Carlos Fazio: Como Dilma e Lula no Brasil, Obrador corre risco de ser vítima do lawfare no México

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Cesar Itibere /PR

(Brasília – DF, 26/06/2018) Visita do Vice-Presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. em visita ao Brasil é recebido pelo presidente Michel Temer Foto: Cesar Itibere /PR

AMLO e o poder real

por Carlos Fazio, no La Jornada

Ontem, primeiro de julho, milhões de mexicanos foram votar e se não houve fraude de Estado monumental, Andrés Manuel López Obrador (AMLO) será o próximo presidente da República.

Se não ocorrer nada de extraordinário no período de transição, no próximo primeiro de dezembro AMLO deverá assumir o governo.

Mas, neste período, e mais além no médio prazo, o poder seguirá nas mãos da classe capitalista transnacional.

É previsível, também, que a partir do 2 de julho o bloco de poder (a plutonomia, Citigroup dixit), inclusive seus meios hegemônicos (Televisa e TV Azteca, de Azcárraga e Salinas Pliego, ambos multimilionários da lista Forbes) e seus operadores nas estruturas governamentais (Congresso, aparato judicial, etc.) escalarão a insurgência plutocrática buscando ampliar seus privilégios e garantir seus interesses de classe, para seguir potencializando a correlação de forças a seu favor.

Mais além do ruído das campanhas, o processo eleitoral transcorreu sob o signo da militarização e a paramilitarização de vastos espaços da geografia nacional, e de uma guerra social de extermínio (necropolítica) que elevou a violência homicida a limites nunca antes vistos no México moderno, similares às de um país em guerra (“naturalizando” na véspera das eleições o assassinato de candidatos a cargos de escolha popular).

Como recordou Gilberto López y Rivas em La Jornada, esse “conflito armado não reconhecido”, cuja finalidade é a ocupação e a recolonização integral de vastos territórios rurais e urbanos para o saque e uso de recursos geoestratégicos, mediante uma violência exponencial e de espectro completo que é a atual configuração do capitalismo; o conflito e a repressão como meio de acumulação da plutonomia.

Para isso a classe dominante fez aprovar a Lei de Segurança Interior.

E está pronta, para ratificação pelo Senado, a iniciativa de deputados de retirar o foro do presidente da República; a denominada estratégia de lawfare aplicada no Brasil contra Dilma Rousseff e Lula da Silva, que implica no uso da lei como arma para perseguir e destruir um adversário político pela via parlamentar/judicial; uma variável de golpes suaves de fabricação estadunidense poderia se voltar contra AMLO.

A respeito e mais além de seu giro rumo ao centro e o redesenho de seu programa de transição reformista-capitalista, democrático e nacional, com grandes concessões ao bloco de poder dominante, a chegada de López Obrador ao governo poderá implicar, em princípio, num “respiro” (Galeano dixit) à tendência do fim do ciclo progressista e restauração da direita neoliberal na América Latina.

O impulso de uma nova forma de Estado social, sem ruptura frontal com o Consenso de Washington, significará, não obstante, uma mudança na correlação de forças regional e terá tremendo impacto nos povos latinoamericanos.

Por isso não é nada inocente — ou simplesmente centrado no aprofundamento das políticas de mudança de regime na Venezuela e Nicarágua — o recente giro neomonroísta do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, pelo Brasil, Equador e Guatemala.

Cabe recordar o editorial inusualmente crítico do Washington Post no dia 18 de junho, que assumiu como suficientemente críveis as relações de colaboradores próximos de López Obrador com os governos de Cuba e da Venezuela, e as declarações do senador republicano John McCain, intitulando AMLO como um possível “presidente esquerdista antiamericano” e as do atual chefe de gabinete do governo Trump, general aposentado John Kelly, que afirmou que López Obrador “não seria bom para os Estados Unidos, nem para o México”.

Segundo assessores de política externa de AMLO, ante Washington seu governo colocará “a defesa profunda da soberania nacional”; revisará a cooperação policial, militar e de segurança (DEA, CIA, ICE, Pentágono, etc.), e sob a premissa de que a imigração não é um crime, incrementará a proteção dos mexicanos irregulares, como se fosse uma procuradoria diante dos tribunais dos Estados Unidos.

Também revisará os contratos petroleiros e de obras públicas.

O que sem dúvida causará fortes confrontações com a Casa Branca e a plutocracia internacional.

Como disse Ilán Semo, no México a presidência da República encerra potencialidades simbólicas insuspeitas; uma espécie de “carisma institucional”.

Não importa quem a ocupe, mesmo um inepto (como Vicente Fox), o cargo lhe transmite uma aura: é “o presidente”.

Depois da Independência, da Reforma e da Revolução Mexicana, AMLO quer passar à história como o homem da “quarta transformação”.

Mas, para isso, necessita uma mudança de regime e grandes saltos na consciência política dos setores populares; sem um povo mobilizado por trás de um projeto de mudança radical e profundo, não há carisma que seja suficiente.

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Comentários

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Nelson

“Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim”.

A definição do genial Millôr Fernandes explica, da forma mais sucinta possível, o que o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos e boa parte do planeta, e tem anseios de dominá-lo por inteiro, entende por democracia e ditadura.

Nelson

Enquanto isso, a dona Dilma segue afirmando que o golpe de 2016 no Brasil não teve influência externa.

Para Dima, o golpe seria apenas coisa de ressentidos da turma do Cunha, misoginia e preconceito com a evolução e melhora de vida – importantes, sem dúvida, mas insuficientes – de grande parcela da massa de miseráveis e pobres do nosso país.

João Ferreira Bastos

os EUA vão assassinar o Obrador

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