Intervencionista chama Rosa Weber de “salafrária” e diz que TSE e STF são corruptos; para ministro, Eduardo Bolsonaro pode ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional

Tempo de leitura: 6 min

Da Redação

O alerta em vídeo do coronel do Exército Carlos Alves, do Rio de Janeiro, dá uma medida do ânimo dos bolsonaristas nos porões da campanha (trecho acima).

Ele, que se declara intervencionista, diz que a presidenta do TSE, Rosa Weber, é “salafrária e incompetente”.

Diz que Bolsonaro terá entre 80% e 90% dos votos — menos que isso é fraude.

Afirma que duas mil urnas eletrônicas foram fraudadas no primeiro turno.

“Não te atreva a ousar aceitar esta afronta contra o povo brasileiro”, diz ele se dirigindo a Weber, a respeito das denúncias do PT e do PDT contra o esquema de impulsionamento de notícias pelo whatsapp denunciada pela Folha de S. Paulo.

Alves representa o extremo da extrema-direita, mas dá uma ideia da sandice que circula, especialmente entre militares da reserva — muitos dos quais apoiam Bolsonaro abertamente.

Alves, obviamente, mente: “Tentaram colocar um presidente João Goulart, um cara rico mas comunista, o povo brasileiro pediu e as Forças Armadas e o Congresso entraram em ação”, declara sobre o golpe de 1964.

O golpe, como se sabe, foi uma ação cívico-militar contra um presidente constitucionalmente eleito — e, contrariamente ao que diz Alves no vídeo, não aconteceu a pedido do Congresso.

João Goulart nunca foi comunista, mas um trabalhista que pregava reformas de base.

Em áudio anterior, quando o STF votava por colocar ou não o ex-presidente Lula em liberdade, Alves ameaçou publicamente prender os 11 ministros do STF.

Embora o filho de Jair Bolsonaro tenha se afastado das declarações que fez em vídeo sobre o fechamento do STF, a opinião dele representa uma parcela considerável dos eleitores do capitão reformado.

Diferentemente do que o deputado agora faz parecer, foi a própria campanha de pessoas ligadas a Bolsonaro, através do whatsapp, que convenceu boa parte do eleitorado de uma falsa “fraude” nas urnas eletrônicas e da necessidade do uso de força contra as instituições.

REPERCUSSÃO

O Supremo Tribunal Federal é uma instituição centenária e essencial ao Estado Democrático de Direito. Não há democracia sem um Poder Judiciário independente e autônomo. O País conta com instituições sólidas e todas as autoridades devem respeitar a Constituição. Atacar o Poder Judiciário é atacar a democracia. Dias Toffoli, presidente do STF, reagindo à fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro

Já adverti o garoto. Jair Bolsonaro, sobre o filho deputado federal de 34 anos de idade

Arroubo juvenil. General Hamilton Mourão, candidato a vice, sobre Eduardo Bolsonaro, de 34 anos de idade

Alexandre de Moraes diz que frase sobre fechamento do STF merece ser apurada pela PGR por crime contra segurança nacional

Ministro do STF criticou nesta segunda (22) frase do deputado Eduardo Bolsonaro, sem citá-lo nominalmente. Em vídeo de 4 meses atrás e que repercutiu neste fim de semana, Eduardo Bolsonaro disse que o STF poderia ser fechado se houvesse tentativa de impugnação da candidatura do pai dele. Nessa gravação, ele disse que, para fechar o STF, ‘basta um soldado e um cabo’. Celso de Mello disse que declaração é ‘inconsequente e golpista’.

Por Tahiane Stochero , G1 SP

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pediu na manhã desta segunda-feira (22) que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue a frase do deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL) sobre a Corte como crime previsto na Lei de Segurança Nacional.

O deputado, filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), disse que, “se quiser fechar o STF […] manda um soldado e um cabo”. Ele falava, durante palestra realizada antes do 1º turno, sobre a possibilidade de o Supremo impugnar a candidatura de seu pai (leia mais abaixo).
Sem citar o nome de Eduardo Bolsonaro, Alexandre de Moraes qualificou a frase como “débil”, em evento sobre os 30 anos da Constituição Federal, no Ministério Público de São Paulo.

Segundo Moraes, a fala caracteriza crime previsto na Lei de Segurança Nacional, por provocar animosidade entre o Judiciário e as Forças Armadas. Por duas vezes, o ministro repetiu uma frase do ex-presidente dos Estados Unidos e autor da declaração de Indenpendência do país, Thomas Jefferson, de que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.

“Estas afirmações merecem por parte da Procuradoria-Geral da República, merecem imediata abertura de investigação porque, em pese se deva analisar o contexto da declaração, isso é crime da Lei de Segurança Nacional, artigo 23 inciso III, incitar a animosidade entre as Forças Armadas e instituições civis. Isso é crime previsto na Lei de Segurança Nacional”, afirmou.

“Nós ainda temos que conviver com declarações débeis feitas por um membro do Parlamento do país”, disse ele.

“É algo inacreditável que no Brasil, no século XXI, com 30 anos da Constituição, ainda tenhamos que ouvir tanta asneira de um representante público. Uma das frases totalmente mais atuais, de Thomas Jefferson, é que o preço das instituições funcionando. O preço da democracia é a eterna vigilância”, completou.

Para o ministro, a “frase é totalmente atual no Brasil”, “O preço da liberdade, da democracia, o preço da manutenção do estado de direito, o preço é a eterna vigilância. Nada justifica o fechamento de instituições com legitimidade constitucional. Nem o desconhecimento da história, dos pilares básicos da democracia, o que significa a separação de poderes, o que significa pesos e contrapesos, nada isso justifica este tipo de declaração”, completou.

Procurada pelo G1, a Procuradoria-Geral da República informou que não irá comentar o assunto.

O ministro Celso de Mello, do STF, também reagiu à fala de Eduardo Bolsonaro. Em nota publicada nesta segunda-feira (22) no jornal “Folha de S.Paulo”, ele disse: “Essa declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição da República!!!! Votações expressivas do eleitorado não legitimam investidas contra a ordem político-jurídica fundada no texto da Constituição! Sem que se respeitem a Constituição e as leis da República, a liberdade e os direitos básicos do cidadão restarão atingidos em sua essência pela opressão do arbítrio daqueles que insistem em transgredir os signos que consagram, em nosso sistema político, os princípios inerentes ao Estado democrático de Direito”.

Em um vídeo que circula nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e parlamentar que teve a maior votação nesta eleição, afirmou que “se quiser fechar o STF […] manda um soldado e um cabo”.

Em tom de ameaça, durante uma palestra feita antes do primeiro turno das eleições, ele dissse que se o STF impugnar a candidatura do pai “terá que pagar para ver o que acontece”. “Será que eles vão ter essa força mesmo?”, pergunta.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de o Supremo Tribuna Federal impedir que Bolsonaro assumisse a presidência se ele vencesse no primeiro turno das eleições e se o Exército poderia agir nesse caso, o deputado respondeu:

“Aí já está encaminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver. E aí quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você tá indo para um pensamento que muitas pessoas falam, e muito pouco pode ser dito. Mas se o STF quiser arguir qualquer coisa – recebeu uma doação ilegal de cem reais do José da Silva e então impugna a candidatura dele. Eu não acho isso improvável, não. Mas aí vai ter que pagar para ver. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, você sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo não.”

Ele continuou: “O que que é o STF, cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que que ele é na rua? Você acha que a população… Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF?”

Eduardo Bolsonaro se manifestou numa rede social sobre o vídeo neste domingo (21).

Ele disse que apenas respondeu a uma “hipótese esdrúxula” sobre a impugnação de Jair Bolsonaro sem qualquer fundamento.

Ele afirmou que jamais acreditou nessa possibilidade, mas que, se algo parecido acontecesse seria algo fora da normalidade democrática. E que citou apenas uma brincadeira que diz ter ouvido na rua.

Eduardo Bolsonaro disse que se foi infeliz e atingiu alguém, pede desculpa tranquilamente e diz que não era a intenção dele.

Diz que a divulgação do vídeo não é motivo para alarde e visa a atingir o pai, Jair Bolsonaro.

Eduardo diz que tem a consciência tranquila e que o momento é de acalmar os ânimos que, segundo ele, são inflados propositadamente para criar uma atmosfera de instabilidade.

Repercussão

Ao ser questionado sobre a afirmação neste domingo (21) e antes de saber que a fala era de seu filho, Jair Bolsonaro afirmou: “Não existe crítica sobre fechar STF. Se alguém falou em fechar STF, precisa consultar um psiquiatra”. Quando foi informado ao presidenciável que era seu filho que havia falado sobre fechamento do Supremo, ele disse: “Eu desconheço. Duvido. Alguém tirou de contexto.”

Durante entrevista em São Luís (MA), Haddad classificou a família de Bolsonaro como “grupo de milicianos” e “gente de quinta categoria”, ao ser perguntado sobre as declarações de Eduardo Bolsonaro no vídeo.

“O filho dele chegou a gravar um pensamento, se é que pode se chamar assim o que eles falam, em que diz que vai fechar o Supremo Tribunal Federal, se eles desafiassem o Poder Executivo. Mandariam um cabo e um soldado, nem de jipe precisaria”, afirmou Haddad. “Esse pessoal é uma milícia. Não é um candidato a presidente. É um chefe de milícia. Os filhos deles são milicianos, são capangas. É gente de quinta categoria.”

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou a fala de Eduardo Bolsonaro no Twitter: “As declarações do dep. E Bolsonaro merecem repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras, de qualquer partido, contra leis, a Constituição.”

A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, afirmou: “Eu tive conhecimento, me foi trazido pela assessoria o vídeo e me foi trazido ao conhecimento que o vídeo já foi desautorizado pelo candidato. De qualquer sorte, o que eu tenho a registrar, embora não sendo presidente do Supremo Tribunal Federal e sim do Tribunal Superior Eleitoral, que no Brasil as instituições estão funcionando normalmente e juiz algum no Brasil… os juízes todos no Brasil honram a toga e não se deixam abalar por qualquer manifestação que eventualmente possa ser compreendida como de todo inadequada.”

Leia também:

Celso de Mello sobre declaração de Eduardo Bolsonaro: “Inconsequente e golpista”


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Comentários

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Fabiana

Acho bem engracado, quando o deputado waldih damous, propôs em fechar o TSE, não foi esse escândalo. Queria entender, pq tanta perseguição contra Bolsonaro?

Mario cezar José de farias

Desde quando um corenlzinho de m….pertence a alta cúpula das forças, coroner é no máximo estafeta de general

James

O que diz o Congresso Nacional sobre esse estrupício golpista?

A Câmara dos Deputados endossa as palavras desse elemento?

Fernando Lopes

O simples fato desse coronel ainda estar solto expõe a desmoralização do poder dos Supremos. Os crimes são patentes. E os menores são ofensa, difamação, acusação sem provas…
Está posta em questão a ordem constitucional do país!
Quem, dos Poderes, ousará defendê-la? Quem das autoridades constituidas ousará não se submeter às hordas?

    Ana Lú

    Concordo contigo, na pratica o TSE aparece de pernas tremulas e esse não era para ser seu papel.

Lukas

Falem a verdade: estão com saudades de brigar com o pessoal do PSDB, não é? Eram felizes e não sabiam.

Edgar Rocha

Pelo bem da língua portuguesa, Rosa Weber deveria reagir, caso contrário, vão ter que atualizar o dicionário de língua portuguesa:
Toga: (subst. comum). fralda geriátrica; vestimenta de cor preta que permite ao usuário aparentar ser maior do que realmente é (ex. “Rosa intimidou-se, mas rodou a toga); roupa melada com substância fétida; (ex.: “obrou na toga e sentou em cima”); adjetivação: “fulana viu o militar ficou toda togada”.

Paulo Nogueira

Num pais com autoridades sérias esse bosta golpista já estaria atras das grades.

    Ana Lu

    Pois é… o judiciário só fez lambança nos ultimos tempos e permanece fazendo agora quando não tem nenhuma ação contra esss absurdos, isso enfraquece a democracia e coloca o judiciário num papel ridiculo e medroso e aí esses caras como Bolsonaro e seus filhos (uma verdadeira gangue) nadam de braçada. No fundo no fundo o TSE nos envergonha a todos, cada um a sua maneira.

henrique de oliveira

Mediante tudo que vimos o judiciário fazer ate aqui desde o golpe , esse cara não deixa de ter razão o $TFede e o $TE são realmente composto por salafrários e covardes , que apoiaram e foram fiador do golpe , agora que vão se ferrar tem que abaixar as calças e bater continência para o nazista , vão pagar pelo que fizeram ao PT.

Nelson

“Não há democracia sem um Poder Judiciário independente e autônomo. O País conta com instituições sólidas e todas as autoridades devem respeitar a Constituição.”

Muito bem. Acho que deveria ser estabelecido, como dever de casa, a todos os ministros do STF e juízes das mais variadas instâncias, a leitura dessas duas frases 50 vezes ao dia, por dias e semanas a fio.

De repente, essa turma toda, muitos deles dotados de “notório saber”, se convenceria, de uma vez por todas, de que o “Supremo Tribunal Federal é uma instituição centenária e essencial ao Estado Democrático de Direito”.

LUIZ HORTENCIO FERREIRA

Isso tudo parece um teatro, o pessoal ligado à candidatura do Bolsonaro declara coisas para que alguem do STF de pronuncie. O interessante é que cada hora é um diferente que se manifesta no STF. Para logo depois um outro defender ou atacar a opiniao do primeiro. Um verdadeiro teatro para ludibriar o povo brasileiro que leva tudo na brincadeira, faz piada de tudo…. a a coisa está acontecendo… conforme planejado… com Supremo e tudo!!! Lembram desta frase????

Alves

Esses ministros do STF são uns Gilmares Mendes. É tudo igual.
Só tão explorando o ódio que o povo tem do Supremo.
Essa história de prender inocente e soltar culpado pega muito mal.

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