Em Cubatão, empreiteiro força entrada de petroleiros em greve e acusa sindicalistas de cobrar propina; eles o desafiam a provar; vídeo

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Reprodução de vídeo

Calúnia e Assédio Moral

Na porta da RPBC, donos da Allcontrol acusam sindicalistas de pedir propina e tentam forçar entrada de grevistas

Sindipetro -Litoral Paulista

Uma cena lamentável ocorreu na manhã desta segunda-feira (25) na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC).

Diante da deflagração de greve dos trabalhadores na última quinta-feira (20), donos da Allcontrol decidiram ir até a portaria 10 da unidade para forçar a entrada dos grevistas.

Assim que as vans chegaram com a força de trabalho, um dos chefes passou a gritar: “ninguém vai parar, estou pagando pra vocês trabalhar”.

Entretanto, os trabalhadores não se curvaram ao assédio moral da chefia e desceram das vans para se reunir com os dirigentes sindicais.

Dispostos a seguir dialogando com os representantes da empresa, mesmo após ela preferir o caminho da judicialização do processo, diretores do Sindipetro Litoral Paulista e do Sindicato dos Metalúrgicos tentaram conversar com alguns deles.

O que se viu então é absurdo e criminoso: um dos proprietários da empresa, sem qualquer provas, acusa os diretores sindicais de exigir propina para não paralisar a categoria.

“Vocês queriam era dinheiro mesmo, fala aí pros trabalhadores, vocês queriam dinheiro mesmo. Aí eu não dei propina e vocês estão aí parando os trabalhadores. Filma aí, olha a sua cara de honesto. É só olhar pra você pra ver que é honesto”, diz um dos proprietários da empresa.

Não é preciso se alongar muito para compreender que se trata de uma acusação caluniosa, destilada com a intenção de jogar os trabalhadores contra os sindicatos.

Trata-se também de uma postura sintomática dos novos tempos: diante de um governo que considera os movimentos sociais e sindicatos inimigos, setores patronais passam a externar seu ódio e desprezo às entidades sindicais sem filtros e constrangimentos.

Desprezo que vem se arrastando desde outubro, quando a Allcontrol substituiu a SGS na prestação de serviços de elétrica e instrumentação na refinaria.

A primeira bola fora foi não reconhecer o Sindicato dos Metalúrgicos, que representa há anos esse setor terceirizado, como representante legítimo dos trabalhadores.

Mas a gota d’água e principal motivação da greve foi o descumprimento da Tabela Salarial Unificada, que define o piso mínimo que deve ser concedido para salários e vale-alimentação.

Essa tabela, aprovada em assembleia, no mês de maio, e articulada de maneira unitária pelos sindicatos de Metalúrgicos, Construção Civil, Comissão de Desempregados de Cubatão e Petroleiros, foi uma resposta do movimento sindical à destruição de direitos e rebaixamento salarial impostos pela reforma trabalhista.

Aprovada em 2017 na gestão Temer sob o pretexto de gerar emprego, a reforma permitiu um verdadeiro ‘liberou geral’ para práticas salariais discriminatórias.

Além de reduzir salários em até 50%, as empreiteiras vinham impondo pisos salariais diferentes para as mesmas funções.

Longe de impor salários impraticáveis, a tabela simplesmente recupera os valores praticados em 2016. Ou seja, nada além do que ainda havia de alguma dignidade três anos atrás!

Embora os sindicatos tenham sempre marcado sua atuação pela boa fé negocial, cobrando da Allcontrol a abertura de negociações para que ela cumpra a tabela salarial, durante todo esse período ela seguiu praticando salários abaixo do exigido na tabela, se recusando a dialogar com os sindicatos.

Somente na última terça-feira (19), véspera de feriado, finalmente a empresa cedeu e pela primeira vez se reuniu com o Sindicato dos Metalúrgicos.

Mas a proposta se restringiu à oferta de vale-alimentação correspondente a 50% do exigido na tabela.

Discutida com a categoria na quinta-feira (21), a proposta foi amplamente rejeitada. Diante disso, os trabalhadores exerceram o seu legítimo direito de greve como mecanismo de pressão.

No mesmo dia, pressionada pela mobilização, a empresa resolveu – à revelia da entidade sindical – apresentar “de boca” uma nova proposta para alguns funcionários.

Dessa vez, já no próximo pagamento 100% do vale-alimentação e a partir de janeiro acréscimo de 25% nos salários, usando como referência o piso estipulado na tabela.

Entretanto, tal proposta não foi apresentada ao sindicato e sequer foi apresentada de maneira escrita.

Como diz a sabedoria popular, “palavras o vento leva” e nada do que é dito de maneira extra-oficial tem valor.

Foi com este intuito, inclusive, que na manhã desta segunda os dirigentes sindicais tentaram reabrir o diálogo com a empresa.

O vale-tudo pelo lucro

Infelizmente, alguns empresários não hesitam em passar por cima de direitos sociais e trabalhistas mínimos de centenas de trabalhadores para ver seu negócio prosperar.

Curioso notar que, em seu site oficial, a Allcontrol afirma ser “uma empresa reconhecida pela sua excelência e seu desempenho, comprometida com a ascensão do setor industrial nacional e manter-se sempre na vanguarda tecnológica”.

Entretanto, a prática é oposta ao discurso.

A força de trabalho dedicada ao trabalho de elétrica e instrumentação é uma das mais qualificadas no Sistema Petrobrás, pois diariamente se exige experiência e excelência para operar equipamentos de alta tecnologia, totalmente automatizados.

No entanto, a Allcontrol insiste em tratar esses trabalhadores como mão de obra desqualificada.

Pela complexidade da tarefa, é um desejo da própria Petrobrás a manutenção de trabalhadores experientes.

A rotatividade nesse setor reduz a produtividade e gera risco de acidentes. Portanto, trata-se não só de um desrespeito, mas de medida injustificável a atual política de contratação da companhia. Enquanto insistir em selecionar a empresa que oferece o menor preço, perdem os trabalhadores, perde a companhia, perdem todos.

Novamente, é preciso ser dito: se a empresa contratada não apresenta condições de prestar serviço oferecendo condições dignas de trabalho aos seus funcionários, que perca o contrato e dê lugar a uma empresa que minimamente respeite direitos básicos.

Em seu site a Allcontrol diz “honrar compromissos e agir com transparência e honestidade; praticar o bem e acima de tudo respeitar a dignidade das pessoas; entusiasmo no trabalho agindo com comprometimento, criatividade e dedicação”.

Pois bem, desde que chegou à RPBC os seus gestores têm ignorado esses valores, expondo a verdadeira face desta empresa: o lucro acima de tudo e acima de todos, passando por cima da dignidade da força de trabalho e caluniando os seus representantes.

Porém, o movimento sindical e os trabalhadores não se curvarão ao terrorismo e assédio. Vamos resistir!


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Zé Maria

A responsabilidade pelo massacre da PM-RS contra Educadores(as) Gaúch@s na Praça da Matriz em Porto Alegre é do governador Eduardo Leite (PSDB)

Nota do CPERS-Sindicato:

Ao término de uma Assembleia Geral histórica, com mais de 15 mil educadores(as) de todo o estado, a Praça da Matriz foi palco de um doloroso episódio de violência contra professores(as) e funcionários(as) de escola na tarde desta terça-feira (26).

Lamentamos profundamente o uso de força desproporcional contra manifestantes, incluindo membros da direção central do CPERS e do Comando de Greve, após a derrubada dos gradis que separavam o Piratini do público presente.

Como amplamente documentado em imagens, a comitiva do CPERS visava entregar um ofício ao governo do Estado, solicitando a retirada do pacote da pauta da Assembleia Legislativa.

Projetos estes amplamente rejeitados pelos educadores(as) e que representam a gota d’água de um massacre que já perdura por cinco anos, deflagrando uma das maiores greves dos 74 anos de história do CPERS.

Como na Assembleia Geral do dia 14, quando Eduardo Leite viajou a Nova Iorque, o governador se ausentou novamente neste dia 26. Assim se isentando da responsabilidade de atender a categoria e dar respostas às milhares de pessoas que se deslocaram de todo o Rio Grande do Sul para participar do ato.

Após uma longa e desrespeitosa espera, a comitiva foi recebida pelo chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, fora das portas do Palácio, na calçada.

Após a derrubada do gradil, membros da comitiva se viram espremidos entre a tropa de choque da Brigada Militar e a multidão. Dezenas foram covardemente agredidos com gás de pimenta e cassetetes.

O episódio evidencia, por um lado, a aversão ao diálogo por parte do Estado e, por outro, a situação limítrofe em que se encontra a categoria.

Na última sexta, Eduardo Leite respondeu à justa indignação dos educadores(as) com o corte de ponto de grevistas.
Uma medida arbitrária e ilegal.
Ontem, publicou um vídeo interpretado como um deboche por professores(as) e funcionários(as) de escola, que não ‘teriam entendido’ seus projetos de destruição da escola pública.

São ações que se seguem a uma escalada de ataques a servidores(as) que já trabalham em condições de miséria, com 47 meses de parcelamento salarial e cinco anos de contracheques congelados.

O governador é o maior responsável pela contínua e inaceitável violência perpetrada pelo Estado contra trabalhadores(as) da Educação e os milhões de gaúchos que dependem da escola pública para estudar, sonhar e crescer.

A greve continua, com adesão maciça em todo o estado, mais de 80% da categoria paralisada, amplo apoio das comunidades escolares e a compreensão da sociedade, incluindo mais de 200 moções de apoio de Câmaras Municipais e a histórica manifestação da Famurs, entidade que congrega prefeitos e gestores de todas as 497 cidades gaúchas.

https://cpers.com.br/a-responsabilidade-pelo-massacre-na-praca-da-matriz-e-do-governador-eduardo-leite/
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Leia também:
Educadores, estudantes e pais denunciam descaso com a escola pública e destacam a justa greve do magistério em reunião da Comissão de Educação da ALERGS
https://cpers.com.br/educadores-estudantes-e-pais-denunciam-descaso-com-a-escola-publica-e-destacam-a-justa-greve-do-magisterio-em-reuniao-da-comissao-de-educacao/

Zé Maria

Cresce Greve do Magistério Estadual no RS

https://t.co/MRVpXwGOin

Ameaça do Governador Eduardo Leite (PSDB)
de cortar o ponto dos professores grevistas
a partir desta segunda-feira, 25 de novembro,
surtiu efeito contrário. Comando de Greve
já registra adesão de 65% da rede pública.

https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1199093447766007808
https://www.extraclasse.org.br/movimento/2019/11/cresce-greve-do-magisterio-estadual-no-rs/

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