Shirley Morales: O enfrentamento do câncer de mama no Brasil é uma luta de todos nós

Tempo de leitura: 4 min
Fotos: Canal Saúde/Fiocruz e campanha do Instituto Nacional do Câncer, o Inca, do Ministério da Saúde

Desafios no enfrentamento ao câncer de mama no Brasil: um chamado à ação coletiva

Por Shirley Marshal Díaz Morales*, especial para o Viomundo

“Informar para Proteger. Cuidar para Viver”. Esse é o tema da Campanha 2023, do Governo Federal, para o Outubro Rosa.

Informação e cuidado parecem ser o foco das estratégias governamentais para o enfrentamento do câncer que mais mata mulheres em todo mundo.

Mas, quais percalços o país precisa vencer para reduzir significativamente o número de vidas ceifadas por essa doença?

O movimento do Outubro Rosa nasceu, nos Estados Unidos, na década de 90, sendo idealizado por Nancy Komen como forma de cumprir uma promessa feita à sua irmã, Susan G. Komen, que faleceu lutando contra o câncer de mama.

Mas não podemos limitar o movimento apenas a uma homenagem póstuma. A luta, na verdade, nasceu para combater o preconceito em torno do tema que era tabu na época.

O resultado desse preconceito foi a falta de investimento em tratamento e diagnóstico precoce.

Na época de Susan G. Komen, o único método diagnóstico difundido era a mamografia.

Nancy Komen decidiu romper paradigmas buscando métodos diagnósticos precoces e mais acessíveis às mulheres.

Nesse sentido, o maior desafio seria envolver a sociedade no combate ao câncer de mama.

E, assim, surgiu o maior movimento advocacy sobre proteção à saúde que o mundo já conheceu.

O Outubro Rosa constitui um forte movimento das mulheres em prol do acesso à informação e cuidados.

É sobre esse engajamento, com participação social, que fazemos uma pequena reflexão.

Em primeiro lugar, precisamos entender o perfil epidemiológico e socioeconômico da patologia. Essas informações são essenciais para traçar estratégias eficientes para melhoria da assistência à saúde de quem passa por esse grave problema.

Segundo dados da Organização Pan-Americana (OPAS), em 2020, o câncer de mama perfez 30,7% dos casos das neoplasias entre as mulheres. Nesse período, foram registrados cerca de 500 mil novos casos e mais de 100 mil mortes ocorreram nas Américas.

No Brasil, o câncer de mama, também é a principal causa de óbitos por câncer entre as mulheres, com taxa de mortalidade ajustada de 11,71/100 mil (18.139 óbitos), e maior incidência nas regiões sudeste e sul.

Shirley Morales

A taxa de morte é 40% maior em mulheres negras. Para o Brasil, foram estimados, alarmantes, 73.610 casos novos de câncer de mama em 2023.

Em 2022, 76% das pacientes (222.701) eram da faixa etária entre 40 e 69 anos. No entanto, é preciso frisar que esses são dados oficiais e registrados pelo Instituto Nacional do Câncer — o Inca, do Ministério da Saúde –, mas no país ainda há grande subnotificação devido aos vazios assistenciais.

Em territórios, onde a desigualdade social é predominante, ainda temos escassez de informações.

Também é inegável que a maior crise sanitária mundial afetou o principal pilar de enfrentamento às neoplasias – o diagnóstico precoce.

O aumento da mortalidade dos casos de câncer de mama, durante a pandemia da covid-19, se deve aos diagnósticos tardios, ausência de investimentos nas campanhas de prevenção e promoção à saúde e ao desmonte da rede de atenção primária à saúde.

Segundo estudo publicado na BMC Health Services Research, periódico da Revista Nature, mais de um milhão de mulheres não realizaram mamografia em 2020, o que aumentou em torno de R$ 129 milhões os custos de tratamentos quimioterápicos no setor público brasileiro.

Nesse mesmo ano houve uma redução de 41% na taxa de cobertura do rastreamento de câncer de mama em mulheres de 50 a 69 anos de idade.

A falta de investimento em medidas de prevenção, além de custar muitas vidas, também representou um grave prejuízo ao orçamento do SUS.

Em 2020, a cada R$ 1,00 gasto no SUS com mamografia, foram gastos R$ 8,62 em quimioterapia para o câncer de mama.

Essa redução de investimento na atenção primária à saúde e nos cuidados com a saúde da mulher foi questionada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), que reprovou os relatórios anuais de gestão (RAG) de 2020 a 2022.

O controle social também fez recomendações ao Ministério da Saúde para que essa situação caótica de política de morte fosse revertida.

Entretanto, o governo de Jair Bolsonaro não atendeu à Constituição do Brasil e desrespeitou as deliberações do CNS.

Diante da dura realidade, onde as desigualdades sociais obstruem o acesso da população menos favorecida aos exames diagnósticos e tratamento, o que fazer?

Aqui não vamos criar receitas mágicas para mudar o atual cenário do câncer de mama no país. Mas fica evidente que o aumento do investimento orçamentário em ações de promoção e prevenção à saúde deve ser o foco das estratégias governamentais.

Fortalecer a Rede de Atenção Primária à Saúde, promover adequada condição de trabalho aos profissionais de saúde, formular campanhas inclusivas, que combatam todas as formas de preconceito, valorizar a participação social, garantir o acesso rápido a métodos diagnósticos de qualidade, incorporar novas tecnologias de saúde para assistência integral também são medidas efetivas para o adequado enfrentamento do câncer de mama no Brasil.

Nesse sentido, a sociedade também tem papel fundamental nas ações de preservação da vida.

Difundir campanhas de prevenção, acolher e apoiar todas as pessoas acometidas pelo câncer de mama, exigir das autoridades o cumprimento das leis federais, Nº 14.238/2021 e Nº 12.732/2012, que estabelecem os direitos das pessoas com câncer, são caminhos assertivos para que povo brasileiro possa contribuir para a redução das mortes causadas pelo câncer de mama.

Como parte da enfermagem brasileira, que tem defendido arduamente o cuidado adequado e integral à saúde de todas as pessoas, reforço que esta luta é de todos nós. Esta é uma luta em prol da vida!

*Shirley Marshal Díaz Morales é enfermeira da Estratégia Saúde da Família, servidora pública municipal de Nossa Senhora da Glória-SE, Conselheira Nacional de Saúde, Coordenadora Adjunta da Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher – CNS, Vice-presidenta da Federação Nacional dos Enfermeiros e Presidenta do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Sergipe.

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Projeto aprovado pelo Congresso impede que orçamento do SUS tenha mais R$ 20 bilhões em 2023


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Zé Maria

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“COQUETEL DE VENENOS NA ÁGUA CONSUMIDA POR BRASILEIROS”
https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2023/10/Efeito-Coquetel.jpg
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“Água com Agrotóxicos Sai da Torneira de 210 Cidades no Brasil”

“Uma Mistura de 27 Diferentes Tipos de Agrotóxicos foi Detectada na Água Consumida pela População de 210 Municípios Brasileiros (*) — entre eles,
São Paulo (SP), Fortaleza (CE) e Campinas (SP).”

Dados do Ministério da Saúde revelam que 210 Cidades encontraram
TODOS os Agrotóxicos Testados na Rede de Abastecimento de Água
em 2022.

Chamado de “Efeito Coquetel”, a Mistura entre Substâncias Tóxicas preocupa Especialistas porque a Regulação Brasileira Não Leva em Conta
os Riscos da Interação entre os Diferentes Tipos de Pesticidas.

As informações são resultado de um cruzamento de dados realizado
pela Repórter Brasil a partir de informações do Sistema de Informação
de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua),
do Ministério da Saúde (MS), com testes feitos no ano passado.

Na Média Geral Nacional, Mais da Metade (56%) dos Municípios
Não Realizaram Testes Válidos para Agrotóxicos, ou Não Enviaram
Dados ou publicaram Informações Consideradas Inconsistentes
pelo Ministério da Saúde:
https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2023/10/Apag%C3%A3o-de-dados-2-1080×1396.jpg

Entre os estados que forneceram pouca ou nenhuma informação,
o Mato Grosso se destaca.
Ano após ano, ele se estabelece como o maior comprador de agrotóxicos
do País.

Em 2021, mais de 150 mil toneladas de pesticidas foram vendidas no estado,
uma uma diferença de mais de 60 mil toneladas para o segundo colocado,
São Paulo.

Contudo, a liderança não se mantém quando o assunto é testes
de agrotóxicos na água.

Dos 141 municípios do estado matogrossense, 73% não entregaram dados
ao Sisagua.

O apagão preocupa: a Exposição ao Veneno no Mato Grosso
é quase Dez Vezes Maior [10x+] do que a Média Nacional,
de 7,3 Litros por Pessoa.

Lucas do Rio Verde (MT) é uma das cidades que NÃO ENVIOU DADOS consistentes.
Com 83 Mil Habitantes, é uma das Maiores Produtoras de Grãos do País,
tendo sua economia baseada na Agropecuária.

O uso de pesticidas é intenso na região, tanto que a cidade foi parar nas
manchetes de todo o Brasil, em 2011, após uma pesquisa da Universidade
Federal do Mato Grosso (UFMT) detectar Agrotóxicos no Leite de Mulheres
que amamentam.

Mesmo com esse histórico, a cidade não enviou dados consistentes
ao Ministério da Saúde sobre a presença de agrotóxicos em sua água.

* Tabela Completa com os Nomes dos 210 Municípios
que Detectaram os 27 Agrotóxicos na Água em 2022:
*(https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2023/10/Efeito-coquetel-P%C3%A1gina1.pdf)

[Reportagem: Hélen Freitas | Análise de Dados: Marina Gama Cubas ]

Íntegra:
https://reporterbrasil.org.br/2023/10/27-agrotoxicos-sao-detectados-na-agua-consumida-em-sao-paulo-fortaleza-e-campinas/

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