Carone: Convênio até agora secreto entre FIEMG e governo Aécio viabilizou os crimes de Mariana e Brumadinho; leia a íntegra

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Aécio Neves e Robson Andrade, satisfeitos? Em 30/07/2014, Robson, na época presidente da CNI, entrega ao então Neves, então candidato à presidência da República pelo PSDB as propostas da indústria para as eleições de 2014. Fotos: José Paulo Lacerda/CNI, Corpo de Bombeiros de MG e Agência Brasil

Aécio. Agora você está satisfeito?

por Marco Aurélio Carone, no Novojornal

Independente de ideologia ou sigla partidária, é necessário trazer à luz como o projeto de uma pessoa despreparada, moral e emocionalmente para o mais alto cargo do executivo mineiro, financiada e representando os mais lesivos interesses contra o patrimônio público, transformou um Estado símbolo de equilíbrio financeiro e político em terra de ninguém.

O próprio nome Estado de Minas Gerais designa sua origem e principal atividade econômica.

E para disciplinar e ordenar a exploração dessas riquezas foi necessário no Império o sacrifício de seu mártir maior, Tiradentes.

Depois, na República, em 1942, foi travada uma luta renhida contra o capital espoliador internacional para que a extração das riquezas minerais significasse prosperidade para os mineiros. Nascia, a Companhia Vale do Rio Doce.

No final da década de 50 e nos anos 60 e 70, mesmo durante a ditadura militar, as lideranças políticas mineiras — unidas! — conseguiram preservar esta conquista.

Lamentavelmente, nos anos 90, por uma atitude questionável sobre todos os aspectos, privatizou-se a Cia Vale do Rio Doce, entregando-a aos espoliadores afastados na década de 40, quando de sua criação.

Vale lembrar que, na época da privatização da Vale do Rio Doce, Aécio Neves era presidente da Câmara dos Deputados e liderava a bancada mineira.

Durante uma década, após a privatização, a Vale paralisou seus principais projetos em solo mineiro.

Não foi só o que fez contra Minas.

A Vale era detentora das únicas ferrovias que ligavam Minas aos portos de Sepetiba (RJ) e Tubarão (ES).

Nessa condição, sangrou e inviabilizou qualquer outra iniciativa de exploração mineral, adquirindo a preço simbólico as jazidas e empresas concorrentes.

Em 2003, a Vale voltou a investir em Minas. Aí, já detinha as grandes jazidas e importante controle sobre a máquina pública.

De início, diversos setores da sociedade civil, principalmente ligadas ao meio ambiente, tentaram reagir contra o descontrole em que se transformaram a análise e concessão de licenças na área de mineração.

Em 2008, o setor de mineração cooptou de vez o Estado,passando a dominar  os órgãos ambientais e possibilitando tragédias como de Mariana e Brumadinho, que tanto prejuízo e sofrimento têm causado ao povo mineiro.

Ou seja, as mineradoras compraram o Estado de Minas Gerais.

A compra teve início em 2008, por meio de convênio celebrado entre o governo, gestão Aécio Neves, e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), na época dirigida por Robson Andrade.

Até 19 de fevereiro deste ano, Robson era presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), quando foi afastado após ser preso na Operação Fantoche, da Polícia Federal.

Do convênio participaram as maiores mineradoras mineiras: Samarco, MMX (atual Anglo American), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Ferrovia Centro Atlântica, Rio Doce Manganês S/A e Companhia Vale do Rio Doce.

A íntegra do convênio está ao final.

Dois pontos são fundamentais.

À FIEMG, que está sujeita à fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU), cabe captar e receber recursos das mantenedoras. Leia-se: mineradoras.

Já ao Instituto Evaldo Lode (IEL), instituição privada livre de fiscalização, cabe fazer o orçamento e contratar serviços, fornecedores consultores, técnicos.

Uma verdadeira caixa preta.

Afinal, na verdade, o convênio tinha como objetivo gerar um gigantesco caixa para propagação das alegadas “realizações” do governo Aécio Neves, fazendo da FIEMG uma lavanderia, agora comprovado nas diversas operações da Polícia Federal.

Após a celebração do convênio, Aécio, sem qualquer limite, impôs os interesses das mineradoras aos órgãos ambientais, viabilizando a exploração predatória.

Até mesmo em áreas protegidas ambientalmente foram construídas barragens sabidamente com engenharia ultrapassada, visando o pouco investimento e grande lucro para as mineradoras.

Entre 2007 e 2008, o Novojornal publicou várias matérias no matérias denunciando o esquema montado por Robson Andrade na FIEMG, para arrecadar recursos e manter o projeto político de Aécio Neves.

Em função das reportagens, a FIEMG e Robson Andrade ajuizaram uma ação de indenização milionária contra o Novojornal.

Isso aconteceu no mesmo momento em que o sítio do Novojornal hospedado no Brasil sofreu empastelamento.

Em 14 de agosto de 2008, a pedido  do então procurador-geral de justiça Jarbas Soares a polícia foi ao Novojornal, pegou os computadores, tirou o sítio do ar, deixando esta mensagem na tela:

Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Esta página foi suspensa por medida cautelar judicial e o conteúdo do site é objeto de apuração por indícios de práticas de crimes. Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos.

Nós entramos na Justiça e ganhamos e o sítio voltou ao ar.

Mas, ciente de que, na época, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) era defensor do projeto de Aécio Neves e fatalmente condenaria o Novojornal, celebramos um acordo.

Ficou estabelecido que não poderíamos publicar qualquer outra reportagem sobre a FIEMG e Robson Andrade (aqui, a movimentação da ação).

Em outubro de 2013, já com o sítio hospedado no Brasil liberado pelo TJMG, mesmo diante de ameaças, publicamos a matéria abaixo contendo nova denúncia, mostrando a relação promíscua entre governo de Minas Gerais e FIEMG:

“ANASTASIA NÃO PRIVATIZOU O CETEC. DOOU R$ 1,3 BILHÃO PARA FIEMG

Novo Jornal, 01/10/2013

Relação do Governo de Minas com a FIEMG vai parar na Justiça. Ação visa anular doação do CETEC avaliado em R$ 1.3 bilhões para FIEMG

Chega a causar medo em alguns e revolta em outros A maneira como vem os ocupantes do Governo do Estado de Minas Gerais desde 2002 tratando a coisa pública. Hoje já nem se fala mais em legalidade ou honestidade dos atos praticados, pois, como dito por Novojornal em reportagens anteriores, acabou o pudor.

O governador, seus secretários, dirigentes de estatais e autarquias, com apoio quase que unânime da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, agem abertamente mostrando que todas as atividades exercidas pelos atuais governantes de Minas Gerais têm como objetivo desmontar o Estado, entregando-o a seus patrocinadores e parceiros.

Embora nem a mídia local, regional ou nacional noticie, prova disto ocorreu quando a Operação Esopo, que escancarou a condenável relação existente entre o Governo de Minas Gerais e a FIEMG.

Entidade representativa das indústrias no Estado, que desde 2002 vem sendo a principal patrocinadora e parceira nas pretensões políticas do ex-governador e atual senador Aécio Neves.

Em seus primeiros anos de governo sem nada a apresentar que justificasse sua eleição, a FIEMG deu início a uma enorme campanha publicitária em todo País, divulgando o então grande projeto da administração Aécio Neves, a “Estrada Real”. Projeto hoje apresentado no portfólio do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), principal operador do esquema de desvio de recursos públicos investigado pela Operação Esopo.

Com as investigações da Operação Esopo da Polícia Federal e a prisão de Nelson de Souza Dabés Filho, Superintendente de Administração e Finanças da FiEMG, devido à movimentação de um gigantesco caixa 2, vieram à luz inclusive documentalmente mais de uma década de relação indevida entre o Governo de Minas Gerais e a instituição representativa da classe patronal da indústria mineira.

O vice-presidente do IMDC, Tácito Avelar e Silva, é ex-gerente jurídico da FIEMG.

Foi ele que, em janeiro de 2010, emitiu parecer em defesa da “dispensa e a inexibilidade de licitação” para a contração do IMDC pela FIEMG, em função de “notória especialização”. Mas a Oscip nunca tinha feito eventos de moda, segundo a PF”.

As ameaças feitas antes comprovaram-se através da minha prisão três meses depois.

O resgate da matéria, parcialmente transcrita acima, está disponível na íntegra aqui.

Isso só foi possível porque o GGN republicou e a manteve, salva, na íntegra no portal.

Afinal, desde 21 de janeiro de 2014, o sítio Novojornal.com.br está fora do ar, de novo, por decisão do TJMG.

Quanta coisa poderia ter sido evitada se a imprensa não tivesse sido censurada nos governos Aécio Neves e Antônio Anastasia?

Marco Aurélio Carone é editor do Novo Jornal

Nota da redação do Novojornal: Nós solicitamos, por e-mail, à FIEMG a relação das aplicações decorrentes dos recursos arrecadados no convênio celebrado. A entidade não respondeu.


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Comentários

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Luiz Claudio

O Mineirinho está tão quietinho. Levou algum?

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