Gustavo Gindre: Só a Globo sobrevive a médio prazo

Tempo de leitura: 2 min

Charge de Vitor Teixeira sobre o próximo 7 de setembro, enviada via Facebook, originalmente não acompanhou o texto

Analisando o ranking dos maiores grupos de comunicação do Brasil

 por Gustavo Gindre, em seu blog

1) A OI, “super tele” que o governo Lula ajudou a criar quando alterou a regulamentação e permitiu que a Telemar comprasse a Brasil Telecom, tem um endividamento oneroso cerca de 50% maior do que a soma dos endividamentos de todas as suas principais concorrentes (Telefonica, Embratel, TIM, Claro, NET, GVT e Algar). É difícil imaginar como essa empresa conseguirá lidar com uma dívida tão grande, com as enormes demandas de investimentos do mercado de telecomunicações e com a sanha por dividendos demonstrada por seus controladores (e que levou à demissão de seu ex-presidente, Francisco Valim).

2) A receita líquida da Globo (mesmo sem incluir os jornais e as rádios do grupo) é mais de seis vezes superior à receita líquida da Abril S.A., o segundo maior grupo de mídia do Brasil. Se forem acrescentadas a receita líquida do SBT, do grupo OESP e da RBS, mesmo assim a soma não alcança um terço da receita líquida da Globo.

3) O mesmo fenômeno se repete no lucro líquido da Globo. Se somarmos Abril, SBT, OESP e RBS, o lucro líquido da Globo é cerca de 11 vezes maior.

4) Só os jornais da família Marinho (Infoglobo) já são hoje o terceiro maior grupo de mídia do país, atrás apenas da própria Globo e da Abril.

5) O endividamento oneroso da Globo é menor do que seu lucro líquido obtido apenas em 2012.

6) Já o endividamento oneroso da Abril S.A. é mais de dez vezes superior ao patrimônio líquido da empresa. Isso ajuda a explicar o tamanho da crise da Abril e porque os Civita começam a apostar mais em educação do que em mídia.

7) Embora seja o homem mais rico do mundo, Carlos Slim ainda sofre para conseguir lucros expressivos de suas empresas brasileiras (Embratel, Claro e NET). Principalmente a Claro segue sendo seu calcanhar de aquiles e mais uma vez a empresa fechou o ano com lucro líquido negativo.

8) Os grandes conglomerados mundiais de comunicação (Warner, Disney, Viacom, etc) não constam dessa relação porque suas empresas no Brasil (distribuidoras de cinema e programadoras de TV paga, por exemplo) são meros escritórios que repassam o lucro obtido no país para suas matrizes no estrangeiro.

8) Para quem tinha alguma dúvida, os balanços de 2012 são definitivos. A Globo é o único grupo de comunicação de capital brasileiro capaz de sobreviver no médio prazo. Todos os demais são minúsculos frente aos concorrentes estrangeiros e serão tragados ou terão que se contentar em ocupar nichos bem específicos. A ausência de políticas públicas gerou uma situação gravíssima para o futuro de nossa democracia.

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Comentários

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Eduardo

Parabéns ao Sistema Globo! Roubar galinhas todos sabem! Um império deste tamanho, dominando governos e mentes anos após anos, só mesmo com ajuda condicional de ditaduras longas e maléficas!

Pedro Macambira

“lucro líquido negativo”? É uma forma tucada de dizer prejuízo?

FrancoAtirador

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Ah, o BNDES e o ‘REFIS DA CRISE’.

O que não fazem para salvar os monopólios

e os empresários fraudadores da Economia.
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roberto amorim

É difícil compreender qual a ligação destes oligopólios da imprensa com a democracia. O que a Veja tem a ver com a democracia que necessite de “políticas públicas” para sua sobrevivência? Como afirma o próprio comentarista,se até a OI com favorecimento da legislação não vai conseguir sobreviver, qual a política pública que lhe seria favorável? É muito interessante isso: quando um empreendimento privado dá lucro, ele é todo do empresário que, inclusive, grita contra qualquer tipo de imposto. Se dá prejuízo, aí é preciso políticas públicas para salvar o seu empreendimento, isto é, o prejuízo – este sim – é necessário que seja dividido com a sociedade. Política pública, meu amigo, é regulamentar para acabar com esses oligopólios.

    Vinícius

    Acho que ele quis dizer que piora a situação da democracia na medida que a concentração se intensifica, mas concordo com o que você colocou.
    O que eu gostaria de saber é como empresas como Claro e NET dão prejuízo, afinal atuam num setor de concorrência relativamente baixa.

Joselito

É, mas se a receita e a polícia federal agir, cobrando os R$1,2bilhões, e utilizando da recente jurisprudência do domínio de fato, além de quebrar, enjaula alguns dos poderosos.

demetrius

E a gente aqui, sonhando que os R$615 milhões em impostos poderiam dar uma baqueada na globo. Não faz nem cócegas.

R Godinho

As proporções são mais ou menos as mesmas do mercado de quando a Globo surgiu e a Tupi / Diários Associados eram o grande monstro.
Faltou falar sobre o enorme passivo oculto da Globopar, controladora de todo o grupo. Se o fisco apertar só um pouqinho, só com recolhimentos de FGTS, Previdência e IR elididos via pejotização o grupo iria à lona. Imaginem pagando milhões a apresentadores e artistas diversos usando o expediente de contratá-los como se fossem pessoas jurídicas, quanto, a cada ano, deixou de ser recolhido? Só da dupla FGTS+INSS dá um mínimo de 36% sobre os salários dessas pessoas, e sua prescrição é vintenária…

RicardãoCarioca

“A ausência de políticas públicas gerou uma situação gravíssima para o futuro de nossa democracia”.

O que o articulista quer? Bolsa PiG???

Todo incompetente nesse país deveria, DEVERIA, receber ajuda do governo?

Ah! Qualé…

    Matheus

    Diga-se de passagem, já existe Bolsa-PIG: chama-se propaganda oficial. E surgiu muitas décadas antes do Bolsa-Família…

    Gostaria muito de ver um governo realmente forte e corajoso cortar a verba da propaganda oficial e colocar a Receita Federal no encalço dos sonegadores da mídia. Nem a Rede Globo sobreviveria.

    Quem sabe o fim do Bolsa-PIG não serviria para abrir o mercado a uma mídia mais plural? O outro lado poderia ser o fim da perseguição às mídias comunitárias e o fim da asfixia da televisão pública.

Matheus

Então são a Oi e a Abril que “garantem a democracia” no Brasil?
Só rindo. Esses caras são muito engraçados.

José Fernandes

foram vitimas da própria ganancia e ao invés de investirem honestamente optaram por assinar contratos com governos corruptos do PSDB,no caso da abril.mamaram nas teta do PSDB.agora e tarde…no caso da globo, a hora dela chegará. o universo inteiro esta conspirando pra isso.

    Mauro Assis

    Amigão, onde vc esteve nos últimos 10 anos? Hibernando?

Gustavo Gindre

Não foi isso que eu disse.
O que eu disse é que falta de políticas públicas permitiu que estivéssemos em um momento onde trafegamos de um oligopólio constituído por grupos nacionais para um oligopólio formado basicamente por grupos transnacionais. Se o exercício da democracia na mídia já era difícil com grupos cujo controle era nacional, tende a ficar ainda mais difícil com grupos transnacionais, de controle acionário difuso e pouco submetidos à legislação brasileira (ainda mais com a migração para a Internet e sua lógica transfronteira).
Em momento algum eu falei que nossa democracia depende dos antigos senhores da mídia nacional, como os Civita, os Frias e os Mesquita. Muito pelo contrário, aliás, estes senhores têm um histórico de desserviço à nossa democracia.
O texto, na verdade, busca ser um convite ao raciocínio complexo, diante de uma realidade cada vez mais complexa.

    José Livramento

    A Oi ta vendida já… primeiro foram parte dos ativos pro Santander, agora o resto mesmo saíra em algumas semanas.

    Jotage

    A solução me parece ser simples.
    É só estas companhias não pagarem imposto como a globo e está tudo resolvido. Está salva a democracia deles.
    Alguns calotes nos usuários está descartado, pois já estão dando e não resolveu.

    roberto amorim

    Nem o raciocínio é complexo, e a premissa é simples. De brasileiros, esses oligopólios nacionais só têm o endereço jurídico. Cresceram defendendo os interesses dos grupos financeiros internacionais e, agora mesmo, defendem a alta dos juros em defesa dos grandes rentistas. Foram ardorosos defensores da ditadura que infelicitou por tantos anos o Brasil. Agora, surge esse raciocínio elaborado de que meia dúzia de oligopólios são um “plus” para a nossa democracia. Pelo contrário, sem esses grupos a pauta dos problemas brasileiros será mais vasta, sem a interdição dos debates como fazem atualmente oligopólios. Que falta pode fazer à democracia o grito seletivo de uma moralidade “demostiana”? Que liberdade de imprensa é esta que só temos o direito de assistir o monólogo medíocre de um Merval Pereira? Que mídia instrutiva é esta que nos oferece novelas como ponto alto da educação televisa? Tomara que parte de suas previsões estejam certas: já vão tarde. E não esqueçam de levar junto a Globo, nem que seja um pouco depois. Era só o que faltava…

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