Você sofreu algum tipo de violência no parto?

Tempo de leitura: 2 min

por Conceição Lemes

Recentemente, as imagens da jovem presidiária, algemada pelo braço e perna no leito de hospital 12 horas após cesariana, chocaram. E mais. Tornaram pública uma prática repugnante, covarde, imoral, até então vigente em todo o sistema carcerário paulista.

Infelizmente, as gestantes brasileiras estão muito mais à à mercê de violência do que se possa imaginar.

Em 2011, pesquisa de opinião da Fundação Perseu Abramo e SESC, coordenada pelo professor Gustavo Venturi Jr, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, revelou um dado estarrecedor: uma em cada quatro brasileiras que deram a luz em hospitais públicos ou privados relatam algum tipo de agressão durante o parto.

Já estudo da psicóloga Janaína Marques Aguiar, para sua tese de doutorado no departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, evidenciou que “quanto mais quanto mais jovem, mais escura e mais pobre, maior a violência no parto.”

As agressões antes e durante o parto, praticadas por profissionais de saúde, vão de  repreensões, humilhações e gritos à recusa de alívio da dor (apesar de medicamente indicado), realização de exames dolorosos e contraindicados, passando  por xingamentos grosseiros com viés discriminatório quanto à classe social ou cor da pele.

Dessas constatações nasceu o Teste de Violência Obstétrica, iniciativa de Ana Carolina Franzon (jornalista, cursa mestrado em Saúde Pública na USP), Lígia Moreira Sena (bióloga, faz doutorado em Saúde Coletiva na Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC ) e Fernanda Andrade Café (jornalista). Ana Carolina e Lígia, especificamente, pesquisam saúde materna e violência institucional no parto.

O Teste de Violência Obstétrica é um questionário  elaborado pelas três e ficará no ar até dia 15 de abril. É anônimo e os dados individuais serão confidenciais. Podem respondê-lo todas as mulheres que já tiveram filho, não importa a época nem o tipo de parto.

“O objetivo dessa ação é promover, por meio das mídias sociais, o enfrentamento das violências que as mulheres sofrem durante a internação para o parto, ou antes, durante o pré-natal”, afirma Ana Carolina. “Queremos sensibilizar a sociedade para questão da violência obstétrica e que as mulheres a reconheçam, denunciem, processem os profissionais de saúde envolvidos.”

“Por exemplo, quando se sentirem enganadas por indicação de cesárea, maltratadas verbalmente, não receberem analgesia solicitada, sofrerem episiotomia sem esclarecimento e anuência, forem obrigadas a deixar o acompanhante de fora da sala de parto ou amarradas na cama ou alguém ‘empurrar’, subir na sua barriga, para a criança nascer”, avisa Ana Carolina. “Todas essas práticas são reconhecidas há muito tempo pela  Organização Mundial de Saúde (OMS) como prejudiciais  à saúde da mãe e/ou do bebê, porém continuam a ser adotadas no Brasil.”

Os resultados dessa pesquisa informal serão divulgados no dia 30 de abril.  Para participar, é só responder este questionário. CLIQUE AQUI.

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Comentários

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Você sofreu algum tipo de violência no parto? – Portal Geledés

[…] Fonte: Viomundo  […]

suelen pereira da silva neckel

Podem me encontrar no face… em suelen da silva neckel

suelen pereira da silva neckel

Ola pessoal meu nome é Suelen tenho 25 anos sou casada mãe de um casal gostaria de dar meu relato pois sofri no meu parto que foi á 12 dias onde posso desabafar e nostrar o que acontece nos hospitais me ajudem pois estou sufocada com as lembraças do meu parto ..

fabiane

Eu fui pra ter normal ,ate xeguei a tentar ,mais nao deu e fui pra cesarea ,so qe demorou tanto p fazerem qe quando fizeram meu filho ja estava morto dentro d mim ,sendo qe na sala do parto normal o medico tinha me falo qe meu bebe estava numa area mto baixa e que la ele nao conseguiria respirar direito. Fui mto humilhada naquele lugar ,mto maltratada por todos ,o medico tbm subiu na minha barriga, enfim , hj estou sem meu filho por culpa deles.

Lia

Tenho um filho de três anos, o qual fiz o parto pelo SUS. Apesar de ficar sete horas em trabalho de parto, fui bem tratada, a equipe médica me incentivou e meu marido ficou presente o tempo todo. Foi um parto normal de um bebê de quase quatro quilos. Tudo ocorreu muito bem e tenho lembranças ótimas. Há dois meses, tive uma menina de três quilos. O médico (particular) começou tentando me induzir a uma cesariana. No parto, eu estava bem com as enfermeiras até o médico chegar. Já estava com seis dedos de dilatação, contrações regulares e tudo ocorria bem. O médico chegou, mandou colocar ocitocina para acelerar o parto, as dores ficaram insuportáveis, supliquei por analgesia e ele me disse “não vai descompensar agora”. Meu marido não conseguiu segurar o bebê depois de ver o acontecido; tremia demais. Gostaria de ter boas lembranças de ambos os partos, mas não consigo sequer olhar fotos que se referem ao nascimento da menina. Gostaria que todas as mulheres tivessem o direito de ter autonomia na hora do parto. E que se nem ela, nem o bebê corressem riscos, que elas pudessem optar ou não pelo uso de ocitocina. Parabéns pelos trabalhos de humanização do parto e pelas pessoas que incentivam parto normal.

Linda Mulher

Graças a Deus correu td bem, tive dois filhos e na hora do parto estava acompanhada pelo pai dos meus filhos. Sempre fiz questão de qualquer consulta e exame estar acompanhada, isso me traz segurança.

Gerson Carneiro

E há quem não acredite em racismo no Brasil.

Sr.Indignado

Caramba!! Este questionário pode começar a responder, o porquê, do Brasil ser campeão em cesárias.
Aqui onde moro, os médicos garantem parto normal, mas depois fazem cesárias. Tem hospital que nem faz mais parto normal. Talvez nem saibam mais como é isso.

    carneirouece

    Geralmente os médicos já marcam a cesária. A criança já não nasce mais quando a natureza manda, mas sim quando o médico deseja.

Guilherme

Sou médico e me forcei a acompar minha esposa em seus três partos, pois compreendia a importância para ela. Desde a graduação sempre me angustiei profundamente por considerar um momento de grande violência de gênero velada, que se oculta em uma tradição cultural que muitas vezes sequer permite a vítima ter consciência da dimensão do problema. A questão da privacidade é algo assustadoramente desconsiderada, independente do serviço. Sou estudioso da questão e sei que o SUS é melhor em qualidade técnica do que a enorme maioria dos serviços privados. Mas não posso negar que, embora os profissionais individualmente sejam admiráveis, nossa cultura coletiva sobre "público" torna ainda muito mais opressivo este momento tão caro que é a maternidade. Que toda criança pudesse iniciar neste mundo apenas com amor…

    Paulo

    Guilherme um depoimento que dá a dimensão exata do problema dos maus tratos no momento do parto. Se um médico reconhece que é asism e tem medo, imagine o restante da sociedade

beattrice

O resultado do questionário vai abranger pesquisas em locais de grande movimentação pública espero, a base de dados restrita á internet seria pouco fidedigna.
Se os resultados forem amplos e a amostra confiável, os resultados serão vergonhosos, quem viver verá.

mfs

Recordo-me da ex-esposa de um amigo, na época residente, ao perceber um mendigo com bandagens na cabeça, desabafou com dura sinceridade: "ah, e a gente é que tem que aturar esse tipo de gente lá na emergência". E também de outro amigo, que estava brigado com o primo porque este, estudante de Medicina, havia dito que "mulambo no hospital só serve para a gente aprender medicina". Na verdade, a imensa quantidade de pessoas que tentam estudar Medicina hoje (o vestibular é do mais disputados) sugere que além da admiração profissional ou interesse científico parece haver também muito carreirismo, ambição, etc. As relações de poder também se dão nas unidades médicas, as lutas de classes permeiam as instituições.

    beattrice

    Conceição,
    salvo engano, em Cuba, o exame admissional das escolas médicas envolvia questões básicas como vocação e caráter solidário, seria possível confirmar e divulgar isso?

    Sr.Indignado

    Os pretendentes a médicos são levados, em sua maioria (por observação), a abraçar a medicina por questões mercantis.
    Parto rápido, parto "fast-food" está na cartilha mercantilista.
    Parto personalizado está na cartilha da vocação.

    Já vi obstetra (mulher) ser contra amamentação e (des)orientar suas pacientes em suas clínicas. Em Florianópolis.

    Já o HU-UFSC (público) é um exemplo a ser seguido, pessoas tem nome, são diferentes e são informadas de tudo.

Laura Antunes

A hora do parto é sem dúvida um dos momentos mais inesquecíveis da vida de uma mulher. Mas, um estudo feito pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc mostrou que alem das dores, muitas mamães sofrem agressões que vão desde xingamentos e gritos até a escolha de médicos e enfermeiros por exames mais dolorosos. Os números são assustadores! 25% das mulheres relatam maus-tratos na hora do parto sendo que 27% dos casos são em hospitais públicos e 17% nos particulares. E não acaba por ai, a violência com as mais jovens, negras e mais pobres são ainda maiores. Absurdo! http://www.revistapenseleve.com.br/exibe.php?id=1

Angela L

Comigo não nunca aconteceu, tive quatro partos, e fui bem tratada, avalio por ter sido o pai das crianças ligado a area da saúde, e o corporativismo ser latente, porém ouvi enfermeira dizer a outra companheira em trabalho de parto na mesma enfermaria , que reclamava do desconforto das dores: "que na hora de fazer o filho, foi bom, que naquela hora aguentasse as dores". Revoltante.

Marcio H Silva

Minha mão conta que no meu nascimento, a enfermeira subiu em sua barriga. Isto a 57 anos atrás. Meus tres filhos nasceram de cesárea, mas no primeiro, tentamos parto normal. Minha mulher tomou soro durante algumas horas para facilitar a abertura, mas não deu. Este negócio de apertar a barriga para nascer me deixou meio doido Ceição.

    shirl

    No meu caso,até uma costela fraturei.

    Marcio H Silva

    Ceição, com a ajuda de minha mulher, respondemos ao questionário…..

gustavo

Pq não tem nenhum médico nessa pesquisa?
A episiotomia só é feita em casos necessários para delivramento do RN

    Aline C Pavia

    Ah sim, e o meu nome é Bozo. Episio, enema e tricotomia pra que?

    Ernê

    Ora Gustavo, colocar raposa pra tomar conta de galinheiro? kkkkkkkkkkkkkkk

Alberto

Mais um trabalho jogando no moinho da Utilidade pùblica. Muito bem Conceição Lemes!

Viviane

Eu já respondi, embora seja sofrido relembrar disso. Vamos lá, mulheres, ajudem a divulgar essa pesquisa tão importante!

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