Jurista denuncia caos criado em BR pela Polícia Rodoviária Federal: “O aparato estatal quer o golpe militar”; veja

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes

No final da tarde de terça-feira (29/05), Tânia Mandarino, do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD), publicou no whatsaapp esta mensagem:

URGENTE Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira, membro do CAAD em Maceió, denuncia ação arbitrária da PRF!

Junto, o vídeo acima.

Na saída de Maceió, rumo a Messias. Fomos surpreendidos por um comboio da Polícia Rodoviária Federal  que, de repente, bloqueou aqui a BR e segundo a própria Polícia Rodoviária Federal seria um bloqueio por ordem do STF que decidiu que todos os movimentos grevistas  fossem retirados da rodovia na marra.

(…)

Nós estamos sendo constrangidos pelo próprio aparato estatal da polícia repressiva do país.  Que, na verdade quer o golpe militar (…).

Marcelo Tadeu foi juiz de direito no Estado de  Alagoas durante 25 anos.

Ele tem um histórico diferente da maioria dos integrantes do Judiciário local, salientou reportagem do Terra .

Por exemplo, ajudou a colocar, atrás das grades, integrantes de uma organização criminosa formada por policiais militares e mantida financeiramente por usineiros e políticos de Alagoas.

À frente da Vara de Execuções Penais, extinguiu o regime semiaberto porque ele era “de fachada” em Alagoas.

Ficou conhecido como “Pai dos Presos”.

“Um juiz garantista, que colocava em liberdade todo mundo que podia”, observa Tânia Mandarino.

Até que ele desagradou muito os poderosos  alagoanos.

Um dia, ele foi à farmácia comprar remédio para o filho. Vestia camiseta Polo vermelha e jeans.

Sete minutos após entrar na farmácia ouviu um tiroteio.

No chão, assassinado, um homem que estava no orelhão telefonando.

Era advogado. Estava também de camiseta Polo vermelha e calça jeans.

Os tiros eram para Marcelo Tadeu, o advogado morreu em seu lugar.

Mais tarde, achando que matara o “Pai dos Presos”, o pistoleiro entrou numa igreja e se confessou com um pastor.

Acabou entregando o então presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas.

Recentemente pediu a aposentadoria. Agora é advogado.

Em 11 de agosto de 2017, presidiu em Curitiba o Tribunal Popular da Lava Jato.

O Viomundo entrevistou-o sobre o episódio dessa terça-feira.

“Pau que nasce torto, morre torto”, diz, de saída.

“Da forma absurda como Dilma foi tirada do poder só poderia dar isso. Não deu e não vai dar certo”, frisa.

Viomundo – A que horas isso aconteceu?

Marcelo Tadeu – Mais ou menos  às 15h. A justificativa foi de que  haveria adiante uma manifestação de caminhoneiros. Porém, ela não estava impedindo que nós, que estávamos de carro, passássemos. Tanto que o lado esquerdo da BR estava totalmente livre.

Viomundo – Como começou?

Marcelo Tadeu — Eu estava indo para Caruaru, uma cidade vizinha daqui. Fui o primeiro da fila. Passou um comboio enorme da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

De repente, os carros param no meio da pista, os policiais descem e enchem de cones a estrada, dizendo que a ordem do Supremo Tribunal Federal era tirar os manifestantes da estrada. Só que bloquearam todo mundo, ninguém passava.

Viomundo —  A que distância os caminhoneiros estavam?

Marcelo Tadeu – Mais ou menos a 1 km, 1,5 km da gente. Estavam num posto grande, o Flecha, que dá assistência aos caminhoneiros.  Eles estavam aglomerados lá, como estão em todo o País.

Viomundo – Bloqueando a estrada?

Marcelo Tadeu – Não. Se estivessem, teria muito mais carros na pista. Eles não estavam bloqueando a passagem de ninguém. De onde estávamos, a gente via apenas uns caminhões do lado direito da pista.

No ponto em que os caminhoneiros estavam, não tinha NENHUM carro parado. Não havia qualquer impedimento. Os policiais rodoviários federais é que resolveram fazer essa arbitrariedade.

Viomundo – No vídeo, o senhor fala que eles querem um golpe militar.

Marcelo Tadeu – Essa é a disposição desse pessoal. Disso eu não tenho dúvida.

Viomundo – Agindo assim, as pessoas ficariam bravas e…

Marcelo Tadeu – Exatamente. A intenção é criar esse caos aparente, para que resulte naquilo que eles querem.

Eu mesmo tive de parar a gravação do vídeo, pois teve  motorista [de carro] que começou a gritar “ intervenção militar já!”.

Eu detonei a intervenção e começou uma discussão paralela entre as pessoas que estavam paradas.

Viomundo – No vídeo, o senhor diz que eles disseram que o bloqueio era ordem do Supremo.

Marcelo Tadeu – Na minha avaliação, nada a ver com o Supremo. Foi ação daqueles que foram além do que deveriam.

Por que nos aprisionar? Por que nos impedir de seguir o caminho?

Eu estava indo a Caruaru para resolver uma questão no cartório. Fui prejudicado, assim como as outras pessoas que estavam ali.

Por que uma decisão unilateral, quando tudo à frente estava tranquilo? Era só para criar o caos que criou.

Viomundo – Quanto tempo ficou no bloqueio? 

Marcelo Tadeu — Mais ou menos uma meia hora, 40 minutos, e  voltei para casa.

Viomundo – Quantos carros estavam parados?

Marcelo Tadeu – Talvez uns 50. Parte do pessoal se embrenhou pelos canaviais, para tentar cortar por dentro e ultrapassar o ponto em que os caminhões estavam parados.

Logo no começo, eu disse a um dos policiais: querido, está tudo livre ali. Por que vocês estão fechando tudo agora?

Ele me respondeu: “A ordem do Supremo Tribunal Federal é para acabar com todos os grevistas”.

Que conversa é essa?!, pensei.

Aí, percebi que não tinha mais o que fazer. Por isso, gravei o vídeo.

Viomundo – O que revela esse episódio?

Marcelo Tadeu –– Lamentavelmente mostra, infelizmente, a disposição irracional de uma parcela da população brasileira de pleitear, suscitar, desejar que os militares tomem conta do País.

Viomundo — E a atitude dos policiais rodoviários federais ?

Marcelo Tadeu — Isso é tão sério que fiz questão de registrar em vídeo. Mostra o aparato estatal ir de encontro ao próprio Estado, incentivando as pessoas a cometerem crime contra a segurança nacional.

Está na Constituição: invocar a quebra da ordem democrática é crime.

Isso está acontecendo em várias partes do Brasil.

Aqui, em Maceió, amanheceu um grupo pedindo intervenção militar em frente à Polícia Federal, que é a nossa polícia judiciária, e ela não fez nada. Também na cara do Ministério Público Federal, que também não fez nada.

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Comentários

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RONALD

Tudo que está começando a acontecer no Brasil é o mesmo que já acontece na Venezuela há alguns anos e tem a pata dos EUA.
Vejam em: https://www.resistir.info/venezuela/stella_calloni_mai18.html

Com bem disse o ex-secretário adjunto americano Paul Craig Roberts: ” enquanto os EUA não colapsarem, o mundo não estará seguro”.

Assino embaixo !!!!

    leonardo-pe

    Só que o Povo venezuelano NÃO É TROUXA COMO É O BRASILEIRO! há 20 anos que esse povo vem dando(e deu mais uma)Vitória ao chavismo e a sua soberania. aqui, se levou na galhofa a paralisação dos caminhoneiros além das altas doses de pagamento de MICO tanto interno como externo. os Estados Unidos já viram que Lá na Venezuela vai ser muito difícil derrubar aquele regime. já aqui é tão fácil que eles se assustaram com a tamanha facilidade que estão Destruindo o brasil.

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