Jean Wyllys: Por que a Band transmitiu o discurso de Lula mas a Globo não?; uma análise da cobertura de duas manifestações

Tempo de leitura: 3 min

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As capas de O Globo, que nos foram enviadas por Gerson Carneiro: como alertou Lula em seu discurso na Paulista, é “Brasil” contra “aliados de Dilma e Lula”; Gregório Duvivier, no Facebook, compartilhou o recorte de O Globo em 1964: o jornal de Roberto Marinho pressionava o Congresso a “eleger” logo o golpista Castelo Branco, escolhido pelos Estados Unidos, para “dominar” os “agitadores e comunistas”.

CADÊ O JORNALISMO?

por Jean Wyllys, no Facebook

A cobertura jornalística das manifestações do último domingo e da sexta-feira em boa parte dos veículos de comunicação, especialmente a rede Globo e a Globo News, confundiu gravemente o jornalismo com a propaganda. Vejamos alguns exemplos disso.

Nas manifestações do domingo (a favor do impeachment), houve transmissão ao vivo por esses canais de TV durante o dia inteiro, quase sem interrupções. Nas manifestações da sexta-feira (contra o impeachment), o foco estava nos estúdios e nas falas de âncoras e repórteres, com flashes e breves transmissões desde os locais das manifestações disputando o tempo com outras notícias. O enquadramento das imagens, no domingo, era o mais favorável e permitia ver que tinha muita gente, enquanto na sexta-feira, a câmera estava sempre muito perto ou muito longe, produzindo o efeito oposto.

Em algumas cidades, inclusive, as imagens mostraram o momento em que as pessoas “estão começando a chegar” e, tempo depois, o momento em que “a manifestação já acabou”, omitindo o momento mais importante: quando a manifestação estava acontecendo. No domingo, esse foi o momento privilegiado.

Nas manifestações do domingo (“atos espontâneos da cidadania”), os manifestantes eram protagonistas, ou seja, tinham direito a falar, a dizer por que estavam ali. Nas manifestações da sexta-feira (“manifestações governistas”), essa narrativa era assumida pelo cronista. E alguns fatos relevantes que faziam parte da notícia não foram ditos: diferentemente do domingo, na sexta-feira não houve catracas liberadas no metrô de São Paulo; pelo contrário, a “falta de troco” demorava as pessoas que queriam viajar.

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Na Paulista, domingo, a Globo foi personagem central

Contudo, o momento mais vergonhoso foi quando começou a fala do ex-presidente Lula. “Estamos com problemas no áudio, vamos pedir ao nosso repórter que conte o que está acontecendo”. Como assim? Você pode amar ou detestar o Lula, pode acreditar ou não no que ele diz, ou pode (como eu espero que você faça!) fazer uma leitura crítica, mas para isso você, cidadão, cidadã, tem direito a ouví-lo! Como é possível que a fala dele não tenha sido transmitida ao vivo?

Qual é o critério de “notícia”? (Vale aqui fazer uma ressalva: a Band News transmitiu o discurso; pelo menos a audiência desse canal teve seu direito a se informar respeitado). Passamos dois dias inteiros assistindo sem parar pela televisão, em repetição continuada como no velho cinema, às conversas privadas do ex-presidente (uma espécie de Big Brother involuntário do qual ele não sabia que estava participando) e agora não temos direito, como audiência, público e cidadania, a ouvir o que ele diz num comício com cerca de cem mil pessoas na avenida Paulista? Não é notícia?

Qual é o medo? Deixem as pessoas assistirem tudo e tirarem suas conclusões sozinhas! Até porque, diferentemente do que a narrativa da oposição de direita, dos principais veículos de comunicação e também do governismo pretende instalar, não há apenas dois lados nessa história. A realidade é muito mais complexa e não podemos reduzir a atual conjuntura a uma opção entre adesão ao governo e adesão à direita tradicional.

Tem muita gente que, como eu, milita na oposição de esquerda ao governo Dilma mas é contra o impeachment porque, até o momento, não há provas concretas que justifiquem esse processo que está sendo conduzido de forma ilegítima por um presidente da Câmara investigado pelo STF por corrupção e lavagem de dinheiro, e porque é a favor da democracia! Muitas dessas pessoas foram ontem às ruas e tanto a mídia quanto muitos governistas erram se acreditam que todos os manifestantes eram simpatizantes do governo e do PT. Essas vozes não são ouvidas nos telejornais, mas existem.

Eu não vejo problema no fato de que cada veículo de comunicação tenha uma posição política. Na maioria dos países, tem jornais de esquerda e de direita (no Brasil, infelizmente, não há esse pluralismo), mas o que não pode é a narrativa enviesada não deixar lugar para a notícia. O jornalismo precisa informar e, depois, se quiser, pode dar sua opinião, deixando claro que é opinião. É a diferença entre a notícia, a coluna e o editorial.

A minha pergunta é: cadê a notícia? Cadê o jornalismo?


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Comentários

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lulipe

A Globo não transmitiu porque não tem obrigação para tal, assim como a Record, SBT, também não transmitiram….Entendeu ou precisa desenhar???

Lenita

Fora rede esgoto !!

Lenita

Vergonhosa simplesmente essa midia arbitraria, violenta e abusiva. O fim desse grupo de interesses financeiros que so ve o povo como gado mediatico esta com seus dias contados. Rede esgoto esta indo para o esgoto e nao ha nada que possa fazer para evitar esse fim. Seus atos sinistros recairao sobre si mesmos.

Gustavo

A Record news e a rede record de televisão também não transmitiram a manifestação e o discurso do Lula

Urbano

É quem distribui tarefas…

Sérgio Rodrgues

O que esperar de golpistas?….

Pra cima deles!…Às ruas!…É disso que eles têm medo!…

Maria

Ao menos duas grandes emissoras já apareceram na mídia como sonegadoras. Têm interesse no golpe.

Todas as TVs foram descaradas em sonegar as passeatas. Tudo que ele diz é verdade.

As TV s evangélicas deveriam por lei manter jornais a cada x horas e mostrar fatos. O Protesto passou batido para elas. Mesmo na Record os vários flashes do dia não incluíram o inicio dos protestos. Vergonha.

Fernando Borgomoni

Jean Willis deveria explicar a ausência do seu partido na manifestação da Paulista. Jean Willis, o midiático revolucionário, e seu partido sectário de esquerda, querem, antes de tudo, o poder. Até aí tudo bem, mas querem a qualquer preço e têm uma estratégia muito simples, também utilizada pelo PSTU, desde o mensalão em 2005, quando ambos os partidos se formaram, advogando o discurso do DEM e do PSDB, da moralidade e anti-corrupção. Essa resposta é: nascemos na oportunidade surgida da crise do governo do PT e cresceremos muito mais se ele se esfrangalhar. É a política do umbigo, característica da ultra-esquerda. Destroem tudo a seu redor e depois destroem a si mesmos.

FrancoAtirador

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DOMINGO EM MONO
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“Na outra manifestação [de domingo],
se não fosse pela bandeira e as babás,
poderia dizer que foi no norte da Europa”
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MaGon (Mário dos Santos Gonçalves),
Em Comentário Irônico no Portal GGN.
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[Sobre o Monocromático Protesto de 15/3
Convocado por um Monopólio de Mídia
Estimulado por Monocrata do Paraná]
.
(http://jornalggn.com.br/usuario/magon)
.
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Luciano

Lendo a matéria senti um incômodo em algumas colocações do deputado, por que nutro em dados momentos simpatia por sua coragem no enfrentamento à figuras que jamais deveriam estar na cena política e nem em casas de famílias decentes. Entretanto, se iguala aos ” encima do muro” que logo se coloca como oposição de esquerda ao governo para depois justificar ou explicar sua postura crítica ao pedido de impeachment. Todos sabemos que qualquer partido tem como objetivo o poder, ou seja, ser governo. Com o Psol não é diferente. Nesse momento, de crise institucional grave,um eventual golpe não afetará apenas o PT, mas toda esquerda que será varrida do país e o PSOL sente que a sobrevivência do PT é fundamental para sua sobrevivência. A crítica contra o PT que, segundo o deputado, erra ao pensar que todos os manifestantes eram petistas. Isso não é verdade. A avaliação que o PT faz é que a maioria dos manifestantes não eram ligados a nenhum partido.

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