Governo argentino fixa data para grupo Clarín cumprir a lei

Tempo de leitura: 3 min

Governo argentino estabelece data para forçar ‘Clarín’ a abrir mão de emissoras

24 de setembro de 2012 | 3h 02

BUENOS AIRES – O Estado de S.Paulo

O governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, lançou no fim de semana a mais dura advertência pública e direta ao Grupo Clarín — que edita o jornal de mesmo nome –, estabelecendo o prazo para pôr em vigência uma draconiana lei de mídia, aprovada em 2009, que proíbe empresas de mídia de manterem mais de uma emissora de TV na mesma praça.

Num inusitado anúncio de mais de quatro minutos levado ao ar durante a transmissão dos jogos de futebol deste fim de semana, o governo argentino fixou a data de 7 de dezembro como limite para a execução das medidas, que forçaria o Clarín a se desfazer da maior parte dos 240 canais a cabo, 4 abertos e 10 emissoras de rádio de sua rede. Na mensagem, o Grupo Clarín é qualificado de “uma verdadeira cadeia nacional ilegal”.

Segundo o governo, nessa data expira uma medida cautelar impetrada pela empresa contestando a nova legislação. “O Estado argentino não vai expropriar meios de comunicação. O Estado argentino não vai estatizar meios de comunicação. O Estado argentino vai garantir as fontes de trabalho e o cumprimento de uma lei que democratiza os meios de comunicação na República Argentina”, dizia a mensagem na TV.

Desde o início da queda de braço com o governo, o Clarín teve cancelados contratos de publicidade oficial, sofreu várias devassas fiscais, teve caminhões bloqueados por piquetes pró-governo que impediram o jornal de circular e viu o Estado assumir — por força de lei — o monopólio da distribuição de papel-jornal no país.

Desse último processo, que culminou com a expropriação da empresa Papel Prensa, derivaram ainda acusações ao Clarín e a outro importante jornal argentino, La Nación, que podem resultar no julgamento de seus proprietários por violação de direitos humanos – sob o argumento de que eles colaboraram com os ditadores do regime militar (1976-1983). A dona do Clarín, Ernestina Herrera de Noble, enfrentou durante anos a acusação de ter roubado e criado como se fossem seus filhos dois supostos descendentes de vítimas da ditadura, até que exames de DNA desfizeram tal suspeita.

Diretores do Grupo Clarín responderam de imediato ao anúncio do governo fazendo circular sua própria mensagem.

Na visão da empresa, a própria lei impulsionada por Cristina estabelece o prazo de um ano após 7 de dezembro para recursos legais que questionem as medidas administrativas a serem adotadas pelo órgão técnico do governo que controla o setor de comunicações. “Qual a intenção deste relato oficial?”, pergunta o Clarín em seu anúncio. “Preparar o terreno para outra coisa? Acabar com o estado de direito na Argentina?”

“O anúncio do governo se difunde nove dias depois de os veículos do Grupo Clarín terem sido praticamente os únicos que cobriram maciças mobilizações e panelaços contra o governo em várias partes do país, enquanto os meios que dependem direta ou indiretamente do Estado decidiram não transmitir ou minimizar esses protestos, em sintonia com a linha determinada na Casa Rosada”, prossegue a nota da empresa.

Críticos da lei kirchnerista dos meios de comunicação afirmam que, além de calar vozes menos simpáticas ao governo, ela também abre a possibilidade de favorecer empresas de telefonia, sindicatos e instituições aliadas à Casa Rosada com a redistribuição das licenças de transmissão das emissoras de rádio e TV. Pela legislação, o total de emissoras que operam no país deve ser dividido em três terços: um para emissoras de capital estatal, outro controlado por entidades sem fins lucrativos – como igrejas, sindicatos e fundações – e o último para canais comerciais. / AP

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Augusto Pinheiro

Essa é a briga que os políticos brasilerios tem medo de comprar, mesmo tendo a lei ao seulado. Por esse motivo, ficamos todos à Mercê dessa corja golpista que, a exemplo do que aconteceu na Argentina, colaborou com os anos de chumbo no Brasil.

Roberto Locatelli

Pois é, taí a prova do ENORME poder da mídia. Mesma uma presidenta forte como Cristina Kirchner tem que fixar uma data (!!) para que o Clarin cumpra a lei.

Julio Silveira

São atos como esses que levam as midias corporativas a alcunhar governos como populistas. Chavão para quase todos os governos que se preocupam em democratizar um pouco mais os meios, qualquer meio, que fera os interesses dos exclusivistas.

Angela Liuti

O Estadão deveria se preocupar com a globo e et caterva aqui no Brasil que estão “fora da lei”. Grandes conglomerados de midia pertencentes a pouquíssimos donos, isto é negócios de poucas famílias.

J Souza

Por aqui, o “Clarin” brasileiro está lentamente dando o golpe branco, cooptando para tal o poder judiciário.
Deve ter o dedo de algum país poderoso por trás das ações golpistas das “organizações” Globo…

jaime

Aqui no Brasil o interesse que porventura houve no governo Lula de enquadrar a mídia, desvaneceu-se porque a governantA sabia que seu projeto de governo teria todo o apoio desta mídia que aí está. Qualquer um vê que o projeto do PSDB está sendo esvaziado porque trocou de titular. E note-se também que esse esperneio quanto ao “enquadramento” da mídia, essa lenga-lenga infindável de discussões, lero-lero sobre liberdade de imprensa se reduz tão somente ao cumprimento do que já está na Constituição há muito, muito tempo.

Leonardo Câmara

Enquanto isso, no Brasil, o governo Dilma repete seus antecessores e enche a mídia golpista de dinheiro público.

Marcelo de Matos

Mauricio Stycer, sem seu blog, traz revelação bombástica sobre editorialistas do PIG: “Dois dos principais âncoras do telejornalismo brasileiro, William Bonner e Boris Casoy, tiveram oportunidade esta semana de mostrar que não são robôs, mas seres humanos, como os seus espectadores”. “A revelação de Bonner ocorreu no programa “Encontro com Fátima Bernardes”, apresentado por sua mulher. O apresentador do “Jornal Nacional” fez uma “visita-surpresa” e ocupou o palco da atração”. Destinado a derreter o coração até do mais insensível dos espectadores, ele disse para Fátima: “Primeiro, eu preciso te explicar: as crianças não vieram porque hoje elas têm prova de francês”. Pois eu considerava o Bonner um cara sobre-humano: trabalhar com a Patrícia Poeta não é fácil! Já o Boris, depois de dar um espirro durante o noticiário, declarou: “Desculpe, espirrei. Sou ser humano. Ainda”. Claro Boris: um espirro não é nada depois daquela pataratada dos garis com que você nos brindou.

augusto2

7 de dezembro é o dia do aniversario de Pearl Harbor. “E dia da infamia”. So que a infamia não partiu exatamente do lado aonde a versao oficial a colocou. Firmeza e cuidado, presidenta!

FrancoAtirador

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Facundo Soler · UTN Argentina

Esta ley se votó y se aprobó en Congreso por mayoría. Por el amor de dios saquen esta “noticia” (o no la saquen, da igual) porque lo único que hace es dar vergüenza, Clarín se jacta de seguir y cumplir a rajatabla “la ley” (y de seguir a sus “constitucionalistas” de renombre) y no acepta algo tan básico como una ley promulgada y aprobada por el mismísimo Congreso. Basta de vueltas y basta de mentiras.

http://www.facebook.com/facundo.soler.3

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