Paulo Kliass e a CLT: “Risco e irresponsabilidade injustificáveis”

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Colunistas| 10/10/2012 | Copyleft

DEBATE ABERTO

Ressaca eleitoral e flexibilização trabalhista

Gostaria de chamar a atenção para um projeto em particular: o chamado “Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico”. O nome parece pomposo, mas o conteúdo é nitroglicerina pura: flexibilização dos direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho, a nossa CLT.

Paulo Kliass, na Carta Maior

A cada dois anos, o mês de outubro tende a ser dominado pela pauta e pela disputa política em torno das eleições. Até aí, tudo normal, faz parte das regras e da dinâmica do jogo democrático. E quando o pleito se refere à renovação dos cargos no plano municipal (prefeitos e vereadores), a agenda política nacional tende a ficar um pouco mais amortecida.

Por mais que haja uma ou outra tentativa de “nacionalizar” o debate, o fato é que os assuntos do legislativo federal ficam no aguardo do início do mês de novembro. Isso porque tanto o Senado quanto a Câmara dos Deputados entram em uma espécie de “recesso branco”, uma vez que os parlamentares estão quase todos envolvidos com as candidaturas em suas bases pelo País afora.

Os problemas podem surgir após o término das eleições, quando a retomada da agenda acumulada coloca em risco a votação de temas sensíveis e polêmicos num ritmo de atropelo legislativo. É o caso da votação do Código Florestal e os retrocessos que podem ser introduzidos na legislação ambiental, caso o Executivo não assuma a iniciativa firme e decidida de se contrapor aos interesses da bancada ruralista. E um outro conjunto de itens volta à superfície, embalados pela surpreendente disposição governamental em avançar na perigosa seara da desregulamentação dos direitos dos trabalhadores e dos aposentados.



Flexibilização da CLT: origem no ABC

A validade do famigerado “fator previdenciário” continua inabalável, com a manutenção dessa metodologia perversa de redução dos valores mensais pagos aos aposentados e pensionistas. A desoneração da folha de pagamentos deixou de ser uma experiência localizada em alguns poucos setores da economia e torna-se a cada instante mais generalizada, comprometendo perigosamente a base de financiamento de nosso sistema de previdência social.

Finalmente, gostaria de chamar a atenção para um projeto em particular: o chamado “Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico”.

O nome parece pomposo, mas o conteúdo é nitroglicerina pura: flexibilização dos direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho, a nossa CLT.

O que mais impressiona é que o Ante Projeto de Lei para a implementação de tal estratégia seja assinado por um conjunto de sindicatos de metalúrgicos do Estado de São Paulo, liderados pelo Sindicato do ABC e com o patrocínio explícito da CUT.

O documento já foi protocolado oficialmente junto à Presidência da República e há quem pretenda iniciar rapidamente sua tramitação no âmbito do Congresso Nacional.

Há décadas que o empresariado e os representantes do capital têm buscado, de todas as formas, eliminar de nossa legislação as garantias mínimas de direitos dos trabalhadores, tais como 13º salário, férias remuneradas, FGTS, adicional de hora-extra, jornada de trabalho regulamentada, licença gestante, regras de saúde e segurança no trabalho, entre tantos outros itens.

Tudo isso em nome de apagar a era Vargas da memória coletiva da Nação, com o intuito enganador de promover a redução do chamado “custo Brasil”.

Todos esses direitos são garantidos, a duras penas, pela legislação trabalhista, capitaneada pela CLT.

Por mais antigo que seja esse código, o fato é que ele ainda serve para assegurar direitos mínimos dos trabalhadores, a corda mais frágil numa sociedade que há muito tempo é marcada pela desigualdade e pela exploração dos despossuídos.

Felizmente, a articulação do movimento sindical, dos setores progressistas da sociedade e das próprias entidades atuantes na área da justiça trabalhista sempre esteve atenta às iniciativas de mudanças retrógradas, em geral no sentido de retirar tais direitos.



Anteprojeto da CUT: risco de retrocesso


Um dos casos mais simbólicos e mais recentes foi justamente a tentativa de aprovação de um texto em 2001, durante o mandato do Presidente Fernando Henrique. A tristemente famosa Medida Provisória nº 5.483, que abria o caminho para a flexibilização total desses direitos, por meio de um sutil caminho — a farsa da chamada “negociação direta” entre empresas e sindicatos. Nessa época, há mais de 10 anos atrás, o PT, a CUT e demais entidades patrocinaram um amplo movimento que obrigou o governo a recuar e aquela tentativa de intervenção neoliberal no campo trabalhista acabou fracassando.

Quis a ironia da História que o movimento de quebra da espinha dorsal dos direitos dos assalariados voltasse à pauta política pelas mãos daqueles que haviam justamente combatido a tentativa de promover o retrocesso na legislação. A proposta é polêmica e tem recebido muitas críticas. O Procurador do Trabalho Rafael de Araújo Gomes elaborou um texto esclarecedor, bastante minucioso, em que analisa o histórico e as conseqüências do tal ante projeto.

O risco das perdas a serem impostas ao movimento sindical superam em muito as eventuais vantagens localizadas, que independem de tal mudança na lei. Para esses setores ditos mais “modernos” do mundo industrial, as mudanças no texto da lei não são nem necessárias, pois elas já ocorrem na prática.

É importante frisar que o desejo de alteração nas regras da CLT atende aos interesses de uma parcela bastante reduzida da classe trabalhadora brasileira. O caso dos metalúrgicos do ABC é bem sintomático dessa postura. Trata-se de uma categoria mais bem organizada, trabalhando em grandes indústrias e com uma importante história de mobilização e de luta sindicais.

A existência de comissões de fábricas e acordos negociados diretamente com as empresas é uma prática antiga. Como esses instrumentos contêm cláusulas mais avançadas do que as previstas na legislação trabalhista, favorecem a falsa sensação de que a CLT seria um empecilho às lutas dos assalariados. Nada mais enganoso.

Assim, o fato dessa pequena amostra do universo dos trabalhadores normalmente conseguir avanços nas suas negociações com os representantes do empresariado não permite uma generalização para o conjunto do movimento sindical. Muito pelo contrário. A previsão do Ante Projeto é que os acordos coletivos tenham validade jurídica plena e superior à CLT, mesmo em situações onde haja conflito jurídico com as disposições previstas no código trabalhista.

Isso significa abrir uma perigosa brecha na legislação, que não necessariamente implica em melhorias para o conjunto dos assalariados.

A história recente apresenta um caso sintomático. Em 1994 foi promovida uma alteração na legislação pela Lei 8949, com a intenção de favorecer e estimular a formação de cooperativas de mão de obra para setores como vigilância, limpeza, alimentação, transportes e outros. Feita a cunha e introduzida a exceção no texto da lei, as mudanças terminaram por reforçar a exploração da força de trabalho, com a “legalização” de situações que antes seriam consideradas irregulares e sujeitas a fiscalização e multa.

A estratégia foi imediata: grupos empresariais sentiram a chamada janela de oportunidade e constituíram cooperativas de fachada. Bingo! Os trabalhadores passaram a receber o carimbo de “cooperativados”, mas sem nenhum poder de decisão no interior da associação para a qual trabalham. As cooperativas têm seus “donos”, assim como as demais empresas. Mas podem descumprir um conjunto amplo de exigências trabalhistas, pois a mudança na lei permitiu tal excepcionalidade.

Um verdadeiro tiro no pé do movimento sindical e nos direitos dos trabalhadores.

Manter a CLT e avançar nas demais conquistas


A intenção do Ante Projeto é louvável. No dizer da exposição que acompanha o documento:

 “A idéia do projeto nasceu do desejo de estimular que o País adote a negociação coletiva como instrumento mais moderno para a solução dos conflitos pertinentes às relações de trabalho e à representação sindical no interior da fábrica, como condição fundamental à democratização das relações entre trabalhadores e empresas.”

No entanto, o equívoco é partir do pressuposto de que a maior parte dos trabalhadores em nosso País encontre-se em situação análoga ou similar ao grupo dos metalúrgicos do ABC. O caminho ainda é longo para que as outras categorias e nas regiões obtenham os avanços necessários nas relações trabalhistas. Trata-se de implantar e consolidar as comissões de fábrica ou comitês de empresa, buscando a negociação no local de trabalho.

Porém, abrir a exceção com mudanças na CLT para a absoluta maioria ainda desamparada, em nome de uma minoria já consolidada, representa um risco e uma irresponsabilidade injustificáveis.

Assim, é necessário que o conjunto dos atores políticos afetados por tal proposta de flexibilização dos direitos trabalhistas estejam atentos e vigilantes. A ressaca eleitoral oferece uma conjuntura em que as entidades e associações por vezes sentem-se anestesiadas pelo clima político geral e acabam deixando passar medidas que podem trazer conseqüências negativas para os próprios trabalhadores.

*Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

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Recordar é viver:

“Ministro é envolvido em escândalo da Volks

O sindicalista e ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foi envolvido no escândalo sexual da Volkswagen que abala a montadora alemã. Em entrevista ao jornal alemão “Die Welt”, um dos maiores do país, Klaus-Joachim Gebauer -ex-gerente de RH da montadora e figura-chave do episódio- diz que Marinho participou em 2001 de uma das “noitadas” promovidas à custa da empresa.[…]”

SOFIA, J. Ministro é envolvido em escândalo da Volks. Brasília: Folha de São Paulo, 21 de outubro de 2005. Disponível em :

Em nome da crise contra o trabalho: A ‘reestruturação’ mundial da Volkswagen:

“PACOTÃO DA MALDADE

Há cinco anos, em outubro de 2001, a Volkswagen anunciou a dispensa de 3.075 trabalhadores de suas linhas de montagem no Brasil. Luiz Marinho, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, viajou para a cidade de Wolfsburg, na Alemanha, sede mundial da empresa. Voltou para a fábrica sem alguns direitos, sem outras garantias e com um acordo de estabilidade de cinco anos, além da reintegração dos demitidos.

O acordo de estabilidade assinado por Luiz Marinho tem validade até 21 de novembro do corrente ano, mas desde agosto os 1.800 de São Bernardo já estavam devidamente avisados que nesse dia passariam a fazer parte dessa grande massa de desempregados que o capital contrata e descontrata, espreme e joga fora; usa e abusa ao seu bel prazer.

Em meio à greve de sete dias de final de agosto e início de setembro, Luiz Marinho, hoje ministro do Trabalho, confessou aos sindicalizados de São Bernardo que não pretendia interferir nas demissões e nem tampouco tomar providências quanto à declarada disposição da Volks de suprimir direitos trabalhistas e dar prosseguimento às demissões.

Livres e desimpedidos, os gerentes da Volks apresentaram à burocracia sindical do ABC uma “pauta de reivindicações”, apelidada pelos operários metalúrgicos de “pacotão da maldade”. Segundo o pacotão, a empresa pretende “melhorar a produtividade das operações” cortando em 35% o salário dos novos contratados, reajustando em 200% a contribuição do trabalhador parao plano de saúde e reduzindo as folgas fixas semanais a apenas uma.

Felizmente sem o “apoio” dos ex-chefões da burocracia sindical — hoje, gerentes do governo — os operários imprimem a resistência possível e, até onde podem, conseguem pontualmente estancar o processo de demissões em massa, com greves como resposta às negociações desiguais e recusando temporariamente a submissão às horas extras. Os operários da Volks vêm exercendo muitas vezes pressão sobre os oportunistas que dirigem a burocracia sindical, que não raro oferecem ao patronato a possibilidade de explorações ainda maiores no chão da fábrica, em troca de um reajuste salarial que pode não passar de mera correção, representando sequer um aumento real.

Sucessor de Luiz Marinho na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o mesmo José Lopez Feijó que vocifera contra a decisão da Volks de (conforme se expressa) “aumentar seus lucros tirando o couro da peãozada”, já foi expulso de assembléia debaixo de acusações de traidor.

Nas últimas décadas, o cargo de Feijó tem sido exercido como um posto de colaboração com as políticas imperialistas e como uma espécie de trainee* no peleguismo de altos cargos sindicais, empresariais ou federais. Depois da presidência do sindicato burocrático do ABC, Jair Meneguelli e Vicentinho dirigiram a CUT. Meneguelli foi parar na Câmara e depois na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp; Vicentinho foi à faculdade, virou deputado e jura que defende os interesses dos trabalhadores brasileiros quando apresenta um projeto de lei que obriga o poder público a comprar carros nas fábricas dos ex-patrões.

O ministério chefiado por Luiz Marinho funciona na prática como a gerência encarregada de dilapidar e deixar dilapidar conquistas, direitos, garantias, salários e a unidade da classe trabalhadora. Como a estrutura é sempre insuficiente para destruir toda uma história de lutas, as direções e centrais sindicais constantemente renovam tentativas de conciliação, nas quais o trabalhador invariavelmente sai prejudicado.

TURISMO SEXUAL

Nos próximos meses a Alemanha vai assistir ao julgamento, por corrupção e crimes sexuais, de Peter Hartz, ex-diretor de recursos humanos da Volkswagen, considerado um dos mais eficientes gerentes de pessoas do mundo dos negócios.

Para merecer essa conceituação, o executivo garantiu de forma sem precedentes a institucionalização dos interesses dos patrões travestidos de interesses dos trabalhadores, sendo a principal cabeça na elaboração das reformas trabalhistas promovidas pelo ex-chanceler Gerard Schröeder. Na Alemanha, as disposições que regulam o sistema de assistência legal aos desempregados são conhecidas como Hartz I, II, III e IV.

Em julho de 2005, Peter Hartz renunciou ao cargo na Volks em meio a um escândalo de prostituição e falcatruas administrativas envolvendo os altos executivos da empresa. Tentou sair honrosamente dizendo que assumia as responsabilidades dos subordinados. Logo depois foi indiciado pelo Ministério Público alemão.

Brasil e Índia eram os destinos preferidos das “viagens de prazer” patrocinadas pela empresa — desde os anos 90 — e oferecidas a gerentes, políticos e até a membros da comissão dos trabalhadores.

Principal nome da matriz, depois do presidente Bernd Pischetsrieder, Peter Hartz tinha lugar cativo também no conselho da Volkswagen brasileira e, de acordo com depoimentos de outros velhos gerentões da respeitável transnacional tinha verdadeira obsessão por uma brasileira cafetinada na Europa.

Enquanto corre o processo contra os altos executivos da empresa, a matriz da Volkswagen pretende dar o exemplo aos outros países e levar a cabo no país-sede a parte que lhe cabe no “plano mundial de reestruturação”: aumento do horário laboral sem compensação salarial, das atuais 28,5 para 35 horas semanais, e supressão de um quinto dos postos de trabalho — o que significa um reforço de 20 mil alemães para o limbo do desemprego. Ou seja, cinicamente diminui em quantidade o número de operários, mas aumenta a capacidade de exploração da força de trabalho com o artifício da mais valia relativa — e mesmo da mais valia absoluta,no caso da carga horária.

A FALSA CRISE DA VOLKS

Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica – Cefet da Bahia, o doutor Nilton Vasconcelos, publicou na última edição da revista Debate Sindical um artigo que faz cair por terra a alegação da Volkswagen de que suas fábricas operam no vermelho, utilizada como justificativa para acabar com o emprego de milhares de metalúrgicos e negar aos que ficam o gozo dos direitos historicamente conquistados.

Nilton estudou relatórios como o Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira e o Desempenho do Setor de Auto-peças, ambos relativos ao ano de 2005, e comparou os resultados com os números dos últimos dez anos, até 1995, ano que ele considera um marco para a política pública automotiva no Brasil — foi em 1995 que Fernando Henrique Cardoso criou o Regime Auto-motivo Brasileiro, substituindo a Câmara Setorial Automotiva e beneficiando as grandes empresas transnacionais de montagem em detrimento da indústria nacional de autopeças.

Quando as últimas estatísticas foram divulgadas, lembra Nilton, os meios de comunicação destacaram, sobretudo, o recorde de 2,44 milhões de automóveis, caminhões e ônibus produzidos em território nacional. Um aumento de 10% em relação ao ano anterior, e de 50% em relação a 2003. Mas os relatórios revelavam algo mais.

No que se refere ao índice de pessoal empregado, e no mesmo intervalo de uma década em que a produção de automóveis deu um salto de 50%, o número de trabalhadores nas fábricas foi reduzido em 10%.

Quando em 1980, cerca de 133 mil metalúrgicos cruzaram os braços diante da irredutibilidade do patronato, Luiz Inácio apareceu liderando a greve dos 41 dias. Segundo a análise do doutor Nilton Vasconcelos, cada um desses 133 mil metalúrgicos de 1980 produziu em média 8,7 automóveis naquele ano. Em 2005 cada metalúrgico empregado produziu em média 25,9 unidades. O patronato festejou, e o governo quis fazer crer que o Brasil é que tinha muito a comemorar, porque as empresas que atuam em território nacional teriam ganhado competitividade graças à “redução da burocracia” e à “flexibilização laboral”.

Empulho. Em dez anos a exploração do trabalhador brasileiro foi intensificada graças à sanha competitiva das transnacionais, tudo com a anuência das gerências Cardoso e Luiz Inácio, caracterizadas pela subserviência e a transferência de dinheiro público para as grandes montadoras estrangeiras.

Contabilizando apenas o oba-oba da gerência FMI-PT, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES abasteceu essas empresas com 5,8 bilhões de reais que, na prática, financiaram a multiplicação dos lucros e a geração de desemprego. Só a Volks recebeu do banco estatal mais de um bilhão e meio de reais neste período. Diante dessa cifra, soa infantil que o (des)governo tente apresentar a suspensão temporária de um novo empréstimo de 497 milhões de reais como retaliação às demissões e à ameaça de fechamento da fábrica de São Bernardo.

O artigo do professor Nilton demonstra que, apresentando ao sindicato do ABC o “pacotão da maldade”, a Volks não está tentando sair do atoleiro; porém correndo atrás da reposição dos percentuais das taxas de lucro perdidos com o câmbio baixo e a queda nas exportações, às custas de postos de trabalho e dos tão acanhados direitos dos trabalhadores.

Mas as especificidades da economia brasileira não explicam totalmente as degolas que a multinacional promete para as fábricas do país.

A Volkswagen comemorou em janeiro de 2006 os resultados da contabilidade mundial de 2005: duplo recorde de produção e venda. Um mês depois, em fevereiro, a matriz da empresa anunciou o plano mundial de reestruturação, alegando necessidade de “sanar deficiências”. Encontrou abrigo nos reputados diários econômicos internacionais, que noticiaram a decisão sob a manchete “crise na Volks”.

PARA ALÉM DOS ARTIFÍCIOS

A estratégia se repete na repartição da empresa no Brasil. No primeiro semestre desse ano o faturamento foi de 663,28 milhões de reais. Um recorde. Mas os gerentes nacionais e a matriz alemã continuam ameaçando com a chantagem da demissão e da supressão de direitos como condição para manter os investimentos (a exploração dos trabalhadores) no país. Ainda assim, o monopólio dos meios de comunicação no Brasil repete as manchetes dos chamados “jornais de referência”.

Não há crise. As dificuldades da empresa com o câmbio e com as exportações são reais, mas não explicam, por si apenas, as “medidas de ajuste”. O que se chama de reestruturação da Volks é uma ofensiva a nível mundial contra o mundo do trabalho. Não faz muita diferença se o capital avança contra os trabalhadores através das modernas técnicas de microeletrônica ou das modernas técnicas de gestão. Ambas são sistematicamente usadas para precarizar, sufocar e chantagear.

No dia 4 de abril deste ano a Volkswagen virou notícia em todos os jornais, rádios e emissoras de TV da Argentina. Em uma cerimônia na fábrica de Pacheco, na periferia de Buenos Aires, o presidente regional da empresa, Viktor Klima, apresentou o Suran, “o carro 100% argentino”. Na platéia de cerca de 1500 pessoas destacavam-se o presidente Néstor Kirchner e vários ministros de Estado.

Eles ouviram de Klima que a Volkswagem não mede esforços para ajudar a combater o desemprego, “tanto em épocas boas como em épocas ruins”.

Um mês depois, os trabalhadores da Volkswagen na Argentina exigiram 32 por cento de aumento salarial. Klima ofereceu 25%. Os metalúrgicos não aceitaram a proposta e se recusaram também a fazer horas extras enquanto os salários não fossem reajustados de acordo com índice exigido.

Uma pesquisa das notícias publicadas nos principais jornais argentinos durante o mês de maio não acusa uma nota sequer sobre a luta dos trabalhadores da fábrica de Pacheco. Um grupo chamado Colectivo Nuevo Proyecto Histórico fez circular na imprensa popular um comunicado no qual denunciava o silêncio das redes de TV e de jornais pertencentes a grandes grupos econômicos, como La Nación e Clarín. O texto diz que, para esses meios de comunicação, os trabalhadores não viram notícia quando lutam, salvo para criminalizá-los.

Os operários da fábrica de Pacheco reconhecem que as reivindicações salariais são uma luta timidamente anti-capitalista, mas acreditam que mais cedo ou mais tarde os regimes laborais de exploração vão se tornar insustentáveis.

É o desafio da conciliação entre as ações imediatas e os planejamentos estratégicos tão fundamentais para o sindicalismo. É o desafio que se apresenta aos metalúrgicos de todo o mundo, que já vêm se articulando a nível internacional para resistir ao triplo inimigo do seu trabalho: a chantagem das transnacionais, a conivência dos governos ditos democráticos e a tendência de suas lideranças para os acordos que satisfazem os patrões, em detrimento da defesa intransigente dos interesses de sua própria classe.

É o dilema que se impõe aos trabalhadores do ABC que encerraram uma greve de sete dias após a supensão de 1.800 cartas de demissão, apesar de a Volks reiterar que pretende nos próximos dois anos cumprir a meta de reduzir em até 6 mil o número de funcionários nas fábricas do Brasil.

No dia 11 de setembro, enquanto os atentados de cinco anos antes ocupavam papel jornal e programação televisiva, a emenda da chantagem travestida de acordo saiu pior que o soneto da “suspensão temporária da greve”: a Volks aumentou os “incentivos irrecusáveis” e o sindicato do ABC, fazendo o papel dos patrões, orientou os trabalhadores a se demitirem por livre e espontânea vontade para a empresa atingir até 2008 a meta de colocar na rua mais de 3 mil funcionários da fábrica de Anchieta.
[…]”

SOUZA, H.R.C. Em nome da crise contra o trabalho: A ‘reestruturação’ mundial da Volkswagen. [S.l.]: A Nova Democracia, dez 2006, nº 32.
Disponível em:

    Leandro Ferrari

    HÁ! Publicaram. Equívoco meu!

Leandro Ferrari

O Brizola tinha razão em duvidar do PT como movimento social:

“[…]e me faz desconfiar muito dele, me faz desconfiar MUITO dele e do PT como partido de natureza social, como movimento de natureza social[…]”
Brizola prevendo o futuro
http://www.youtube.com/watch?v=9ViENegKea4&feature=related

“[…]o Lula é a espuma da história, ele nunca, ele não tem, não teve problemas de entrar em águas mais profundas, o Lula está dentro do sistema, sua mente está dentro do modelo econômico, como do Fernando Henrique, só que o Lula vem baixo e o Fernando Henrique por cima, eles estão se acotovelando, as duas equipes, para executar o mesmo programa: neoliberal[…]”
O QUE O BRIZOLA PENSAVA DO LULA E O PT.flv
http://www.youtube.com/watch?v=RxYbd7Tvi7U&feature=relmfu

Mas o PT não foge à sigla: quer que as pessoas sejam eternos trabalhadores, sempre sob ordens, e as obedecendo, recebendo salário, mas sempre na condição de subordinados. O PT garante trabalhadores para o senhorio, e ponto.

Em 2002 vesti camiseta e boné do PT, comprei estrelinha, votei no Lula, nos dois mandatos, votei na Dilma, mas não se esconde mais o que está acontecendo. Um exemplo gritante foi o caso das demissões da GM em São José dos Campos.

Lembro-me muito bem da primeira redução de IPI do Governo PT, em 2003, que não foi repassada na totalidade aos consumidores. Do acordo com o FMI feito ainda pelo FHC, o PT tratou de obedece-lo à risca.

Nada mudou: a classe rica continua ficando mais rica, a classe média lutando para não cair, e a classe pobre vivendo de assistencialismo, sendo que, esta, quando consegue ir à classe média, é porque o conceito de classe média foi alterado para englobar rendas inferiores.

Eunice

Antes eu pensava que havia infiltrados em tudo. Mas pelo amadorismo da campanha eleitoral da direita e o amadorismo do Supremo eu não mais temo esse tipo de coisa.Entretanto é a cautela que nos tem salvado.

Eunice

Algumas pessoas ainda não entenderam que não precisamos de tutela.

Ex. O Supremo Tribunal não entendeu que sua função não é tutelar-nos
nas eleições.

Ex. 2 – Os Sindicatos não entenderam sua função. Não precisamos de sua tutela, e pior, esse tipo de tutela.

PAP

E onde estão os profissionais de RH e os psicologos? De novo se omitindo
como sempre fizeram, cujo lema “quem cala consente” só ajuda a elite
empresarial predatória deste pais e do capital rapinante estrangeiro.

Mariac

Com essas regras eu também quero ser capitalista.
Financiamento do BNDS, desvinculado de qq compromisso.
Desoneração e desobrigação de pagar impostos.

    Narr

    Como assim, com essas regras? Eu quero ser capitalista em qualquer situação! O que eu não aguento é ser proletário.

Mardones Ferreira

O que o Brizolinha acha de tudo isso?

Hermes

Deve ser ideia de algum neoliberal infiltrado na CUT,um quinta-coluna, alguém interessado em massacrar Lula e Dilma em 2014.

Bonifa

Muito cuidado com o sindicalismo de direita. Em nome de falsas ilusões circunstanciais está sempre pronto a renunciar a conquistas que custaram décadas de luta para os trabalhadores.

    Mário SF Alves

    É a eterna saída pela porta dos fundos. Encarar a questão estrutural que é bom mesmo, nada. Macunaímicos subdesenvolvimentistas. Isso, sim é o que são.

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