Vereadora denuncia instalação de SAMU de “lata” em SP: custam caro, são provisórios e desconfortáveis

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Entre as 11 bases de “lata” do SAMU já instaladas, estão a do Limão (Zona Norte) e a em Teotônio Vilela (Zona Sul). Fotos: R7

por Conceição Lemes

Em 2004, na campanha à Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (na época, DEM, hoje PSD) investiram pesado contra a candidata Marta Suplicy (PT) com as escolas de lata.

Na eleição de 2008, Kassab renovou os ataques. Marta rebateu:

O Kassab fica dizendo que eu construí as escolas de lata, só que eu não fiz nenhuma. Todas elas foram construídas na gestão Pitta [prefeito Celso Pitta, 1997-2000], do qual Kassab era secretário de Planejamento.

Mas o mundo gira e a Lusitana roda.

Em 2009, Kassab começou a construir as chamadas bases “acopláveis” do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Bases são pontos de apoio espalhados pelas várias regiões da capital onde os profissionais de saúde de plantão os chamados de socorro.

Uma busca no Diário Oficial da Cidade de São Paulo revela 33 menções a tais bases. Abaixo dois desses registros. O primeiro, à esquerda, de dezembro 2009. O segundo, à direita, de setembro de 2012.

“Até o final deste ano, mais 27 bases, todas modulares, serão inauguradas, totalizando 100 bases operacionais”, diz ao Viomundo a Secretaria Municipal de Saúde, via assessoria de imprensa. Acrescenta:

As bases modulares do SAMU-SP – que não prestam atendimento à população, são utilizadas apenas para abrigar os profissionais do SAMU-SP – são fabricadas com materiais desenvolvidos pela Engenharia Naval, que demandam um menor tempo de construção/montagem e podem ser facilmente realocadas de acordo com a necessidade prevista no Plano de Emergência e Urgência da Cidade de São Paulo. Todas possuem sistema de refrigeração e mobiliário operacional.

As bases modulares são estruturas metálicas de tecnologia naval. Elas são constituídas de chapas duplas de aço galvanizado, revestidas de espuma de poliuretano e climatizadas mecanicamente.

“Equipamentos acopláveis são um eufemismo”, denuncia a vereadora Juliana Cardoso (PT-SP). “Na verdade, são bases de ‘lata’!”

“Os trabalhadores queixam-se do desconforto, as bases de ‘lata’ não reúnem condições adequadas para acomodá-los bem; às vezes, o sistema de refrigeração quebra e a situação piora”, atenta Ana Lúcia Firmino, do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo.  “Além disso, é um dinheiro que vai para o ralo, pois as bases de ‘lata’ do SAMU são alugadas.”

CADA BASE DE “LATA” CUSTA R$ 237 MIL POR ANO À PREFEITURA

As equipes do SAMU trabalham normalmente em turno de 24h. É nas bases de apoio que médicos e paramédicos aguardam as chamadas para ir às ruas prestar socorro. É também para as bases que retornam depois de cada atendimento. Ou seja, quando não estão atendendo, ficam de plantão aí, aguardando o próximo chamado.

Equipamentos acopláveis, bases modulares e estruturas de tecnologia naval são termos que disfarçam o que de fato são: contêineres de aço recobertos com zinco.

Já há 11 bases de “lata” instaladas na cidade de São Paulo. Juntando 27 previstas até o final de 2012, serão 38. Todas fornecidas pela empresa Nova Horizonte Jacarepaguá Importação e Exportação, do Rio de Janeiro.

“Em audiência pública, este ano, na Câmara Municipal, o coronel Wilke [Luiz Carlos Wilke, que comanda o SAMU em SP] alegou que a escolha desse método construtivo se deve à rapidez no prazo de entrega”, relembra Juliana. “Disse que em cinco dias uma está erguida; nenhuma razão técnica foi dada.”

“A base de alvenaria é para a vida toda”, compara. “Já a ‘de lata’ é provisória, um saco sem fundo.”

Explico. As bases de “lata” são alugadas à Secretaria Municipal de Saúde, que tem de renovar anualmente o contrato. Se isso não ocorrer, a empresa leva-as embora.

Cada base de “lata” cada um custa R$237 mil por ano. São cerca R$ 19 mil/mês. Esse valor cobre aluguel, transporte, montagem e manutenção de cada contêiner. Por ano, os 38 custarão quase R$ 9 milhões.

Dinheiro que terá de ser desembolsado ano após ano pela Prefeitura. Não estão inclusos aí os equipamentos usados pelo SAMU nas ambulâncias para prestar socorro nem os que ficam nas “bases de lata”. São todos à parte.

“As bases de ‘lata’ são uma resposta muito custosa”, afirma Juliana Cardoso. “Além disso, utilizam-se recursos públicos de forma provisória.”

Levantamento da assessoria técnica da vereadora revela que, pelo aluguel de um sobrado para um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) ou uma Unidade Básica de Saúde (UBS), por exemplo, a Prefeitura paga em torno de R$ 5 mil por mês. Se for bem grande, no máximo, R$ 10 mil/mês.  A base “de lata”, repetimos, fica em R$19 mil/mês!

Outra estranheza:  a construção de uma UBS custa aproximadamente R$1,5 milhão, enquanto a base do SAMU de alvenaria sairia por R$ 500 mil. A UBS, vale lembrar, é uma estrutura muito mais complexa que a “base de lata”, que tem apenas garagem, áreas para descanso da equipe de profissionais de saúde, almoxarifado e administrativo.

Daí a pergunta óbvia: a possibilidade de sangrar continuamente os cofres públicos a razão para a opção para escolha do SAMU de “lata”?

Ou seria uma forma de produzir impacto na população em momentos cruciais?

Em 2008, um pouquinho antes da eleição, Kassab mandou fazer instalar quatro AMA (Assistência Médica Ambulatorial) de lata. Uma delas foi no Jardim Popular. Outra, no Jardim Elisa Maria

Ângulos diferentes da AMA de lata do Jardim Popular, erguida sob uma base de alvenaria; fui inaugurada um pouco antes da eleição de 2008

Ou seria problema de planejamento, gerenciamento?

“Descentralizar o SAMU por meio de postos nas várias regiões da cidade é uma resposta correta, mas exige planejamento”, afirma o médico e vereador Carlos Neder (PT), que foi secretário da Saúde da cidade de São Paulo na gestão Luiza Erundina (1990-92). “Isso significa integrar as estruturas do 192 (SAMU) e do 193 (Corpo de Bombeiros), não improvisar nas instalações próprias e investir os recursos que não estão sendo gastos em infraestrutura, pessoal e capacitação.”

Não improvisar nas instalações próprias, traduzimos, quer dizer não às “bases de lata”

Em 2012, o orçamento inicial para o SAMU na capital paulista foi de R$ 77,8 milhões, sendo R$ 26,3 milhões provenientes do tesouro municipal e R$ 51,4 milhões do governo federal.

Até agora, dos recursos federais, foram usados R$ 26,6 milhões (52%). O que não for gasto, voltará aos cofres da União.

Se isso ocorrer, será lamentável. São Paulo estará desperdiçando dinheiro do SAMU, como tem feito nos últimos anos.

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Comentários

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leffera

Vereadora, peça aí aos seus colegas vereadores para auditarem as contas do SAMU-SP e a senhora irá se assustar com tanta robalheira, peça a qualquer socorrista do SAMU para vê o holerith e vai cair de costa ao constatar nosso salário que é R$ 545,00, não digitei errado não, é isso mesmo.

Elisangela

Vereadora, sabe qual é a nova agora que nos foi apresentado faltando alguns dias para o novo prefeito asssumir? Um tal de computador portátil que só vai servir para atrasar ainda mais pela burocracia, pura lavagem de dinheiro no SAMU-SP.

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mineiro

veja bem o povo de sp , ta apanhando a mais de vinte anos e quem tem a possibilidade ainda de ser prefeito de sp. o ze nazista , é mole. qual a diferença do russumano universal para o ze nazista global. nenhuma. agora eu pergunto o estado de sp tem geito? alguem pode ate me repreender , me criticar . mas nao tem como o povo de sp nao muda , gosta dessa turma porque pensa igual a elite, infelizmente é essa a verdade. o povo de sp acha que é superior do resto brasil. nao tem como o povo repetir os mesmo erros , russumano universal lider das pesquisas , é de rir . se o povo de sp quisesse mesmo mudar o haddad era lider disparado e tinha que ganhar no primeiro turno , mas nao , arrisca nem para o segundo turno . voces de sp sao todos farinha do mesmo saco , e minas gerais tambem .

Bruno

Ex-Obreira da Universal revela esquema de manipulação de votos pró Russomanno

#PosTV: Fala que eu te escuto, Regiane. Testemunho de Regiane Brito, ex-obreira da Igreja Universal do Reino de Deus. Ela fala sobre como a igreja manipula votos em favor de Celso Russomanno, a construção do templo de Salomão, o projeto político da IURD e porque ela teve a coragem de largar a igreja e trazer isso à tona.

http://www.youtube.com/watch?v=siS4nUw2UHU

Jose Mario HRP

Tanto a prefeitura de São Paulo mas ainda mais em outras prefeituras com prefeitos da oposição, a idéia de ter o SAMU em suas cidades é sempre vista como apoio a coligação do PT Federal!
Por isso esse relaxamento e desídia com o povo!
Vote certo vote na esquerda!
E diga não aos capitalistas a serviço de Wall Street!

Urbano

Os demos-tunganos (nunkassab é um eterno demo), por acaso, sabem fazer alguma coisa diferente disso? Apontem-me uma coisa que eles tenham feito sem que tenha sido de fancaria?

Fátima Oliveira: Senador maranhense, Gracimar e a maca fria do corredor « Viomundo – O que você não vê na mídia

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J Souza

É por isso que a “elite” paulistana tem ódio do PT (PÊ-TÊ, como gosta de dizer o Joaquim Barbosa!).
Ficam querendo que a prefeitura “gaste” o dinheiro dos impostos “dela” (na cabeça da burguesia paulistana, só eles pagam impostos; os pobres não pagariam!) com “assistencialismo” para os pobres, enquanto poderiam estar “investindo em infra-estrutura” cara, contratando as empresas deles (enriquecendo-os mais ainda!).
Em São Paulo a burguesia só tolera os pobres e a classe média porque estes são úteis para seu enriquecimento.
E por isso precisam dos serviços da Globo-Veja-Estadão-Folha para manter o cabresto na classe média e nos pobres!

Helder

Não estamos sendo injustos com ele (Kassab/Serra)? kkk

    J. Alberto

    Matou a pau rs

MARIO LOBATO DA COSTA

São Paulo tem um sério problema com o SAMU. Coisa assim freudiana… amor e ódio, pulsão e repulsão… Qualquer dia os dois (SAMU e São Paulo) vão se encontrar, acertar as diferenças e atender a sociedade – que é o que interessa.

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