula usará de todos os meios legalmente previstos, nos
procedimentos judiciais e também no procedimento que tramita perante
o Comitê de Direitos Humanos da ONU, para reforçar que o ex-presidente
tem permanentemente violado seu direito fundamental a um julgamento justo,
imparcial e independente e que sua prisão é incompatível com o Estado de Direito.”

CRISTIANO ZANIN MARTINS
Advogado de Defesa de Lula

https://www.conjur.com.br/2018-jul-08/advogado-lula-atuacao-moro-demonstra-perseguicao
.
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    Zé Maria

    Moro, DD e Gebran tramaram para deixar Lula Preso,
    ao menos, até a Eleição de Jair Bolsonaro em
    Outubro de 2018. Além de Moro, Gebran também
    tinha a Pretensão de ser Indicado para o STF.

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